1. Spirit Fanfics >
  2. Surrender (Camren) >
  3. Novidade nem sempre é bom II

História Surrender (Camren) - Novidade nem sempre é bom II


Escrita por: MirneyCruz

Capítulo 38 - Novidade nem sempre é bom II


Fanfic / Fanfiction Surrender (Camren) - Novidade nem sempre é bom II

Por Camila

Miami, 23 de Junho de 2016

Estávamos na metade da tarde, o sol ainda permanecia a pino mas a sensação térmica a qual eu estava naquele momento, era de um frio congelante. Mirar aqueles olhos me encarando cheia de dúvidas estava paralisando não só os meus sentidos, como também todo a parte física a qual o meu corpo era composto. Eu simplesmente entrei em um estado de choque que até a noção de espaço eu perdi, foi preciso Dinah me apoiar pelo braço para que eu não caísse devido a queda momentânea de pressão, eu estava bem fraca naquele momento. O nervosismo me pegou de uma forma tão arrebatadora que eu não consegui a encarar, não havia a menor condição de inventar alguma desculpa ou história naquele instante, ela estava ali na sua mais perfeita forma física e eu estava simplesmente encurralada.

- Camila, não. - Dinah me segurou pelos dois braços quando eu me virei na intenção de ir embora. - Você precisa resolver isso.

- Dinah, como ela veio parar aqui? - Eu sussurrei achando que não seria possível ninguém mais ouvir.

- Camila... - A outra mencionou meu nome e eu senti aquela estranha sensação de quando alguém está se aproximando, minhas pernas estavam tremulas e eu sentia que a qualquer momento eu poderia desmaiar pelo nervosismo. Dinah me encarou e logo desviou o olhar para a observar - Camz, nós temos que conversar?

"Camz? Ela me chamou de "Camz"?"

Eu pensei e logo fiquei mais confusa, os pensamentos vieram como pedaços de um enigma para me confrontar, primeiro Lauren sabia que eu viria para a casa de meus pais, se ela estava ali, então é porque sabia que eu havia mentido sobre o terapeuta, isso já seria um ponto a menos para mim. Depois, ela provavelmente já sabia também da situação, consequentemente sabendo que eu não teria a contado. Neste tempo já seriam duas mentiras para eu pagar... Por que então ela estava assim tão calma, ou não aparentava raiva ou decepção contra mim? No mínimo eu merecia ganhar um olhar raivoso ou decepcionado, ou ouvir um sermão sobre confiança, sobre eu proclamar que detesto mentira e agir como uma covarde hipócrita. Porém tudo o que ela fez foi o contrário disso.

Eu senti outras mãos envolverem meus ombros enquanto ainda era enaltecida pelo nervosismo, minha amiga já havia se afastado mais quando este novo contato veio até minha pele, ela foi descendo devagar suas mãos sobre meus braços até chegar de encontro em uma de minhas mãos e tocá-la suavemente. A puxou como em um pedido singelo que eu me virasse e assim o fiz, com muito pesar, tentando ainda entender aquilo e fraca pelo peso da vergonha que permanecia sugando minha coragem de a encarar.

Sabe quando você está na beira de um precipício e sua única alternativa é pular para escapar de um monstro que te persegue, porém não sabe o que vai acontecer com a queda quando pular? Pois é, era exatamente assim como eu estava me sentindo naquele momento. Eu tinha duas opções ali, ou eu "pulava" e fingia uma possível raiva por ela ter invadido meu espaço daquela forma, na tentativa de entender como ela ficou sabendo e foi parar até ali. Ou eu "encarava o monstro" e me desculpava por ter mentido para ela e tentava, sei lá, explicar a situação. Mesmo eu também não entendendo o que de fato estava se passando.

Respirei fundo, busquei o olhar de Dinah que apenas nos observava atenta em um canto da sala e, devagar fui me virando fugindo do rosto alvo da mulher que agora permanecia a minha frente. Não demorou muito até que uma de suas mãos viesse sob meu queixo trazendo levemente meu rosto para cima, me obrigando a encará-la, Lauren me olhava de forma serena, não existia nenhum resquício de acusação, raiva ou chateação ali, ela parecia mais estar na defensiva do que qualquer outra coisa. O que estava acontecendo?

- Camila, antes de qualquer julgamento, eu peço que você por favor tente entender a situação primeiro, ok? - Ela falou com uma tonalidade de preocupação na voz.

- Que situação Lauren? O que está acontecendo aqui? - Me afastei um pouco e novamente encarei Dinah que franzia o cenho procurando também o sentido de suas palavras.

