História Stockholm Syndrome - Requisitos

Requisitos    

Chanyeol jogou-se no sofá logo após tirar toda aquela maquiagem e roupas de joker. Queria apenas dormir, estava cansado. Estava prestes à cair no sono, quando seu celular tocou.

Coçou os olhos preguiçosamente, vendo o nome de Kris no ecrã. Deslizou o dedo pela tela, levando o aparelho até o ouvido.

- Chanyeol, eu já enviei o vídeo para Daejoon, ele já viu e até respondeu o email.

- Vai direto ao ponto.

- Onde está o Baekhyun? Você não machucou o garoto não, certo?

- Ele está inconsciente num quarto, porque sim, eu o machuquei.

- Ah, cara! Qual o seu problema? Não sabe controlar essa mão não?

- Não, Kris.

- Que mau humor, hein!

- É só isso? Eu vou desligar.

- Não! Ele disse que tem alguns requisitos em relação ao sequestro.

- Isso é sério? O filho dele corre risco de morrer e ele ainda tem exigências? Por favor, só mande aquele velho ir se foder.

- Não é bem assim, Chanyeol. Não se trata apenas de um sequestro, eu tenho assuntos pendentes com Byun Daejoon. É algo pessoal.

- Pessoal? Então que me deixasse fora disso, seu babaca! Eu não ‘tô nem aí sobre seus problemas com um ou outro, se for pra se ferrar, se ferre sozinho!

- Vá pra puta que o pariu, seu idiota! Eu só te chamei nessa porra porque estamos juntos em tudo e é uma quantia boa, se quiser cair fora agora, vai! Mas não espere que eu vá te chamar pra se juntar à mim em outra parada, quem abandona uma vez, abandona em qualquer situação, Park.

Silêncio.

Se havia uma coisa que Park Chanyeol entendia, era sobre abandono. Já fora abandonado várias vezes e sabia exatamente a dor que era se sentir de tal forma, Kris foi a pessoa que o tirou desse estado, não poderia deixa-lo na mão dessa forma.

- Quais são os requisitos?

Ouviu uma risadinha de Kris do outro lado da linha.

- Bem... Você não pode machucar o Baekhyun em hipótese alguma, temos que entrega-lo bem e saudável, cuide dele. E outra, tente não ser tão arrogante, estamos lidando com um caso em especial.

- Yifan...

- Nem adianta reclamar, apenas cumpra minhas ordens.

- Aish... Continue.

- Ele tem uma intolerância forte à lactose, cuidado.

- Mais alguma coisa? Tipo a hora que ele dorme, toma banho, come...

- Seja menos irônico, ajuda bastante.

Chanyeol soltou uma gargalhada, revirando os olhos.

- Okay, entendi. É só isso?

- Por enquanto, sim. Depois te ligo pra avisar mais coisas.

- Está bem.

Desligou o celular, jogando-o em qualquer lugar da sala.

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Os raios de sol entravam pela fresta da janela, iluminando parcialmente o quarto empoeirado. Com muito esforço, Baekhyun conseguiu abrir os olhos. Ergueu seu tronco devagar, sentindo dores fortes pelo rosto.

Baekhyun queria poder dizer que tudo o que havia acontecido não passava de um sonho esquisito, mas concluiu que era real quando olhou ao redor e viu que não estava em seu quarto, nem no quarto de ninguém conhecido. Percebeu também que suas mãos estavam atadas num nó bem feito, assim como seus pés, sendo impossibilitado de sair dali, e, caso tentasse, provavelmente cairia.

Desistindo de tentar levantar, apenas deixou-se cair novamente no colchão fofo, encarando o teto.

- Omma! A senhora vai me levar na escolinha, não vai?

- Claro que vou, Baekhyun.

~ Primeiro dia de aula no jardim de infância, mamãe não me levou por que teve que viajar.

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- Omma, poderá me levar hoje? Meus amiguinhos querem conhecê-la.

- Sim, Baek.

~ Dia das mães quarto ano do ensino fundamental, mamãe não foi porque tinha horário marcado com a cabeleireira.

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- Mãe, você vai comigo hoje? Meus amigos estão duvidando que eu tenho uma mãe.

- Eu não sei, Baekhyun.

Ela não foi.

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- Hey, você vai... Esquece, eu já tô indo, até mais.

- Aham.

