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História Surrender (Camren) - Mentiras


Escrita por: MirneyCruz

Capítulo 47 - Mentiras


Fanfic / Fanfiction Surrender (Camren) - Mentiras

Por Narradora

Miami, 5 de Setembro de 2016

Seria mais um começo de semana corriqueiro em seu total funcionamento no jornal, todos faziam seus trabalhos como deveriam e cada um ali dava seu melhor, todos os colaboradores sabiam a importância de se trabalhar agora em uma empresa caminhando para multinacional. O J.J News fazia sucesso nas bancas, plataformas digitais, televisões de cada casa de Miami e a cada dia que passava só aumentava os lucros e propostas de parcerias, Lauren se mantinha focada naquilo, seria um sonho se realizando afinal, ela não podia se sentir mais orgulhosa de todos os resultados de um trabalho árduo e cotidiano, tudo caminhava como planejado.

— Com licença, Sra Jauregui. – Sua secretária entrou na sala da presidência após bater na porta e ser autorizada a entrar. Lauren terminava uma ligação com Camila, a aguardava terminar seus afazeres para irem almoçar juntas, assim como faziam sempre que possível todos os dias.

— Pois não, Penélope. Houve algum problema? – A mulher loira em pé a sua frente parecia nervosa, ela a olhava meio ofegante como se procurasse as palavras certas para dizer algo muito sério.

— Aquela mesma mulher ligou, estava bastante nervosa porque eu não quis transferir a ligação dela. Disse que viria para cá, está a caminho. – Lauren se sobressaltou em sua cadeira, pegou o celular imediatamente se levantando em solavanco e fez uma ligação. Deixando a outra mulher sem reação ainda em pé, a aguardando proferir alguma ordem para que ela cumprisse. — Me desculpe. Eu até tentei evitar, mas como foram ordens suas não transferir as ligações dela em nenhuma hipótese, eu não relutei. Ela disse que iria resolver "esse problema" pessoalmente então. Eu posso ajudar em algo?

Lauren a olhou nervosa, não podia deixar que aquilo acontecesse, não agora que todos já estavam voltando as suas rotinas, que o impasse do grande ocorrido estava começando a se esvair das mentes dos demais, mais um escândalo daquele não poderia entrar em hipótese alguma, ela precisava agir, mas não podia fazer sozinha. Não daquele jeito.

— Alô?... Inferno, Alexa! Por que não me atende?! – Seu movimento rápido quase socando o ar em impaciência levou o susto sobressaltar sua secretária, ela ainda a olhava estagnada querendo ser útil em algo mais. — Por favor, comunique ao Alejandro que eu não quero que essa mulher sequer passe do portão principal. Peça a ele para avisar a todos os seguranças, mostre a foto dela e deixe todos em alerta. Eu quero ela da calçada pra longe daqui!

Penélope assentiu e saiu depressa da sala, retornou a sua mesa e agilmente interfonou para o ramal da sala de segurança, comunicando ao Alejandro as ordens de Lauren, ele assentiu sem relutar e imediatamente passou as coordenadas para todos os seguranças da empresa. Agora ele se tornara o chefe da segurança, porque após o infortúnio de outrora, nenhum dos acionistas da bancada aceitaram manter a mesma equipe, um erro daqueles era inadmissível, então seria necessário se cortar logo o mal pela possível origem, foi uma falha muito isolente, até mesmo de aparência culposa, então por precaução o melhor seria ao primeiro passo, trocar quem fosse responsável por aquela parte. Lauren já havia prometido um emprego a Alejandro, e mesmo que não fosse algo premeditado, aquela oportunidade lhe caiu como uma luva, porque até mesmo ela acreditava de fato naquela hipótese, embora não houvesse prova alguma ainda.

Quando sua proposta foi aos acionistas, Charlie diferiu no mesmo instante, óbvio, seria uma afronta sem tamanho ter que aceitar aquilo, um dos seus opositores trabalhando novamente no mesmo ambiente que ele, tentando dificultar tudo que ele planejasse, seria uma grande cárcere. Mas no final ele precisou resignar, porque em um momento que foi colocado a júri na frente de todos sobre suas objeções ferrenhas, ele se sentiu acuado e obrigado a, se levasse a diante aquele impasse, falar a verdade, falar sobre a demissão contra seu ex sogro, o motivo por aquilo, e mesmo que tentasse um teatro ou uma mentira qualquer, só o fato da idéia de Alejandro jogar aquilo na roda, já soaria muito mal. E ele temia pela decadência de sua imagem, era um de seus maiores medos. Então todos aceitaram, questionaram a princípio também a familiaridade com Camila, mas o profissionalismo imparcial de Lauren foi rápido em justificar e garantir que aquilo não atrapalharia em nada, já que os dois não teriam contato direto e ambos eram extremamente profissionais. Estava consumado então, Alejandro cuidaria de toda a segurança dali em diante.

Demorou cerca de cinco minutos para o celular de Lauren vibrar em cima de sua mesa, ela já terminava de engolir o restante da terceira garrafa de água em nervosismo. Correu até lá e o atendeu imediatamente.

— Alexa, você ouviu a mensagem?! – Sua voz era apressada, estava impaciente com a situação, não sabia o que fazer, ainda não havia adiantado sobre aquela situação com Camila. E ela não podia jamais descobrir sobre aquilo assim.

— Ouvi sim. Eu estou tentando resolver isso. Mas você sabe que eu não posso fazer muito daqui, não é? Eu liguei para o advogado dela, estou aguardando retorno. – A outra mulher respondeu com calmaria, não queria a colocar ainda mais pilha, mesmo sabendo que a situação era delicada.

— Não era para essa mulher estar aqui. Se ela fizer confusão em frente ao jornal ou em qualquer outro lugar que me prejudique, o acordo está desfeito. Pode falar isso para o advogado dela! Eu a processo na mesma hora e corto os depósitos. Aí eu quero se ela não morr...

— Lauren, calma! Não vá se precipitar. Você sabe que a situação com a Lucy é difícil. Ela é uma pessoa difícil, e está aproveitando a situação para lhe desestabilizar. Ela sabe do seu relacionamento com a Camila e sabe que o jornal está em ascensão, e acha que pode ganhar algo mais com isso. Vamos ser racionais, não exploda. Tenha paciência, eu estou quase conseguindo uma liminar contra ela, mas eu preciso que você mantenha a calma. Se fizer alguma coisa impulsiva, só vai afirmar o que ela diz, e então perdemos.

— Eu não estou mais aguentando isso, Alexa. São ameaças o tempo todo, são cobranças, são indiretas e eu não posso fazer nada porque essa desgraçada está com a faca e o queijo na mão. Como alguém pode ser assim? Eu nunca fiz nada contra ela, você sabe disso. – Lauren falava nervosa, sabia que se a mulher cumprisse o que ela ameaçava, dependendo de onde estivesse, rapidamente estaria fazendo um escarcéu em frente ao jornal, e com certeza a primeira pessoa que viria seria Charlie e em seguida Camila, não sabia qual situação a explicar seria a pior.

— Sei, Lauren. E é justamente isso que você irá manter. Se ela chegar aí, peça aos seus seguranças para a afastar sem violência, se ela relutar, então grave um vídeo se ela fizer confusão. Mas se for apenas uma conversa, conceda. Ela disse que tinha algo para lhe dizer, mas não aceita ser por intermédio meu. Deve ser por isso que está tão nervosa. Porque você não quer falar com ela. – Alexa continuava com a voz branda, ela sempre fora assim. Além de uma das melhores amigas de Lauren, sua racionalidade era sempre acalentadora.

— Óbvio que não quero! Sempre que tento uma conversa civilizada com essa louca, ela me tenta arrancar mais dinheiro. Eu não aceito, não quero mais que ela sequer chegue perto de mim, muito menos de Camila!

— Você ainda não conversou com ela sobre isso?

— Ainda não. Ela estava fragilizada com a situação dos pais, com a situação da Dinah, e com o que ocorreu aqui, não é? Camila é muito mais intensa do que eu, então inserir mais esse dilema assim é complicado. Eu estava esperando as coisas aliviarem um pouco, e escolher as palavras certas para dizer sobre isso também. Não é como se fosse a coisa mais fácil do mundo a se falar com alguém que você começou um relacionamento a pouco tempo, ainda mais o nosso relacionamento. Você sabe...

Lauren sabia que seria arriscado falar sobre aquela parte de sua vida, sobre aquele enredo oculto que ela arduamente tentava esconder a finco. Mas também tinha plena consciência que não seria possível manter algo como aquilo no sigilo pra sempre, uma hora ou outra Camila iria saber, todos poderiam saber se Lucy tivesse de fato a coragem de a expor como ela tanto ameaçava, mas ela não sentia pronta para falar, não desejava que aquilo fosse necessário, mas seria.

— Sei também, Lauren. Mas você tem consciência de que não poderá esconder isso pra sempre. Fale logo, quanto mais você esperar, mais difícil fica. A Camila vai entender... – Alexa concluiu e pediu um momento para atender outra ligação, Lauren apenas assentiu e aguardou conferindo se havia alguma novidade em seu celular e, para sua surpresa, Camila estava indo até lá, até sua sala, naquele infortúnio momento.

