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História Stigma (em revisão) - Coelho da madrugada - II


Escrita por: h0pesea

Capítulo 15 - Coelho da madrugada - II


Fanfic / Fanfiction Stigma (em revisão) - Coelho da madrugada - II

POV JungKook
 

Eu deveria sentir falta do sono, não deveria? Bom, eu não sentia. Há tempos não me incomodava de passar dias acordado, já era até mesmo uma espécie de rotina.

Sem muito interesse, dei uma conferida no meu relógio de pulso. 3:45 da manhã. A hora não estava passando exatamente rápido naquela vigília. Olhei de relance para o outro guarda, quem continuava tão atento e disciplinado como estava quando eram dez da noite. Para me distrair do tédio considerável abatido sobre mim, lancei a mim mesmo nas recordações de uma época onde eu também era daquela forma, na forma de um simples estudante na academia de polícia.

Aquele eu tinha uma ideia tão diferente do que a vida seria: para ele, estava destinado a ser um policial bom como o pai, prender os caras ruins e tornar-se o orgulho da cidade por ser o cara bom. Como eu sentia falta daquela ingenuidade, os últimos bons tempos que vivi.

Porque agora, nem mesmo em pensamento eu era capaz de ter bons tempos muito duradouros.

Estava imerso em mim mesmo, tão profundamente que só me dei conta do mundo real quando algo fora do comum aconteceu. E de fato, foi tão surreal que demorei um tempo para processar o que estava acontecendo.

Um grito havia cortado a noite.

Meu coração pareceu parar quando o eco do som estridente cessou. Instintivamente guiei os dedos à arma que carregava e olhei ao redor sem parar por um segundo, em busca de qualquer movimento, por mais sutil que fosse, no entorno.

Nada. Apenas o vento e o silêncio.

— Capitão — o outro homem sussurrou. — O senhor também ouviu, não ouviu?

Assenti sem olhá-lo.

— Ouvi.

A palma da mão formigava sobre o peso do revólver. Eu sabia que não poderia usá-lo contra o coelho caso esse aparecesse, mas era algo instintivo, uma proteção instintiva. Não que fosse exatamente útil.

Alheio a isso, mais um grito chegou aos meus ouvidos.

Alto. Estrangulado. Sofrido. E à direita.

Não precisei gritar ordens, bastou um sinal na direção provável do som e o outro guarda me seguiu. Meus passos rápidos eram os mais silenciosos possíveis, a respiração controlada para que o barulho não antecedesse minha chegada. Levava a arma em mãos.

O som do grito não parecia ter sido nem tão perto, nem tão longe. Um quarteirão ou dois de distância. Escorei-me na parede da primeira ramificação adjacente ao quarteirão da faculdade. Espiei a rua, sentindo a presença de meu companheiro logo atrás de mim.

Nada na rua escura e deserta, nem mesmo a distância. Voltei a me movimentar após outro sinal para que o garoto me acompanhasse. Eu estava sentindo meu sangue gelado. Já estava envolvido naquela droga há tempo suficiente para saber que um grito daqueles era um sinal ruim. Um sinal péssimo.

Ele estava ali. Ele estava, eu tinha certeza disso. Agora, por quê?

— Não cause disparos necessários — sussurrei o outro. — Acredite, pode ser pior.

E como poderia.

O final do segundo bloco aproximava-se a medida que o bolo no meu estômago aumentava. Internamente, eu pedia para que não fosse o pior com tanta intensidade que tinha até medo de que o meu parceiro pudesse ouvir.

Porém, dei-me conta de que pedir para que o pior não acontecesse nunca adiantaria no momento em que entrei na rua que dividia o segundo quarteirão do terceiro, a arma inutilmente em riste.

Sozinho, um corpo agonizava no chão sujo da calçada. Eu via o peito do que parecia ser uma garota subir e descer em movimentos fortemente descompassados, a cabeça atingia o chão devido aos espasmos descontrolados de seu corpo que, mesmo a passos de distância, eu sabia que estava ferido.

Uma raiva fria subiu por mim.

— Droga, droga, droga — eu balbuciava conforme disparava até a vítima.

Joguei-me ajoelhado ao lado dela e coloquei-me a analisar o mais rápido possível os estragos feitos.

