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História Summertime sadness - Blue Velvet


Escrita por: lanadiamandis

Notas do Autor


Oi gente, tudo bem? Espero que gostem do cap <3 Beijos e boa leitura

ps: Essa foto foi uma tentativa de tirar um print do tumulo da Jaime no clipe ss, só que resultou nisso e eu gostei tanto que deixei haha.

Capítulo 51 - Blue Velvet


Fanfic / Fanfiction Summertime sadness - Blue Velvet


O nosso amor eu segurei firmemente 
Sentindo o êxtase crescer 
Como uma chama incandescente a arder 
Mas quando ela se foi, foi-se o brilho do 
Veludo azul 
Mas no meu coração sempre haverá 
Preciosa e calorosa memória através dos anos 
E eu ainda consigo enxergar o veludo azul através de minhas lágrimas 

 

Não é terrivelmente assustador o fato de que nós, meros mortais, amamos tudo em que a morte pode tocar? Quer dizer, um dia eu estava planejando o pedido de noivado de minha namorada; no outro, seu funeral.

Era o meu fim. Eu estava morrendo sem necessariamente estar. No meio daquela guerra em minha mente, uma pequena Carmen desconcertada tomava conta das minhas entranhas, deixando-me assustada e extremamente confusa. O que fazer? Como me sentir? Eu deveria chorar no funeral da Mary, mesmo que eu odiasse mostrar a minha maior fraqueza perante outros? Ou eu deveria sorrir e aguentar firme, mesmo sabendo que aquilo desmoronaria quando meus olhos pousassem sobre o vestido aveludado azul da minha namorada e sua bela face – sempre muito frágil – coberta com maquiagem para lhe dar a aparência do sono eterno? Deveria eu chamar sua família hipócrita para lá? Deveria eu pedir a eles autorização para enterra-la junto da mãe e pai? Deveria eu fazer um discurso na hora em que o caixão da pequena fosse vagarosamente descendo até debaixo da terra? Deveria eu me calar por completo e apenas orar em silencio pela alma da garota? Como me portar? Como agir? Ou melhor, como reagir? Não são coisas ensinadas na escola. Meu internato caro e cheio de aulas religiosas, nunca foi capaz de dizer como proceder no caso da morte de um companheiro. Nunca me responderam aquelas perguntas citadas. Nunca e não iriam mesmo, me dizer o que eu poderia fazer para não me jogar junto de seu caixão na hora da sepultura. No final, a minha pequena Carmen assustada dentro de mim gritava: ela estava com medo. E eu também.

Meu avô havia morrido enquanto eu residia na Califórnia, porém eu não fui à Irlanda para velar o seu corpo. Ele tinha sido o parente mais próximo que eu já havia perdido. Creio que Mary se sairia bem nesse quesito, caso isso fosse uma prova. Tinha perdido o pai com onze anos, quase doze. Havia passado pelo inferno de ter as pessoas lhe questionando o tempo todo sobre sua condição ou comentando sobre a menina, pessoas que não a viam desde bebê e misturadas com mais gente não vista há anos, causando comentários do nível: “Mary está tão grande, né? Você viu como a mãe dela a vestiu? Esse vestido roxo não é de enterro! Que coisa horrenda” ou “Pobrezinha da menina, tão nova e já sofrendo tanto – Mary é pega sorrindo (já que não gostava tanto assim do pai) –  Ela sorriu? No enterro do pai? Que comportamento esdrúxulo é esse?”. Em enterros assim aonde você é estrela principal – e não o morto em si – seus atos estão sendo vigiados por todos. E qualquer sinal de não luto, já é mal visto.

