1. Spirit Fanfics >
  2. Stigma (em revisão) >
  3. Buck 119

História Stigma (em revisão) - Buck 119


Escrita por: h0pesea

Notas do Autor


[revisado]

Capítulo 3 - Buck 119


Fanfic / Fanfiction Stigma (em revisão) - Buck 119

p.o.v jungkook

 

— Então, a ficha da vítima é essa — Yoongi depositou uma pasta a minha frente. — Taehyung já mandou a do outro garoto, vai querer fazer alguma coisa com elas?

— É, vou dar uma olhadinha... Pode deixar aí — apontei o espaço vazio na mesa e abri a pasta da primeira vítima.
 

Nome: Kim Sun-Hee

Idade: 19 anos - Nascida 17/05/1998

Filiação: Kim Sook e Alyson Walker

Anotações: nascida fora do país (EUA - Carolina do Norte), filha de pai coreano e mãe estadunidense. Sem dupla nacionalidade, assumia somente a identidade coreana

Um irmão chamado Matthew Kim

Mudou-se sozinha para a Coréia do Sul; tinha residência em Seoul há um ano

Não frequentava a faculdade

Sem antecedentes criminais

Trabalhava em serviços de buffet (bartender)

 

— Não estudava?

Yoongi maneou a cabeça.

— Procuramos nos registros e só encontramos histórico de trabalho.

— Bartender... — murmurei. — No meio da pista?

Yoongi apontou para uma pequena nota no canto da ficha.

— O horário de chegada dela foi às 23:34. Tudo aconteceu às 23:40. Ela foi pega no meio do caminho, certamente.

Assenti, dando mais uma olhada na foto.

— O IML já deu notícias?

— Ainda não, mas devem fazer isso em breve. Sabe que Namjoon gosta de ser meticuloso apesar dos pesares.

— Sim, eu sei... — olhei de relance para o relógio na parede. — Já são quase três da manhã, hyung, acho que já pode ir pra casa.

— Disso eu sei, mas e você? — ele perguntou desabotoando o paletó da farda, o rosto com uma expressão cansada.

Suspirei e coloquei a pasta com a ficha de Sun-Hee novamente na mesa.

— Eu vou pra casa depois de ver a ficha do garoto.... E depois que Namjoon me mandar o relatório da autópsia. Você sabe que eu gosto de fazer isso.

Um vinco de preocupação apareceu na testa de Yoongi. Eu não poderia culpá-lo. Sem contar que meu hyung era do tipo que considerava sono algo mais sagrado que a própria vida e sempre odiava quando eu pulava as horas de descanso. Ainda mais por coisas inúteis.

— Pode ir, detetive, eu vou ficar — insisti, massageando a ponte do nariz.

— Bom, se o senhor insiste... Crianção. — ele me deu a língua e se retirou do escritório.

Revirei os olhos rindo. Min Yoongi não tinha nenhum respeito mesmo.

Quando me encontrei novamente sozinho, descansei o queixo em meu punho fechado e deixei minha atenção ser capturada pela pasta parda contendo as informações de Jimin.

Como... Como será que ele estava? Hyejin tinha ido embora tão feliz depois de receber a notícia do outro cara que estava no hospital... 

Talvez eu tivesse prestado atenção demais, considerando que eu tinha algumas opiniões formadas sobre Hyejin. E algo dentro de mim se remexia ao recordar daqueles minutos passados com ela, antes e depois da calamidade. Principalmente do momento em que ela me abraçou, parecendo tão frágil, mas tão brilhante em seu alívio. Hyejin era uma garota bonita, eu precisava admitir. Mesmo quando começou a gaguejar de constrangimento. Com certeza eu tinha ficado com uma cara vergonhosa naquela hora, e essa parte era a que me deixava mais cismado.

Há quase três anos que eu já trabalhava no ramo da polícia! Coisas muito piores cruzaram meu caminho nesse tempo, pessoas muito mais descontroladas por verem cenas também muito piores de parentes, amigos e até estranhos assassinados na frente de seus olhos. Ainda assim, era a primeira vez que eu sentia um incômodo tão intenso quanto o que que estava me cutucando desde que voltei da boate. Droga, por que eu estava me sentindo tão culpado por não ter retribuído o abraçado Hyejin quando tive a chance?