Marcas arroxeadas no pescoço. Estrangulamento. Cortes na região lateral do abdômen. Esfaqueamento. Um braço e uma perna, ao meu olhar, estavam num ângulo estranho.

— Yah, você! — chamei o guarda que me acompanhava — Chame uma ambulância, agora!

Não precisei repetir duas vezes, o garoto já estava com um celular em mãos e discava rapidamente o número do pronto socorro. Voltei-me para a garota, um misto de sentimentos tomando conta de mim com tamanha força que eu nem mesmo conseguia distinguir o que estava realmente sentindo.

O mais rápido que pude, retirei meu paletó a fim de prensá-lo contra os cortes no abdômen dela, era o que eu podia fazer para diminuir o sangramento violento até que uma ajuda médica qualificada chegasse para salvá-la.

No entanto, o que atingiu meus olhos quando eu estava prestes a fazer isso perturbou-me de tal forma que tropecei nos próprios pés quando tentei me levantar, fazendo com que eu caísse novamente no chão gelado.

Não surpreendentemente os golpes de faca haviam provocado uma hemorragia. O sangue escarlate fluía para fora do corpo e formava uma pequena poça sobre o asfalto. E tão singelo que eu nem mesmo teria notado se não tivesse prestado um segundo olhar, um pequeno coelho branco de brinquedo boiava sobre o sangue.

Engoli em seco, tão desorientado que me sentia até hipnotizado.

— A ajuda está a caminho, capitão! — a voz do outro perfurou meus ouvidos, mas nem por isso me senti mais desperto.

Um coelho, com as patinhas brancas manchadas, sujas, boiando em meio ao sangue. Em meio a perspectiva da vida e da morte.

Um coelho zombando de mim.

Um símbolo.

O quão estranho aquele maldito poderia fazer as coisas ficarem?

Ainda com a visão embaçada pelo transe que eu me encontrava por causa daquele brinquedo, aquele aviso perturbador, notei mais uma coisa que não havia percebido nem na primeira, nem na segunda olhada mais ao norte.

Pegadas. Marcas de passos embebidas no sangue, caminhando em frente à partir da vítima que agonizava no chão.

Foi exatamente pensar na garota por um fio a minha frente que acordei num estalo. Ergui-me num pulo e joguei o paletó para o guarda.

— Estanque o sangramento. Não aperte demais ou vai acabar piorando tudo.

Mal havia acabado de falar e já estava do outro lado do corpo da menina, confirmando que o que eu via eram mesmo pegadas.

Aquele desgraçado.

Involuntariamente, dei uns passos à frente para seguir as marcas de pés com a respiração descompassada de nervoso. Não demorou muito até que o sangue se tornasse escasso e as marcas desaparecessem, nem mesmo cinco metros à frente.

Parei com as mãos nos quadris e olhei adiante. Nada.

Quis quase dar um tiro naquelas pegadas, como se aquilo fosse atingir seu dono. Por quê? Por que diabos ele havia feito isso? Pegadas sem rumo? Um coelho de brinquedo?

Mas que merda, qual era a dele? Eu sabia, sabia muito bem que aquilo era apenas um jogo para a mente doente daquele psicopata desgraçado, mas aquilo? Qual o propósito, me enlouquecer? Só podia, não fazia sentido!

Afinal, o que ele queria com todas aquelas...

Minha linha de pensamento foi cortada quando algo me ocorreu.

Não... Faz sentido?

 

Pegadas sem rumo.

Um presente no sangue. Pra me perturbar.

Perturbar.

Atrasar.

Distrair.

 

Meus braços escorregaram, momentaneamente sem força conforme uma constatação me atingia: nós havíamos deixado uma das entradas da faculdade desprotegida.

Não havia ninguém na entrada principal do lugar.

Um único nome tomou conta de mim assim que a realidade me atingiu: Hyejin.

Na faculdade.

Com uma falha na segurança.

— Aquele maldito!

Que merda eu tinha feito?

Sem dar explicação nenhuma, disparei a correr no segundo que a circulação voltou às minhas pernas. Procurei meu celular nos bolsos com os dedos trêmulos, eu nem mesmo sabia onde o aparelho estava de tanto que estava anuviado pelo medo.

Medo por Hyejin. Pior ainda, de que tivesse aberto uma brecha grande o suficiente para que ela acabasse ferida naquele lapso.

Não, não, não, não.