Desligou a ligação rapidamente quando ouviu o barulho dos saltos se aproximando de sua porta, ela sabia que em breve ela entraria, e tentou se recompor da maneira possível que podia, sua cabeça estava alucinante, os pensamentos frenéticos rodando em tantos aspectos, os batimentos em seu peito acelerados, e a respiração ofegante, aquela conversa precisava ser feita, mas quando?

— Alô? – Atendeu seu ramal de imediato, era Penélope anunciando Camila. Perguntou se ela poderia entrar. — Claro, pode deixar.

O telefone foi desligado e seu celular tocou, chegou a doer em seu peito o tamanho nervosismo, ela não era uma excelente mentirosa, tinha dificuldades em esconder as coisas, não gostava, não se sentia bem, ainda mais em sentença com Camila, que a fez prometer nunca mais esconder nada dela após o segredo de seu apartamento de outrora, aquilo soava agora como uma canção de ninar na frente do que estava por vir. Rejeitou a ligação antes mesmo do segundo toque, Camila entrava na sala.

— Desautorizou minha entrada imediata em sua sala? Por quê? – Camila caminhou até sua direção com a expressão confusa e desconfiada, lhe ofereceu um efêmero sorriso e deu a volta na mesa para ficar em pé em frente a ela. Portava alguns papéis em mãos.

— Não, meu amor. Você pode entrar aqui, em meu apartamento, em meu carro, onde quiser, a hora que quiser. Está tudo bem? – Lauren se levantou de sua cadeira e a envolveu pela cintura, encostando Camila na borda da mesa para lhe oferecer um rápido beijo.

— Eu fui entrar e Penélope me impediu. Parecia nervosa, não queria que eu interrompesse algo, talvez. Eu quem pergunto, está tudo bem? – Camila continuava desconfiada, se desvencilhou dos braços de Lauren e deu a volta outra vez na mesa para sentar na poltrona ao lado oposto. — Eu trouxe esses contratos para você analisar, é daquela empresa de marketing, eles lançaram uma nova proposta, me pareceu bastante atrativa. Dê uma olhada depois, por mim já está aceito. O outro seria justamente o auto de encerramento com a All Culture, caso você decida por mudar.

— Camila... – Lauren pretendia a responder sobre aquilo, mas seu celular vibrou outra vez sobre a mesa, era Alexa e pela insistência, não seria conveniente rejeitar novamente. 

— Você não vai atender? – Camila a indagou percebendo a relutância no comportamento de Lauren a sua frente, olhando para o aparelho com impasse. — Atenda, eu vou sair. Lhe espero em minha sala para irmos almoçar.

— Espera. Não precisa sair, nós precisamos conversar. – A outra a olhou com o franzir na testa, não entendeu o tom de voz sério vindo de Lauren assim de repente. — Oi Alexa...

— Lauren, eu falei com o advogado. Ele se comunicou com ela. Conseguiu a fazer desistir da idéia de ir até aí, mas tome cuidado porque ela está na cidade. Vocês podem se esbarrar em qualquer lugar... – Alexa foi dizendo do outro lado da ligação e Lauren a ouvia atenta, tentando não transparecer muito os sentimentos mórbidos que invadiam vez ou outra o seu ser ao imaginar aquela cena, aquele encontro, ao mesmo tempo que forçava uma expressão casual no rosto, na tentativa de não transparecer o que sentia dentro de si em frente a mulher que amava e já temia desesperadamente a perder por qualquer deslize.

Lauren apenas assentiu e agradeceu, encerrou a ligação e voltou sua atenção para Camila a sua frente, caminhou em direção a mulher e lhe puxou delicadamente pelas mãos a trazendo para si. Estava nervosa, ansiosa e não queria aquele assunto, tentou ao máximo se poupar daquele estresse, mas não havia escapatória, o círculo estava fechando e ela não tinha para onde ir, seria melhor Camila saber por ela do que por alguma fofoca por aí.

— Eu preciso falar algo sério com você, é algo sobre minha vida pessoal, sobre minha vida antes de você. – Ainda abraçando Camila pela cintura de frente, ela lançou aquilo assim no desespero, a outra apenas lhe encarou confusa, não tentou se desvencilhar de seus braços, apenas a manteve ali mas não foi um contato totalmente recíproco.

— E você precisa falar sobre isso agora? Estamos no meio do expediente. É algo assim tão urgente? – Não foi uma resposta rude, apesar do tom sério, Camila apenas sabia que se fosse algo que abalasse o emocional de ambas, poderia as atrapalhar no que ainda precisabam resolver durante todo o dia, e aquele dia em específico estava cheio de afazeres.

— Na verdade, sim. Mas você tem razão, podemos conversar sobre isso em casa. Acredito que de fato não seja assunto para tratar aqui. Me desculpe...

Ela se afastou sem jeito, Camila não pareceu curiosa, na verdade a expressão que nutria em seu rosto se assemelhava mais a preocupação do que a qualquer outro sentimento ali, não estava mais desconfiada e nem confusa, suspirou rápido e foi até Lauren outra vez a tocando no ombro para que ela se virasse e ficasse de frente uma para a outra.

— Eu posso lhe ajudar com isso de alguma forma neste momento? – Perguntou encaixando a palma da mão direita na base do maxilar de Lauren, tentando lhe transparecer segurança e confiança.

— Acredito que não. Vamos almoçar primeiro, depois conversamos sobre isso. Não é algo que requer minha total atenção agora, muito menos a sua. Temos muitas coisas para resolver aqui. Seria apenas uma precaução, mas não há com o que se preocupar.

Lauren buscou a mão de Camila e depositou um carinhoso beijo em seu dorso, repetiu o gesto com ela segurando em seu rosto e sorriu pedindo para esperar apenas para buscar seu celular, as duas iriam almoçar juntas. Saíram da sala da presidência, Penélope estava em sua mesa terminando de organizar alguns pertences, observou as duas mulheres passar a sua frente e apenas acenou casualmente para ambas, projetou um olhar mais demorado para Lauren e assentiu desviando rapidamente antes que transparecesse mais do que devia.

As duas mulheres seguiram para o restaurante mais próximo, tiveram seu horário de almoço tranquilo, Camila tentou imergir no assunto que Lauren houvera mencionado há pouco, ela não queria se mostrar curiosa demais para não ser inconveniente, mas aquela indagação gritava em sua mente, era uma dúvida que lhe torturava por um tempo já, e talvez com aquela conversa seria sanada. Não era algo do qual ela se orgulhava em saber, mas também se fez audaciosa em investigar a vida de Lauren após descobrir que ela havia rompido aquele limite primeiro, no entanto não teve a mesma coragem de ir até o final, não quis descobrir pelas palavras de um outro alguém alheio que a mulher ao qual ela havia entregado finalmente o seu coração melancólico estava a enganando. Não, Lauren não seria capaz. Ela teria uma explicação, então parou no mesmo instante que aquilo lhe foi jogado e resolveu esperar, estava esperando há quase dois meses por aquela conversa.

O assunto não rendeu, Lauren pediu para conversarem em casa, porque ela precisaria de um tempo para explicar tudo, e 2 horas de almoço certamente não seriam o suficiente, Camila a questionou o motivo pelo interesse em falar sobre aquilo de repente, se havia acontecido algo ou se estava para acontecer algo, e ela apenas assentiu sem jeito, receosa com uma possível reação mais explosiva da outra. Mas Camila apenas assentiu e aceitou, conversariam em casa.

O restante do dia seguiu com a rotina do jornal, nenhuma das duas mencionou mais sobre aquilo, elas tinham muitas coisas ali para resolverem afinal, não era como se tivessem o luxo de priorizar algo pessoal apenas por terem os cargos máximos da empresa e deixarem os subordinados com as responsabilidades impostas. Teriam tempo, elas moravam praticamente juntas agora, nunca mais dormiram só, uma no apartamento da outra de forma intercalada e seguiam bem assim, até aquele momento.

— Vamos? – Lauren entrou na sala da diretoria no final do expediente chamando Camila, que acabava de encerrar uma ligação em seu celular. Ela assentiu, sorriu e saíram juntas outra vez.

Já dentro do carro, Lauren percebia que Camila parecia inquieta, estava ansiosa, diferente do almoço não a olhava sequer um instante, estava dispersa e vez ou outra conferia algo em seu celular.

— Está tudo bem? – Tentou um diálogo, já que a outra não parecia estar ali. Elas estavam próximas ao prédio já, bastava dobrar ao quarteirão, quando em solavanco Lauren freou o veículo bruscamente, quase acontecia um acidente. — Mas que porr...

Sua voz travou, o bolo que se formou em sua garganta não permitiu que ao menos aquela saliva nervosa descesse, não seria possível o que ela via ali a frente do seu carro, estavam em um rua um pouco escura, mas a iluminação do farol não a deixou dúvidas de quem seria, Camila também estava atônita ao seu lado, o coração em descompasso, nervosa por quase presenciar um infame atropelamento, que por um segundo que sua namorada a olhasse não teria dado tempo prevenir, elas estavam em sintonias diferentes de sentimentos e Lauren transbordava em nervosismo ao seu lado.

— Que mulher maluca! Como ela atravessa a rua desse jeito?! Quase acontecia uma tragédia! Você está bem? – Camila passou a mão esquerda sobre as costas de Lauren, afagando seu demasiado espanto. Ela olhava fixamente para a mulher agora parada sobre a calçada mantendo o olhar firme ao seu carro.