Digo, tinha sido algo bom, não tinha? O abraço dela tinha sido agradável, mas não era como se eu fosse obrigado a retribuir, certo? Mesmo que eu estivesse com vontade de retribuir, não era minha obrigação, não é?

Espera. Então, se eu queria, então não seria obrigação. Então se eu queria mas não retribuí, era porque eu não queria?

Então eu estou certo?

Ou não estou....?

Mas então por que eu estou me sentindo tão incomodado por não ter retribuído? Só porque o toque dela tinha sido bom? Porque ela era bonita? Tudo bem, ela era bonita, muito! Aliás, por isso mesmo eu fiquei perto dela na boate, não que eu fosse tentar algo! Eu não era louco de tentar algo, mas era melhor ficar na companhia de uma pessoa agradável do que ficar perambulando por um lugar cheio! Era isso, só isso.

E o abraço dela tinha sido bom sim, tinha sido muito bom, eu queria sim sentir mais dela, mas eu não fiz isso e não era nada demais! Não era motivo pra me arrepender! Certo?

Ou será que era?

E por que eu estou dando um nó na minha cabeça por causa de um abraço?

Balancei a cabeça com força, constrangido com meus próprios pensamentos. Concentre-se, Jeon JungKook, você tem regras a seguir.

Inclinei-me sobre minha mesa abarrotada e peguei a pasta contendo informações da segunda vítima, determinado a voltar aos meus sentidos e cobrir qualquer confusão mental não bem-vinda com camas de trabalho inútil.

 

Nome: Park JiMin

Idade: 22 anos - Nascido 13/10/1995

Anotações: Universitário - Universidade Nacional de Seoul / Belas Artes

Filiação: pais coreanos - Im Min-Hee e Park Sunbin

Um irmão chamado Park JiHyun

Sem antecedentes criminais

Residência em Seoul, originário de Busan

 

Passei rapidamente os olhos pelo resto das informações que eram irrelevantes para uma verificação superficial, como o número da identidade e afins.

Sem antecedentes criminais ou qualquer motivo aparente pra ser vítima. O que me levava diretamente para os 95% de certeza da identidade do culpado. Depois de meses de viagem, passando por duas cidades estrangeiras onde eu pude agir dentro dos 5% da lei, ali estava ele de novo. E, caso minha certeza fosse confirmada, eu podia constatar sem medo: não, não havia motivo para Park ser atacado, muito menos Sun-Hee ser assassinada.

E isso era algo que me corroía por dentro.

Joguei os papéis na mesa. Mas que droga, onde estava Namjoon com aquela autópsia e Taehyung com os relatórios médicos da cirurgia do Park? Não que fosse adiantar muita coisa, mas eu precisava da confirmação final, eu precisava ver alguma eficiência, nem que fosse pra pior!

Além do que, eu precisava ter aqueles relatórios em mãos antes próximo passo. Que no caso, seria ir até o hospital onde Jimin estava internado e conversar com ele, para recolher o testemunho restante.

E sim, era no testemunho que eu estava pensando. Mas do nada, senti algo dentro de mim se agitar ao pensar na possibilidade de encontrar Go Hyejin no hospital, já que certamente ela ainda deveria estar por lá.

E minha cabeça entrou em parafuso involuntário mais uma vez.

Como será que ela está? Nervosa ainda? Ela estava bem nervosa antes... Não, mas depois ela se animou quando o fulaninho no hospital mandou uma mensagem... Então será que ela está mais tranquila?

Mas ela também pode estar preocupada com o assassinato, não é? Tem um assassino a solta, e esse assassino atacou alguém importante pra ele, então seria lógico ela querer que o culpado seja pego logo. Será que isso está fazendo ela pensar em mim?

E por que diabo eu estou me preocupando com isso!?

Revirei meu olhos e acomodei os pés pra cima da minha mesa, ajeitando-me confortavelmente na cadeira para ver se conseguia tirar um cochilo enquanto meus hyungs não davam notícia.