Algumas pessoas têm crises de riso nervoso enquanto estão em um enterro. Não porque eles estão felizes, mas sim porque estão ansiosas e o riso é o seu mecanismo de defesa. Não que isso fosse o meu caso, afinal eu estava bem longe de soltar qualquer som semelhante a um riso, mas eu recorri aos meus próprios mecanismos de defesa para suportar aquela expiação sem fim. Coisas como o mau-humor, frieza e cigarros. Muitos cigarros. E claro, não podemos esquecer-nos do meu melhor amigo: as bebidas. Meu corpo ainda não destruído mostrava sinais de fadiga. E eu iria puxa-lo até o seu limite final, afinal parte de mim ansiava ser internada no hospital e por lá permanecer até o dia em que eu partisse ou quem sabe, Mary reaparece? Ou seja, para sempre.

Eu não estava bem no fim de tarde que antecedeu a manhã do sepultamento da minha amada. O enterro seria na primeira hora da manhã, porém comecei a velar pela garota às seis da tarde do dia anterior. Isso porque eu esperava que Emmeline viesse, além dos garotos e da família do Nick. E somente eles. Não havia mais ninguém para fazer parte daquela reunião sádica no subúrbio da cidade. Pensei muito em contatar os familiares da loira, contudo eu recusei internamente qualquer forma de lhes dizer o que aconteceu. Era medo de que eles pedissem para que eu a enterrasse em Vermont, junto da família. Era pavor de que eles, gananciosos, pedissem para uma Carmen egoísta e fragilizada, os pertences da loira – eu queria tudo para mim, queria e iria abraçar, cheirar e beijar suas coisas, como uma garota colegial apaixonada por um menino a ponto de lhe roubar seus objetos e idolatra-los, já que eram a única coisa que ela teria, já que eram tudo que ela teria e somente.

Além dessas pessoas que eu havia chamado para o enterro, haveria uma garota de brinde no meio dos convidados. Porém, sua presença não requisitada não fora notada no dia – mesmo que ela estivesse espreitando pelas sombras – e somente depois, quando minha insanidade atingiu níveis altíssimos. Antes que possam dizer com todas as forças que era a Mary, afirmo que não. Não era o meu amor. Porém era um resquício não sanguíneo dela. Alguém que dividia de um amor incondicional pela mesma (assim como eu), contudo não era nada carnal. Era um amor de filha. E aquela garota me resgatava o pior e o melhor de mim, lembrando-me de que eu não amei a minha Mary o suficiente para mantê-la viva, porém também me lembrava de que eu não era a única a ter meu coração tocado pela alma ingênua da loira. Havia outros seres. Mas ninguém mais comovente do que a Bridget, sua paciente.

Chama-la para o enterro não era a minha opção e nem acabou sendo. Eu estava sem condições de planejar a lista de presença adequadamente, pensando nas criaturas que sentiriam falta da minha amada. Porém, eu adicionei algumas mulheres do seu ambiente de trabalho que até admiravam minha pequena, contudo não eram amigas e nenhuma delas compareceu ao funeral. Gostaria de acreditar que era pelos motivos banais de sempre, tais como “ela não estava trabalhando tanto tempo na clinica” ou simplesmente “inveja”. E eu repetia isso em minha mente enquanto vislumbrava o pequeno ambiente aonde o caixão da Mary se encontrava, vazio, apenas contando com as presenças de Nick, eu e um faxineiro.

Parte de mim sabia que a minha amada não gostava de fazer amigos. Ela tinha alguns trejeitos permanentes desde a época de que era garotinha, trejeitos esses de menina assustada que temia fazer amizade com as pessoas, pois as mesmas podiam machuca-la. A falta de confiança em si própria e o mais importante, nos outros.

