História Strawberry Pie - Morangos têm efeito calmante

O dia chuvoso do lado de fora combinava com o clima do lado de dentro do apartamento. O alfa moreno estava há horas sentado na cadeira confortável do escritório decorado com tons sóbrios — dignos de qualquer advogado careta — em frente a mesa onde o computador moderno se encontrava apoiado. Jeongguk havia tirado o dia de folga para conseguir, após muito tempo sem nenhum descanso, passar o dia com seu ômega, que sempre o cobrava carinho e atenção — Taehyung era um homem muito carente —. Porém, contrariando o que era esperado, o ômega havia acordado com um humor terrível e ambos acabaram discutindo logo cedo.

Taehyung é um rapaz adorável, atencioso e carinhoso, mas quando seu cio se aproxima é como se ele virasse um furacão e Jeongguk, sinceramente, tem medo dele nesses momentos. Ele fazia tudo com um ódio tão aparente, brigava com qualquer um que aparecesse em sua frente, não medindo palavras e gestos. O moreno compreendia que os hormônios de um ômega macho eram realmente terríveis e incômodos, era como se a consciência de Taehyung e seu ômega travassem uma batalha interna.

O alfa optou por se refugiar dentro do escritório do apartamento para evitar mais discussões bobas, porém, como era o esperado, não conseguia se concentrar em ler os contratos e os emails que chegavam com frequência. Ao tentar, pela terceira vez, compreender o que o primeiro parágrafo do texto queria dizer, seus pensamentos foram desviados para o ômega teimoso no andar de baixo, bufando ao que se percebeu distraído novamente.

O moreno decide, portanto, parar de tentar trabalhar antes que cometesse algum erro trágico que interferisse seriamente em algum processo. Espreguiçou-se assim que se levantou da cadeira marrom e, por fim, saiu do cômodo, se encaminhando para a escada bonita com o ar moderno que Taehyung tanto apreciava. O apartamento dos dois jovens era muito bem decorado e planejado, o ômega era arquiteto e dedicou muito tempo no projeto do apartamento dos sonhos.

Enquanto descia as escadas do apartamento, se distraía mexendo na barra da manga do moletom de tricô azul claro que o protegia do leve frio que fazia no momento. Olhou através das janelas de pé direito duplo, que mostravam a paisagem nublada e chuvosa que Jeongguk tanto amava.

Ao chegar na sala de estar no primeiro piso, pode ver a cozinha em conceito aberto, conseguindo enxergar o castanho fazendo o almoço — o qual sempre se responsabilizava por fazer quando conseguiam almoçar em casa, já que Taehyung, além de não possuir muita habilidade, não gostava de cozinhar, mas, naquele dia, o alfa havia sido educadamente enxotado da cozinha por pura birra — e sussurrando xingamentos para o alfa, sem ainda notar sua presença na sala ampla em frente a cozinha.

— Francamente, aquele idiota. — O mais velho diz enquanto pica um tomate de uma maneira um pouco raivosa. — Ele realmente acha que eu tenho que ficar ao lado dele o tempo todo. — Sim, Taehyung estava reclamando do fato do moreno não ter ido trabalhar para ficar com ele.

Taehyung não funciona bem nesses momentos, ele sempre pede a companhia do alfa, o convida para sair e para ficar o máximo possível ao lado dele e agora que o outro consegue se ausentar do escritório, ele reclama de sua companhia. De manhã, ao acordar e receber a notícia de que o mais novo ficaria em casa naquele dia, havia dito que não precisava de migalhas de amor. Jeon resolveu se sentar em uma das poltronas da sala e ficar o observando de longe, para o alfa o ômega era lindo, mesmo exalando ódio até enquanto mexe o macarrão no fogão.

— Alfa idiota. — Nesse momento ele parecia meio perdido dentro da cozinha, andando de um lado pro outro, aparentemente sem saber o próximo passo da refeição que estava fazendo.  — Devia ter o ignorado enquanto podia, aish.