Eu não devia ficar pensando naquelas coisas, era perda de tempo precioso. Minha estadia em Seoul não seria longa, algumas poucas semanas no máximo. Tendo monopolizado o caso para a minha divisão, seria questão de tempo até as coisas se ajeitarem da melhor forma possível. Por agora, eu deveria me preocupar com a entrega dos relatórios e o interrogatório de Park Jimin, apenas.

Apenas isso e nada mais.

♠ ♠ ♠ 

 p.o.v hyejin

 

Hoseok estava com a cabeça caída sobre seu ombro, ressonando. Eu havia colocado um cobertor sobre seu corpo e de tempos em tempos, saía da frente da janela de vidro do quarto em que Jimin estava internado e ia até o mais velho ajeitá-lo. O sol já ameaçava nascer, mas eu continuava acordada, não havia cochilado uma vez sequer.

Hobi estava cansado. Claro que estava, tinha ficado naquele hospital durante horas, preocupado com a notícia que os médicos cirurgiões pudessem dar sobre Jimin, boa ou ruim. Só nós sabíamos do alívio sentido quando foram as notícias boas a chegar, apesar do desgaste emocional. Ainda mais pra Hoseok que já vivia ocupado na faculdade com as aulas e monitorias.

Assim que cheguei no hospital, insisti pra Hoseok descansar ao menos um pouco e eu e Jin tomaríamos o posto de vigia, comprometidos a chamá-lo caso qualquer coisa acontecesse. Foi a única forma de convencer o Jung, quem adormeceu dentro de minutos.

— Alguma novidade?

Ouvi a voz de Jin ao meu lado. Ele me estendeu um copo de café, conseguido na cafeteria do hospital. Neguei fracamente.

— Ainda apagado...

— Bom, desde que ele acorde bem... Jimin pode dormir até semana que vem.

— Desde que ele acorde bem... — concordei.

Minha voz saiu vaga. Perdida em pensamentos, comecei a passar o dedo lentamente pela borda do copo de café, observando Jimin distraidamente através do vidro do quarto, serenamente adormecido e com alguns fios ligados em seus braços.

Vê-lo daquele jeito era triste. Mesmo sabendo que ele estava bem, não deixava de ser cena horrível. Jimin era mais velho que eu, mas sempre tive aquele ímpeto de protegê-lo. Aquela vontade de vê-lo bem apesar de tudo.

Bela proteção essa que eu tinha dado a ele.

— Como será que o JungKook está indo? — falei de repente, ainda mirando Jimin.

— Quem? — Jin indagou confuso.

— O policial que estava comigo mais cedo. Chefe daquele seu amigo, Yoongi.

O Kim semicerrou os olhos, vasculhando a memória. Então estalou os dedos.

— Ah, sim, eu sei quem é. O que tem ele? — dei de ombros.

— Como será que ele está indo... Investigando as coisas... Sei lá.

Jin notou a preocupação em minha voz. Aliás, quem não notaria, não é? Eu sabia que ela estava estampada até mesmo no meu rosto.

— Hyejin, eles vão pegar quem fez isso.

— Eu sei. É só que é horrível ficar aqui de braços cruzados, sem fazer nada — suspirei. — Não combina com o Jimin ficar quieto assim.

— Por isso mesmo, ele sempre consegue se safar das coisas. Sabe de quantas detenções esse garoto já se livrou botando a cara dele pra jogo?

Ri fraco com o comentário de Jin. É, eu sabia, sim.

Respirei fundo. Se eu forçasse minha audição, conseguiria ouvir os singelos bips vindos do quarto de Jimin, indicando seus batimentos cardíacos. A mão de Jin em meu ombro conferia um conforto familiar, assim como um irmão mais velho. Um conforto que contrastava com a aflição gerada pela minha incapacidade de fazer alguma coisa no momento e a tristeza de ver Park acamado.

— Eu sempre ouvi dizer que energias negativas atraem coisas ruins... Acho que não é muito inteligente da parte de vocês ficarem fazendo essas caras numa hora dessas.

Quase deixei o copo de café cair no chão ao uma terceira voz se juntar a nós.

Surpresa, espiei o entorno por cima dos ombros de Seokjin, apenas para encontrar JungKook parado logo adiante de mãos enterradas nos bolsos.