Teve amigos, afinal. Não posso mentir sobre isso. Durante a juventude ela teve alguns amigos, mas nenhum muito importante. Depois veio Emmeline e na faculdade, Emily, garota que até chegou a frequentar nosso trailer por algumas noites, trazendo consigo doces, um violão e sua bela voz. Ela era simpática, fria e competente. Também era igualmente viciada. Pelo que a minha amada dizia, ela se viciava em tudo tão facilmente quanto eu e era facilmente levada ao mau caminho de tão indulgente que sua pobre alma era. Por algum motivo bizarro ela se dava muito bem com a minha Mary e eu, não muito feliz com essa amizade, reclamava sempre que via a Mary chegar tarde da noite, cheirando a cigarros e com a roupa manchada de tinta guache (elas faziam umas pinturas juntas, algo assim) e uma terrível, contudo leve confusão mental acompanhada com uma felicidade estonteante que não me deixava duvidas que essa tal de Emily estava levando a minha Mary para o mau caminho também. E vejam, ela um dia, enquanto pré-adolescente, havida ido. E eu senti como se ela estivesse novamente seguindo o “fluxo” de suas vontades secretas – pois para mim ela nunca falava nada sobre drogas ou afins – e que se eu a deixasse fazer isso, ela poderia acabar percebendo que Emily era uma melhor companhia, uma mulher que compartilhava de suas vontades e não uma chata feito a Carmen. Foi com isso em mente que eu fiz a Mary cortar os laços com essa garota e estraguei uma das únicas amizades que ela teve. A última na verdade. Porque depois dela, nunca mais Mary ficou tão amiga de alguém a ponto de convidar para pernoitar em nosso trailer. E eu me culpei muito por isso, mas na minha mente eu estava somente a fazer a coisa certa. E acho que fiz. Pois um dia, enquanto desempregada na grande Califórnia, eu vi a imagem da mulher estampada no noticiário local, sendo procurada por um assalto. Era uma boa mulher, no final das contas, apenas um pouco impulsiva. Assim como a Mary.

– Você quer chá, Lana? – a voz do Nick soava mais aguda do que o normal, talvez um possível sinal de uma enxaqueca se aproximando para arrebatar o resto ainda não dolorido do meu corpo – Ou café preto? Eu fiz os dois...

Ignorei o californiano e levantei-me da cadeira, dando alguns passos em direção ao caixão da menina. Como eu já havia ressaltado anteriormente, do tronco para baixo o estrago era imensurável, portanto o caixão estava apenas visível daquela parte pra cima. E ah! Como ela estava bela. Parecia um anjo adormecido em sua cama acolchoada. A maquiadora havia feito um ótimo trabalho com os hematomas espalhados pelo rosto e a boca cortada, cujo agora estava avermelhada feita a Lolita que era e a face pálida de porcelana, muito natural e pouco morta. Ela parecia mais do que nunca uma boneca morta-viva, como nos tempos em que vida habitava aquele corpo, porém dessa vez seus olhos de vidro nunca mais abririam e a pele pálida continuaria pálida. Ela não perdera sua beleza nem no dia que voou para longe, minha bela garota. Ela nunca perderia o que sempre foi seu.

Seu vestido alaranjado foi dado a mim como uma péssima forma de me recordar de tudo que ocorrera. Ela estava enterrada com outra peça, comprada em um brechó de roupas da época da minha avó – velharias com cheiro de pó e preços bacanas – azul (pois era a sua cor favorita antes de suas preferências serem influenciadas por mim) um azul aveludado escuro e formoso. Tinha golas altas e mangas compridas, além de botões desde o pescoço até quase o final do vestido. E combinava perfeitamente com o corpinho magro de minha namorada (eu ainda não podia chama-la de ex) e sua pele clara. Tudo ornava, havia sido uma bela escolha minha. Se Mary estivesse viva, teria gostado também.

– Ela está bonita com essa roupa nova – eu comentei baixinho, vendo Nick se aproximar de mim com uma caneca de café nas mãos – Parece que dorme, não parece? É como se ela tivesse dormido depois de tanto beber em uma festa formal, daquelas que nós gostaríamos de ir se eu ficasse famosa.

– Vocês nunca foram? – ele me entregou o café quente – Nunca te chamaram?

