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História Sujeita - Quattro


Escrita por: meixmoon

Capítulo 4 - Quattro


Eu não liguei. Simplesmente guardei o número e não liguei. Jooheon saiu do banheiro em poucos minutos, começou a falar sobre o trabalho como e nada tivesse acontecido no dia anterior. Eu apenas engolia e ficava em silencio. Eu fiz o jantar, comi e fui para a cama. Foi isso por uns dias até meu telefone tocar.

- Oi, Hyuk. – Disse sem animo algum.

- Tudo bem?

- Ah, sim.

- Yejin, se eu não te conhecesse acreditaria nisso. Ele fez de novo? – A linha ficou muda. - Yejin? Ele te bateu de novo?

- S-Sim.

- Yejin, você não entende que isso está errado? Ele é maluco, obsessivo. Se não fizer alguma coisa ele vai acabar te matando. Quer dizer, ele já está fazendo isso, aos poucos, Yejin, aos poucos ele vai te matando e você não percebe. Você não sai desse apartamento, não vê o sol a quanto tempo? Só fica limpando e fazendo comida para esse desgraçado. – Não segurei meus suspiros ao ouvir cada palavra que ele dizia. – Está chorando? Porque só chorar não vai adiantar. Você tem que ir à polícia.

- Eu não posso.

- Pode e deve. Se não fizer eu faço, a polícia vai bater aí e você vai confirmar tudo.

- Hyuk, não. – Meu velho amigo soltou um longo suspiro.

- Liga para o Wonho. Ele vai te ajudar em algo.

- Eu não posso ligar pra ele.

- Pode sim e deve.

- Hyuk, se ele já fez isso apenas por eu ter olhado para ele, imagina o que ele pode fazer se descobrir que eu liguei para ele ou que ele foi um namorado de anos atrás.

- Ele não vai descobrir. Você apaga as mensagens e as ligações, não vem conta que apareça suas ligações nem nada.

- Tudo bem, eu vou tentar.

- Você tem uma semana, senão eu vou na delegacia e conto tudo o que eu sei. Não adianta negar, bater o pé nem nada. Eu vou.

- Hyuk...

- Uma semana. Agora preciso ir...

Depois que cessei a ligação, me joguei no sofá, apaguei a ligação e olhei o número de Wonho no papel já amaçado. Aos poucos os números iam perdendo a cor, o papel ia ficando amarelado, meus roxos clareavam e eu ainda não liguei. Jooheon não disse nada sobre ter me batido, agia como se ele nunca tivesse erguido a mão para mim. Naquela noite ele chegou e agarrou minha cintura me levando para o quarto, tirou minhas roupas e me fez ficar de joelhos enquanto ele estava sentado na cama, segurou meus cabelos para o alto e ele mesmo ditava os movimentos.  

Ele mal me deixou dormir naquela noite, quando acabamos eu apenas puxei o cobertor e virei para o lado, senti seu corpo colado em minhas costas e sua respiração no meu pescoço. Daquele jeito dormimos.

Ele me confundia.

Ele saiu de manhã sem dizer nada, como sempre. Sem dar bom dia, sem dizer que talvez chegaria mais tarde, nada. Apenas se arrumava e saia. Quando levantei, tomei café e me joguei no sofá, a TV não me chamava atenção, nem os livros novos que havia comprado quando havia ido até a casa da minha tia.

Me levantei com certa dor nas costas, fui até porta torcendo para que estivesse aberta, mas não, estava trancada e mesmo que eu revirasse o apartamento não encontraria outra que abrisse aquela maldita porta.

Fiquei limpando aquele apartamento, que era a única coisa que eu fazia que não tinha como sair. Arrastei sofá, estante, guarda-roupas, limpei tanto que minhas mãos já ardiam pelos produtos de limpeza. Quando acabei, me sentei na cadeira que ficava na minúscula sacada do apartamento. Abri o livro e comecei a ler.

Respirei fundo sentindo o ar “fresco” da cidade, meu apartamento era no penúltimo andar do prédio, as pessoas lá em baixo pareciam formigas. Aquilo matava um pouco da vontade que tinha de sentir a luz natural, de andar de baixo do sol quente usando aqueles batons escuros que eu tanto gostava de usar. Fiquei um tempo ali, sentindo o sol fraco e o vento um tanto gelado. Então eu escutei o som da chave girando e comecei a me sentir morta mais uma vez.

