Namorar era realmente uma coisa muito difícil. Principalmente para Bakugou, que parecia uma porta quando se tratava de sentimentos já que nunca — em toda a sua vida — teve que lidar com algum além de seus próprios.
Haviam unidades, dezenas, centenas, talvez milhares — salvo o exagero dramático — de coisas que ele realmente não entendia sobre essa coisa toda de ter o coração disparado, o estômago revirado, as mãos suando, sorrir com pequenos gestos e essas coisas boiolas que ele insistia em bater o pé falando que não sentia.
Também tinha o fato de ele não acreditar que suas falas e ações poderiam ter grande importância de verdade para alguém além de si. E de fato eram muito importantes para Kirishima.
Katsuki não sabia dizer exatamente como nem quando ele se apaixonou pelo melhor amigo. Foi bastante bizarra a parte de assimilar que existia alguém que o aceitava e gostava dele exatamente do jeito que era, já que passou a vida toda escutando que seu temperamento se equiparava ao de um pinscher todo estressado e cheio de tremedeira — ou qualquer outro animal estouradinho carregado de ódio — enquanto Eijirou podia ser comparado a um daqueles vira-latas caramelos adoráveis.
Começaram o relacionamento durante o tempo que estavam na U.A, Bakugou fazia questão de mostrar a todos que eles estavam juntos e que eram um casal e tanto — nas definições da grande maioria, um tanto maluco, diga-se de passagem.
O ponto era que de alguma forma eles funcionavam — a individualidade de Kirishima ajudava bastante, afinal era o único que realmente conseguia se aproximar quando o outro perdia a paciência e explodia tudo ao redor. Já haviam se formado, eram heróis conhecidos e mesmo assim, Katsuki mantinha aquela política de discutir bruto… e amar bruto também — afinal de contas esse negócio de amar fofo e boiolagem gratuita pertenciam unicamente ao Deku e o pavê, e se tinha uma coisa que ele não queria era parecer com eles.
Às vezes — e bote às vezes nisso — Bakugou até tentava ser carinhoso ou até mesmo se controlar para não perder a paciência, entretanto haviam momentos em que Eijirou parecia sentir prazer em testar sua paciência.
Aquele era um daqueles momentos.
— Para de rir, cabelo de merda! — Gritou irritado com o namorado que ria tanto que sentia a barriga doer.
— Des-desculpa, é que… — Voltou a rir ainda mais, curvando-se para apoiar em seus próprios joelhos.
— Eu vou te socar, não é nem brincadeira! — Levantou a mão ameaçando acertar o outro.
— Tudo bem, tudo bem, eu parei. — Limpou as lágrimas que haviam escorrido.
Kirishima viu a face do outro, ele sentiu um pouquinho de pena. Katsuki estava vermelho, com lágrimas nos olhos e parecia que iria quebrar, ou ter um colapso nervoso. O ruivo podia jurar que ele iria ser xingado de um milhão de nomes feios, mas tudo o que ele ganhou foi um abraço apertado bastante irritado.
— Ei, tá tudo bem. — Levou alguns segundos até que Eijirou conseguisse expressar alguma reação.
— Idiota do caralho, eu pensei que você tivesse morrido. — Disse sentindo-se um tantinho idiota.
— Eu literalmente só tava tomando banho… — Fez força para segurar a risada novamente, só de lembrar da cena que presenciou.
Kirishima não fazia a menor ideia do que estava passando na cabeça do namorado mas ele literalmente apenas tomou banho e quando voltou, encontrou ele no chão do corredor, arrasado, sua reação saiu sem o seu controle.
— Meu Deus, quem morreu?
O pescoço de Katsuki girou de forma tão abrupta que ele pode jurar que havia conseguido quebrá-lo.
— Você tá bem? — Perguntou incrédulo, levantando no mesmo segundo para abraçar o companheiro ruivo.
— Ué, eu tô. Por que não estaria? — Falou confuso.
— O banheiro tá todo cheio de sangue!
— Sangue? Que sangue? Sangue de quem? Como assim?
— Ora essa, sangue quem?! O seu!