– Não. Não é como se eu fosse tão famosa pra isso – dei um gole na bebida e constatei que Nick havia posto muito adoçante naquilo – Mas eu iria ser. E ela iria ir nessas festas comigo. Tínhamos planos de frequentar lugares assim quando eu tivesse popularidade suficiente. Dai beberíamos muito, porque gostávamos disso. Ela ficaria brava comigo, porque não gostava de me ver beber muito mais do que dois copos – eu sorri, sentindo uma lagrima descer pela bochecha abaixo – E eu diria que ela não precisava se preocupar, porque eu estava bem e feliz, muito feliz, feliz de estar ali bebendo com ela num lugar rico, feliz de estar bebendo com ela em um clube de quinta no meio da estrada, cercada de homens estranhos e mulheres seminuas. Eu... – depositei o meu rosto no peito do californiano e chorei miseravelmente por minutos. Muitos minutos. Até por fim me recompor quando ouvi a porta se abrindo, atrás do Nick. Meu rosto inchado não escondia minha infelicidade, meu café agora morno, engolia as lagrimas de uma Carmen condenada à tristeza. Eu estava acabada, em pé junto ao caixão da única mulher que eu já havia amado na vida. Meus sonhos não passavam de poalha e os desejos de poeira. Contudo, mesmo eu sendo somente um eco de uma Carmen sorridente dos tempos de internato, uma figura influenciada fortemente pela tristeza de verão, sem o brilho no olhar ou o sorriso cativante, mesmo com todas as minhas qualidades diminuídas em pó, a minha melhor amiga me reconheceu. Quase no mesmo instante em que seus olhos pousaram sobre mim, ela soltou sua bolsa no chão e correu para me abraçar. Ela, Emmeline, que sem sombra de duvidas ainda sabia quem eu era. Porém, eu quase não a reconheci.

Estava um bocado diferente. Os cabelos ruivos estavam extremamente longos, chegando a bater suas pontinhas nas nádegas da garota. Tinha olhos alegres, entretanto inchados por conta dos últimos acontecimentos. Sabia que chorara pelas últimas horas. Sabia que estava desolada e pior, culpada. Como um reflexo mais belo de uma Carmen destruída. Sabia que ela não queria vê-la naquela situação. E quando digo isso, me refiro que ela tanto não queria ver a minha amada naquela situação quanto ela mesma, pois recusara tanto vir pernoitar no nosso trailer enquanto jovem, mesmo com seu interior gritando para que fosse (ela tinha um bom sexto sentido, melhor que o meu), pois talvez um dia fosse tarde, mas mesmo assim ela o ignorou e agora se via na situação que tanto sabia que ocorreria, mesmo não desejando que o pesadelo fosse real. Ah, Emmeline. Era tão inocente quanto bonita.

– Me desculpa, Carmen! – repetia incessantemente sem me soltar de suas garras afiadas – Eu deveria ter vindo vê-la. Eu não sabia... Não sabia que estava tão triste.

Eu não pude respondê-la, porque eu sabia todo o tempo que ela estava morrendo, mas mesmo assim não lhe salvei. O silencio de uma culpada.

– Você me perdoa? – ela perguntou aflita enquanto o pulmão procurava por ar e a alma por alguma coisa que fosse acalma-la – Eu gostava tanto dela, eu gostava mesmo, eu gosto de você também, eu não vim antes porque eu não pude... Mas eu iria. Eu iria. Eu juro! Eu demorei demais, demais, demais...

– Está tudo bem – respondi tentando pacifica-la. Agarrei sua mão e mirei-lhe no fundo dos olhos claros – Eu fico grata por estar aqui hoje. Achei que ninguém viesse.

E ninguém viria mesmo além do Nick. Isso porque os garotos – nossos amigos do colegial – estavam incomunicáveis e provavelmente veriam os pedidos para comparecerem no enterro apenas depois de um tempo. Julguei-os sem saber que na verdade, algo muito parecido com o que acontecia com a Mary, estava assolando o pobre Kenny e ele estava fazendo o que a pequena iria e foi para uma clinica de reabilitação. A diferença era que Kenny se afundou nas drogas para mascarar sua possível depressão. E Mary deixou que os transtornos alimentares lhe ajudassem a lidar com a dor. Vocês veem? Cada um tem o seu jeito de lidar com a tristeza. Pena que não são formas saudáveis...