— Sim, estou bem. E você? – Desviou o olhar rapidamente para Camila, que apenas assentiu percebendo que a mulher ainda estava lá. E caminhava para mais próximo.

— Ela está vindo para cá. O que essa mulher quer? Confusão?! Logo hoje... – Destravou o cinto de segurança e já se preparava para sair do carro, impaciente e inflamável. Estava ansiosa, nervosa, estressada e pretendia resolver rápido. Mas Lauren a impediu, segurou em seu braço e não a deixou sair. — Só vou ver o que ela quer. Você nem sequer encostou nela.

— Não, Camz. Não vá. Vamos apenas ir embora. Nós não sabe...

— Oi, será que agora nós podemos conversar?! – A mulher ao lado de fora do carro agora batia no vidro escuro impedindo que Lauren continuasse a falar. Camila se assustou com aquela atitude, não dava muito bem para ver seu rosto, ela se inclinou para mais próximo, mas foi em um rompante que Lauren deu partida no veículo outra vez e acelerou perdendo a mulher de vista, entrou na garagem no edifício sem muitas justificativas.

— O que foi aquilo? Você a conhecia? – Camila desceu do veículo a indagando, estranhou todo aquele comportamento alucinante, a aguardou do lado de fora a outra dá a volta para entrarem juntas no elevador.

— Ela faz parte do que preciso contar a você. Vamos subir, tomamos um banho, jantamos e daí conversamos. Pode ser? – Lauren não a encarava direito, estava dispersa, ainda não acreditava que aquela mulher foi capaz de tanto, se jogar na frente de seu carro foi o estopim. Ela resolveria aquela situação de uma vez por todas.

— Mas por que ela está aqui? Quase fez você a atropelar. O que está acontecendo?

— Você vai entender tudo. Eu temia que algo assim acontecesse, por isso queria ter lhe contado logo. Mas as circunstâncias não ajudaram, você tinha seus dilemas, suas preocupações, não era justo meter mais isso em sua vida, em nossa vida. Eu queria ter resolvido sem precisar de nada disso, mas não deu. Me desculpe. – Lauren falava buscando pontos fixos aleatórios para olhar, não conseguia encarar Camila.

— Nós somos um casal agora, Lauren. O que acontece com você me importa também. Você não pode esconder certas coisas de mim por não querer me "incomodar", da mesma forma que você está aqui para mim eu também estou aqui para você. Não faz sentido você ter algo desse tipo acontecendo em suas costas e não me dizer, para depois estourar e eu ficar sabendo de uma forma ou de outra, talvez da pior forma. Não faça isso!

Camila concluiu buscando afinco o olhar da outra, que não conseguia a sustentar, parou o elevador no andar de seu apartamento e aguardou para Lauren sair primeiro, as duas caminharam até em frente a porta e já no corredor se podia ouvir o som do interfone tocando sem parar, ela abriu a porta depressa e mesmo em relutância atendeu o aparelho.

— Alô?

— Boa noite, Srta Cabello. Perdão pelo incomodo, mas a Srta Jauregui está aí? Tem uma moça aqui querendo falar com ela e não estou conseguindo contato no apartamento da cobertura. – Josh falava sereno, alheio também ao que acontecia, ele já sabia sobre as duas, na verdade muitas pessoas já sabiam por dedução, e sempre se mostrava muito solicito.

— Sim, ela está aqui. Só um momento. – Camila retirou o telefone do ouvido e ofereceu a Lauren, ela franziu o cenho e caminhou em sua direção após deixar suas coisas sobre o sofá. — Aquela mulher está lá embaixo querendo falar com você. Acho melhor resolver logo isso.

— Alô? – Lauren atendeu receosa, não sabia o que dizer afinal, muito menos o que fazer.

— Boa noite, Srta Jauregui. Aqui está uma moça chamada Lucy. Disse que precisa urgentemente falar com você e que não vai embora enquanto não conseguir. O que eu faço? – O rapaz perguntava já demonstrando os primeiros sinais de nervosismo.

— Por favor, Josh. Diga a ela que eu não estou disponível, e que se ela tentar alguma confusão, você irá chamar a polícia. E pode realmente chamar se ela fizer. Essa mulher não tem autorização para entrar aqui. – Lauren respondeu apressadamente, olhando Camila que a observava atenta a seus trejeitos. Ela franzia o cenho, com absoluta certeza que havia algo de muito errado ali. — Peço perdão por essa situação, sei que você não tem nada a ver com isso. Mas realmente não quero falar com ela. Pode dizer exatamente o que eu lhe disse.

— Mas senhorita... Tudo bem. Boa noite. – O rapaz sem jeito assentiu e encerrou a ligação.

— Por que você não quer falar com ela? O que está acontecendo, Lauren?! Quem é essa mulher, afinal? – Camila se afastou um pouco, não era como se ela não soubesse de nada, mas não entendia de fato o que aquela mulher poderia querer. Como ela não foi a fundo na investigação, não sabia dos detalhes, não sabia muito mais além do que apenas uma ex que ainda possuía "algum laço" com Lauren.

— Vem cá, Camz. Senta aqui um pouquinho comigo. – Lauren a buscou pela mão e a trouxe para perto de si, caminharam até o sofá e ela sentou próxima de Camila. Próxima o suficiente para não a deixar escapar. — Não estava querendo ter essa conversa assim, mas vamos lá. Você tem o direito de saber, e pelo o que estou percebendo, ela não vai dar trégua tão fácil.

Camila suspirou pesado, estava tensa, ela esperava aquela conversa há um tempo já, ao mesmo instante que sentia intrigada e nervosa, se sentia aliviada também, porque iria parar de doer aquela dúvida maldita, aquela insistente indagação que martelava em sua cabeça, em seu peito, em suas veias, sempre que olhava para Lauren e sabia que ela tinha aquele segredo e nunca mencionava nada, até mesmo quando era lançada a indiretas, sempre desviava do assunto e quebrava a linha que Camila tentava puxar, sempre. Mas agora aquilo viria a tona, as mensagens secretas, as ligações sigilosas, os e-mails apagados, tudo seria colocado a posto.

Lauren parecia tensa demais, estava lhe custando falar aquilo, parecia que o preço era sua vida, ela olhava para o chão a frente da duas, encarava suas mãos, a respiração ofegante, o olhar perdido nostálgico, antes de encarar Camila, deu o último suspiro, o fatal.

— Não há muitos métodos para eu te dizer isso, não é uma conversa fácil, você é uma pessoa muita intensa e eu amo isso em você também. Mas por favor, deixe-me falar até o final, deixe-me contar toda a história até eu me calar, aí você fala e decide o que quer fazer, ok? – Lauren a perguntou, estava visivelmente abalada.

— Ok...

— Lembra de uma mulher que me mandava e-mails e algumas mensagens? Você até leu algumas delas e me questionou e eu disse que era alguém do passado, que não fazia mais parte da minha vida e que não significava nada mais para mim? – Camila apenas assentiu atenta. — Bem, isso não é totalmente verdade. Eu menti em alguns pontos e venho mentindo até hoje...

Neste momento Camila paralisou uma feição no rosto, a olhou estagnada, não podia acreditar naquilo. Retirou sua mão que ainda estava sendo segurada por Lauren e desviou o olhar, tentando se afastar um pouco da outra, mas Lauren insistiu em a manter próximo, ainda tinha tanta coisa para ser falada.

— Eu não acredito... – Aquilo saiu como um sussurro, pareciam mil facas sendo espetadas em seu peito, uma dor dilacerante, a verdadeira dor da traição, doía tanto que ela sentia vontade de gritar. — Então era tudo verdade...

— Como assim? Do que você sabe? – A surpresa tomou Lauren de supetão, ela se calou por um instante aguardando que Camila falasse algo, mas ela apenas a olhou e negou com a cabeça. — Você andou me investigando?

— Acho que você não tem moral para me repreender sobre isso, não é? – Camila a respondeu friamente, tomou impulso para se levantar mas Lauren a impediu.

— Não, espera. Então você já sabe? Já sabe de tudo e vem fingindo esse tempo todo? – Ela segurou em seu braço e a manteve firme próxima de si.

— Não, Lauren. Eu não sei de nada! Porque ao contrário de você, eu esperei que você me contasse. Depois que eu descobri que você tinha outra, que era supostamente casada, eu parei a investigação na mesma hora. Eu não acreditava que você fosse capaz, que depois de tudo o que você fez para estar comigo, você seria tão canalha a este ponto. Tem noção do quanto eu espero essa conversa?! Do quanto eu venho lutando todo dia com esse sentimento maldito dentro de mim?!

Ela tentou puxar o braço mais uma vez mas Lauren não deixou, não era um contato bruto, jamais ela a machucaria, mas era um aperto firme, que demonstrava que ela não soltaria, não até dizer tudo o que tinha para dizer, ainda mais após descobrir aquilo, que Camila já sabia, mas não sabia de fato. Ela demorou um pouco para se situar e rapidamente voltou a si, percebendo que a outra estava impaciente e nervosa, até mais que a si propria. Lauren não estava chateada com a o fato de Camila ter a investigado sem ela saber, na verdade estava surpresa pelo o interesse da outra consigo. Se sentia admirada apesar da situação embaraçosa, e orgulhosa por ela não ter acreditado no que houvera descoberto.