- Yejin? – Ele me chamava da sala, me levantei e segui sua voz. Estava tirando os sapatos, quando olhei seu rosto vi um enorme roxo circulando seu olho.

- O que houve?

- Ah, nada.

- Seu olho esta roxo, como nada? – Jooheon suspirou e seguiu para o quarto.

Me sentei no sofá e voltei a abrir o livro, Jooheon ficou algum tempo no banheiro até que ouvi as portas do guarda-roupas batendo e ele caminhando novamente para a sala. O roxo em seus olhos era grande, levemente inchado. Ele se sentou ao meu lado e ligou a TV.

- Está doendo? – Jooheon negou nem dizer nada.

Eu me levantei e fui para a cozinha, peguei uma forma de gelo e um pedaço de pano. Fiz uma “trouxinha” com o pano e os gelos e voltei para a sala.

- Coloque no olho, vai diminuir o inchaço. – Jooheon olhou o pedaço de pano em minhas mãos e voltou a olhar a TV.

- Não precisa. – Deixei o pedaço de pano com gelo sobre a mesa de centro e voltei para a cozinha.

Comecei a fazer o jantar, enquanto isso ouvia o que Jooheon assistia, não me era estranho aquelas vozes ou aquelas falas que ecoavam o apartamento. Fui até a porta da cozinha, Jooheon assistia Breaking Bad, eu havia assistido com Wonho quando éramos amigos até pouco antes de terminarmos, havia me esquecido disso, como ficamos horas falando sobre isso com nossos amigos e como nos irritávamos com algumas cenas. Olhei Jooheon sentado ali por um instante, estava com a pedaço de pano com gelo nos olhos. Torci meus lábios e voltei para o que fazia.

O jantar estava pronto, Jooheon comeu em silencio e depois foi direto para a cama. Eu deitei ao seu lado, Jooheon olhou-me por um instante, eu engoli seco. Ele se aproximou devagar e me abraçou, ficou em silencio até pegar no sono, o que não demorou muito. Jooheon sequer falou sobre o trabalho, assistiu em silencio, comeu em silencio e ficou deitado em silencio até que pagasse no sono. Teria brigado com um de seus amigos? Ou fez algo que alguém não gostou? Não tinha ideia do que havia acontecido.

De manhã ele resmungou quando o celular tocou, me soltou devagar e saiu da cama, se arrumou e ficou sentado na beira da cama até que desse a hora de ir para o trabalho. Eu me sentei pouco atrás dele, respirei fundo e cocei meus olhos.

- Jooheon? O que aconteceu? – Ele suspirou.

- Não importa.

- Seu olho esta roxo.

- Yejin, não foi nada. Volte a dormir, ainda é cedo. – Eu suspirei e me deitei novamente.

Jooheon saiu poucos minutos depois, ouvi a chave girando e a porta sendo trancada mais uma vez. Talvez por sorte o sono veio mais uma vez, dormi por boa parte daquela manhã e talvez um pouco da tarde. Quando me levantei, não tinha muito o que fazer, comi qualquer coisa, vi um pouco de TV e como sempre me sentei na sacada para pegar o mínimo da luz natural.

Estava distraída com meu livro, era mais um daqueles que você não desgruda, que quer ler devagar para não acabar, mas não desgruda porque a história era incrível. Já havia lido outras obras de Joe Hill, mas Nosferatu já era minha favorita. 

"Queria encontrar alguém capaz de explicar, de dar sentido a uma ponte que só existia quando era necessária e que sempre a levava para onde ela precisava ir.".

 

Fiz uma nova garrafa de café já que havia tomado toda a que havia feito mais cedo, Jooheon chegaria em duas horas e aos poucos eu desanimava. Estava na sacada novamente, com a garrafa de café o livro sobre minhas pernas. Meu celular começou a tocar, era um número desconhecido. Respirei fundo e atendi sem nenhuma vontade de falar com quem estava do outro lado da linha, mesmo que eu não soubesse quem era.