Eu já estava com as palmas suando quando finalmente achei o aparelho no bolso interno do paletó. Tudo parecia girar conforme eu acelerava a corrida e discava o número de Yoongi. Ele não levou nem três toques para atender, ainda que houvesse parecido uma eternidade.

— JungKook? Sabe que horas-

— Yoongi, eu preciso que vocês venham pra faculdade, agora! — interrompi sua voz sonolenta, sem me importar com quem pudesse ouvir.

— O que? Fala com calma, aconteceu-

— Tem uma pessoa morrendo aqui, eu não tenho tempo pra explicar, só vem logo!

E desliguei, não precisava ouvir uma resposta para saber que ele viria. Guardei o aparelho no momento em que fiz a curva para entrar pelos portões sem vigília da UNS. Minhas pernas queimavam numa tentativa fútil de me fazer parar, mas eu me recusava a desacelerar tão perto dos dormitórios e consequentemente, de Hyejin.

Talvez a porta do quarto dela estivesse trancada, ou talvez estivesse aberta mesmo, eu nunca saberia. Porque antes de me dar ao trabalho conferir, saquei o revólver e sem me importar com quem pudesse ouvir o barulho que eu fazia às três da manhã, dei um tiro que arrebentou a fechadura.

O objeto mal caiu e eu irrompi no cômodo, quase arrancando a porta com meus ombros tamanho o desespero. Olhei em torno do quarto movido pela adrenalina, meu corpo arrepiado e a um sopro de desmoronar ao Hyejin em sua cama. Ela segurava a coberta contra si e me encarava com a expressão mais confusa possível diante de seu quarto arrombado.

Mas eu ainda não estava totalmente convencido. Hyejin ficou petrificada quando coloquei o revólver em riste novamente e sem nunca desviar a atenção, acendi a luz do quarto. Podendo agora enxergar claramente, coloquei-me a vasculhar cada canto do quarto. Só então Hyejin pareceu se tocar de que algo sério estava acontecendo e se encolheu um pouco mais na cama.

— JungKook, o que-

Levei o indicador aos lábios em sinal de silêncio, e assim ela permaneceu até eu confirmar que estava tudo seguro no cômodo. Cheguei no portal desse e vasculhei o vasto campus. O cano da arma rondava o lugar, povoado apenas pelo sereno, o orvalho e as plantas rasteiras balançando no vento gélido da noite.

Dei um passo pra fora e mantive um pé dentro do quarto. Estava tão concentrado no ambiente a minha volta que qualquer breve movimento, até mesmo da natureza, era motivo para atrair minha atenção. Mas quem mais me interessava... Aquele não estava à vista.

Será que eu havia dado tanta sorte assim? Ou será que, mais uma vez, ele estava fazendo apenas um jogo comigo? Movendo os peões em seu jogo mórbido numa jogada apenas para sua diversão?

Disparei um tiro de aviso para cima. Hyejin deu outro grito de dentro do quarto, abafado pelo eco do disparo ressonando pelo lugar. Olhei em volta uma última vez. Cinco, dez, quinze segundos. Não, o Coelho não havia aparecido. E se não havia aparecido por perto do dormitório até aquele momento, ele não apareceria mais. Pelo menos, não por enquanto. Os diversos guardas anteriormente posicionados nas outras entradas começaram a surgir de todos os lados, também de armas em punho, movidos pelo som do tiro.

Pelo canto do olho, eu podia ver as luzes dos outros dormitórios começando a ascender, como estrelas num céu noturno manchado pela profanação. Os outros alunos estavam acordando.

— Quem fala é o capitão JungKook, o oficial que contratou vocês. Eu quero que vasculhem cada canto dessa universidade, não deixem passar nada, por mais insignificante que pareça. E se acharem qualquer coisa estranha ou fora do comum, me chamem na mesma hora. Entendido?

Alguns segundos se passaram até a mensagem chegar com clareza até todos os oficiais presentes. Numa concordância uníssona, fizeram uma reverência e se separaram em grupos, cada um seguindo para uma direção. Não me movi até que todos tivessem se dispersado. Rostos curiosos apareciam nas janelas e a claridade, embolados à claridade artificial crescente.

Como eu disse, se ele não havia ido até os dormitórios antes, agora nem poderia mais. Permiti-me relaxar os ombros ao menos um pouco e travei o arma de fogo para guardá-la.