– Está tudo uma droga – Emmeline disse de forma melancólica, porém despojada, mostrando que os traços de garota dos tempos de colegial ainda habitavam seu ser – Não minta. Eu não quero que minta mais. – acariciando o meu rosto, a bela Emmeline falou-me com o tom de voz mais próximo de ternura que eu poderia ter de alguém além do Nick e da Mary em anos – Você gosta de estar no controle, Carmen. Mas, hoje você não precisa, está bem? Só hoje.

Eu sacudi a cabeça.

– Eu vou estar aqui pra te ajudar, Carmen. Não se preocupa.

Derramei mais rios de lagrimas por cima do sobretudo da ruiva. Ela era espetacularmente incrível. Na verdade, não poderei somente dar os méritos a ela por aquelas atitudes que me fizeram melhorar um pouquinho daquele luto sem fim. Nick também me ajudou demais. Os dois me apoiaram muito nos momentos difíceis, como aquele. E eu os agradeço muito pela bondade infinita.

**

Nick cochilava sobre o sofá da recepção. O relógio marcava um pouco mais de cinco da manhã e o sol estava despontando no horizonte. Eu me agonizava lentamente, assistindo a Emmeline observar a minha garotinha, curvando-se algumas vezes sobre o corpo da mesma para ou acaricia-la ou rezar para a alma dolorida de meu amor. Foi este ato que me lembrou do que Mary sempre carregava na bolsa desde os tempos de colegial: seu velho rosário. Naquele momento eu me perguntei se ela estava com ele ainda no momento de sua queda (pois acreditava que a minha Mary religiosa rezaria até o momento que suas mãos tocassem o ferro frio da ponte) ou se ela tivesse esquecido o objeto na sua bolsa, largada no nosso quarto. Eu procuraria aquilo a fim de ter algo que me remetesse a minha amada. Mais do que simplesmente metade dos meus objetos, tinha que ser algo que pertencesse a Mary pura, a Mary de antes, a Mary que eu nunca cheguei a conhecer, pois o diabo com seus dedos largos tocou a sua alma nobre. E incrivelmente a única coisa que eu tinha além daquele rosário era o seu ursinho de pelúcia, recebido no dia em que ela nasceu. Eram agora meus mais importantes artefatos. Eram tudo o que havia sobrado da garotinha – no sentido literal da palavra – angelical que ela era antes do inferno ser criado e ela ser parte daquilo.

Queria estar com o rosário. Queria rezar pela Mary e pedir que Deus ou qualquer força superior a confortasse. Queria colocar o mesmo em suas mãozinhas e deixar que fosse para a eternidade física (embaixo de sete palmos de terra) junto com seu item precioso. Queria muito lhe fazer este agradinho, pois seria o último. Mas não pude. E a situação estava ainda me causando mais ansiedade. Afinal, Mary estava prestes a ser levada até o cemitério e finalmente posta para descansar e eu nunca mais a veria em minha frente, mesmo morta ou não, isso não significava nada para mim, eu nunca mais a veria e isso estava me causando arrepios misturados com um desejo ardente de me tornar uma vitima do acaso e acabar junto dela, no mesmo caixão, no mesmo tumulo. Não queria deixa-la ir.

Mas eu deixei.

