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História Stigma (em revisão) - Sala das câmeras


Escrita por: h0pesea

Capítulo 17 - Sala das câmeras


Fanfic / Fanfiction Stigma (em revisão) - Sala das câmeras

POV JungKook

 

Ninguém disse nada. Nem mesmo o major, quem não fazia a menor ideia da dimensão daquilo. Talvez isso nem fosse necessário: somente aquela visão, num choque inicial, era suficiente para causar letargia nas ações de quem a visse. Nojo? Pavor? Incredulidade?

Eu estava de prova. Yoongi estava de prova. Taehyung estava de prova. Só que pra mim, o silêncio que nós quatro havíamos imposto naquele momento estava beirando o insuportável.

— Nós vamos conversar sobre isso depois — balbuciei ao tornar a enrolar o coração no paletó e o coloquei nas mãos de Yoongi. Ele não se deu ao trabalho de ficar incomodado com o gesto, tamanha a raiva que o atingiu ao sair do seu transe. Ótimo. — Taehyung, sala das câmeras, agora, vamos.

— Clar... Sala das câmeras?

— M-mas o que houve? — ouvi Matthew indagar confuso.

— Me siga e vai entender. E sim, Taehyung, sala das câmeras, vamos.

Virei-me e saí andando sem nem me preocupar em verificar se estava sendo seguido ou não. Afinal, eu tinha dois objetivos naquela sala que se faziam urgentes demais para delongas:

Objetivo número 1: verificar as imagens das câmeras e, se houvesse  — com certeza havia —  descobrir como aquele maldito coração flechado havia parado na entrada da faculdade.

E objetivo número 2: se realmente havia câmeras e imagens para serem analisadas, por que diabos os guardas que eu pedi que Taehyung pusesse naquela sala não dispararam alerta, nem fizeram nenhum movimento?

— Capitão, eu não acho que seja necessário o senhor ir até lá!

Taehyung soava nervoso demais atrás de mim. Quase suplicante. O problema era que súplica nenhuma ganharia espaço para competir com meus objetivos. Não quando eles envolviam a UNS. E a UNS, por sua vez, envolvia Hyejin. Consequentemente, qualquer ação negligente sobre a faculdade significava, direta e indiretamente, uma ação negligente a Hyejin.

— Pois eu acho que é, detetive.

— Mas o senhor não acha melhor voltar e explicar o que houve com calma pra nós? O major também está curioso, não está, major?

— Hã... É, bastante, pra dizer a verdade.

A confusão na voz de Matthew não era menos palpável. Só que parecia mais voltada para a curiosidade do que para o... Medo?

Sim, era isso que estava no tom de voz de Taehyung. Medo.

Por que? Eu não sabia. Medo do que eu pudesse contar para eles? Medo de eu ter mencionado a presença do Coelho naquela instituição? Medo de o próximo coração a ser arrancado ser o dele quando estivesse em um momento de distração? Eu não sabia. Mas eu me certificaria de verificar isso depois e, então, acalmá-lo. No momento, a urgência para verificar a fita de segurança era um pouco maior do que minha curiosidade.

A sala das câmeras ficava localizada aos fundos do prédio principal da faculdade, segundo os mapas que eu me lembrava de ter verificado em minha sala pela tarde. Taehyung já havia desistido de tentar falar comigo e Matthew nem tentava. Realmente estavam apenas me seguindo, ambos com as respirações pesadas tentando acompanhar minha velocidade.

A passos duros, atravessei o saguão do edifício com as parcas luzes da madrugada acesas. Pelo que parecia, a euforia dos alunos curiosos não havia chegado naquele prédio ainda, restrita só aos dormitórios. Uma grande sorte, multidão alvoroçada era a última coisa que me ajudaria naquele momento.

Meu caminhar ecoava pelo ambiente vazio, como se fossem tiros atingindo o chão. Talvez fosse um pequeno sinal do cosmos, já que, assim que abri a porta e irrompi na sala de câmeras... Eu realmente quis disparar alguns tiros sem rota.