Seu corpo estava coberto por peças pretas da cabeça aos pés, como se estivesse afogado em luto. Quão irônico justo ele querer falar sobre energias negativas. Olheiras se destacavam debaixo dos olhos dele e seu cabelo estava uma bagunça, o que me fez questionar se ele também não tinha dormido ainda. E por mais que fosse um pensamento desnecessário, era impressionante como mesmo bagunçado, ele conseguia exalar uma atração quase magnética. 

No entanto, apesar da aparência, JungKook parecia acordado até demais. Tinha os olhos bem abertos e atentos, focados ora em mim, ora no maior ao meu lado, de quem se aproximou com a mão estendida.

— Seokjin, não é? — o próprio assentiu.

— Eu mesmo. Você deve ser o JungKook, né?

Foi a vez de Jeon confirmar, um sorriso no canto dos lábios.

— Eu não queria que nos conhecêssemos assim, mas...

— É, é uma pena... — Jin tombou o cabeça. — Mas sem querer parecer egoísta, mesmo com todo o resto que aconteceu, eu fico um pouco mais feliz só de ver meu amigo fora de perigo, entende?

— Ah, não é egoísmo — JungKook riu. — É só uma boa notícia sendo tratada como uma boa notícia.

Enquanto isso, ali estava eu parada atrás dos dois com as mãos cruzadas na frente do corpo, sem conseguir falar uma palavra. O por quê? Eu não sabia. Acho que eram muitas coisas estranhas acontecendo num dia só.

De repente, notei que Jeon me observava. Minha reação inicial foi desviar o olhar rapidamente para qualquer outro ponto menos perturbador, para imediatamente me arrepender da minha atitude infantil. Reprimi um suspiro e me forcei a encarar o capitão, quem agora também parecia reprimir algo. Provavelmente a vontade de rir da minha cara.

— Hyejin — Jin disse, recapturando minha atenção. — Agora que o JungKook está aqui, eu realmente preciso descansar um pouco... Se importa se eu ficar com o Hoseok? Eu não-

— Claro que não, pode descansar — falei prontamente pegando o copo já vazio de café em sua mão. — Nem era pra você estar aqui ainda, na verdade, anda logo!

— Obrigado — ele beijou minha testa e, após dirigir um sorriso amigável a JungKook, foi se sentar ao lado de um adormecido Hoseok.

Assim que ele se acomodou, Jeon tomou o seu lugar ao meu lado. Fiquei em dúvida se devia falar algo ou não. Eu ainda estava constrangida só de lembrar daquele abraço não correspondido, mas também estava curiosa sobre motivo da visita de Jeon. Era uma — bastante estúpida — batalha interna que eu travava, enquanto via ele se balançar sobre os pés pelo canto do olho.

O silêncio se prolongou até ele tomar a iniciativa.

— Eu preciso conversar com você. Se importa de ir pegar café comigo?

Abri a boca pronta negar, um mero mecanismo de defesa do meu medo de que Jimin acordasse e eu estivesse longe. No entanto, repensei ao considerar que Jin e Hoseok estavam por perto, ainda que adormecidos. E eu não teria como entrar no quarto sem a permissão de um médico, de qualquer jeito. 

Além do que, a curiosidade pesou na minha decisão: o que ele queria falar?

Concordei finalmente. Então Jeon levou ambas as mãos até as minhas e com delicadeza, usou uma para abrir meus dedos e a outra para pegar o copo entre eles. Senti minha pele esquentar devido ao contato, assim como na hora que ele havia me beijado ao se apresentar mais cedo e algo se remexeu dentro de mim. 

De copo nas mãos, ele apontou com a cabeça na direção que deveria levar à cafeteria do hospital. Segui seus passos, percebendo que ele lançava olhares para todas as direções a fim de se guiar com as placas dispostas ao longo dos corredores do hospital. Menos mal. Pelo menos ele estava direcionando seu poder de envergonhar terceiros para outro lado. 