— J-JungKook?

A voz baixa e um tanto temerosa de Hyejin veio detrás de mim. Virei-me no mesmo instante para finalmente olhá-la sem estar com 90% da visão nublada pelo desespero. Em comparação com o momento em que eu havia arrombado a porta, ela parecia ainda mais confusa e assustada, abraçando o próprio corpo e o olhar permeado por uma silenciosa inquisição.

Sim, ela parecia confusa, mas estava viva. Confusa, mas fora de perigo por hora. Confusa, mas sem nenhuma lesão.

Você... Você está bem — eu não passava de um fio de voz.

Era algo tão bom que eu nem mesmo acreditava.

Hyejin assentiu. E por alguma razão desconhecida, aquela confirmação acionou em mim uma falta de controle tamanha que antes que eu pudesse me impedir, já havia corrido até a cama e deitado sobre Hyejin, abraçando-a com todas as forças contra mim. Ela arfou no meu pescoço, surpresa com o ato repentino. Até mesmo eu estava. Tanto por estar fazendo aquilo, quanto por ela não ter me afastado.

Como se Hyejin pudesse sumir a qualquer momento, circundei ainda mais os braços ao redor dela a fim de prende-la entre mim e a cama, sentindo seu corpo pequeno contra mim e constatei que sim, era real. Ela estava ali e estava bem.

— JungKook — ela sussurrou, fazendo cada parte de meu corpo reagir à sua voz rouca. — O que está acontecendo?

Apertei-a ainda mais contra mim e afundei o rosto em seu pescoço descoberto. Eu não me importava nem um pouco se estava sendo inconsequente. Inconsequência por inconsequência, eu quase havia enlouquecido por achar que Hyejin estava machucada. Ouvi-a murmurar uma baixa interrogativa, reiterando sua pergunta. Balancei a cabeça.

— Eu achei que... Que você — tentei responder, mas as palavras não saiam. A presença dela era tão boa e eu não queria acabar com o momento mencionando algo tão grotesco quando o Coelho. Eu me recusava a perder o momento.

Desisti das explicações e me ocupei apenas em inalar o perfume presente em sua pele macia. Senti Hyejin arrepiar sob mim e seus braços, antes molemente apoiados sobre meus ombros, firmarem-se neles. Sorri involuntariamente com o gesto, o que levou meus lábios a resvalarem na pele dela. E naquela situação, bastou apenas isso para eu ser tomado por uma saudade latente de beijar Hyejin mais uma vez.

Eu não devia, mas nada conseguiu me impedir de descer os lábios no pescoço sensível dela. Hyejin arfou com o toque e se segurou com mais força em mim ao lentamente pender a cabeça para trás. Tal gesto foi suficiente para estraçalhar qualquer autocontrole que eu viesse a ter. A necessidade de ouvir aquele som escapando da boca dela mais uma vez e fazer aquele momento durar o máximo possível sobrepujava qualquer outra coisa.

Movi novamente os lábios e libertei as mãos da prisão das costas dela. Eu queria sentir cada reação e cada espasmo causado em Hyejin por me ter ali, eu precisava sentir aquilo. Gradativamente, meus beijos lentos por todo seu pescoço, responsáveis por arrancar suspiros singelos dela, adquiriam uma intensidade totalmente nova, alimentada pela explosão de sentimentos dentro de mim, desde o mais repulsivo deles até o mais belo. Todos os avisos em minha mente que gritavam que eu não devia estar fazendo aquilo eram anuviados pela presença inebriante daquela garota, com seus dedos enroscados em meu cabelo e murmurando meu nome com sua voz doce.

Quando a vontade de senti-la se tornou maior, ela gentilmente separou as pernas e me acomodou entre elas. Eu apertava sua cintura por cima do tecido do pijama, aproximando ainda mais o corpo dela conforme deixava castos beijos sob a pele avermelhada por minha culpa. Sussurrei ao ouvir um suspiro vindo dela:

— Machuquei você?

Hyejin negou lentamente, como se não tivesse muita noção do mundo à sua volta.

— Por favor... Faz de novo.

— Fazer o quê? — murmurei ao ouvido dela.

Ela se retraiu um pouco com meu questionamento, mas relaxou novamente assim que dirigi a boca até a base de seu pescoço. Sem muita força, suguei aquela área, sentindo-a estremecer.