— Calma, meu amor. Não é exatamente assim, não é nada disso que você está pensando. A situação é tão mais complicada, que me custa tanto ter que falar isso. Talvez tivesse sido mais fácil se você tivesse concluído a investigação, mas que bom que você não acreditou. Fico de certa forma feliz que esperou que eu te explicasse. Obrigada por isso... – Lauren tentou se aproximar mais para depositar um beijo no ombro de Camila, mas ela se afastou, claro.

— Então me explique, porque realmente não faz sentido nenhum isso tudo. E não me agradeça, quando na verdade você só está me contando porque está sendo obrigada. Com essa mulher obcecada dessa forma, seria impossível eu não acabar descobrindo. – Camila estava ríspida, era compreensível, na sua cabeça caminhava tantos pensamentos sórdidos, que cada minuto que Lauren demorava a lhe falar, sua colera aumentava duas vezes mais.

— Sim, estou sendo obrigada mesmo, não posso negar. Eu queria simplesmente apagar isso da minha vida, mas não posso, não depende somente de mim. Mas eu vou te explicar. Só se acalme e não tente fugir, por favor. Fique aqui pertinho. – Ela pegou a mão de Camila outra vez e a olhou fixamente nos olhos, ela relutou mas acabou aceitando o contato.

— Então, como eu ia falando. Não fui totalmente honesta com você, é verdade. Eu mereço os julgamentos por não ter te contato isso, mas é compreensível quando esse assunto se torna algo tão inconveniente pra mim e eu mesma fujo dele o tempo todo. Mas vamos lá... – Mais um forte suspiro e ela desviou o olhar rapidamente. — Eu fui casada com essa mulher por 3 anos. Não foram anos ruins, jamais falaria isso. Nós éramos amigas de adolescência, eu meio que sempre fui apaixonada por ela e era recíproco, mas eu não sabia porque ela sempre foi mais das baladas e não demonstrava muito sentimentalismo pelas pessoas, eu mantive isso pra mim até ficarmos adultas, eu me assumir para minha família e finalmente ter coragem de me declarar para ela e acabar descobrindo que ela também gostava de mim, enfim. Eu estou te contando essas partes para que você entenda algumas coisas depois. Eu prezava pelo nosso relacionamento, tinhamos uma relação boa, ela se dava bem com minha família, sempre estávamos juntos nas festas de Natal e todos a queriam bem, porque ela me fazia bem. Porém...

Lauren deu uma pausa, era perceptível o quanto aquilo doía, o quanto era incômodo mexer naquela história, descavar tudo aquilo. E Camila percebia, mas precisava saber, tinha necessidade de entender.

— Lucia... Lucy, sempre foi muito ambiosa. Ela começou esse negócio com a Allyson, e estava fissurada em fazer a empresa crescer, respirava aquela agência, e eu não julgo, também amo muito meu trabalho e sempre dei o meu máximo para aquilo que eu acredito, mas ela não era racional, tudo valia quando se podia ganhar alguma coisa em cima. E foi justamente com isso que ela nos matou, com a sua usura desmedida, sua sede pelo dinheiro, sua cegueira pela luxúria. Não é como se ela precisasse disso, porque sua família sempre foi de condição financeira boa, mas ela tinha gana pelo sucesso, pela fama, pelo poder que eu não entendia, eu fazia de tudo para a dar uma vida boa e confortável, mas nunca era o suficiente, ela queria mais e mais. – Camila soltou um suspiro de negação, meneou com a cabeça sorrindo sem graça, um sorriso de ironia em saber como elas eram completamente diferentes naquele aspecto, e entendeu a obsessão de Lauren pelo conforto, ela estava traumatizada sobre aquilo, sobre agradar com dinheiro e luxúria a quem estava do lado.

— Allyson as vezes precisava a frear porque sua busca constante por novos patrocinadores, contratos, modelos, Jobs etc, era tão alucinante que a tirava o juízo. Ela era viciada por qualquer coisa que a trouxesse mais dinheiro, e foi com isso que em uma noite de um evento, do mesmo evento que terá no final do ano, que ela conseguiu quebrar o que eu nutria por tantos anos dentro de mim. Me traiu isolentemente com um dos patrocinadores do evento. E foi de uma forma tão baixa e descarada, no quarto do hotel que a gente estava, na cama que a gente dormia. Isso tudo porque ele havia prometido um contrato milionário de parceira com a agência. E ela aceitou, sem a menos pestanejar, o preço era uma noite com ela. Nada mais!

— Céus... – Camila negou outra vez com a cabeça, era no mínimo ridículo pensar que alguém traria uma mulher, uma pessoa, como Lauren apenas por ambição, por algo tão mutável. 

— Depois que peguei os dois juntos, eu fui embora na mesma hora. Deixando todas as minhas coisas para trás, e resolvi me mudar para cá, meu pai já queria se aposentar mesmo e eu sempre sonhei em tocar o negócio da família, então foi uma oportunidade ótima para me livrar daquela situação e realizar meu sonho afinal. Teria sido algo muito simples, eu iria me separar dela, me mudaria para Miami e começaria uma nova vida. Se... – Neste instante seus olhos ficaram pesarosos, ela os fechou e puxou o ar com força dos pulmões como se fosse um propulsor para lhe dar coragem a continuar a falar. A voz embargou e as lágrimas marejaram seus olhos. — Seria muito simples, se ela não tivesse descoberto que tinha um tumor no estômago, que está crescendo e não tem cura e que está lhe matando aos poucos. O tratamento para controlar é caríssimo, por isso ela tinha aumentado sua ambição em criar dinheiro e gerar mais e mais capital, para fazer a agência crescer a tal ponto de deixar Allyson em uma situação financeira independente, para quando ela se fosse, a outra não sofresse tanto ou quebrasse. E é tão ridículo pensar sobre isso, pensar que ela foi capaz de sacrificar o nosso relacionamento por uma "boa" causa.

— Não, Lauren. Ela podia ter resolvido de tantas formas diferentes, ter te traído não justifica. Ela fez isso porque quis mesmo. As pessoas são desleais por falta de caráter, não é nada mais além disso. – Camila a interrompeu jogando aquela sua opinião de forma crua, ela sabia o quanto doía ser traída, houvera sentido na pele também.

— Sim, e eu concordo com você. Por isso que quando ela veio me jogar essa bomba justificando o motivo por ter feito aquilo, eu não relutei. Não me comovi um mínimo sequer, só aumentou mais ainda minha ira, ela jamais poderia ter escondido isso de mim e jamais poderia ter feito aquilo comigo usando isso como se fosse algo justificável. Então eu segui com o processo de divórcio mesmo assim, mas ela retrucou, ela não aceitou e me ameaçou colocar na justiça por a estar abandonando por causa da doença, alegando que eu não a queria mais porque ela estava enferma, ficaria inválida e eu não queria arcar com as responsabilidades de cuidar de alguém assim até seus últimos dias. Tem noção disso?

— Lauren... Eu, eu não sei nem o que te dizer. – Camila a encarava paralisada, era tanta informação para processar, mas a dúvida ainda pairava na sua cabeça. Por que ela estava ali, o que ela tanto queria com a Lauren afinal? Reatarem, dinheiro?

— Eu não achava que ela fosse capaz disso, então acionei a Alexa pra cuidar desse caso pra mim, ela deu entrada no processo de divórcio e quando o juiz nos chamou para a primeira audiência, ela chegou lá com o seu processo de danos morais em cima de mim, e alegou tanta coisa absurda, dizendo até que eu a agredia e humilhava, eu, logo eu. Tentei me defender contando essa mesma história ao juiz, porém eu não tinha provas e ela tinha exames médicos comprovando todo o seu enredo. Foi o meu mártir, a partir dali eu estava sob os comandos dela, porque ela exigiu a anulação do divórcio para não seguir com os processos. O juiz me sentenciou a ficar com aquela mulher até o seu último dia, ou até encontrarmos uma cura, ou até que ela desejasse a separação, porque caso contrário eu precisaria pagar uma gorda e volumosa indenização para ela. O suficiente para me deixar na miséria.

— E o que ela quer com você agora? – Camila a perguntou finalmente.

— Eu não sei, e não quero saber para falar a verdade. Desde o dia que eu vim pra cá, essa mulher me ameaça, e não me deixa em paz, Camila. Eu aceitei pagar o tratamento dela e bancar algumas outras coisas na intenção de a deixar longe de mim, mas ela quer mais, ela sempre quer mais, por isso eu não aceitei a desculpa de que ela fez o que fez por causa da agência, ela sempre diz que está morrendo e tenta me ludibriar com essas palavras infames para eu voltar para ela. Mas morrer mesmo... Seria até um favor agora. – Lauren perdeu o controle ali em seus pensamentos, concluiu falando aquilo em impulso por sua revolta, e percebeu que foi infeliz nas suas palavras, negou com a cabeça e se desculpou por falar daquela maneira.

— Eu acho que seria melhor você falar com ela, saber o que ela tanto quer. Se é urgente, pode ser importante. Se quiser, eu vou com você. Mas como o caso de vocês é judicial, eu acredito que seja melhor você a conceder essa conversa. – Camila se manteve calma, apesar do abalo da situação, ela sabia que naquele momento não podia ser passional, Lauren não precisava de um histerismo de ciúmes, ela necessitava de alguém que lhe desse força e raciocínio lógico.