- Você já saberá, vamos sentar e aguardar o Alejandro. Acredito que ele já deva estar chegando. 

Ela falou me encarando receosa agora e foi me guiando até o sofá onde antes estava sentada nos esperando. Eu a acompanhei ainda tentando encontrar as peças para decifrar aquele quebra-cabeças, fixei o olhar sobre o dela exigindo explicações ao mesmo tempo que tentava me desculpar, mas ela nada disse. Pediu apenas que eu tivesse paciência que tudo seria esclarecido. Meus nervos estavam a flor da pele, as inúmeras indagações ficavam passeando em minha mente e agora o nervosismo misturava-se com a ansiedade fazendo com que minhas pernas balançassem freneticamente enquanto eu aguardava sentada no sofá alternando meu olhar para o dela e o de Dinah, que dividia aquele espaço conosco.

- Algo me diz que nós duas somos as quem menos estão sabendo das coisas aqui, Camila. - Dinah quebrou aquele silêncio aterrorizante, percebendo talvez a enorme tensão que me pareava.

- Lauren, você poderia me explicar o que estamos esperando e o que você tem a ver com tudo isso? - Eu me virei em solavanco a encarando firmemente, eu já começava a perder a paciência - E como você ficou sabendo que eu viria para cá?! 

- Camila, eu vou te explicar tudo mas é melhor primeiro ouvirmos o que os seus pais têm a dizer, tenha calma.

- Como vou ter calma?! Eu venho até aqui para resolver um problema, com a consciência pesadíssima por estar escondendo algo de você, e de repente te encontro aqui. - Levantei rapidamente do sofá e caminhei até a janela que tava visão para rua, percebi então que o carro dela não estava lá fora - Não faz sentido, nada faz sentido! Era para você estar brava comigo, por ter mentido pra você, mas não... Por que você está aqui?! O que você tem a ver com o que está acontecendo?

- Ela nos ajudou Kaki! - A voz de Sinu ecoou embargada pela sala, fazendo com que todas voltassem a atenção para ela.

Eu a encarei buscando um sentido para aquelas palavras, seus olhos estavam marejados e a tonalidade avermelhada tomava por completo sua face, como se ela tivesse acabado de chorar. A cada minuto que se passava sem a devida explicação daquilo, eu ficava mais atordoada, eram tantos pensamentos que passavam pela minha mente que eu já não conseguia mais decifrar quais sentimentos estavam me dominando ali.

Voltei meu olhar para a outra mulher que também estava em pé, atrás de mim agora, e ela nada disse, apenas baixou o olhar desviando-o do meu em um gesto cúmplice de culpa, Dinah levantou-se também neste momento e veio de encontro a mim.

- Quem será de vocês que irá esclarecer as coisas? Por que até eu, que não tenho nada a ver com essa história, estou começando a perder a paciência aqui. - Dinah disse em um tom de voz um pouco elevado dirigindo-se a Sinu e Lauren.

- Precisamos esperar o Alejandro chegar, ele precisa participar desta conversa. - A mulher a quem eu costumava chamar de mãe proclamou e caminhou até o centro da sala, passando por nós segurando uma bandeja com a garrafa e xícaras de café. - Ele já deve estar chegando, pelo horário que saiu daqui, a este tempo já deve ter resolvido.

- Ele não foi trabalhar? - Perguntei e ela apenas negou com a cabeça arrumando as coisas sobre a mesa de centro da sala - Aonde ele foi?

Neste momento, quando seu olhar subiu para me encontrar, ela o desviou até a maçaneta da porta que girava anunciando a entrada de alguém. Todas naquele ambiente aguardaram até que ele, a quem estava faltando ali, entrasse e se juntasse a nós.

Alejandro atravessou a porta adentrando na casa com o semblante caído, ele aparentava estar exausto, não vestia seu habitual terno preto de trabalho e nem sua postura séria de segurança, ele estava com a aparência de quem havia sido acabado de ser derrotado em uma disputa, mas mesmo assim desenhou forçadamente um sorriso quando avistou a todas na sala lhe encarando e nos cumprimentou com um "boa tarde" quase que sussurrado.

- Deu certo? - Sinu veio até seu encontro com as mãos no peito em aflição.

- Deu sim... - Ele a respondeu com um pequeno sorriso no rosto e a abraçou de leve alterando o olhar para encarar a mim e a Lauren, que agora estava ao meu lado e sorriu. - Obrigada... - Ele disse a olhando e fechou os olhos para envolver Sinu em seus braços de forma mais apertada.