— Kats, você tem certeza que tá bem da cabeça? De onde você tirou que tem sangue meu no banheiro?
— O banheiro tá um desastre vermelho, se não é sangue, que merda é aquela?
— Desastre vermelho? Do que você tá falando? — Ele deu alguns passos em direção ao banheiro e tudo fez sentido. — Cara, isso é tinta... Eu pinto o cabelo, lembra? Essas cores fantasia desbotam bastante, principalmente quando eu retoco.
— Era tinta? — Bakugou fez aquela cara que se assemelha aos emojis: olho, boca, olho.
— Espera, você realmente achou que era sangue e por isso tava chorando que nem um bebezão? — E o primeiro riso escapou.
Eijirou continuou a rir, como se tivesse ouvido a melhor piada do mundo, enquanto o outro não via nenhum pinguinho de graça naquilo tudo. O corpo de Katsuki começou a produzir pequenas explosões, sendo aquele um sinal definitivo de perigo, que nos olhos do ruivo era bem inofensivo.
— Seu merda, o que você queria que eu pensasse?!
E novamente o outro estava se sentindo como o meme "Nossa o que rolou? Eu só fui tomar banho!". Não é como se a situação fosse a mais engraçada do mundo, mas Kirishima simplesmente não estava acostumado com o companheiro agindo daquela forma descompensada. Eles eram heróis, viam sangue toda hora, não é como se fosse uma novidade.
A grande questão é que Bakugou naquela noite havia tido um pesadelo onde ele perdia aquele que mais amava e isso acabou deixando ele um tanto quanto emocional. Por isso, quando chegou em casa, chamou por Eijirou e não teve respostas, seu coração começou a ficar aflito, a visão do banheiro só serviu para dar corda de vez às suas paranoias.
Por Deus, só a ideia de perdê-lo já era assustadora. Inspirado por esse medo, ele abraçou com mais força o outro. Sim, ele sabia que estava agindo de forma estranha já que ele tentava fingir que não era 100% boiola pelo amado. Ficava cantarolando pela casa stupid boy think that i need him… sendo que na verdade, o stupid boy estava certíssimo: ele precisava e muito.
Seus nervos começaram a aflorar e ele ameaçou socar o rosto bonitinho do garoto em sua frente.
— Eu parei, juro. — Suspirou fundo, recuperando o fôlego, enquanto levantava as mãos em rendição. — De verdade eu não sei o que rolou pra você do nada achar que eu morri, mas olha pra sua sorte eu tô aqui inteirinho.
— Veremos por quanto tempo você vai continuar inteiro se não parar de rir… — Disse ainda abraçado no namorado e sem fazer a menor menção de soltá-lo. — E a partir de hoje você não pinta mais esse ninho de pássaro que você chama de cabelo, tá me ouvindo? Mais uma dessas e eu raspo ele!
— Kats, meu nome é Red Riot, como diabos eu vou continuar sendo ele sem o cabelo vermelho? Eu deveria começar a me chamar Black Riot então?
— Black Riot, Red Riot, quem liga? Isso mesmo, eu não. A única coisa que me interessa é nunca mais levar um susto do caralho. É sério, se me assustar de novo assim, vai preferir estar morto de verdade! E limpa essa bagunça que você fez!
— Você é emocionado demais às vezes… — Recebeu um olhar ameaçador. —Tudo bem, tudo bem. — Tentou levantar as mãos em rendição. — Eu limpo, mas pra isso você precisa me soltar. — Disse tentando se afastar.
Sentiu seu tronco ser ainda mais apertado.
— Você fala que não gosta dessas coisas, que viadagem é coisa do Midoriya, mas vive fazendo.
— Prefere um soco?
— Não mesmo. — Encaixou o queixo no ombro dele.
— Idiota.
— Você é mais, você gosta de mim.
— Tô planejando parar com isso.
— Kats.
— O que foi, inferno?
— Eu te amo.
— Eca, você é meloso demais. Devia ter batido as botas mesmo.
— Você não consegue viver sem mim.
— Você que pensa.
E se Katsuki passou o resto da tarde grudado no namorado, não era da conta de ninguém.
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