— Mas eu não quero, amor. Sempre que aceito conversar com ela, termino me estressando mais ainda, porque é sempre a mesma coisa. Ela diz que precisa de mim, que está sofrendo com a minha ausência, que me quer de volta. E quando ver que eu não vou ceder, ela começa com as ameaças, diz que não vai me deixar em paz até o último dia, que se eu continuar a importunando com esse divórcio, ela vai me expor para toda a mídia, que o dinheiro que mando não é o suficiente, que ela não está podendo trabalhar porque está fraca, então precisa de mais e mais e mais. Eu não aguento mais isso! Queria que... – Suas mãos foram até sua cabeça em um gesto de desespero, Lauren estava consternada, não sabia o que fazer, achava errado os seus pensamentos, os censurava o tempo todo, mas eram involuntários, ela só queria ter o poder de se livrar de uma vez daquela situação.

— O que a Alexa está fazendo sobre isso? Ela sabe sobre essas ameaças?

— Sim. Mas não é como se ela pudesse fazer muita coisa, sabe? Porque a Lucy tem os laudos médicos, e quando se trata de algo assim, não é tão simples. Ela apenas fica em alerta se comunicando com o advogado da outra e está tentando uma liminar contra ela, para pelo menos ela não poder se aproximar de mim. – Lauren apertou as mãos de Camila e a buscou pelo olhar, fixando firme seus olhos nela. — Me desculpe não ter te falado isso antes, eu imagino o quanto você deve ter ficado confusa quando descobriu essa minha condição. Mas entende que não é fácil pra mim? É uma coisa tão infame que eu queria apenas apagar de minha vida, mas não posso. Estou presa ainda a isso. E eu não queria te assustar, você já passa por tanto, e foi tão difícil conseguir que você se abrisse para mim. Que só pensar em você se afastando por um problema meu, que eu não posso resolver da maneira que eu desejo, me desespera. Entende?

— Sim... Nós vamos conseguir resolver isso. Vou tentar te ajudar, mas ainda acho que você deva conversar com ela. Eu vou com você. Eu quero saber o que ela quer. Porque agora eu também faço parte disso e não vou aceitar que essa mulher continue te importunando. Ela não tem esse direito, mesmo que esteja em uma situação lastimável. – Camila a puxou para um abraço, deixou que as lágrimas de Lauren molhasse sua camisa ao ombro, a apertou até que ela se acalmasse mais. — Vamos tomar um banho, depois a gente ver o que comer. Esqueça isso por agora, eu estou com você. Mas me diga...

Ela a olhou nos olhos, segurou suas duas mãos e projetou um efêmero sorriso.

— A senhorita ainda tem mais algum segredo para me contar? Essa é sua chance.

— Não, meu amor. Juro que esse é meu único e infeliz segredo, o restante é tudo isso aqui que eu demonstro. E você? Tem mais alguma coisa em sigilo que eu deva saber?

— Não...

[...] 

Miami, 9 de Setembro de 2016

Por Camila

A semana estava até calma para quem houvera descoberto o dilema de Lauren no começo, eu achava que poderia ter sido mais intensa em minha reação, mas até me surpreendi que aquele ponto havia aceitado de forma racional, não podia fazer muita coisa para ajudá-la com aquilo, apenas ser compreensiva que não se tratava apenas de uma ex que não aceitava o fim do relacionamento, era algo mais sério e eu sabia que Lauren estava sendo sincera em dizer que se pudesse resolver de outra forma, ela resolveria.

Eu sabia de forma pessoal o quanto uma traição doía, não que eu houvesse sofrido essa dor na sua forma mais intensa como ela, que supostamente amava aquela mulher, mas mesmo assim eu senti o peso de uma deslealdade covarde e era triste, era desolador. Então para ser útil o que eu podia fazer era estar ao seu lado, lhe dando força quando ela precisasse, assim como ela fazia comigo. E esperar para quando Lucy tentasse um novo contato, eu estivesse presente. Eu deixei claro que fazia questão de participar daquela conversa, e declarei que não aceitaria que Lauren fosse a ver sozinha, e ela aceitou. Mais por mim do que por ela própria.

Fazia 2 meses sobre o ocorrido no jornal, as pessoas começavam a parar de falar sobre isso, Shawn estava sendo procurado e a rotina seguia normal com os afazeres de todos. Hayley ficou como a redatora principal, já que no pódio do concurso ela teria direito aquela posição, e não era uma profissional ruim, seu maior defeito, e eu arrisco até a dizer o único, era o excesso de opinião em suas matérias, muitas vezes se tornava cansativo e até pejorativo em alguns pontos, então eu a corrigia quase sempre sobre aquilo, mas ela estava progredindo.

Minha rotina se mantinha constante até aquele dia, até eu receber um SMS que mudou tudo outra vez, bagunçando meu consciente, me lançando na montanha russa de emoções que meu organismo já estava acostumado, eu esperava muita coisa acontecer até ali, menos uma mensagem como aquela, e foi subitamente que eu peguei o aparelho e a deletei após terminar de ler, nem ao menos salvei o número, seria arriscado demais ter aquilo guardado em meu celular, e apesar da desilusão ao qual me encontrava eu não me sentia rancorosa ao ponto de resolver aquilo de vez, eu realmente não estava apta emocionalmente para me envolver com aquilo mais do que eu já estaria.

Tentei ignorar que aquilo havia acontecido, se eu fingisse que não tivesse recebido nada, talvez fosse o suficiente, não voltaria a acontecer então continuei meus afazeres e sempre que algum devaneio me lançava de volta aquela mensagem eu logo tratava de ocupar minha mente com outra coisa, com trabalho na maioria das vezes.

Final de expediente e Dinah entrou na sala, me convidando para sair, eu não havia combinado nada com Lauren para aquela sexta-feira a noite, então aceitei sair com minha amiga, fazia tempo que não tínhamos mais um momento nosso, um instante de conversa a sós jogando assuntos aleatórios ao léu, uma noite de amigas confidentes, então apenas avisei a Lauren que sairia com ela e seguimos para um barzinho próximo a orla de Miami.

Era um local despojado, tranquilo e cheio de energia, Dinah costumava frenquentar ali, eu não, não era o típico local preferido a mim, mas não era de todo ruim, eles tinha música boa e um ambiente amigável para pessoas decentes frequentar.

— Walz, eu tava pensando aqui... Por que você não se muda para o apartamento da Lauren? Ela já te chamou algumas vezes, não é? Lá é bem maior, mais confortável, mais...

— Porque não, Dinah. Eu tenho o meu apartamento, eu gosto dele. É o meu lar, não tem o menor sentido em eu ir morar com a Lauren, não tem necessidade disso. Eu não pago aluguel, não moro de favor, está ótimo desse jeito. Estamos juntas mas cada uma no seu espaço, ainda é muito recente para esses pensamentos aí.

A respondi após ela me lançar um olhar de tédio, e se acomodar em uma das mesas ao canto do salão, pedimos bebidas e ficamos em uma parte mais tranquila do ambiente. Por Dinah já estávamos até casadas mas não funcionava assim, não mais comigo, não após ter sofrido os danos de uma decisão precipitada e precoce, então agir com cautela sempre soava bastante positivo atualmente. E Lauren já havia entendido, estamos bem da forma que estávamos.

— E essa Lucy, ein? Voltando assim das profundezas. Que mulher maluca. Será que ela é perigosa também? – Dinah indagou recebeu sua bebida após agradecer o garçom.

— Não sei, mas acredito que não. Pelo o que Lauren falou, ela apenas é obcecada, mas é melhor ficar de olho, não é? Eu já estou movendo alguns pauzinhos para isso. – A respondi casualmente, o que a fez franzir o cenho estranhando.

— O que você está fazendo?

— Bem, eu... Só um momento. – Meu celular começou a tocar na bolsa. — Eu pedi para o... – Minha voz travou ao ver aquele número ali chamando, não seria possível.

— O que foi? – Ela tentou buscar com o olhar a tela do aparelho em minhas mãos para ver quem seria o remetente da ligação, mas eu rejeitei antes que pudesse ver.

— Era a Lauren. Só um minuto, acho que ela quer que eu veja alguma mensagem. – Respondi sem a encarar, buscando uma notificação no topo da tela. Puxei o ar com força dos pulmões antes de olhar uma Dinah cheia de indagações a minha frente, esperando que eu disssse algo, enquanto bebia sua cerveja no gargalo. — Chee, me desculpe. Mas eu precisarei ir, a Lauren esqueceu o cartão de acesso dela do apartamento e está do lado de fora me esperando. Desculpa mesmo.

— Tem certeza que é isso? – Ela me encarou desconfiada e repousou a garrafa sobre a mesa me olhando fixamente.

— Mas é claro. Você quer ver a mensagem? – Estendi o aparelho para que ela pegasse, ela alternou o olhar para meu rosto e minha mão estendida ao ar em sua frente. Relutou e soltou um suspiro pesaroso meneando com a cabeça.

— Tudo bem. Vá então, é uma pena ter que curtir sozinha aqui. Mas existem prioridades na vida, não é? Pode ir. – Deu de ombros e voltou a beber olhando as pessoas a volta.

— Eu prometo te compensar depois, tá bom? Me desculpa, amor. Você entende, não é? – Me levantei e dei a volta na mesa para me inclinar até ela e beijar sua bochecha.

— Sim, vá tranquila. Depois eu acerto minhas contas com a Lauren por ter estragado nossa noite. Eu não vou deixar sua mulher esperando ao relento enquanto bebemos aqui.