Não adiantaria se eu pedisse que ela me acompanhasse no primeiro dia de aula do ensino médio, minha mãe nunca realmente me deu atenção, meus amigos ainda zombam de mim, acham que eu não tenho uma mãe. Talvez eu não tenha mesmo.

Será que agora ela se importará comigo?

Baekhyun pensou enquanto sentia uma lágrima solitária rolar por seu rosto. Lembrou-se de todas as vezes que seu diário fora rabiscado com relatos sobre o quão ausente sua mãe era em sua vida, percebendo que não era sozinho apenas por não ter amigos de verdade, mas não ter ninguém.

Não sabia exatamente o porque, mas lembrava-se de seus treze anos, quando começara a mutilar a si próprio. A sociedade diz que cortes e anti depressivos são uma forma de adolescentes chamarem atenção. Talvez seja, porque ao fazer isso, Baekhyun só queria que alguém o entendesse, que o abraçasse e dissesse que estava tudo bem, a dor emocional era quase insuportável, se não fossem pelas lâminas que se manchavam com o líquido escarlate, não teria dor física para suprir os machucados do coração de Byun Baekhyun.

Foi tirado de seus pensamentos pelo rapaz alto que entrava no quarto com uma bandeja prateada. O acompanhou com os olhos até sentir o colchão afundar ao seu lado.

- Olha aqui tua comida, tem cinco minutos pra engolir essa porcaria toda.

- Eu não quero comer.

- Ótimo, morre de fome e poupa meu trabalho.

- Qual o seu nome?

- Por que quer saber?

- Quer que eu te chame de quê então? Sequestrador?

- Quem disse que eu quero que você me chame?

- Ah, vai se foder!

- Park Chanyeol.

Baekhyun revirou os olhos, passando os olhos pelo iogurte na bandeja. Desviou o olhar para um pão com queijo, depois para um copo de achocolatado.

- Se quer me matar, por que não pega sua arma e mete uma bala no meu crânio?

- Se eu quisesse te matar agora, já teria feito isso, Byun Baekhyun.

- Eu não posso comer nada dessa porcaria que você trouxe, senão eu vou ter um ataque e morrer, seu babaca.

Chanyeol observou novamente tudo o que tinha trazido e lembrou das palavras de Kris no dia anterior. Intolerância a lactose, e tanto o queijo, quanto o iogurte e o achocolatado eram derivados. Suspirou pesadamente, pegando a bandeja de volta.

- O que você pode comer?

- Qualquer coisa que não tenha lactose.

- E o que não tem lactose?

- Você é burro?

- Burro o suficiente pra aceitar sequestrar um garoto mimado e inútil como você. Sabe, gente da sua raça me dá nojo, sempre tem o que querem, na hora que querem e como querem. Acham que são mais que os outros só porque estudam em escolas que cobram uma mensalidade mais cara que um salário total de uma pessoa de classe média. Você não é melhor que eu, Baekhyun. Pelo contrário, eu decido o que fazer com você agora, e, sinceramente, sua vida está me valendo tanto quanto a da barata que eu acabei de matar lá embaixo.  – suspirou, o nojo que sentia por Baekhyun era evidente. – Bem, o que não tem lactose?

Baekhyun não se defendeu, afinal, era a realidade.

Sempre teve o que queria em relação à bens materiais. Quando não tinha, abria um berreiro ou ameaçava se rebelar, assim, conseguia exatamente tudo como queria. Até o primeiro ano do ensino médio, as pessoas lhe diziam que ele era melhor que os garotos que estudavam em escola pública, por ser filho de um homem importante, por isso, aquelas ideias se infiltravam cada vez mais em sua cabeça.

- Torradas e suco. – falou num tom baixo, encolhendo os ombros.

- Vai ter que esperar, eu vou sair. – Baekhyun assentiu, ainda com a cabeça baixa. Chanyeol pegou um canivete em seu bolso, o que fez o menor arregalar os olhos ao ver a lâmina, mas sentiu uma pontada de alívio ao sentir seus pulsos e tornozelos sendo soltos. -  Me dê seu celular.

- Está descarregado.

- Eu não vou repetir. – Baekhyun enfiou a mão no bolso de trás de sua calça, puxando o celular dali, que foi entregue ao maior à sua frente. – A casa estará toda trancada, não há ninguém pelos arredores, por isso vou te deixar solto, mas não fique fuçando as coisas.

Num malear de cabeça positivo, ele concordou com aquilo.

E Chanyeol saiu do casarão, deixando Baekhyun sozinho encolhido em posição fetal no tapete da sala.