Não havia ninguém guardando a sala. 

A surpresa foi tanta que demorei alguns segundos para processar o que estava vendo. Cheguei até mesmo a cogitar se não estava na sala errada, mas a julgar pelo conteúdo daquele cômodo, era o certo. O que não estava nada certo era o vazio nele.

Não havia nenhum equipamento que remetesse à presença da polícia. Não havia uma única alma viva pra fazer a segurança daquele lugar. Ninguém.

Só um senhor, sentado numa cadeira giratória de frente para as inúmeras telas com as imagens de segurança.

E ele estava dormindo!

Pelo menos agora eu sabia o motivo de não terem disparado um sinal: porque não havia ninguém pra fazer isso.

Girei tão rápido nos calcanhares que me restou ter que segurar no batente da porta pra não perder o equilíbrio. Mesmo desnorteado pela adrenalina subitamente alta, a visão mal ajustada logo captou um cabisbaixo Taehyung, parado a vários metros de distância de mim e semi escondido pelo prédio chamado major Kim Matthew.

Ah, mas de jeito nenhum.

Com menos freio ainda, retornei até Taehyung, sentindo-me tão irritado que percebi estar deixando até Matthew desconfortável.

Então era por isso que ele estava tão amedrontado.

Eu não tirava a razão dele de estar.

Parei em frente ao aglomerado Matthew+Taehyung e ergui a cabeça para fitar o maior nos olhos.

— Saia da frente dele, major.

Ele titubeou. Tae permaneceu de cabeça baixa e sem entender nada, o major deixou os ombros caírem ao fitar a figura triste do detetive. Tanto que, ao se voltar para mim de vez, abriu a boca como se fosse falar algo.

Mas, por fim, o que saiu foi:

— Claro, capitão.

Esperei ele se afastar e encarei Taehyungo Kim mais baixo.

— Quer saber o que houve aconteceu, Matthew? Quer? Pois bem — aumentei o tom, sem nunca tirar os olhos do oficial a minha frente. — O mesmo assassino que atacou sua irmã resolveu agir perto da faculdade essa madrugada. Duas ruas de distância.

— Você não pode estar falando sério-

— Tanto estou que a vítima já está a caminho do pronto socorro, Yoongi já deve estar na cena do crime e meu paletó está com ele todo empapado de sangue e com um coração flechado de brinde. Aliás — olhei-o de relance — ele foi deixado pra mim depois que saí do meu posto para ir socorrer a vítima e depois que precisei dar um tiro pro alto pra alertar os outros guardas, já que não tinham guardas disponíveis na sala de câmeras como eu havia comandado! — soltei num fôlego só, as bochechas vermelhas pela raiva e pela falta de ar. — Não é mesmo, detetive Kim Taehyung?

O dito cujo não respondeu, nem mesmo para tentar se defender. Continuou de cabeça baixa, as mãos cruzadas na frente do corpo.

— Será que tem noção da sua falha?

Tae assentiu devagar.

— E-eu... Eu ia colocar os guardas nessa sala... Pela manhã...

— Pela manhã? Mas eu me lembro claramente de ter te dado essa ordem na noite de ontem!

Ele se encolheu mais ainda diante do meu estado alterado. Por Deus, como era possível que ele tivesse adiado uma coisa importante como aquela?

— Eu sei, mas eu... Por que... Por que você tá tão bravo? — ele perguntou, diminuindo tanto a voz que tive até que me aproximar mais um pouco para ouvir.

— Como assim, por quê?

— Você nem ia poder fazer nada... Digo... Achei que não devíamos pegar ele...

Tornei a relancear Matthew para conferir se ele prestava atenção em nossa conversa. Mas o major estava longe, olhando para os próprios pés e com a expressão mais furiosa que eu já havia visto.