Eu assenti, e sorri sem jeito. Sai às pressas do bar deixando uma Dinah com o olhar suspeito para trás, ela sempre sabia quando algo não estava certo, quando eu estava mentindo e não foi diferente desta vez. Peguei meu celular para reler aquela mensagem, não é como se eu estivesse convicta de que aquilo realmente estivesse acontecendo, não era possível que a audácia dele seria tão grande a esse ponto.

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💬 1 305 555-0123
"Preciso urgente falar com você. Este número é temporário, por favor me atenda. Daqui a 15 minutos eu vou ligar de novo. É melhor que esteja sozinha, não quero te prejudicar". - Shawn

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Meneei negativamente e acenei para o primeiro táxi que passou na rua, cumprimentei o motorista e me acomodei no banco traseiro, como ficava um pouco distante de onde estávamos até o prédio, deduzi que teria tempo para esperar ele ligar. Me praguejei por estar aceitando aquilo, seria um tanto arriscado ter contato com ele sabendo que agora era um procurado pela polícia, se ao menos desconfiarem que mantive algum contato com Shawn sem o entregar, eu estaria no mínimo muito comprometida, e podia me ferrar feio. Mas algo dentro de mim dizia para não relutar, eu tinha necessidade de entender porque ele havia feito aquilo, sabendo o quanto me prejudicaria.

Um outro bipe no celular soou me roubando a atenção, era Lauren e eu já presumia o que havia acontecido. Seria mais uma a qual eu precisaria dar uma explicação.

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💬  Lauren
"A Dinah me mandou uma mensagem me xingando por ter estragado a noite de vocês. Eu ainda não a respondi. O que devo dizer?"

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Sorri involuntariamente por aquilo, por aquela mísera atitude de ela não ter me julgado ou questionado, pelo menos não por agora, e sim em se preocupar em querer ajudar a me safar de alguma situação. Aquelas pequenas atitudes que ela sempre tinha, me cativavam dia após dia. Digitei rapidamente uma resposta na ansiedade que ele ligasse a qualquer momento.

-

💬 
Desculpe por isso, Lo. Eu não estava gostando tanto do lugar onde estávamos, e não me sinto muito bem, não queria ser inconveniente para dizer isso, já que ela pareceu gostar muito de lá, então inventei uma história de que você havia esquecido o cartão de acesso do seu apartamento e estava do lado de fora me esperando. Te explico melhor quando chegar. Xxoo

-

Ela não me respondeu, e eu entendi aquilo como um "ok". Aguardei mais alguns minutos olhando as ruas pelo vidro do veículo em movimento e o celular começou a vibrar sobre minhas pernas, era ele.

— Você tem noção do quanto eu estou me arriscando falando com você? – Atendi no primeiro toque, os batimentos acelerados e descompassados em meu tórax.

Sim, Mila. Me perdoe pelo o que eu fiz, estou me comunicando com você porque sei o quanto deve estar confusa sem entender porque eu fiz aquilo. E eu vou te explicar, eu quero. Não estou em paz, não consigo dormir, preciso muito te ver e contar o que aconteceu, te contar tudo. – Sua voz estava um pouco mais rouca, ele demostrava um nervosismo que podia ser palpável apenas pelo tom de sua voz.

— Me ver? Está maluco?! Se alguém sequer cogitar a idéia de que tivemos essa conversa aqui, esse mísero diálogo e eu não ter ido direto a polícia, já seria motivo suficiente para me colocar como sua cúmplice. Isso arruinaria de vez minha carreira! – Eu não ponderei as palavras, estava nervosa também.

Por isso estou usando um celular descartável, não se preocupe. Essa ligação nem ficará nos seus registros, eu me certifiquei disso também. Conheço alguém que trabalha na operadora de telefonia do seu número, essa pessoa irá me ajudar a apagar as ligações sempre que eu te ligar. – Ele respondeu um pouco mais calmo desta vez, suspirou profundamente antes de continuar. — Sei que deve estar me odiando, e eu não tiro sua razão. Depois de tudo que você já passou, depois de toda a confiança que depositou em mim, eu fui mais uma decepção, eu sei. Me desculpe novamente, mas eu não fiz aquilo por querer, muito pelo contrário. Por isso quero te contar, podemos nos encontrar amanhã?

— Shawn, eu não consigo pensar em nenhuma hipótese disso ser possível. Onde poderíamos nos encontrar sem que ninguém soubesse, sem que ninguém nos visse? Tem muita gente atrás de você, muita mesmo. A polícia está te procurando, você é um foragido agora. Nem mais aqui você deveria estar... – Minhas palavras se calaram quando percebi um muxoxo do outro lado da ligação, ele parecia ter começado a chorar mas disfarçava pigarreando a voz. — Onde você está?

Vou te mandar o endereço onde podemos nos encontrar. É um tanto longe do seu apartamento, mas é seguro. Eu garanto. – Sua voz estava embargada, ele falava mais devagar agora. — Me deixa te explicar o aconteceu, por favor? Me dê essa segunda chance, eu sei que não estou merecendo, mas juro que não fiz por querer. A última coisa que eu faria seria prejudicar você por minha vontade, Camila. Eu não me importo com o que os outros pensem, mas não suporto a idéia de você me odiar. Mesmo sabendo que nunca teria chances com você, que mesmo agora estando realmente comprometida, sua repulsa é a única que me dói.

— Você sabe sobre... – Eu não completei a frase mas ele já confirmou com um som nasal do outro lado da ligação.

Sei sim, e fico até feliz que seja com ela. A Lauren é uma pessoa decente, ela merece você. Diferente daquele... Enfim. Qual o melhor horário podemos nos encontrar?

O ouvir dizer aquilo me causou uma pontada de desconforto e ao mesmo tempo alívio, como se fosse possível sentir essas duas coisas ao mesmo tempo, mas eu senti. Ele saber sobre mim e Lauren já adiantaria algumas coisas, mas me lançava a dúvida de como ele havia ficado sabendo sobre isso se estava distante, e o que ele poderia fazer com essa informação. Ou então talvez ele não estivesse tão distante assim, ou...

— Você garante que é seguro? Eu não posso arriscar, Shawn. Isso é muito sério! – Indaguei com o tom de voz mais firme que me foi possível e ele assentiu seguro. — Então me passe o endereço, nos veremos amanhã cedo. Me mande um número em que eu possa te ligar antes de ir para confirmar o horário.

Tá ok. Mas você não pode falar para ninguém sobre isso. Nem mesmo para Dinah ou Lauren, é melhor que fique somente entre nós.

— Isso é o tipo de coisa que você não precisava nem dizer, não é? Eu só falaria se quisesse me sentenciar a morte de vez. É obvio que não vou falar, eu nem posso falar.

Sim... Obrigado, Camila. 

Eu encerrei a ligação e devaneei até o táxi parar em frente ao meu prédio, paguei a corrida, agradeci ao motorista e tratei de logo apagar todos os vestígios daquele contato de meu celular. Adentrei ao prédio, cumprimentei Josh na recepção e me dirigi ao elevador. Disquei o número nos contatos favoritos enquanto esperava atender do outro lado da linha. Não demorou muito para que ela atendesse.

Oi... – Ela atendeu casualmente, parecia ainda estar no bar que eu a deixei a pouco, se podia ouvir o barulho da música e pessoas falando e rindo ao fundo.

— Dinah, preciso de um favor.

Eu não sei arrombar porta, vou logo adiantando. Mas tenho o telefone de um chaveiro se precisar. Ele é ótimo e não cobra tão caro. – Sua voz estava um pouco carregada, indicando os princípios sinais de embriaguez. 

— Não é isso, presta atenção. Eu vou precisar que você confirme que eu vou amanhã para o seu apartamento, caso a Lauren te pergunte. Ok? Eu preciso resolver algo amanhã pela manhã cedo. – Falei depressa porque o elevador chegou e eu não teria muito tempo até o meu apartamento.

— Isso depende. O que você vai fazer?

— Ai Dinah... – Pensei um pouco no que responder, me veio uma enorme vontade de dizer a verdade, porque eu estava farta de mentiras já, mas sabia que jogar aquilo assim de repente, me renderia uma conversa muito longa cheia de explicações que nem mesmo eu saberia dá naquele momento, e eu não tinha aquele tempo também. Então se foi necessário mais uma vez mentir. — Bem, eu vou me encontrar amanhã com o Alejandro, pedi para ele investigar a Lucy. Isso é segredo, eu não deveria nem estar lhe falando com você neste estado. Mas vou dizer a Lauren que irei pra aí. Você consegue confirmar isso pra mim, por favor?

— Oh, tá ok então. Confirmo, não é? Você vai que horas?

— Amanhã cedo, não sei ainda. Mas acho melhor você encerrar por aí. Já está começando a ficar bêbada e você está sozinha, Chee. Vá pra casa, por favor. Pode ser perigoso... – Ponderei um pouco as palavras quando uma das moradoras adentrou no elevador dividindo aquele espaço comigo. — Eu preciso desligar aqui, vá pra casa. Eu vou esperar você me ligar quando chegar lá.

— Tá bom, mamãe. O que eu não faço por você, não é? – A ouvi chamar o garçom pedindo a conta e aquilo me fez um pouco aliviada. O elevador parou no meu andar e eu saí pausando um pouco no corredor aguardando ela retornar na ligação. — Pronto... Deu certo com a Lauren? 