Aquilo fez aumentar ainda mais a cólera que se instalou dentro de mim, eu estava me sentindo tão lesada, o sentimento de culpa que antes inundava meu peito foi alastrado pela impaciência de ser, além de Dinah, a que menos estava sabendo as coisas ali. Fui entorpecida pela ansiedade do esclarecimento imediado de todo aquele enredo e ignorei a cena, até que comovente, de quem eu costumava em um tempo não tão distante, chamar de pais.

Enquanto eles se abraçavam e sussurravam algumas coisas inaudíveis um para o outro em uma conversa particular, eu fixei meu olhar em Lauren e novamente ela não me correspondeu, desviou-se e regressou até onde antes estava, mirou Dinah próxima de mim com pesar nos olhos e sentou-se novamente no sofá levando uma das mãos até o rosto, meneando negativamente com a cabeça e um forte suspiro escapou de seu peito após seu rosto baixar encaixando sua testa na palma da mão.

- Karla... - A voz séria do único homem naquela sala ecoou atrás de mim assaltando minha atenção de volta. - Como você está?

- Onde está Sofia? Ela já deveria estar em casa a essa hora. - O encarei firmemente enquanto ele passava por mim caminhando em direção a Lauren.

- Está na casa de Madelaine, uma amiga do colégio. Pedi aos pais dela que ficasse com Sofia esta tarde... Para que pudéssemos conversar. - Ele me encarou e sentou na poltrona que ficava ao lado do sofá onde a outra nos observava atenta. - Tudo bem Srta Jane? Não lhe cumprimentei direito, perdão.

- Estou indo... - Dinah o respondeu sem muita simpatia.

- Por favor Karla, se sente. - Ele me indicou os dois sofás na sala para que eu escolhesse um lugar e chamou Sinu para que se aproximasse também.

Relutei um pouco com as ideias que começavam a se formar no meu subconsciente, àquela altura as respostas para algumas perguntas já estavam sendo formadas, mas com elas vinham outras perguntas que me atormentavam mais ainda, e o bônus de pensamentos cada vez mais infelizes consumiam minha cabeça ao ponto de quase explodir.

Caminhei até o lugar vazio ao lado de Dinah e me acomodei olhando atentamente ao outros dois que trocavam olhares cúmplices, Lauren não conseguia me encarar e quando fazia isso, apenas me oferecia um breve sorriso sem graça para logo desviar o olhar ao chão.

- Eu imagino que você não esteja entendendo o que se passa aqui não é? - Ele me chamou a atenção e eu trinquei minha mandíbula já impaciente. - Pois bem Camila, eu vou te deixar falar primeiro e depois eu começo...

- Eu não tenho nada o que falar, vocês é precisam me explicar o que diabos está acontecendo aqui. - Eu mencionei me levantar, porém Dinah segurou em minha mão pedindo que eu me acalmasse - A Sofia está a um passo de ser suspensa da escola, e eu vim aqui para resolver isso. Mas pelo visto existem outras coisas para serem resolvidas também não é? Qual de vocês vai me dizer o está acontecendo?

- Camila... 

- Deixa Lauren, é melhor que eu fale tudo do começo para que ela entenda.


Por Lauren

Camila me encarava de um jeito assustador, parecia que ela estava me odiando sem nem mesmo saber o real motivo por eu estar ali, eu sabia que foi arriscado o que eu resolvi fazer, julgando por seu temperamento impulsivo, ela poderia não concordar com minha atitude e interpretar de forma erronia minha intenção. Mas eu apenas quis ajudar, não podia me fazer de cega em uma situação a minha frente tendo condições de fazer algo e simplesmente ignorar aquilo, era mais forte do que eu.

Eu não conseguia sustentar seu olhar feroz, ela me exigia respostas que eu não podia as dar, pelo menos não todas elas, a ver me olhar daquela forma estava sendo uma das piores torturas que eu jamais imaginei passar, então eu optei por não a encarar, pelo menos não até que chegasse minha vez de falar.

- Você lembra que alguns anos atrás, logo antes de Charlie te pedir em casamento, quando sua mãe caiu na cozinha e precisamos chamar uma ambulância para a socorrer pois ela estava desacordada? - Alejandro começou a falar se portanto a Camila, ela apenas assentiu com a cabeça - Bem, naquele dia Karla, nossa vida começou a mudar...


                             ~~※~~

- Sr Cabello, tudo indica que sua esposa possui uma doença chamada de Artrite Reumatoide. Essa é uma doença crônica inflamatória que geralmente afeta as pequenas articulações do corpo. Ela interfere no revestimento dessas articulações, causando um inchaço doloroso que pode, eventualmente, resultar em erosão óssea e deformidade articular.

- Mas isso é grave doutor?

