História Stone - One

Escorreguei até o chão, com as costas na parede. Eu não podia chorar, eu não podia, pensei, esfregando os meus olhos com força para dispersar as lágrimas. O que foi em vão, claro, já que elas continuaram a cair e com mais força.

 - Alexander? – Ouvi a voz do meu pai em cima de mim.

 Olhei para cima. Meu pai me olhava com um rosto sério, segurando um cinto de couro e com as mãos fechadas em um soco. Me levantei rapidamente.

 - Pai. – Falei, fungando.

 - Você estava chorando? – Ele perguntou, segurando o cinto com mais força.

 - Não, não, claro que não! – Eu exclamei. O meu coração estava batendo tão forte que eu podia sentir o pulsar nas pontas dos dedos. – Eu estava... eu já estava indo...

 - Você não está atrasado para a escola? – Perguntou meu pai, arqueando as sobrancelhas.

 - Escola! Claro! – Dei um tapa na minha própria testa. - Eu vou... buscar a Izzy.

Antes de ir em direção ao quarto da irmã, eu olhei para dentro do quarto dos meus pais. Mamãe estava em cima da cama, chorando, com um grande hematoma no rosto. Já era a 2° vez naquela semana.

Eu respirei fundo e segui para o quarto da minha irmã.

Izzy estava no chão, arrumando sua mochila da escola. A garota de 7 anos, estava com o cabelo negro penteado para trás, vestindo o uniforme azul da escola e segurando um livro branco.

- Izzy? - Chamei.

A garota olhou para mim. Deu um sorriso faltando dois dentes.

- Vamos? - Ela perguntou, terminando de arrumar a mochila e se pondo de pé.

Quando estávamos saindo da casa, Izzy disse:

- Alec?

- Sim? - Perguntei, me virando para ela.

- O papai e a mamãe brigaram de novo?

Eu suspirei. Era difícil explicar aquilo para a minha irmã sem deixá-la assustada.

- Brigaram. - Eu toquei no ombro dela. - Mas está tudo bem, ok? Você não precisa ficar preocupada.

E, dizendo isso, nós saímos de casa.

(...)

- Alec, Alec? Alec!

Abri os olhos em um susto. Olhei ao redor; estava no refeitório da escola. A bandeja na minha frente continha um suco de morango e a gororoba que a cozinheira chamava de waffles.

- O que aconteceu? - Perguntei, esfregando os olhos. Olhei para o meu amigo Jace.

- Nada demais. Só você que dormiu enquanto eu estava contando a história super divertida do dia em que eu caí da escada. - Disse Jace, revirando os olhos. - Está tudo bem, cara? Você praticamente dormiu a aula de Física inteira também.

- Bom, isso não é culpa minha. - Eu dei de ombros. - O prof. Roger fala tão lento que dá sono. E, além disso, ele desligou a luz, deixando um ambiente perfeito para uma soneca.

- Eu estou falando sério. - Jace tirou a mecha loira da frente dos olhos. - Está tudo bem com você? Está tudo bem na sua casa? Você está precisando de alguma coisa?

Eu encarei a comida. Não podia simplesmente dizer "na verdade, cara, o meu pai bate na minha mãe quase toda semana e eu simplesmente não consigo dormir com os gritos de dor dela. Mas, tirando isso, minha vida está um mar de rosas." Apesar de Jace ser o meu melhor amigo, eu não podia confiar aquele segredo a ele. Principalmente depois que o meu pai me ameaçara de morte se eu contasse o segredo para qualquer pessoa.

- Sabe do que eu estou precisando? - Eu fingi um sorriso, mudando de assunto. - Preciso de uma cozinheira nova para essa escola. Olha só essa porcaria! -Toquei no waffles e a comida simplesmente parecia ter uma consistência gelatinosa. - Argh. A nossa cozinheira precisa urgentemente começar a ver MasterChef.

- Sei, sei... - Jace fez uma cara desconfiada e se levantou. - Não adianta mudar de assunto. Eu conheço você melhor do que você mesmo. Eu sei que tem alguma coisa errada, e eu vou descobrir o que é.

Me levantei da mesa e arqueei a sobrancelha.

- Você parece um detetive.

- É que eu comecei a ver Sherlock. - Jace sorriu. - Sabe, você tem que ver! É uma série que conta sobre...

E, com isso, eu consegui mudar de assunto e tirei os meus pais do meu pensamento.