— É... – Tive um efêmero lapso de memória, ao me recordar que ainda teria aquilo pra resolver também. — Estou chegando agora aqui, vou precisar desligar. Fica atenta que amanhã cedo eu vou te ligar de novo. E não esquece de me ligar quando chegar em casa, eu vou ficar esperando.

Ela assentiu e eu encerrei a ligação. Caminhei em direção ao meu apartamento enquanto digitava uma mensagem informando a Lauren que eu já estava em casa, abri a porta e antes mesmo de tentar ligar a luz da sala, percebi que a TV estava ligada e uma fresta de luz vinha pelo corredor em direção ao banheiro. Deixei minhas coisas ali por cima do sofá e caminhei até lá. Bati na porta do banheiro e ninguém respondeu, a única pessoa possível a estar ali, seria ela. Então abri a porta devagar e Lauren estava lá, deitada na banheira com os olhos fechados. Possivelmente cochilava, era uma visão tão adorável a observar assim, descansando tão serena, parecia um anjo. Quem tivesse o privilégio de a ver daquela forma jamais imaginaria que era uma empresária imponente e cheia de dilemas para resolver.

Passei a mão suavemente sobre seu braço que estava repousado sobre a borda da banheira, fiz uma leve carícia até chegar em seu ombro e a envolvi por trás em uma leve massagem em seus ombros. Até a ver despertar sorrindo e me lançar um olhar cativante, o que me fez abaixar até seu rosto para depositar ali em sua bochecha um singelo beijo em cumprimento.

— Oi... Por que não usou o do meu quarto? – A perguntei sentando sobre a tampa do vaso sanitário. E a observei ajeitar sua postura para se sentar mais ereta, não dava pra ver seu corpo devido a espuma, o que me deixou um pouco inquieta.

— Eu não sei se você iria se importar, então... – Ela deu de ombros e ficou me encarando, enquanto eu devolvia cada olhar.

— Até parece, Senhorita Jauregui. Estou me importando mais em você ter cogitado essa ideia do que ter usado minha banheira particular. – Me levantei para verificar meu reflexo no espelho e ela me acompanhou com o olhar.

— Então vem cá... – Me chamou gesticulando com a mão e um sorriso malicioso no rosto. 

Me despedi e me juntei a ela.

.
[...]

Miami, 6 de Setembro de 2016

— Camz, você tem certeza que a Dinah está acordada a essa hora? – Lauren, terminava seu café da manhã enquanto eu enviava um SMS para Dinah informando que estaríamos saindo. Eu apenas assenti para ela lançando um rápido sorriso. — E por que mesmo eu não posso participar desse encontro?

— Desculpa, Lo. É porque ela queria conversar comigo e Normani sobre algumas coisas da vida delas. Eu queria muito que você participasse, não é? Mas querendo ou não, você ainda é a chefe dela, nem tudo a Dinah tem coragem de dizer para você. Entende? – Ela assentiu e baixou o olhar. Era dilacerante ter que mentir assim descaradamente pra ela, mas eu não tinha outra opção. Eu aceitei ir àquele encontro e além de Shawn ter me pedido sigilo, eu não me sentia um mínimo segura possível para ser honesta com Lauren naquele momento. — Me desculpa, amor. Se você quiser, eu desmarco e passamos o final de semana juntas. Eu estou indo mais porque fiquei devendo isso a ela ontem, então... Mas se você não se sentir confortável com isso, eu não vou.

Caminhei em sua direção e guardei o celular no bolso, dei a volta e fiquei atrás dela a acariciando as costas enquanto observava terminar de beber seu café. Ela se levantou e me envolveu pela cintura, frente a frente, encarou os detalhes de meu rosto e sorriu.

— Adoro quando você me chama de "amor". Soa tão lindo. Eu me sinto orgulhosa, sabia?

— Orgulhosa? – Franzi o cenho e sorri.

— Sim, porque eu sei que isso não é algo banal para você. E se você me acha digna de ser chamada assim. Então quer dizer que eu consegui, certo? – Ela levantou as sombracelhas me apertando ainda mais em seu corpo. Ansiosa pela resposta.

— Conseguiu...? – A encarei pretenciosa, certamente eu saberia a responder aquilo, mas como ela mesma disse, não era algo banal para mim. — Será? Vamos ver, não é?

Conclui sorrindo buscando seu rosto com as duas mãos e a trazendo para mim. A beijei de forma calma e sem pressa, nossa conexão se estreitava a cada dia que passava, eu já me sentia muito a vontade com ela, mas infelizmente ainda possuía amarras que involuntariamente não me deixava ser em completo espontânea, Lauren havia conseguido desabrochar em mim um sentimento que há muito eu havia trancado, emoções que eu jurava nunca mais ser capaz de sentir, ela me fazia se sentir segura e ao mesmo tempo vulnerável, não era como se houvesse mais somente a mim para se importar, agora sempre que eu pensava em algo ou planejava algo, a primeira hipótese que me vinha seria se aquilo seria aceitável para ela também. Por isso me doía tanto ter que mentir daquela forma.

— Eu nunca irei lhe obrigar ou a proibir de fazer nada, meu amor. Já lhe falei isso, você está comigo mas é livre para fazer o que tiver vontade. Nunca iria me opor a você ir ver suas amigas. Vá tranquila, eu tenho muita coisa para resolver do jornal, aproveitarei esse tempo para fazer isso. Eu te deixo lá e se você quiser que eu vá lhe buscar, só me avisar mais tarde. Ok? – Lauren concluiu me oferecendo um leve beijo no rosto, segurou minhas mãos e repetiu o ato sobre elas. Eu só consegui lhe sorrir e me encantar cada vez mais. Acariciei seu rosto e me desvencilhei dela para ir buscar minha bolsa.

— Obrigada por isso. Vamos então?

Seguimos até o apartamento de Dinah, eu acredito que já deva ter mencionado isso antes, mas o prédio que ela morava ficava do outro lado da cidade, era muito distante do meu, isso até me fez pensar outrora em momentos de crise, me mudar para um outro próximo a ela, mas não achei na época e isso se fez posposto com o tempo. Lauren conversava alguns assuntos aleatórios e eu tentei interagir da melhor forma, tanto com a intenção de ela não perceber o quanto eu estava tensa para uma simples "visita" a minhas amigas, como por mim mesma querendo amenizar aquele conflito meu interno.

Foram 30 minutos de viagem, e isso em carro é muito, ainda mais no de Lauren, que era super potente e veloz, eu estava quase a ponto de ter uma síncope e pedir pra ela voltar, porque o nervosismo estava me sufocando a ponto de transbordar, estava muito difícil esconder aquilo dela. Meu telefone vibrou e era exatamente quem eu esperava e responsável por aquela tensão, olhei rapidamente a mensagem e o bloqueei outra vez repousando sobre minhas pernas. O endereço que Shawn mandou não era muito distante dali, para minha felicidade, então quando Lauren estacionou o veículo em frente ao prédio de Dinah e aguardou eu entrar para partir, não foi tanto difícil esperar um pouco para pedir um táxi e me direcionar até o destino dele. Era apenas a 5 minutos de onde eu estava. 

O motorista do táxi parou em frente a uma lanchonete, eu nunca tinha ido por aqueles lados, então estava totalmente alheia ao local, olhei ao redor ainda dentro do veículo e esperei para ver se conseguia enxergar alguém lá dentro ou algum conhecido por perto, não vi ninguém até meu telefone tocar outra vez.

— Chegamos, senhorita. O local é este. – O motorista do táxi alertou percebendo meus devaneios.

— Sim, só um momento. Por favor, vou apenas atender essa ligação, pode continuar com a corrida. Não precisa encerrar agora. – O respondi e ele assentiu. — Alô?

Oi, Mila. Eu estou aqui na lanchonete, pode vir. Estou vendo você no táxi, estou aqui dentro na mesa do canto. – Shawn respondeu do outro lado da ligação, sua voz parecia bem mais serena do que na noite anterior.

— Prontinho. Está aqui. Muito obrigada. – Encerrei a ligação de Shawn antes de pagar a corrida. Coloquei meu óculos escuros vesti um casaco mais leve na cor vinho de capuz e me dirigi até a entrada do local, passei meus olhos por todo o ambiente na procura dele, e um aceno discreto de um rapaz no canto em uma mesa mais isolada me chamou a atenção, indicando que ele estava ali me esperando. Caminhei a passo curtos até lá, sempre tentando buscar alguém conhecido pelo olhar, por trás dos óculos escuros, mas me aliviei quando encostei na mesa e não vi ninguém que pudesse ter algum conhecimento sobre nós dois.

Shawn aparentava estar mais magro, sua barba estava crescida, ainda um pouco rala por ele não ser tão provido de pêlos, o cabelo sem corte e um pouco mais cheio também, se percebia um certo desleixo ali, estava de jaqueta preta e uma calça escura, tinha um boné na cabeça e óculos escuros também escondendo seus olhos, ele se levantou quando me proximei e mencionou me abraçar, mas eu relutei, dei um passo para trás e estendi discretamente a mão para ele não se aproximasse tanto, olhei novamente ao redor e me sentei na cadeira ao seu lado oposto, no lugar onde dava visão a rua.