— Não é essa a questão — devolvi também num tom baixo, mas não menos irritadiço. — A questão era deixar a faculdade em alerta e diminuir o tempo de resposta para a proteção das entradas! E se ele estiver escondido em algum lugar aqui dentro?

Ele se encolheu novamente. Tentei respirar fundo, só que eu não me encontrava mais em condições de me controlar.

— Eu posso até não poder fazer nada, mas você sabe muito bem que as regras do jogo mudaram no lado do tabuleiro desse maluco. E se eu não temesse pela sua vida — afundei o dedo no peito dele, que subia e descia com dificuldade — eu já teria entrado também nessa mudança há alguns dias. Não faça eu me arrepender de estar escolhendo vocês e faça seu trabalho direito.

Despejei as palavras e dei as costas para Taehyung. Sem saber mais o que fazer, cobri o rosto com as mãos como se isso pudesse espantar a raiva crescente.

Mas que droga, por que ele havia mandado guardas para todas as entradas, mas não havia mandado para a sala das câmeras? Eu havia sido bem claro noite passada, por quê?

Não fazia o mínimo sentido! 

Eu odiava ter que fazer aquilo com Tae, mas eu simplesmente não entendia!

Deixei as pernas cederem e me sentei de cócoras no chão. A cabeça pendeu para frente e fiquei ali, os olhos fechados e tentando acalmar a cabeça e os batimentos cardíacos. Só que eu não podia nem mesmo pensar no meu peito disparado que o maldito coração voltava a dar o ar da graça na minha memória.

Ocupe a cabeça com algo útil, JungKook, ocupe a cabeça.

Ainda de cócoras, saquei o celular no bolso traseiro. Corri a tela com urgência e logo já levava o aparelho até o ouvido.

Um... Dois.... Três... Quatro toques se passaram até o som de chamada cessar e ligação ter início.

— Alô, Namjoon?  

— Quatro da manhã, JungKook? — a voz dele estava grogue. — Fala, qual foi a merda da vez?

— Uma garota perto da faculdade. Esfaqueada, estrangulada e alguns ossos quebrados. Mas ainda está viva.

— Viva? Ué, mas então por que ligou pra mim? Eu-

— Eu sei, eu sei, você é legista, eu sei, mas não foi só isso  — tomei fôlego. — Eu... Recebi um... Presentinho dele.

— Hum... Pelo jeito que você falou... O que foi, uma cabeça?

— Passou perto. Mas não, eu recebi um coração. Flechado, ainda por cima.

Silêncio do outro lado da linha. Apenas a respiração de meu hyung era audível, assim como um leve barulho de ranger de cama.

— É... É sério isso?

— Não devia, mas é, eu também demorei um pouco pra entender... E a não ser que o Coelho tenha invadido o IML e assaltado um dos seus presuntos, o coração é de mais algum corpo perdido por aí. Preciso da sua ajuda com isso.

— Não, claro, claro, onde você tá?

— Na faculdade, mas vai pra delegacia. Daqui a uma meia hora eu chego lá.

— Certo, te encontro daqui a pouco.

Desliguei o aparelho e levantei, uma ligeira dor nas pernas por conta da circulação. Guardei o celular e procurei os outros dois que me acompanharam até ali. Acabei por ver Matthew, dividido entre aquietação e pena, sendo abraçado por um choroso Taehyung.

Tentei não reparar na ironia que era o major estar com pena do Kim devido ao meu sermão, mas a primeira conversa que ele havia tido comigo ter sido uma briga e por motivos bem mais distorcidos.

Talvez fosse porque Tae era mais simpático e inocente que eu em todos os aspectos? Eu preferia aceitar essas hipótese.

Revirei os olhos por estar formulando hipóteses estúpidas quando minha mente já estava tão cheia. De repente, o sono me fazia falta até demais.