Ouvir o marido dizer aquilo havia o magoado o pouco, mas o alfa já estava acostumado com a situação, afinal passava por isso faziam oito anos. O casal se conheceu no primeiro ano do ensino médio, o moreno era novato na escola e tinha um pouco de dificuldade em se comunicar com outras pessoas, especificamente com coreanos. Antes de se transferir para aquele colégio, o alfa havia morado em Vancouver, no Canadá, por doze anos por causa do trabalho de seus pais. O garoto tinha vergonha de falar em coreano e cometer algum erro — uma tremenda bobagem de um adolescente que não conhecia nada da vida — e, por isso, evitava conversar com as pessoas a sua volta, mas Taehyung não o ignorou como o resto dos alunos.

A partir desse primeiro contato o clichê aconteceu: os dois viraram amigos e o ômegas o apresentou aos amigos mais próximos e, por ser tão comunicativo, acabou por favorecer a perda da timidez do mais novo. Descobriram que sentiam algo mais profundo um pelo outro depois de poucos meses e acabaram enrolando por quase um ano até que Taehyung se declarasse para o mais alto. Estavam juntos desde que aquela época e o Jeon vem aguentando firmemente a tensão pré cio do mais velho, sendo bem recompensado depois.

— Se você fizesse isso, não seriamos o casal lindo que somos hoje, Tae. — Disse quando já está próximo a entrada da cozinha. O mais baixo leva um pequeno susto com a voz mansa do parceiro, se virando para trás ao finalmente nota-lo ali.

— Não me irrite mais, Jeongguk. — A forma com que ele balançava as mãos em forma de negação na frente do corpo era fofa e o moreno diria isso para ele se não soubesse que isso o irritaria ainda mais. 

Taehyung mexe mais uma vez o macarrão na panela funda e, após isso, desliga o fogo. O ômega sabia que não era muito bom na cozinha, porém era especialista em fazer macarronada e tinha ciência que seu molho ficava maravilhoso e o ponto do macarrão perfeito, sempre recebia elogios quando decidia cozinhar o pranto.

O alfa respirou fundo para sentir o cheiro maravilhoso da macarronada — que mesmo cozinhada na base do ódio, estava com uma cara muito boa —, sentindo também o cheiro de morango e rosas do ômega à sua frente e lembrou-se o quanto o mais baixo amava a fruta e que ela sempre o deixava mais calmo. Olhou rapidamente para janela, constatando obviamente, que o tempo não havia mudado e que não estava muito animado de ir ao mercado mais próximo comprar morangos. 

— Tudo bem, tudo bem. Não está mais aqui quem falou. — O alfa se afastou, passando por trás do ômega e se aproximando da geladeira. 

Ao abri-la encontrou um pequeno pedaço de torta em um pratinho no fundo da geladeira que deveria estar ali há quase uma semana, quando Taehyung comprou uma torta inteira para ele e guardou um pedaço para o marido, que, obviamente, ele não chegou a comer. 

— Deve servir. — Disse baixinho enquanto tirava o pedaço da geladeira e pegava uma colher de sobremesa de dentro da gaveta entregando a Taehyung logo depois.

A cara do mais velho ao ver o pedaço de torta foi tão fofa que o moreno não resistiu em deixar um beijo na testa morena, recebendo uma cara emburrada com um biquinho lindo  e murmúrios de reclamação.

— Não vou comer isso, guardei para você. — Ele diz não estendendo a mão de volta para pegar o prato. 

— Tae, eu não vou comer. Você sabe que eu não sou fã de doces. — Balançava o prato em sua frente, atento aos olhos seguindo o pedaço de torta igual aos de um filhotinho de cachorro seguindo um pedaço de sua comida preferida.

Não foi necessário insistir mais, sabia o quanto o castanho adorava comidas doces — ainda mais se elas fossem de morango — e que cederia fácil ao pedaço de torta, mesmo com a macarronada ao lado esperando para ser comida.

— Já que você insiste tanto. — Disse ao pegar rapidamente o prato da mão do alfa e colocar uma colherada da torta na boca. O moreno só conseguia sorrir olhando para a cena que, em sua concepção, era tremendamente fofa.

— O que foi? A torta é boa, tá? Você deveria ter experimentado. — Comentou com as bochechas estufadas de comida.

— Me dê um pedaço então. — Disse ao que se aproximava dele para pegar a torta.

— Não, se você quisesse teria comido antes. — Ele diz enquanto se afastava do mais alto, o que não adiantou muito, já que o Jeon se aproximou rapidamente dele, segurando sua cintura e retirando o prato de sua mão. — Jeooon! Me devolve isso.