- Se não for tratada de forma correta, sim. Mas isso varia de paciente para paciente, mas por enquanto ela precisará de cuidados específicos e acompanhamento médico. É muito importante que ela tenha uma rotina saudável, então eu recomendo que faça caminhada pelo menos uma vez ao dia, ou algum outro exercício físico leve.

- Mas por que ela desmaiou se a doença afeta apenas as articulações?

- Na verdade Sr Cabello, a artrite reumatoide é uma doença autoimune, ou seja, que faz com que o sistema imunológico do corpo ataque os tecidos saudáveis por engano, então além de causar problemas nas juntas, a doença, em alguns casos, pode afetar outros órgãos do corpo como pele, olhos, pulmões e vasos sanguíneos também. Sua esposa desmaiou porque certamente ela estava fraca devido a anemia causada pela doença.

-  Eu não entendo, ela não se queixava de nada. Muito pelo contrário, sempre estava calma e tranqüila.

- Muitas pessoas que possuem essa doença não sabem que a tem, porque os sintomas variam para cada paciente, mas eu posso afirmar com toda certeza que ela até não podia se queixar para vocês, mas pelo menos de vez em quando, sentia dores.

- E como podemos tratar isso?  Eu nem sei o que vou fazer...

- Eu vou os encaminhar para um reumatologista, para que ela seja acompanhada melhor. Sua esposa precisará fazer mais exames para sabermos em que qual grau a doença está, então só aí começaremos o tratamento.

- Mas isso tem cura, não tem?

- Devido essa doença ser crônica e não ter uma causa específica, ela ainda não tem cura, mas pode ser controlada. O tratamento varia de acordo com as características do paciente e sua resposta imunológica, então o reumatologista vai levar em consideração as articulações atingidas pela inflamação, o grau de inchaço e a intensidade da dor entre zero e 10. Isso pode incluir orientações não medicamentosas, como modificações na rotina do paciente como a prática de atividades físicas, fisioterapia e hábitos saudáveis, como também precisar de medicamentos. Em alguns casos, necessita até de cirurgia também.

                              ~~※~~


Camila ouvia atentamente cada palavra sem sequer piscar os olhos, eu não conhecia essa parte da história, ainda não havia dado tempo para que eles me contassem tudo, então eu prestava atenção a tudo que ele dizia, sempre alterando minha atenção para ela também. Eu havia me introduzido no dilema de Camila sem pedir sua autorização, eu sei, mas como mencionei antes, minha intenção foi a melhor possível, embora ainda estivesse receosa para saber como seria sua reação ao final do todo o esclarecimento.

Eu dividia minha atenção para o homem que continuava falando para Camila, em seu semblante sério que, embora houvesse instalado uma carranca raivosa, lá no fundo se percebia uma pintada de surpresa e agora, aflição. Pelo visto, aquilo tudo era novidade para ela, e devido a tensão da situação, não sabia como reagir, ninguém sabia o que fazer naquele momento. Dinah estava atônita, os encarando com uma cara de espanto e Sinu apenas chorava baixinho, desolada.

- Decidimos não contar nada para ninguém, nem para você e nem a sua irmã, que na época era muito novinha, não ia entender mesmo. Nós iríamos continuar nossa rotina normalmente e enfrentar isso em silencio, até porque sua mãe não aparentava estar mal e não queríamos preocupar vocês. Mas infelizmente, as coisas não saíram como planejavamos... - Alejandro falou com a voz embargada e apertou a mão de Sinu que repousava sobre sua coxa.

- Os resultados dos exames não foram muitos bons, o grau da doença já estava elevado, e eu precisaria fazer o tratamento urgente com remédios e fisioterapia, para tentar evitar a cirurgia. - Sinu continuou - Só que o tratamento era muito caro, perguntamos ao médico se existia alguma outra alternativa, e a resposta foi negativa, se não fosse feito o tratamento o mais rápido possível, eu iria sentir muita dor e precisaria fazer a cirurgia ou acabar parando em uma cadeira de rodas.

- E... Como vocês fizeram para resolver isso? - Camila os indagou e instantaneamente olhou para mim.

- A princípio eu conversei com o Sr Charles sobre minha situação e pedi um aumento de salário, mesmo que fosse preciso aumentar minha carga horária de expediente também. Ele se negou, disse que eu já ganhava bem demais para minha função. Tentei me opor, expliquei que aqui em casa só entrava minha renda, já que você ainda estagiava na revista e sua mãe não teria condições de trabalhar, mesmo assim ele se indiferente. A resposta foi "não".

Camila baixou a cabeça nessa hora e meneou negativamente, encarou Dinah por alguns segundos, Sinu e por fim Alejandro outra vez.