Através das minhas lagrimas, eu ainda conseguia enxergar o veludo azul de seu vestido. O veludo azul como a noite, as noites de verão que acalmavam nossos corações perturbados. As noites em que cantávamos juntas, dançávamos, riamos e chorávamos. As noites de amor, de tristeza e de quietude. Noites para se pensar na vida ou apenas para desfrutar dos prazeres dela. Cinco anos de história cuja grande parte do roteiro havia sido composto durante a noite. Isso se deve ao fato de que eu e a minha pequena compartilhávamos do amor pela escuridão, pela beleza dos céus e pelos mistérios trazidos juntos da noite e que partiam quando a luz do sol se fazia presente. Eram noites formidáveis, estragadas pela chegada dos raios solares e de tudo que teríamos que fazer obrigatoriamente, grande parte socialmente. Quando colocávamos nossas mascaras e agíamos como atrizes em uma peça de escola.

Foi durante a noite em que velei o corpo da minha amada. Porém, foi durante o dia em que ela sumiu por debaixo da terra. Para sempre.

Das coisas feitas naquele cemitério, apenas me lembro de duas: Nick segurando as lágrimas para forçar a imagem de um rapaz forte e eu, aos prantos, caindo sobre o chão de terra na frente do tumulo dela, gritando para que ela não fosse embora, sendo alvo dos olhares dos visitantes e dos rapazes que colocavam a pequena no buraco e jogavam um punhado de terra sobre seu caixão. Eles estavam acostumados com aquele tipo de cena, então não riram ou debocharam. Eles na verdade estavam com muita pena, porque como um deles murmurou “ela tinha apenas vinte e poucos anos e uma vida inteira pela frente”.

Do seu lado esquerdo havia uma Angela e uma Charlotte Jane (mãe e filha, uma lastima), do outro um senhor Smith e bem no meio, minha querida Mary, com sua lapide anunciando que havia nascido no dia nove de maio de mil novecentos e noventa e uma cruz dizendo que faleceu dia vinte e um de junho de dois mil e treze. Um salgueiro chorão fazia sombra em seu tumulo. O sol raiava e prometia trazer um dia quente. Pessoas por ali perto continuavam suas caminhadas. Varias flores frescas eram colocadas sobre a terra que cobria o caixão da Mary. Eram coloridas, alegres e receptivas as abelhas que pousavam sorrateiramente sobre as mesmas.

O dia iria continuar seguindo. A noite chegaria, as pessoas comemorariam, mais outras morreriam, as abelhas iriam continuar coletando pólen pelas flores espalhadas no cemitério, os cachorros continuariam a latir, as arvores continuariam a balançar seus galhos, a vida de todos iria continuar e pensar nisso estava deixando um gosto amargo na minha boca, pois eu desejava que o mundo parasse naquele momento e eu pudesse sentir a minha dor me atingindo. Vocês percebem que a vida iria continuar o seu fluxo normal e eu não? E um dia, as pessoas como Nick e Emmeline iriam superar aquilo, porém Carmen ainda estaria presa naquela situação sem escapatória, remoendo o passado e se culpando dos sonhos destruídos do futuro? E que eles me diriam “Carmen, você tem que seguir em frente”, mas eles não veriam que não haveria mais razão para viver sem a única pessoa que eu realmente amei a vida toda? E isso me causaria mais e mais dor a cada minuto, já que eu estaria me obrigando a ignorar meu luto e seguir em frente, mesmo sabendo que eu nunca conseguiria deixar a imagem da minha amada fora da minha cabeça, dia e noite, não importava o quanto eu tentasse?

Minha morte estava anunciada. Naquele momento, quando o padre recitou as últimas palavras de sua bíblia e eu me curvei sobre as flores formosas, o destino me atingiu: eu estava me tornando a nova Mary. Mary que começou a morrer no dia em que a mãe se matou. Assim como eu estava naquele momento. Eu era a bomba relógio da vez e a contagem regressiva havia começado.

Você se lembra de nossa promessa, meu amor? 


Notas Finais


Responderei os comentários fofos de vocês amanhã, quando eu chegar <3 Muito obrigada por cada comentário e cada favorito. Vocês fazem os meus dias ficarem melhores e me inspiram a escrever <3 Beijinhos e até logo!!


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