Eventualmente, chegamos a cafeteria, Ela estava quase vazia àquelas horas da madrugada. Apenas alguns pessoas — médicos, eu supunha — ocupavam o balcão com copos fumegantes. Era um lugar bem arejado, repleto de janelas que me permitiam ver o Sol nascer no horizonte. Eu tinha de admitir, era reconfortante ver uma cena como aquela depois de uma noite inteira enfurnada em frente a um quarto de hospital, perguntando-me se meu amigo alguma hora abriria os olhos pra ver um nascer do Sol novamente. Estupidez minha, claro que ele iria.

— Você ainda não dormiu? — JungKook perguntou. Murmurei uma negativa.

— E parece que nem você.

— Ah, eu até tentei. Mas tinha várias... Coisas na minha cabeça — deu de ombros e se dirigiu até o balcão. — Pode encher, por favor? — ele disse para a atendente, para quem entregou o copo vazio.

— Eu imagino... Alguma coisa nova?

— Bom, eu-Obrigado — Jeon recebeu o café e se colocou a caminhar em passos lentos, para longe dos ouvidos curiosos das outras pessoas. — Era sobre isso que eu queria falar com você.

Assenti num pedido mudo pra que ele continuasse. JungKook deu um gole na sua bebida e manteve os lábios pressionados contra a borda, como se ponderando sobre como deveria abordar o assunto. Foi impossível receber tal gesto como um sinal positivo. 

— JungKook? — chamei-o incerta. Ele despertou de seu transe e suspirou cansado.

— Primeiro, eu quero que você entenda que não é minha intenção te preocupar ou te assustar. Tudo bem, estamos na mesma página?

Parei de andar na mesma hora. Ele também acabou parando, dirigindo-me um olhar curioso. 

— Essa não é a melhor forma de começar uma conversa, você sabe disso, não é? — sussurrei depois de conferir que não havia ninguém por perto. — O que aconteceu? 

A pergunta arrancou um estalar de língua de JungKook. Então ele se aproximou, capturou minha mão e me guiou até um canto mais afastado perto das janelas. Com cuidado, ele me posicionou de costas para a parede e, também inspecionando os entornos, parou a minha frente de forma a cobrir meu corpo com o seu. Acabei engolindo o seco, e por conta de algo que não tinha nada a ver com a conversa.

— JungKook?

— Eu recebi os relatórios da cirurgia do seu amigo — ele disparou sem me encarar.

— Recebeu? — arqueei as sobrancelhas. — Como?

— Detetive Kim Taehyung, ele faz parte da minha equipe. O que constava nos papéis era que o motivo da lesão foi esfaqueamento. O seu amigo recebeu vários golpes na região lateral, vários cortes fundos e precisos. As informações foram somadas com algumas fotos que a perícia conseguiu tirar dele antes de ser internado. Não foi difícil arranjar o modelo depois disso.

— Modelo? Do quê?

— Da faca usada.

— O quê? Foi uma faca específica? — indaguei confusa. Facas não eram só facas?

JungKook se silenciou por uns segundos. Trocou o peso de perna e sorriu para um médico que passou perto de nós e só quando esse sumiu, retomou as explicações.

— A Buck 119... Está entre as 15 melhores facas do mundo. Não que isso seja muito importante, mas sabe, eu já tenho alguns anos nesse ramo de investigação, Hyejin. E a quantidade de vezes que eu já cruzei com casos envolvendo esse mesmo instrumento...

Arrepios se arrastaram pela minha espinha.

— O que você quer dizer então? Que tem alguma espécie de serial killer com uma faca de estimação solto por aí?

— Eu prefiro não colocar as coisas desse jeito, mas sim, eu assumo ser a mesma pessoa de todas as outras vezes — ele passou a mão livre pelos cabelos. Então baixou o olhar na minha direção, desconfiado. — Isso é assunto confidencial. Eu não devia estar te contando isso, então se você puder não contar pros seus amigos lá atrás...

— Não vou — afirmei, apesar de uma dúvida ter surgido na minha cabeça. Se é assim, por que você está contando isso pra mim? — Tem mais alguma coisa que eu precise saber?

Ele pareceu um tanto incomodado com a pergunta. Não por conta da minha curiosidade propriamente dita. Parecia incomodado com outra coisa.