- Isso foi naquela época em que você havia decidido tirar a Sofia da escola particular para colocar em uma pública e eu briguei com você? - Ela o perguntou com a voz um pouco falha.

- Sim, exatamente.


                               ~~※~~

- Não, eu não aceito! Vocês me prometeram que ela iria ter tudo que não puderam me dá, você ganha bem papa, não precisa tirar a Sofia da escola particular, por quê isso agora?

- Kaki, aqui tem escolas públicas excelentes, algumas com ensino no mesmo nível que particulares ou até melhores, é só sabermos procurar direitinho. 

- Qual a necessidade disso agora? Nunca faltou nada aqui, por que você quer tirá-la de lá? Ano que vem ela já vai ter que mudar mesmo, e se tudo der certo, eu já serei contratada e poderei ajudar nas despesas. Não custa nada esperar terminar o ano.

- Ok Karla, você tem razão. Ano que vem vamos ver o que resolvemos.

                             ~~※~~


- Eu lembro que esta noite, eu te peguei na sala de madrugada chorando e você me deu uma desculpa ridícula de que tinha batido o dedo do pé na ponta do sofá e tava doendo muito. - Camila continuou o encarando.

- Sim... Eu disse que havia ido beber água e chutei a ponta do sofá sem querer. Na verdade eu não sabia o que fazer para resolver a situação, eu precisava ser forte para ajudar a motivar sua mãe, mas estava perdido. - Uma lágrima teimosa escorreu sobre seu rosto enquanto ele terminava de falar.

- Certo, mas você ainda não respondeu a pergunta que te fiz. Como vocês fizeram para resolver a situação?

- Então, nos primeiros meses eu consegui manter o tratamento dela, gastei toda a reserva com as sessões de fisioterapia e os medicamentos, mas antes do final do ano eu já não tinha mais nada, então me encurralei a te contar toda a verdade e pedir sua ajuda com o pouco que ganhava no estágio, ou tirava a Sofia da escola ou parava o tratamento de sua mãe. Eu não queria nenhuma dessas opções, então... - Ele baixou a cabeça e respirou fundo - Eu pedi ajuda ao Charlie...

Neste momento Camila levantou-se do sofá e caminhou a passos lentos até a janela, ficou lá parada por alguns minutos olhando pela vidraça em direção ao tom alaranjado do céu sendo consumido pela negritude da noite que aos poucos começava a chegar.

Eu fiquei a observando, pedindo aos céus que me desse o poder de decifrar o que se passava em sua mente naquele momento, talvez ela estava relembrando tudo que havia vivido ao lado daquele homem, todas as entrelinhas escondidas que aconteceram sem o seu conhecimento, talvez remorso por ter os julgado sem saber o motivo, mas como ela poderia saber? Me contive para não correr até lá e a abraçar fortemente, tentar arrancar dela todas as suas dores, antigas e agora estas novas, a tomar todo o sofrimento que lhe atormentava, mas eu me sentia imprestável ali.

- Continue... - Apenas se ouviu o som de sua voz, ela permaneceu na mesma posição, de costa para todos.

- Eu o procurei no dia seguinte, minha intenção era pedir ajuda dele para convencer o Sr Charles a aumentar minha carga horária e ele me dá o aumento no salário, mas sua proposta foi outra.


                              ~~※~~

- Alejandro, esse valor é muito alto. Isso é inviável para a empresa, seria um custo muito elevado para o pagamento de um funcionário.  Mas eu posso fazer algo melhor... Você sabe o quanto eu amo sua filha, não sabe?

- Bem, você pelo menos demonstra isso...

- Então, a gente pode entrar em um acordo. O que você ganha, dá pra pagar o tratamento de sua esposa e manter a casa?

- Sim, apenas o básico. O tratamento dela está consumindo quase todo o dinheiro, não sobra mais nada para a reserva, e infelizmente mês passado não deu para pagar a escola de Sofia, acho que esse mês também não vai dá porque Sinu precisou refazer alguns exames.

- Ok, eu vou pagar o débito da escola de Sofia e a mantenho nesta escola até o final do ano. Te dou uma cesta básica todo mês e ano que vem Sofia irá estudar na mesma escola que eu estudei na infância. Ela terá o melhor ensino de todos.

- Não Charlie, não precisa de tudo isso. Não quero o incomodar com essas coisas, se o senhor me ajudasse com o seu pai, já estaria ótimo.

- Esse aumento não vai rolar Alejandro, esqueça. Mas o que eu estou te propondo aqui não é caridade, eu disse que seria um acordo, e em um acordo ambas as partes ganham, certo? Então... Eu queria em troca, que você fizesse Camila se casar comigo.