— Eu disse que Yoongi já deve ter ido para a cena do crime, não foi? — projetei a voz, chamando a atenção do major. Tae, ao perceber estar sendo observado, ajeitou-se rapidamente e secou as lágrimas em seus olhos. Matthew imitou o gesto e assentiu. — Talvez você queira ir lá ajudar ele? Eu percebi que você ficou um pouco... Inquieto com a notícia do ataque.

— Fiquei... Fiquei sim — admitiu. - Só achei que não queria que eu me intrometesse nas investigações, então-

Realmente.

— Eu só tinha ficado chateado com o jeito que você falou comigo lá atrás — dei de ombros. — Mas não precisa se reprimir. Vai lá.

O Kim mais alto não demonstrou muita confiança nas minhas palavras. Olhou de soslaio pra Taehyung, deixando claro que, ao mesmo tempo que estava louco para examinar a cena do crime, também estava preocupado de deixar o detetive sob meus cuidados somente.

Ah, que foi, o psicopata ali não era eu!

— Matthew — chamei o olhar dele para mim. — Pode ir.

Será que eu estava assustador a esse ponto? Eu só estava irritado! E por justa causa!

Convencido, mas nem tanto, o major fez uma rápida reverência e balbuciou:

— Eu vou lá.

Deu as costas e saiu andando. Os passos dele ecoaram até sumirem, misturando-se ao vento na área externa do prédio. Enquanto isso, Tae controlava alguns soluços, o que, de repente, me fez sentir mal por ter falado daquela forma com ele.

Escorri as mãos pelo rosto até pousá-las nos quadris, observando meu amigo. Um rosto tão adulto, mas com o espírito de uma criança por dentro.

O que eu faço com você, Taehyung?

Aquilo deveria ser mais fácil. Em outras circunstâncias, a personalidade de Tae seria extremamente adorável. Mas na atual, ele conseguia me fazer arrancar os cabelos de preocupação.

— Vamos, Tae — estiquei a mão em direção a ele. — Não adianta se lamentar agora.

De repente, eu me sentia cansado até os ossos. O que não me impediu de entrar de vez na sala das câmeras pela porta que continuava aberta por minha causa. Parei no vão e aguardei até que os passos lentos do detetive me alcançassem.

Achei impressionante — e invejei, admito — o fato de que o senhor ali presente ainda dormia. Talvez fosse só já estava acostumado com meu sono leve, mas achei impressionante.

— Hã... Senhor?

Aproximei-me dele e cutuquei seu ombro de leve. Nada.

— Senhor — tentei mais uma vez, sacudindo ele levemente pelo ombro. Nada de novo. 

Por acaso ele tinha sido dopado ou algo do gênero?

— Senhor, eu vou perder a paciência com o senhor — murmurei para mim mesmo e recolhi as mãos.

Certo, como se acordava um senhor que conseguia ter o sono incrivelmente pesado sem apelar para gritos que poderiam matar ele do coração?

— Você... Pode tentar continuar balançando ele, só que mais forte. — Taehyung falou de repente, a voz ainda meio embargada. — Ou... Espera...

Tae começou a procurar algo em seus bolsos. Enquanto ele fazia isso, andei até o senhor e parei à sua frente, apoiando as mãos nos joelhos. Balancei uma delas perto de seu rosto inutilmente, ainda sem receber resposta.

— Senhor, pelo amor do santo que o senhor quiser, acorda.

— Dá uma licencinha.

Taehyung apareceu encostando em meu ombro. Cedi passagem e, de braços cruzados, ao ver o detetive se sentar no colo do senhor com o que parecia ser um pequeno tufo de cabelos?

Travei o maxilar para não rir quando me dei conta de que eram fios do próprio Taehyung.

— Senho-or — ele cantarolou, passando a pontinha do tufo no nariz do outro. — Senhor, hora de acorda-ar.

Finalmente, vi o senhor enrugar o nariz uma, duas, três vezes. Virou o rosto de um lado para o outro, como se quisesse evitar o tufo inconscientemente. Até que por fim, abriu os olhos com uma expressão bem grogue. A qual, claro, sumiu na hora que pousou os olhos em Taehyung a sua frente.