Taehyung falava de uma maneira manhosa, segurando o braço forte do alfa, que estava esticado para o alto, onde ele não consegue alcançar. A diferença de altura deles não era tão grande, porém os braços do Jeon eram mais longos e um deles estava preso na cintura do mais velho, impedindo-o de se esticar completamente para pegar o prato.

— Me dê um beijo e eu devolvo, prometo. — O Jeon só conseguia rir das caretas que o ômega fazia ao que tentava de todas as formas se esticar ou puxar o braço do outro para baixo.

— Jeon, para com isso. Não gosto dessas brincadeiras. — Ele para de puxar o braço forte e cruza os próprios em frente ao peito, enquanto infla as bochechas e faz um biquinho, parecendo uma criancinha fazendo birra. Uma colherada de torta de morango e ele já havia passado para o estágio birrento.

— Um beijo e eu devolvo, já disse. — Desceu seu braço e novamente passou o prato em frente aos olhos pidões e, quando o ômega achou que ele estava distraído e que conseguiria pegar o prato, eu o levantou-o novamente e puxou o mais baixo pela cintura, roubando um beijo do mesmo.

Os beijos de Taehyung eram ótimos, faziam Jeongguk se lembrar da primeira vez que se beijamos e perceber que quanto mais o tempo passa, melhor esses beijos ficam. Para ele, não só os beijos, tudo no ômega fica melhor à medida que o tempo passa: seu corpo, seus toques, seus gemidos. Tudo. Não sabia dizer quanto as próprias qualidades, mas o seu amor pelo castanho também ficava maior e melhor a medida do tempo. Cada vez o amava mais, cada vez o queria mais perto de si.

— Aish, seu aproveitador. — Ele se afasta do alfa com um pequeno sorriso no rosto. — Já ganhou seu beijo, quero meu pedaço de torta agora. — Como o combinado, devolvo a torta para ele e o observo-o comer por mais um tempo, antes de ir preparar a mesa para o almoço.

O almoço foi tranquilo, Tae ficou mais calmo depois de comer todo o pedaço de torta e mais alguns morangos que o alfa comprou ainda a tarde, assim que a chuva deu um trégua. Depois de amaciar a fera, os dois conseguiram ter um dia tranquilo e em paz, Jeongguk não se preocupou em voltar para os documentos em seu escritório, assim como o ômega não mexeu em seus projetos no notebook de última geração.

No momento, o casal estava no quarto grande e confortável, como uma decoração simples, porém que tinha muito da personalidade dos dois em cada cantinho, tudo pensado com muito carinho e amor pelo arquiteto. Deitado na cama, enquanto olhava uma planilha com tudo o que teria que fazer no dia seguinte no escritório, o alfa conseguia ver seu ômega passando alguns produtos no rosto sentado na cadeira da penteadeira, ele insistia em dizer que algumas rugas já estavam surgindo, Jeon não conseguia enxerga-las, mas não discutia com ele sobre isso, apenas dizia que ele ainda é tão lindo quanto o Taehyung de anos atrás. 

— Vem pra cama, amor. — O chama com a voz manhosa assim que percebe que ele já cumpriu toda a rotina de cuidados com a pele.

— Estou indo. — Ele diz se levantando e caminhando até a cama, deitando-se ao lado do marido, puxando o cobertor para se cobrir e apagando o abajur do seu lado da cama. O moreno se vira para o outro lado e apaga o seu também, logo em seguida virando para Taehyung e o abraçando. 

— Eu te amo. — O mais novo diz enquanto acaricia os cabelos castanhos macios e brilhosos, que cheiram a shampoo de morango para crianças.

— Também amo você. — O mais velho se vira para o marido, ainda entre o abraço, o abraçando de volta e escondendo o rosto em seu peito. Tae já estava na fase manhosa, onde gostava de um afago e palavras fofas.

O mais novo continuou acariciando a cabeça do ômega até que ele dormisse, adormecendo algum tempo depois dele. Entretanto, algumas horas depois o moreno acordou devido a uma movimentação não usual na cama de casal, primeiramente sentiu o cheiro forte de morango e rosas e, após abrir os olhos, ouviu gemidos baixinhos do ômega ao meu lado. Como dito anteriormente, o alfa era bem recompensado depois de aguentar a tensão pré cio.