— Certo, tudo bem — ele cedeu. — Tudo bem, mas eu não posso te falar aqui, não aqui e agora — sem aviso, JungKook apoiou o braço na parede, escondendo-me ainda mais sobre si. Amaldiçoou meu coração pela velocidade que meu coração resolveu bater com aquela proximidade, apavorada com a ideia de Jeon poder ouvi-lo. — Eu posso te mostrar o que eu tenho no meu escritório mais tarde, mas só se você estiver disposta e se garantir que vai manter tudo o que ver entre nós. Como eu te falei, isso não informações que eu deveria divulgar.

— Eu vou — concordei de pronto. — Eu quero saber o que está acontecendo, mas eu consigo manter em segredo se é o que você quer.

— Você consegue?

Absolutamente, pensei.

Eu queria passar um tempo ouvindo histórias sobre pessoas assassinadas por uma mesma faca, por uma pessoa que ele não sabia quem era  — ou poderia saber, mas não queira me contar — ao invés de estar no meu dormitório da faculdade? Não. Mas depois de ver meu amigo quase perder a vida para um esfaqueamento, acho que eu realmente não me incomodaria em perder um tempo entre fichas criminais. Eu sentia que tinha mais coisas que Jeon queria me contar, só não conseguia naquele momento.

Maneei a cabeça.

— Consigo.

Ele imitou meu gesto, como se selássemos um acordo. Feito isso, JungKook ergueu o pulso até a linha da visão para checar as horas no relógio de pulso, de forma que acabou não vendo o momento em que eu voltei a respirar normalmente e manchas vermelhas coloriram as maçãs do meu rosto. Como eu havia conseguido sustentar o olhar dele por tanto tempo naquela posição era um mistério.

— Certo, então... Eu tenho tempo no final da tarde, tudo bem pra você? — ele indagou.

— Final da tarde, você disse? — levei a mão até a boca numa velocidade questionável, tentando tampar o máximo possível do meu rosto afogueado. 

Eu definitivamente não estava pronta para ser pega no flagra tentando me acalmar depois de uma coisa que não devia ter me deixado nervosa o suficiente pra eu precisar me acalmar. Jeon me mirou com uma sobra de graça no olhar, mas resolveu ignorar o assunto.

— Você precisa dormir agora pela manhã também, não? Ou assistir suas aulas na faculdade, não sei.

— Sim, sim — pigarreei e cruzei os braços. — À tarde fica ótimo pra mim.

— Ótimo, eu posso-

— Srta Hyejin, por favor, compareça ao quarto 237. Por favor, srta Hyejin, quarto 237.

Uma voz suave soou dos alto falantes dispostos por todo o complexo. JungKook e eu nos entreolhamos e após um segundo de raciocínio, deduzi que 237 fosse o quarto de Jimin. Uma onda de adrenalina me invadiu.

— Aconteceu alguma coisa.

Desatei a correr pelo mesmo caminho que vim. Eu ouvia passos logo atrás de mim, pertencentes a um Jeon JungKook me acompanhando logo atrás. Não fazia nem mesmo um minuto desde o momento que o chamado foi feito, mas parecia que uma eternidade de agonia tinha se passado quando por fim virei no corredor correto, onde encontrei Hoseok acordado, parado de frente para a vidraçaria do quarto de Jimin. Meu coração despencou.

— Hoseok! — o próprio se virou ao ouvir meu chamado, surpreso ao quase ser atropelado por mim. — Hoseok, o que aconteceu, por que me chamaram aqui? O Jimin tá bem, não tá?

Espalmei o vidro, e dei de cara com as costas de um médico junto de Seokjin, ambos tampando a visão do corpo do Park. Ao perceber que pensamentos ruins estavam se construindo na minha cabeça, Hoseok estalou o dedo na minha frente, chamando-me de volta para si.

— Hyejin, relaxa, ele tá bem. A gente só te chamou porque — ele se interrompeu, mirando algo além de mim. — Desculpa, mas quem é você?

Franzi o cenho diante da fala desconexa do mais velho, e segui a linha do seu olhar. Acabou que era só JungKook parado às minhas costas, com um vinco de decepção na testa voltado para o seu copo transbordante de café. O líquido estava escorrendo pelas mãos dele e pingando no chão, formando uma pequena poça marrom em frente ao seus sapatos envernizados. 