- Charlie, não posso interferir nisso. A decisão precisa ser unicamente dela.

- Ok, boa sorte então.

                               ~~※~~


Alí já estava evidenciado muitas coisas, era notório que Alejandro estava sendo sincero, porque acredito que até mesmo o melhor ator de Hollywood não faria uma cena como aquelas, ele parecia está devastado, chorava compulsivamente outra vez como alguém perdido que se arrepia de algo sem volta.

Eu entendia que ele havia feito aquilo na intenção de poupar as filhas de uma possível dor pela doença da mãe, mas ter deixado de apoiar Camila quando ela mais precisou por causa de uma ameaça, não era algo moralmente aceitável para mim. Ele deveria ter agido como pai, como protetor no exato momento em que soube que a filha houvera sido machucada e não ter dado as costas para ela. Mas quem era eu para o julgar? Era uma situação tão complicada, aquele homem, pai amoroso e marido leal, ter que escolher entre dois amores, entre a proteção e felicidade de sua filha e a vida de quem sempre o amou e o apoiou.

Após Alejandro findar esta parte com Charlie, ela se virou e encarou nós dois, seu rosto estava avermelhado e as derradeiras lagrimas de ambos estavam sendo enxugadas, Camila veio até minha direção e parou à nossa frente, encarando seus pais, ainda em pé.

- Como vocês estão fazendo agora, já que não estamos mais juntos e ele cortou o dinheiro? Finalmente conseguiu seu aumento?

- Pelo contrário, eu não trabalho mais para os Puth, Karla. Fui demitido há dois meses. - Sua resposta saiu embargada e ele desviou o olhar brevemente para mim. Camila cresceu uma expressão de espanto na face. - Justamente porque eu disse que não o ajudaria em mais nada em relação a você, o ameacei caso ele encostasse em ti outra vez e acabei perdendo a razão quando ele disse que te teria de volta por bem ou por mal.

- O que você fez? - Ela o indagou se aproximando mais.

- Eu não consegui me conter pela raiva acumulada de todo esse tempo sendo humilhado e submisso àquele homem, então quando ele disse que iria fazer qualquer coisa para te ter volta, até mesmo algo ruim, eu o agredi. Dei um soco em seu nariz e ele me demitiu por justa causa, mandando os seguranças me tirar de lá a força. - Uma expressão de espanto cresceu no rosto de todos neste momento - Ainda ameaçou me processar, caso eu contasse algo para você. 

Ele fez uma breve pausa e suspirou fortemente levantando-se da poltrona. 

- Eu estava desempregado e ainda poderia ser preso, sem dinheiro para pagar o tratamento de sua mãe e muito menos um advogado... Era o fim para mim! - Sinu levantou-se também e segurou as mãos de Camila.

- Perdón mi hija, me perdoe por ter sido tão omissa e egoísta deixando você ficar com aquele homem para o meu bem, eu me arrependo tanto.

- Não Sinuhe, eu que não deixei você se impor, eu estava desesperado, tentei proteger nossa família, mas acabei  jogando nossa filha em uma armadilha! - Ele agora esbravejava com o rosto banhado em lágrimas outra vez - Sua mãe sempre me pediu para que eu te contasse a verdade Karla, mas nunca a ouvi, eu não queria que você se preocupasse. Mas era tão doloroso te ver nos odiando sem poder fazer nada, me perdoe minha filha.

Ela nada disse, apenas se afastou novamente e caminhou de volta para a janela, suspirou com toda força e se virou me encarando outra vez, os olhos lacrimejando e ela forçando para não se entregar ao choro.

- E onde você entra nessa história Lauren? - Seu tom de voz era ofegante e nada terno.

Naquele instante eu me senti sendo atingida por uma bala de canhão, eu não esperava que ela me perguntasse aquilo assim de repente, é claro que eu sabia que uma hora ou outra a bola iria vir para mim e eu seria a da vez de contar minha parte, mas fui pega tão de surpresa que não deu tempo nem de me recompor pela tensão de todo o enredo daquela história.

Eu estava me sentindo culpada por não ter a avisado o que eu faria, me sentia culpada por ter introduzido Charlie em sua vida outra vez, mesmo não tendo ideia de quem seria aquele homem, quando recebi sua proposta irrecusável de sociedade, e nem seus reais planos. Me sentia uma pessoa péssima, por mesmo com a dor daquele drama, lá no fundo eu o agradecia, porque embora sua intenção verdadeira fosse a ter de volta se associando ao jornal, ele acabou me trazendo ela. A pessoa que arrebatou todo o meu ser e agora eu seria capaz de fazer tudo para protegê-la.