E devo admitir, para quem estava dormindo igual uma pedra a poucos segundos, a velocidade com que ele levantou da cadeira giratória foi mais impressionante do que a força do sono dele.

No movimento brusco, Tae, quem estava sentado no colo do senhor, voou no chão ao passo que o outro se protegeu atrás da cadeira, apontando para nós dois com o dedo trêmulo:

— Quem são vocês? Baderneiros? Estão pensando o que, é hora de recolher, vocês não podem nem-

— Somos da polícia, senhor — descruzei os braços para oferecer um deles a Taehyung e mostrar o distintivo com o outro.

— A-ah, vocês são da polícia... Cruzes, essa faculdade anda muito movimentada, vocês não estiveram aqui ontem mesmo?

— É, fazer o que, não é — concordei, Taehyung de pé novamente. — Então, se o senhor colaborar conosco, talvez a gente consiga parar de vir perturbar seu sossego. Vai nos ajudar?

— Vou, vou, claro! Do que precisam?

— Que nos deixe ver uma gravações das câmeras. Aliás, se pudesse nos dar uma cópia delas também...

— Agora mesmo, oficial!

O senhor não perdeu tempo: logo puxou o cadeira que ocupava até uma mesa de computadores e colocou-se a trabalhar. E a julgar pela agilidade com que mexia naquela máquina, era perceptível que tinha experiência no que fazia.

— Prontinho — falou depois de um tempo. — Precisa de algo específico?

— Eu... Hã, desculpe, mas qual seu nome, senhor?

— Ah, é Kim Young Do, senhor! — estendeu-me sua mão, a qual eu prontamente apertei.

— Certo, Young Do, eu preciso de um espaço curto de tempo, algo entre as 3:45 e 4:10 da manhã.

— De hoje, certo? — indagou conforme também apertava a mão de Tae.

— Sim, é coisa recente.

— Sem problemas. Venham cá.

Girou novamente para a tela de seu computador. Eu e Tae nos juntamos perto dele, um de cada lado. Young Do abriu uma tela de reprodução, a imagem esverdeada e, protagonizando a cena, estávamos eu e o guarda que havia me acompanhado aquela noite.

A contagem das horas, minutos e segundos rolava no canto direito da tela, evidenciado o horário que eu havia pedido por me lembrar de tê-lo checado antes de tudo começar: 3:45 da manhã.

— Mas... — a voz de Young Do perfurou minha concentração, ocupada em observar a cena; a qual pulou de monótona para o princípio do caos.

O horário do grito. Com certeza era ele. Um gemido desanimado escapou da minha garganta, não querendo pausar a análise para explicar algo pela segunda vez.

— Explica pra ele, detetive — dei um leve tapinha no braço do senhor. Tae pegou a deixa e guiou-o a se erguer.

— Venha, senhor Young Do, eu vou te explicar tudo.

Assim o Kim mais velho fez, seguiu Taehyung e deixou a cadeira giratória livre para que eu me sentasse e continuasse a assistir a cena novamente vazia e parada.

Olhei a contagem do tempo. 3:48 da manhã. 

Meu estado de nervos naquela madrugada era tamanho que nem havia me dado conta do tempo depois de tê-lo checado pela última vez no relógio. Eu não fazia ideia de quantos minutos ou segundos passei naquele beco vazio, junto da vítima da vez, então só permanecia atento à fita sem especular nada.

Eram 3:50 quando eu surgi correndo na gravação e atravessei os portões da faculdade. Em questão de frames já não me encontrava mais ali. E quase um minuto exato depois, outra presença preencheu a tela.

Um misto de sentimentos, exclusivamente ruins, formou-se na boca de meu estômago assim que vi aquela criatura desprezível. Eu sabia que era ele: reconheceria aquela máscara de coelho em qualquer lugar. E eu faiscava pelo nojo que sentia daquela pessoa desestruturada; já havia ultrapassado a fase da raiva há muito tempo.