— Fazer isso? — ela assentiu na mesma hora, a respiração descompassada. Sorri com a cena. — Mas assim eu vou te marcar...

— Eu não me importo.

Meu sorriso aumentou.

O pedido rouco dela se converteu em palavras desconexas quando voltei a maltratar seu pescoço, demorando-me em carícias que resultavam na doce sinfonia da voz de Hyejin. Mas eu queria sentir mais dela. Eu precisava sentir mais dela.

Minha própria respiração estava descontrolada quando desenterrei o rosto do pescoço de Hyejin e me afastei apenas o suficiente para olhá-la nos olhos. Eu via neles o mesmo desejo presente nos meus. Era como se seus lábios entreabertos me chamassem. No momento em que senti a boca dela novamente sobre a minha, eu não consegui mais desacelerar.

Subi vagarosamente as mãos pela pele quente das coxas dela, o beijo cada vez mais profundo. A língua de Hyejin se enroscava a minha numa comunicação íntima que apenas as duas compreendiam. O corpo se colava ao meu numa tentativa de extinguir qualquer espaço que fosse, despertando um formigamento em meu baixo ventre. Eu me sentia de encontro a ela, tão quente e me puxando ainda mais para perto.

Ela arfou quando alcancei a curva de sua bunda e a apertei. O tecido fino de seu pijama se amontoava em sua cintura, dando-me cada vez mais acesso à ela. O ar não se fazia necessário por um único segundo, não quando os lábios macios dela roubavam cada pedaço da minha sanidade. Meu nome deixava os lábios de Hyejin quando ela dirigiu as mãos até minha camisa e começou a desabotoar os botões. Cada toque seu em meu peito era um tanto mais que meu desejo crescia, pura gasolina sendo derramada no fogo crepitante da minha pele.  

— Eu não queria ter brigado — ela sussurrou, trabalhando nos últimos botões.

— Não tem problema — devolvi no mesmo tom, a boca pendendo contra a dela. — Eu também não queria...

— Então não briga, fica aqui comigo.

Eu queria ela naquele momento. Muito.

Hyejin segurou o cós de minha calça com as mãos pequenas e eu soube que tudo o que eu mais queria era mandar o resto do mundo pro inferno e a incendiar nossa necessidade mútua com as faíscas provenientes do contato entre nossos corpos. O pedido escondido em cada curva e vale dela não mentia sobre a reciprocidade e eu daria de tudo para explorar cada pequena segredo do mapa de Hyejin pelo resto da noite.

Amaldiçoei-me por me dar conta de que eu estava novamente me estrangulando com as garras daqueles desejos descabidos que não poderiam se tornar realidade.

Interrompi o beijo da forma mais gentil que pude. Comprimi os lábios e abaixei a cabeça, escondendo-me pateticamente do olhar dela. As mãos que estiveram tão confortáveis sob o peso dela agora relutavam para se afastar e se apoiar no colchão.

— O-o que foi?

O corpo dela tencionou abaixo de mim. Suspirei alto e me impulsionei para fora cama. Heyjin se sentou assim que se viu sem meu peso e para o meu próprio bem, tive de desviar o olhar dela para não prestar atenção demais em seu pescoço marcado, em seus lábios inchados ou em sua pele tentadora tão à mostra.

Dei as costas e me ocupei em abotoar novamente os botões da minha camisa.

— Eu — balbuciei na busca por uma desculpa plausível — Eu preciso... Você sabe.

— Na verdade, eu não sei.

Ouvi o barulho de rangido da cama, indicando que Hyejin havia se levantado. Continuei sem olhar na direção dela enquanto terminava de me ajeitar o mais rápido possível.

— A sua porta está estourada — indiquei para o buraco, agora sem a porta para tapá-lo. — Achei que você não fosse querer que eu — pigarro — te colocasse numa situação embaraçosa.

— Entendi... Mas sabe o que eu acho?

Respirei fundo e querendo fazer tudo menos aquilo, virei-me para ela. Hyejin estava de braços cruzados e o rosto, outrora demonstrando desejo, agora expunha irritação. A camisola estava caindo até a metade de suas coxas, permitiam que eu visse o contorno de seu corpo demarcado pelo tecido delicado. O corpo que poucos segundos atrás estivera estremecendo abaixo de mim em antecipação ao prazer que eu estava disposto a dar para ela.