Ignorando a pergunta do Jung, ele procurou uma lata de lixo nas proximidades. Como não encontrou, resolveu por deixar o copo de papelão estourado sobre uma das cadeiras de espera e voltou limpando as mãos num paninho que retirou do paletó. 

— Acho que isso significa nada de café pra mim por enquanto — disse chateado, mais para si mesmo do que para nós. — Então, por que nós viemos pra cá?

— Isso, exatamente — reiterei, girando nos calcanhares para um genuinamente confuso Jung Hoseok. — O que houve? 

— Mas eu queria saber quem-

— Depois vocês se apresentam e viram amiguinhos, agora: Jimin.

Hoseok abaixou o olhar para mim e um lampejo de felicidade perpassou por sua expressão agora sorridente.

O que houve foi que ele acordou, pensei que você gostaria de saber disso — apontou para atrás de si. — O médico entrou pra conferir o estado dele junto com o Seokjin, logo ele vai liberar a nossa entrada também.

Bastaram aquelas palavras para o mais completo alívio varrer a minha alma. Tornei a olhar para dentro do quarto, dessa vez podendo ver Jimin acordado em sua cama, os olhinhos bem abertos e com os braços ao redor de um Kim Seokjin sentado ao seu lado, provavelmente chorando. Foi acometida por uma vontade imensa de abraçar o loiro eu mesma, só para conferir de o momento era real e não alguma alucinação criada pela minha cabeça.

— Eu posso entrar também? — perguntei com a voz trêmula. Hoseok assentiu.

— Só não agora. O médico disse alguma coisa sobre só poder entrar uma visita por vez, vamos ter que esperar eles saírem de lá primeiro.

Assenti e voltei a prestar atenção em Jimin. Por mim tudo bem, desde que eu pudesse entrar.

— Um visitante de cada vez, você disse? — de repente a voz de JungKook se fez ouvir. 

— Hm... Sim, sim, foi isso que o médico disse — o Jung respondeu.

— É, essa parte eu entendi — Jeon rebateu. Exalando fatiga, ele se espreguiçou e foi se sentar ao lado do cadeira com café, recostando a cabeça na parede. — Bom, é uma pena ter que desobedecer um profissional, mas o que eu posso fazer se eu vou precisar entrar com a Hyejin.

— Ah, você vai? — perguntei, finalmente descolando o olhar da vidraçaria.

— Eu vou.

Silêncio. Voltei-me para Hoseok, que imediatamente levantou as mãos em sinal de rendição.

— Não olha pra mim, não sei nem quem é ele até agora.

Murmurei um inaudível hum, não dando muita atenção ao assunto. Sem saber quanto tempo o mais velho demoraria do lado de dentro, também resolvi me sentar, na ponta oposta a que Jeon ocupava.  

— É, fazer o que — massageei a ponte do nariz. — Vamos esperar o Seokjin sair. Você entra comigo e qualquer coisa, é só mostrar seu distintivo.

Distintivo? — Hoseok perguntou muitas oitavas mais alto. — Você é policial?

— Capitão Jeon JungKook — o próprio se apresentou com a voz baixa, porém amigável. — É um prazer te conhecer.

Capitão? Não acredito, é sério? — o Jung parecia a beira de um colapso. — Cara, que incrível! Você tem aquelas fardas? Eu acho elas lindas demais, eu sempre quis vestir uma, sabia? Você-

Desliguei-me da conversa deles, mais preocupada em vigiar a porta do quarto do que com as fardas de JungKook — apesar do que, eu tinha que admitir que havia ficado ligeiramente curiosa sobre como ele pareceria usando uma. Fardas eram lindas mesmo.

Suspirei e me remexi no assento, uma, duas, três vezes. Minhas pernas estavam inquietas e meu coração, dolorido graças ao meu desejo de matar logo aquela agonia imposta a mim a noite toda com um abraço do Park. Não havia mérito algum em apenas esperar, mas ele merecia todas as recompensas existentes por ter atendido aos meus pedidos feitos no silêncio: o de não morrer e viver mais um dia, por ele e por nós.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...