História Suck It And See - Somebody That I Used To Know

Escuto sirenes tocarem de forma alarmante e som de milhares de pés martelando sobre o asfalto da rua. Tento abrir os olhos, mas nessas circunstâncias essa opção já estava fora do meu alcance. Volto a ouvir os sons de vozes curiosas perguntando: "Não é a garota do 505?". Alguém me põe sobre uma maca e me arrastar para mais perto da sirene, de repente as vozes foram ficando cada vez mais distantes e dando lugar a apenas três. Uma delas era feminina e outra me soava familiar, porém, por mais que me esforçasse não me vinha ninguém em mente. 

"Senhor poderia me dizer o nome da moça?"

"Arabella. Arabella Stones"

"Idade?"

"Ah..vinte e dois"

"Ela tem mais parentes na cidade?"

"Não, apenas eu"

Apenas eu? Que merda é essa? Tento abrir os olhos novamente. Com a visão embaçada, vejo rostos distorcidos passarem por mim, eram paramédicos, usavam jalecos brancos e máscaras verdes claras, aliás muito mais bonitas que meu uniforme. Sinto uma ardência no meu braço e percebo que um deles havia ejetado algo em mim.

"Fuck" acabo soltando baixinho. Alguém se aproxima, não usava jaleco branco, nem máscara, e por mais que me esforçasse minha visão não me deixava ver meu suposto "parente". Sinto uma mão segurar a minha com força, era áspera e fria, mas não me importava, pelo contrário, estava me deixando mais calma. Meus olhos ficam cada fez mais pesados e acabo adormecendo novamente.

(...)

"Bella?"

Acordo em um lugar diferente, que não visitava à um bom tempo, um quarto de hospital. Meu corpo doído, estava coberto por lençóis brancos extremamente macios e recém lavados. Em pé na minha frente, Breana me observava inquieta. E por um minuto pensei que ela fosse me bater ou me dá mais um sermão, porém,  para minha surpresa recebi um abraço carinhoso.

"Meu Deus, Breana McDow não me matou"

"Engraçadinha, não se acostuma que é só hoje"

Ela vai até uma mesa perto da cama e pega uma bandeja com comida, visivelmente escolhidas por ela, e se senta ao me lado, me ajudando a sentar também. Encaro o prato cheio de verduras e legumes em cima das minhas pernas e confesso que fiz careta. 

"Pode me trazer um Milkshake?"

"Que? Você não tá vendo que tá em um hospital criatura?"

"Mais um motivo pra me dá um Milkshake. Prometo que não peço mais nada."

"Tá tá. Mas nada de doces até sair daqui"

"Prometo"

A porta bate com força e minutos depois se abre. Vejo dois pares de botas pretas atravessarem o quarto e andarem até mim sem pressa. Nick, com uma das suas mãos no bolso, e Matt com um largo sorriso no rosto, me analisaram dos pés as cabeças e pude perceber a careta de Matt ao ver o prato de legumes ao meu lado. 

"Merda! Ela trouxe isso pra você?"

"Claro, tratá- se de Breana." Respondo brincalhona. 

"E você continua durona, pelo visto. Anda arrumando brigas com valentões" diz Nick em um tom desafiador. "Pena que os verdadeiros valentões voltaram para a cidade"

Mostro os dedos médios para ele e todos riem. Meus braços finos e pálidos estavam cobertos por tubos e injeções, e aos poucos os sons irritantes que vinham da máquina que monitorava meus batimentos foram acelerando. Pela janela do quarto, uma visão em tiras de metal via um corpo vazio atravessar o corredor em direção ao meu quarto. Era ele. Seus cabelos estavam bagunçados, e sua jaqueta de couro escondia metade da sua camisa azul. A porta se abriu e uma sombra se tornou um rosto que por mais que não quisesse havia se tornado desconhecido pra mim. O cheiro de cigarro tomou conta do lugar e som dá sua bota foi se aproximando aos meus ouvidos. Minha reação assustada era neutra, não movia um músculo. Mas um sorriso sarcástico se formou na sua cara e cortando o silêncio que todos temiam ele disse:

"Então você acordou?"

"Que maravilha" respondi revirando os olhos. Como aquela sua voz me aborrecia." Se fosse pra acordar e da de cara com você, preferiria ainda esta dormindo"

"De nada, foi um prazer salvar minha donzela"

PERAI "MINHA DONZELA" QUE PORRA É ESSA?

"Pra sua informação, não pedi sua ajuda"

"Mesmo assim, teve a sorte de alguém como eu está passando por ali e te salvar"

"Vai se foder, Turner"

"Bom te ver também Arabella, mesmo que esteja irritadinha"

"Merda, alguém pode calar a boca desse idiota por um minuto"

"Não parecia assim ontem quando troquei sua roupa, além do mais, já considerou ler aquelas cartas encima da mesa? Estão cheias de poeira"

"Espera você foi na minha casa? Espera você trocou minha roupa?!"

"Não" respondeu Breana enquanto entrava no quarto com três Milkshakes na mão. "Relaxa, Alex não viu nem a pele do seu corpo nu, foi eu quem troquei sua roupa"

"Ainda não" responde com uma cara maliciosa. Que raiva! 

"Mas sim. Ele foi na sua casa. Agora toma seu suco de gordura, pra que eu possa mandar esses três patetas pro hotel."

Peguei um dos Milkshakes e ela deu os outros dois pra Nick e Matt, que estavam encostados um em cada canto do quarto.

"Estão aqui desde quando?"

"Desde que Alex nos avisou sobre o incidente. Ele estava desperado"

"Também não é pra tanto"

"Para de mentir, que você tava sim. Pensei até que estava chorando."

"Sério?" Perguntei quase rindo.

"Sim! E depois disso, não largou a beira dessa cama. Ela pode acordar a qualquer momento"

"Mas que porcaria Breana" ele me encarou envergonhado. Adorava aquilo nela. Sabia o que dizer na hora certa e deixar todos calados. Ali está uma pessoa na qual eu admirava muito. E tinha feito o babaca do Alex ficar quieto. 

O quarto era abafado e não havia nenhuma janela além a que dava em direção ao corredor. Após conversar muito e me aborrecer pra caralho com Alex, Breana expulsou todos para o hotel. Depois de pedi pra que uma das enfermeiras tirassem aqueles tubos de mim, se deitou em uma das poltronas dali e adormeceu. Estava escuro e enxergava apenas a luz quase apagada do corredor. Não queria ficar ali pressa. Sentia a necessidade de ver a noite. De senti o frio na barriga ao vento tocar na minha pele. Levantei sem fazer barulho e fui em direção ao pátio do hospital. Ao abrir a porta escuto um barulho e vejo Alexander fumando. A fumaça que saia do seu cigarro deixava a noite mais bonita. Sem pensar me aproximei dele e tirei o cigarro da suas mãos, traguei tossindo um pouco depois. 

"Pensei que tivesse ido embora"

"Hoje não"

Olhei seu rosto sereno fitando o céu azul escuro cheio de estrelas. Estava calma e sem expressão. Havia horas em que me lembrava dele. Como se flashbackas daquela noite piscassem na minha mente. Ele continua um idiota, já me dei conta que nunca vai deixar de ser, mas lá no fundo sei que ainda há um resto de que eu costumava conhecer.