Diante disso, cheguei até a me perguntar: por que eu havia parado mesmo?

No entanto, o momento durou pouco antes de a realidade me atingir com um tapa quando fui tentar ajeitar meu paletó e percebi que ele não estava ali comigo. Milésimos de segundos foram necessários para o motivo me vir em mente. Pigarrei de novo.

— O que você acha?

— Eu acho, senhor, que você está mentindo pra mim.

Bom, de fato.

— O que te faz pensar isso?

— O que? — sua voz indignada subiu algumas oitavas. — Não sei, talvez porque você arrombou a porta do meu dormitório e entrou aqui com uma arma? Ou porque você saiu, deu um tiro pro alto e começou a falar pra vasculharem a faculdade? Será por causa disso?

Bom, de fato de novo.

— Eu não quero te preocupar com o que está acontecendo.

— Não quer me preocupar? E a sua forma de fazer isso foi me agarrar na minha cama depois de arrombar meu quarto e depois simplesmente levantar como se nada tivesse acontecido?

— Não, espera — interrompi, finalmente olhando em seus olhos irritados. — Eu nunca faria nada que você não quisesse. Eu só fui em frente porque eu pensei que você também queria-

— E eu queria! — ela confessou com as bochechas imediatamente vermelhas.

— E você acha que eu não? Eu também queria, Hyejin.

— Então porque diabos você já estava indo embora como se não fosse nada que nem da última vez?

— Porque-

Fiquei com o resto da frase preso na garganta.

A resposta estava bem ali, pronta para ser dita. Eu podia despejar tudo naquele instante, quem sabe não fosse até melhor? Eu não sabia, mas algo dentro de mim me impedia de fazer isso. Talvez pudesse tornar tudo mais fácil, talvez fosse fazê-la me odiar, não importava: eu não conseguia abrir o jogo.

Namjoon costuma dizer que minha mente é complexa. Por isso nem ele consegue me entender. Eu começava a acreditar nisso. E a tomar raiva dessa minha natureza.

Soltei o ar longamente, tentando colocar os pensamentos em ordem.

— Eu me preocupo com você, Hyejin, não ache que não significou pra mim. Você não entende-

— Então por que você não me explica, JungKook?

Balancei a cabeça em negação na hora.

— Não... Não, não, seria pior.

Eu nem sabia mais o que eu estava falando. Eu precisava sair dali logo antes de fazer ou falar alguma bobagem. Olhando para S/n, percebi outra mudança em suas feições. Confusão se derramava sobre seus olhos, ansiosos por uma resposta, a qual eu não podia dar.

— Eu vou tentar nunca mais usar esse método para não te preocupar então. Desculpe se fez parecer que estou me aproveitando de você.

— JungKook-

— Vá para o quarto de alguma amiga, ou de Hoseok, ou de Jin. Eu posso pedir para consertarem sua porta. Por favor, não esqueça de cobrir seu pescoço e fique segura — fiz uma pequena reverência na direção dela e me dirigi a saída.

Ouvi os passos dela me seguindo, mas não parei de caminhar.

— Você vai embora assim de novo? — ela falou atrás de mim. — Sem me explicar nada? Sem nem me falar por que arrombou a porta?

— Eu tenho certeza de que os guardas vão conseguir te explicar — devolvi sem olhar para trás.

— Eu não... JungKook, para!

O grito dela exerceu um poder tão grande sobre mim que não consegui não seguir sua ordem. Estanquei no lugar já do lado de fora com o coração palpitando. Girei nos calcanhares e encarei Hyejin com a minha pouca coragem restante.

Ela me observava do vão da porta. Nem mesmo os fios de seu cabelo voando ao sabor do vento frio da noite conseguiam esconder seus olhos marejados. Eu me senti a pior pessoa do mundo por ser o causador daquilo.

— Por quê? — foi tudo o que ela perguntou. 

Despedacei-me ainda mais. Não era pra ser daquela forma.

Abri a boca algumas vezes, querendo desesperadamente falar alguma coisa. O único errado ali era eu, o único que deveria sofrer ali era eu. Sempre havia sido eu. E eu havia sido fraco o suficiente para envolver Go até o ponto de fazê-la sofrer também.

Sorri amargo.

— Acredite, Hyejin, eu estou me odiando nesse momento.


Notas Finais


:)


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