 

- Yejin? – Senti um calafrio percorrer meu corpo quando ouvi aquela voz.

- S-Sim, Wonho.

- Que bom que atendeu. Eu precisava falar com você. – Mesmo que eu não estivesse o vendo, sabia que estava sorrindo.

- O que quer?

- Você não ligou e sei que Hyuk te deu uma semana. – Eu suspirei e fechei meus olhos me lembrando das palavras de Hyuk. Já faziam três dias e eu sequer pensei no que ele disse.

- Eu pedi pra não se meter nisso.

- Viu o olho do seu namorado?

- Foi você?

- Sim, nós começamos a discutir, eu disse que sabia que ele fazia com você.

- Wonho...

- Eu não disse que já namoramos ou que você tem o meu número. Ele falou ou fez algo ontem?

- Não.

- Isso é bom, eu acho.

- Você devia estar trabalhando.

- Eu não fico muito perto dele, não se preocupe. Talvez possamos nos ver algum dia.

- Eu não posso.

- O que te impede de sair um dia sem que ele saiba? – Eu respirei fundo e olhai a rua lá em baixo, não seria ruim sair algum dia, ver pessoas e sentir o sol. Mas não podia.

- Ele me deixa trancada, Wonho. A última vez que sai sozinha foi quando fiquei um fim de semana com minha tia. Eu só limpo esse apartamento, cozinho e mais nada. Ele grita comigo atoa, ele me bateu apenas por ter olhado para você, ele disse que faz isso porque me ama e me bate porque sou uma vagabunda que olha pra outros cara, eu não posso usar batom, não vejo meus amigos, quando vou ver minha tia ele me liga a cada dez minutos ou então liga para minha tia para ter certeza que estou com ela. Por isso, Wonho, eu não posso sair daqui e nem falar com você. – A linha ficou muda por alguns segundos que mais me pareciam horas, aquilo era incomodo, não podia estar falando com ele.

- Você consegue ver o que ele está fazendo? Entende que isso é um crime? Ele te mantem presa aí, te bate, te humilha e você ainda continua com ele? Você devia ter deixado ele na primeira vez que ergueu a mão pra você.

- Eu sei disso, estou cansada, Wonho, tão cansada. Eu simplesmente não sei o que fazer, ele vai chegar a qualquer hora e sabe lá Deus como o humor dele vai estar. Eu tenho medo de tentar fazer alguma coisa e as coisas piorarem.

- Eu posso fazer isso por você, uma denun...

- Não, Wonho, ele vai te machucar se descobrir e acha que vai adiantar alguma coisa? O máximo que vai acontecer é ele ficar uma noite na delegacia e depois ele volta pra cá.

- Você não precisa ficar ai, na verdade você precisa sair dai.

Janeiro 2017

Eu pensava que nada pioraria, depois das festas no fim de ano, depois de conversar Wonho e Hyuk de não fazerem nada, as coisas simplesmente pioraram. Como? Bom, eu estava internada, hemorragia interna e um aborto.

Aborto.

Eu não sabia.

Eu não sabia que estava gravida.

Jooheon estava nervoso, ele chegou tarde em casa, cheirando a álcool e com marcas de batom e chupões no pescoço, eu apenas lhe perguntei o porquê daquilo. Começou a me dar tapas, socos na barriga e no rosto. Eu apaguei e acordei na cama de um hospital.

 

 

 


Notas Finais


Já é 2017, sera que o fim esta próximo??

Algo me preocupou hoje com relação a historia, eu não sei se estão achando que isso é uma romantização de violência domestica, mas não é gente, eu estou lendo artigos, matérias e vários depoimentos de violência domestica pra entender do assunto e não cometer este erro, assim como outras fanfics como Girl Interrupted, que fala sobre transtorno alimentar e outros transtornos patológicos, eu li muitas coisas sobre o assunto(ja que faço psicologia foi mais fácil de não romantizar doença psicológica).
Então, se pensarem que estou romantizando um ato de violência ou se dei essa impressão, mil desculpas, não é a minha intenção <3

Espero que tenham gostado *u*
Desculpe algum erro.


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