História Sunflower - 02

"Ah, você não vai poder vir?", sua voz desanimada preencheu o ambiente, e um bico automático se formou, o telefone amarelo grudado a orelha, o pijama de mesmo tom com estampas de bichinhos balançando com o movimento da cadeira giratória.

"Parece que a omma está sem dinheiro, então, não", respondeu o mais velho, sua voz saindo metálica pelo eletrônico, e o mais novo suspirando, a cadeira dando um giro, antes de voltar, com a ajuda de seu pé descalço. "Me desculpe SeungKwanie, juro que tento ir no inverno, nem que seja um dia pra te ver".

Seu tom não parecia de lamentação, ao menos não na cabeça do Boo, que apertou sua mão contra o encosto de sua cadeira, se inclinando levemente para a frente. 

"É bom que cumpra a sua promessa! Ya! Você está me enrolando!", reclamou, seu tom aumentando, até ele perceber que poderia acordar seus pais, e a diminuir subitamente. "Eu não vou esperar mais que o inverno por sua resposta, Vernonie", acrescentou em um tom baixo, seu indicador livre passeando nas bordas da cadeira, e seguindo para um coelhinho que tinha na cocha. 

"Eu vou te dar uma resposta até lá! Eu juro!", se defendeu, e o mais novo manteve o bico, seu coração se apertando de incerteza, antes de assentir, mesmo que o outro não visse sua reação. "Eu realmente gosto muito de você, Kwanie, apenas, me aguarde mais um pouco", pediu, seu tom baixo e levemente rouco desestabilizando completamente o Boo, que sentiu seus pelinhos se arrepiarem.

"Tudo bem, só mais um pouco", respondeu, ouvindo a risada baixa do mais velho, antes de enfim, se despedirem para dormir. Ele esperou que o Chwe desligasse primeiro, e encarou por alguns instantes seu telefone, os lábios finos comprimidos em uma reta, seu coração batendo de forma lenta, como se dissesse mais um pouquinho, apenas mais um pouquinho.

Levou sua mão até o peito, tentando se acalmar, ao mesmo tempo que seu cérebro criava respostas felizes para tranquilizar-se, e ele aceitou a mais provável: Vernonie é um idiota. Riu de seu pensamento nem um pouco maturo, e se ergueu da cadeira, empurrando-a com o pé para que deslizasse suavemente por seu quarto, até parar ao bater de leve na escrivaninha.

Se embrenhou embaixo de suas cobertas, criando um pequeno casulo em torno de seu corpo, tendo certeza de que ali, estaria protegido de tudo e todos, menos das peripécias de sua mente tão... frouxa. Ela sempre se deixava levar, assim que o Boo fechava seus olhinhos e tentava pensar em qualquer coisa para dormir, seu cérebro parecia criar vida própria e dizer: nem pensar! Lembre-se de quando beijou HanSol!

E então, sua mente se recordava perfeitamente do dia, de todas as suas sensações.

Primeiro começa com o calor. Era um dia quente, talvez o mais quente do ano, e seu coraçãozinho batia sem parar. Estava ciente de todos os riscos, sabia que a maioria das garotas da sala de Vernon gostavam dele, por isso, ele tinha de agir, rápido. Vai que uma delas tinha a ideia louca de pedi-lo em namoro primeiro? Elas tinham mais oportunidades, ele não.

Apenas o via nas férias, quando sua família voltava para sua antiga casa para descansarem, e ele ia lhe ajudar com suas plantinha, fosse no verão ou no inverno. O Chwe gostava de girassóis, por isso os cultivava, mesmo que não fosse durar por muito tempo. No verão, HanSol tinha a chance de vê-las crescidas.

Estava segurando uma, ela estava no ponto, e sabia que morreria nos próximos dias. Seu coração pedia desculpas, mas achou que ganharia um ponto extra se lhe entregasse o coração junto da florzinha. Você ganha os dois se aceitar! Era o que sua mente pensava, e ele secretamente desejava que funcionasse. Esperou o Chwe sair da toca, aka sua casa, e o seguiu de longe, esperando pelo momento certo de dar o bote.

Lembrava que a grama estava alta, e denunciava seus passos incertos atras de si, e ainda assim, o Vernon só parou quando chegou embaixo de uma árvore, para se esconder do sol. Ele fez sombra nos olhos com sua mão, esperando sua chegada, e o Boo se aproximou a passos rápidos e totalmente desengonçados.

Esticou a flor como se fosse um robô, e HanSol a aceitou sem questionar. Seus lábios se curvaram em um sorriso docinho, girando o girassol em seus dedos, sem esperar que SeungKwan se aproximasse tão ágil, e lhe roubasse um beijo, que foi tão rápido, que ele demorou a processar, e quando o fez, arregalou os olhos de surpresa.

"Namore comigo, Vernonie!", suas palavras saíram treinadas, e ele lembrava de corar, seu coração palpitar tão rápido que parecia estar prestes a derreter, e o rosto alheio ficar tão rubro quanto ele, sem saber o que dizer.

O Chwe tentou responder, mas nada saiu de sua garganta, e ele apenas pediu desculpas, sumindo de sua vista em segundos, e lhe deixando à mercê de seu coração. Não sabia se ele tinha odiado ou não, mas o telefonema no dia seguinte, o assegurou de que estavam bem, e permaneciam amigos.

Embora Vernon o estivesse enrolando para uma resposta.

Soltou um grunhido ao se lembrar de quanto tempo fazia, e rolou em sua cama, subitamente sem sono algum, seu estômago carregado de borboletas, lhe diziam que ele precisava de uma resposta naquele instante, ou nunca conseguiria dormir. HanSol, sabe o quanto o prejudica sem uma resposta?

Mordeu seu cobertor de forma manhosa, e depois o alisou como se pedisse desculpas, um bico grande e infantil em seus lábios, junto da convicção de que, se passasse daquele inverno, ele desistiria! Por completo! Sem Vernonies! Seria forte o suficiente para lhe dar um pé na bunda, e tudo estaria ok.

Ou será que ele não era forte o suficiente para isso?

Olhe o que faz comigo, Vernonie, pensou suas bochechas ganhando cor pelo pensamento. Eu te perdoo, até se tiver que te esperar pelo próximo inverno inteirinho.