Eu sentia era nojo. E ele só crescia.

Sem nenhum guarda no portão principal, o Coelho agiu rápido. Observei o horário da gravação. 3:51 quase 3:52. Os movimentos eram rápidos, rápidos até demais. Se eu fosse fazer uma análise mais calma... Diria que estavam até desesperados.

Ele portava uma pequena caixa. Eu não conseguia ver a cor dela, já que a cena era toda monocromática, no tom verde. Mas conseguia ver que a caixa possuía um laço em sua tampa, o qual o Coelho retirou. Quando fez isso, percebi que usava luvas. Em seguida, ajoelhou-se e, com cuidado, retirou meu pequeno presente de dentro da caixa.

Olhando daquela forma, nem parecia ser algo tão chocante. Pelo menos, para mim. Acho que, por eu já ter pego o coração mais cedo, vê-lo novamente numa gravação não era tão chocante quanto deveria ser.

E então aconteceu o que eu não esperava: depois de fazer o que queria com uma rapidez que não me descia, o de máscara recolheu sua caixa e...

Saiu correndo?

O portão da faculdade voltou a ficar vazio, sem a minha presença, nem a do guarda, muito menos a do Coelho. 3:53, quase 3:54 da manhã.

E eu permaneci encarando algum ponto aleatório na tela e com uma pergunta rodando os pensamentos:

Como assim, ele saiu correndo?

Uma sensação incômoda me abraçou, cada vez com mais força. Não que eu desejasse ter que me castigar por muito mais tempo vendo aquele lunático na gravação, mas algo me dizia que aquilo estava errado.

Desde quando ele saía correndo como um bichinho assustado dos cenários de terror que provocava?

Eu me lembrava do relato rápido de Min Jisoo, amiga da menina assassinada na faculdade, antes que ela me desse o depoimento definitivo na delegacia: ela tinha se escondido no quarto de Hyejin, havia vivenciado cada momento do que o Coelho fez além do assassinato. Jisoo contou como ele se aproximou da janela do quarto com a máscara ensanguentada e os passos lentos, como se muito mais do que apavorar, quisesse testar todos que estavam dentro do cômodo. E mesmo quando Hyejin pegou o telefone para me chamar, mesmo quando ele viu que alguma ajuda estava a caminho, não saiu correndo como fez na gravação. Mesmo com o risco iminente de ser pego, Min me contou como ele havia ido embora: calmo e impassível.

Então por quê?

 

Mas se eu parasse para pensar... 

Colocando de lado o enjoo que me atingia com a visão daquela máscara e analisando tudo friamente, tudo parecia estranho naquela situação. Até os movimentos: rápidos demais. Beirando o desespero.

Recostei-me na cadeira com o suspiro e a cena do guarda se espantando com a presença de um órgão flechado na porta da faculdade se desenrolava na tela do computador.

Alguma coisa não estava certa.

Procurei por Taehyung e Young Do por sobre os ombros. Eles estavam um canto, Tae conversando com o senhor em voz baixa e passava as mãos pelos braços flácidos dele, num carinho tranquilizador e desajeitado.

A cena me fez engolir as suspeitas por hora. Aquele não era o lugar de fazer especulações.

Apoiei o queixo no punho e coloquei-me a esperar o detetive acalmar Young Do para que pudéssemos ir. E a inércia, como sempre, trouxe as dúvidas e pensamentos.

Eu estava confuso. Não que duvidasse que tudo era mais um número daquela interminável peça dirigida pelo Coelho. Não, ele tinha seu traço: a mente doente o suficiente para pegar algo simples e puro e convertê-lo ao grotesco e repugnante. Eu mesmo já estava marcado por aquele traço.

Mas que algo estava errado, além do usual, com certeza estava.


Notas Finais


:)


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