Me levantei vagarosamente do sofá a encarando, ignorando todos que lá estavam também, caminhei em sua direção e desta vez nossos olhares se conectaram, nenhuma das duas desviou-se.

- Eu não sei como você irá interpretar isso, mas quero que saiba que minha intenção sempre foi a melhor possível. - Comecei e ela logo franziu o cenho, já antecipando uma possível chateação pelo o que viria - Então, logo depois que descobri que Charlie era seu noivo eu contratei alguém para o investigar, não encontrei nada. Ele era aparentemente um típico bom samaritano, que não se mete nunca em confusões e sempre zela sua boa reputação.

- Um sínico você quis dizer não é? - Ouvi Dinah decretar atrás de mim.

- A principio quando você me disse que não estava mais com ele porém não queria me dizer o real motivo, eu não entendia porque tanto ódio por aquele homem, já que publicamente ele era um rapaz que qualquer pais desejariam ter como genro. - Camila revirou os olhos neste momento, mas permaneceu me encarando - Foi então que pedi ao investigador que tivesse acesso ao advogado particular dele, e... Você não imagina o que as pessoas são capazes de fazer por dinheiro.

- Ah, eu imagino sim. Você não faz ideia... - Ela proferiu e virou-se para a janela outra vez.

- Após uma boa quantia em dinheiro, ele contou tudo sobre o Charlie e a obsessão dele por você. Disse que ele teve que fugir após ter te machucado pois não sabia lidar com a situação de ser desmascarado ao público e perder sua imagem, principalmente perante ao pai dele, que sempre ameaçava o deserdar se ele vacilasse alguma vez.

- Quer dizer que você já sabia o que ele havia feito comigo antes daquele episódio aqui? - Ela virou em solavanco me indagando de forma acusativa.

- Sim... Me perdoe. - Tanto ela como todos os outros cresceram uma expressão de surpresa em suas faces, e eu me senti a pior das ordinárias - Porém, havia sido recente. Eu ainda não tinha certeza, pois as informações que o advogado dele passou não foram tão concretas. Até mesmo dele, Charlie escondia os detalhes, então a confirmação veio naquele dia mesmo.

Dinah levantou-se e foi até a cozinha, retornando em seguida com um copo de água e entregou a Camila, que agora permanecia estagnada encarando o chão, como se tentasse processar tudo que em sua mente.

- Após aquele dia, eu resolvi investigar também Sofia e seus pais, descobri que o pagamento da escola dela vinha da conta de Charlie e que sua mãe estava doente, que eles não tinham condições de pagar a escola e manter o tratamento, por isso aceitavam o dinheiro vir dele a base de humilhação e ameaças continuas.

Camila e Dinah me olhavam como se eu estivesse sentada em um banco de réu no tribunal confessando um crime o qual eu estava sendo acusada. Porém, mesmo sob aqueles olhares interrogativos, eu tentei me manter firme e continuei.

- Pedi que Alexa entrasse em contato com a escola para transferir a conta de débito de Charile para a minha, porém eles recusaram. Isso não seria possível, a menos que o próprio comparecesse pessoalmente para assinar um termo de autorização, pois ele tinha um contrato com a instituição onde apenas ele, e os responsáveis legais de Sofia podiam efetuar o pagamento, ou se ele cancelasse o débito automático. Então eu fiquei monitorando e pedi que o advogado dele me comunicasse caso ele resolvesse cancelar o pagamento.

- Quer dizer que você ficou subornando o advogado dele para que te passasse as informações?! - Camila esbravejou com acidez na voz. - Tudo isso acontecendo pelas minhas costas sem eu saber, como vocês tiveram coragem de esconder essas coisas de mim?

- Camila, se eu tivesse pedido sua autorização, você teria me concedido? - Perguntei receosa.

- É claro que não! Você não tem nada a ver com isso. Muito menos gastar seu dinheiro com essas coisas. - O tom de sua voz não era nada afetivo, muito pelo contrario - Por que você fez isso?

- Porque eu... - Minha fala travou, aquele não era o momento e nem o lugar para dizer aquilo, além do mais porque eu não havia terminado de contar tudo. - Bem, deixar eu continuar... A umas duas semanas, eu descobri que ele havia cortado o pagamento da escola de Sofia e havia demitido o seu pai, porque o advogado dele também foi demitido e me procurou para me contar tudo. Eu tentei de todas as formas quitar o débito, mas a escola estava inflexível demais, eles não queriam aceitar e foram até bem insolentes, ameaçando me processar por violação caso eu continuasse insistindo. Então...

Senti uma mão pousar em meu ombro e Sinu passou por mim caminhando em direção a Camila, ela a pegou pela mão e foi a levando até o sofá pedindo sutilmente que ela sentasse. Após relutar e me encarar outra vez, ela cedeu e continuou me olhando até que a outra mulher lhe roubasse a atenção desta vez.

- Ela veio aqui para nos propor ajuda, em troca de contar toda a verdade a você. Ela ofereceu pagar a escola de Sofia e manter meu tratamento até que Alejandro conseguisse se estabilizar outra vez. Porém como ele estava parado, isso seria quase impossível, então ela lhe ofereceu um emprego. - Seu rosto travou um expressão pasma e foi virando devagar para buscar meu olhar, Camila estava perplexa. - Ele teria que ir até a escola para autorizar o pagamento e a transferência de conta, nós estávamos perdidos e desesperados Kaki, não sabíamos o que fazer, teríamos que te contar tudo para aceitar a ajuda dela, e sabíamos que você poderia até nos odiar mais ainda. Entretanto, o bem estar de Sofia valia mais.

- Como você sabia que eu viria para cá hoje? - Ela me perguntou após baixar a cabeça e suspirar profundamente.

Hoje pela manhã quando fui buscá-la em seu apartamento, eu achei um papel jogado ao chão da sala, a princípio eu iria apenas o apanhar para tirá-lo lá, mas quando o repousei sobre a mesa de centro, eu percebi o emblema da escola de Sofia. - Neste momento ela meneou negativamente com a cabeça desviando o olhar do meu - A todo momento eu precisava vencer uma batalha interna sobre a dúvida de como você aceitaria aquilo, mas quando vi que Sofia estava prestes a ser expulsa pedi que Alexa entrasse imediatamente em contato com os seus pais para que eles aceitassem minha ajuda e fosse logo autorizar o pagamento e a transferência de conta na escola.

- Eu não sei o que pensar, nem o que dizer... Isso tudo é muito insano, eu estou me sentindo tão inútil agora. - Camila falou e levantou-se caminhando em direção a porta - Me desculpem, mas preciso ir embora. Minha cabeça vai explodir.

Quando ela quase alcançava a maçaneta, Alejandro foi até lá tentando impedi-la de sair,  pediu que se acalmasse e esperasse mais um pouco, mas não adiantou. Ela seguiu seu caminho abrindo a porta e nos deixando para trás, Dinah a seguiu e eu fiz o mesmo.

- Me deixa te levar pelo menos, meu carro está logo ali. - Falei apontando para a outra esquina enquanto ela parava, me encarando com várias indagações no olhar. - Eu não fiz nada disso na intenção de te magoar, foi o contrário disso. Não me...

- Lauren, eu preciso realmente ficar sozinha hoje. Eu preciso organizar todas essas informações, ok? Amanhã podemos conversar, mas hoje não. Boa noite. - Ela falou e continuou caminhando sem olhar para trás, até passar um táxi e ela adentrar ao mesmo acompanhada de Dinah.

Talvez, ela realmente precisava ficar sozinha aquela noite, até mesmo para mim havia sido pesado demais. Então eu respeitei seu espaço, não podia violar seus limites. Fui até meu carro e permaneci lá dentro encarando meu reflexo por alguns instantes pelo espelho do quebra-sol que ainda estava abaixado, tentando processar o que faria dali para frente, quais consequências aquilo iria me causar, eu não podia esconder mais nada ela.

Porém, o ser humano precisa ser assim tão imperfeito. Por quê?

_____________________________________________


Notas Finais


Olá, olá meus amores! 😊💗
Como vocês estão? Hoje teve apresentação da nossa Camilinha e surpresa com a previsão de Havana Movie, estão preparados para os tiros e um dos tombos mais esperados? Rsrs
Vamos dar muitos views nesse clipe e fazer streams até estourar a internet, temos que fazer ela morar no #1. Nossa bichinha merece isso, essa é a única forma de retribuirmos todo o amor que ela nos dá. Então vamos lá! Havana Oh Na Na 💞💃🎶
Gostaram do capítulo? Foi um pouco tenso né? Mas eu achei curto, então vou tentar providenciar logo o próximo. Rsrs 😅
Vocês já sabem o que fazer, o que eu sempre peço... Aquele lindo voto que eu adoro, e compartilhar caso vocês achem que a autora aqui merece! 😇💖
Obrigada sempre pelo apoio meus anjos, eu adoro vocês! Não esqueçam de comentar também, eu sempre me divirto lendo os comentários e posso até não responder todos, mas eu sempre leio. 
Até mais gente linda! 🙋😘❣️


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...