— Como está linda... – Ele sorriu e sentou também de frente para mim, direcionou seu rosto em direção ao meu e deduzi que ele me observava, por um tempo que começou a incomodar.

— Então, Shawn? Você me chamou para conversar, estou me arriscando em escalas que não consigo nem mensurar, mas estou aqui. Diga o que você tem para me dizer. – Tentei não demonstrar da emoção, foi tocante o ver depois daquele tempo em inércia, mas ainda sim me sentia magoada com ele.

— Sim, claro. Mas gostaria antes de saber como você está? Como estão as coisas no jornal, as coisas com Lauren? Quem está como redator principal? – Ele falou apressado se ajeitando na poltrona, exaltava ansiedade em sua voz.

— Shawn, olha. Apesar do que você fez, eu não quero ser grossa com você, porque mesmo sem eu entender o motivo, eu ainda gosto de você. E se estou aqui é porque acredito que você irá me convencer de não ligar para polícia daqui mesmo e te entregar. Não é como se fossemos amigos ainda. Você me traiu, você me ridicularizou na frente de todo mundo, deu razão aquele canalha, me fez se sentir a maior de todas as idiotas, porque eu sempre acreditei em você, eu sempre te defendi, eu coloquei o meu cargo a posto quando até mesmo depois da merda que você fez, eu tentei amenizar pro seu lado, mas não me venha agir como se você não tivesse invadido aquele jornal, alternado aquele resultado e desviado todo aquele dinheiro. Eu não estou aqui porque estava com saudade de você, estou aqui para entender porque você fez isso. Apenas! – Cuspi todas aquelas palavras de uma vez, ele nada falou. Apenas suspirou forte e abaixou a cabeça.

Ficou breves segundos ali, até levantar outra vez e retirar o boné de sua cabeça e o óculos que cobria seus olhos, relevando um machucado profundo em seu supercílio e um hematoma ainda roxeado abaixo de seu olho direito um pouco inchado também, no lábio inferior havia um pequeno corte, que só agora o vendo de rosto livre eu pude notar, na testa já próximo ao couro capilar também havia um corte com um pequeno curativo. Tudo aquilo parecia ser recente, eu fiquei perplexa com a imagem de sua face assim, as palavras travaram em minha boca, não parecia nem real aquela cena de o ver assim naquele estado, ele me encarou em olhos pesarosos e agora marejados, e rapidamente escondeu o rosto outra vez.

— O que foi isso? O que aconteceu com você?! – Perguntei atônita percebendo também que suas mãos estavam machucadas nos dedos, tudo indicava que ele havia entrado em uma briga e certamente não se saiu muito bem.

— É melhor que eu te explique desde o começo. – Ele se inclinou até abaixo da mesa e buscou uma mochila ali, a abriu e retirou um notebook lá de dentro, o colocou sobre a mesa e ligou o virando para que ambos tivessem acesso a tela. Abriu umas pastas criptografadas, digitou uma senha enorme de acesso que pela complexidade de números e letras se misturando, mesmo eu vendo não deu para decorar, depois deixou o notebook virado totalmente para mim e solicitou que eu abrisse uma das pastas escrito "alvo".

Um estranho sentimento de ansiedade invadiu meu peito repentinamente, eu cliquei naquilo e centenas de fotos minhas em vários momentos aleatórios ocuparam toda a tela do micro, a perplexidade inundou o meu ser, o olhei de relance e ele não me olhava, lançava seu rosto para o outro extremo da lanchonete, em direção a porta de entrada e saída, voltei a atenção para o notebook e fui deslizando para baixo com meus dedos até o final da pasta, tinha momentos em que eu nem me recordava do acontecido, e outros que eu me lembrava muito bem. Estava saindo de meu prédio em um momento e outro entrando, caminhando nas ruas próximo ao jornal, conversando em algum restaurante com a Dinah, em frente a Club Space, saindo do carro de Lauren, entrando em algum táxi, mexendo em meu celular em uma cafeteria, eram vários momentos de minha vida cotidiana ali registrados, mas uma foto me chamou a atenção, a última delas. Eu e Lauren nos beijávamos dentro de seu carro em frente ao prédio, foi nosso primeiro beijo. Depois dali não houveram mais fotos. 

— O que isso significa? Quem tirou essas fotos? – O perguntei fazendo ele direcionar sua atenção para mim outra vez. 

— Eu.

— Você?! Mas por quê? Qual a intenção?! – Elevei o tom de voz mais do que proposital, a moça que atendia ao balcão me olhou em sobressalto, e eu desviei o olhar rápido para que ela não demorasse muito a me ver. — O que diabos você estava fazendo me seguindo todo esse tempo?

Um longo suspiro encheu o peito dele, seus punhos apertaram em cima da cima, ele tirou o óculos outra vez para me olhar e tentou buscar minhas mãos, mas eu as afastei permanecendo firme onde estava.

— Eu fui contratado pelo seu noivo para te seguir, para me aproximar de você e se tornar seu amigo, seu braço direito ou qualquer outra coisa que me desse privilégios de sua companhia para que eu descobrisse sobre sua vida e repassasse para ele. – Ele falou aquela parte toda me encarando, mas ao perceber minha expressão estagnada, desviou o olhar marejado outra vez, suspirou como se buscasse força para continuar e voltou a me olhar. — Eu o conheci na revista, era colunista lá, eu me dava super bem com o Sr Puth, mas não me dava com Charlie, nunca me dei. Vivíamos discordando das coisas, até que um dia ele descobriu que eu havia me relacionado com uma das editoras chefes, que por sinal era sua namorada. Mas eu não sabia, eles eram discretos e nunca deram bandeira, até trocavam farpas de vez em quando, mas eu tinha interesse nela, e parecia recíproco, então nos envolvemos. E no outro dia, ele me ameaçou, mostrou todas as cartas na mesa e jurou que iria acabar com a minha carreira. Você sabe o quanto ele é influente nesse ramo, pegou a carona do status do pai e se ascendeu na mídia, nunca que eu poderia duelar com o Charlie, então minha saída foi me humilhar, e ele me humilhou, me deixou rente ao chão, mas no final disse que poderia ter misericórdia se eu trabalhasse para ele.

— Espera aí, tem alguns pontos nessa história que não encaixam. Se você era colunista lá, então quer dizer que você já terminou sua faculdade... – Ele fechou os olhos e suspirou meneando com a cabeça. — Quantos anos você tem, Shawn?

— A mesma idade que você.

— Então seus registros eram todos falsos?

— Sim. Tudo foi forjado para eu parecesse mais novo, até o estilo de minhas roupas eu tive que mudar. Meu nome, minha identidade, meu endereço, tudo. – Sua voz estava pesada, ele falhava as vezes de uma palavra para outra. Me encarava e desviava o olhar, estava extremamente inquieto. Eu não estava tão diferente disso. — Antes, eu atendia como Peter R., que são meus sobrenomes, colunista interativo da revista All Culture, um rapaz sonhador, cheio de desejos e ambição de crescimento profissional, que lutava pelos seus ideiais e sonhava em um dia ser chefe de edição de alguma revista ou até mesmo da minha própria revista. Mas por causa de um deslize tudo isso foi enterrado, e hoje em dia eu sou apenas um ex estagiário, que vacilou feio, odiado por várias pessoas, até pela família, e está sendo procurado pela polícia.

— Eu... Eu não sei nem o que dizer. Você não se chama Shawn Mendes. Que loucura... – Eu sentia meu corpo trêmulo, minha pressão querendo baixar, a mente turva. Nada daquilo parecia real, era tudo muito surreal. — É por isso que eu achava sua escrita muito avançada para quem ainda estava no quarto período da faculdade, você... Você...

— Deixa eu terminar, por favor... – Seus olhos estavam pesarosos, parecia ainda haver muito coisa para ser dita. — Eu fui demitido da revista com a justificativa de corte no quadro de funcionários devido a necessidade de economia, o Sr Puth questionou aquilo, porque ele sabia que minha matérias eram uma das mais procuradas e com certeza faria falta para eles, os leitores certamente perceberiam, mas Charlie o garantiu que estava tudo sob controle e que eu não me prejudicaria, iria conseguir um outro emprego pra mim a altura. Foi quando ele conseguiu convencer ao Sr J. a autorizar minha contratação. Ali eu já tinha todos os documentos falsos, ele providenciou isso com alguém que eu não conheço, mas a princípio eu ainda não sabia do que se tratava, do que ele desejava, foi quando ele me mostrou sua foto e disse o que eu deveria fazer, meu foco era me aproximar de você, eu precisava agir de alguma forma para precisar estar próximo a você. – Sua voz pausou, ele me encarou e suspirou outra vez. — Quando eu te vi ali naquela foto, já pressenti que seria difícil, eu até questionei o porque disso, porque ele precisava de mim para isso, porque ele mesmo não se aproximava de você, e depois de muito relutar ele disse que você era sua ex noiva, que havia vacilado com você e queria te reconquistar, mas não disse o que ele havia feito. Quando eu cheguei no jornal que fui apresentado a você, Camila, perdi tudo. Bastou apenas um dia ao seu lado para eu saber de vez que não conseguiria fazer aquilo, eu ainda tentei nos primeiros meses, mas cada dia que passava eu relutava em passar o relatório pra ele, foi quando eu cometi o pior erro, eu investiguei o que ele fez com você e não suportei, eu o enfrentei, o ameacei expor se ele não me deixasse em paz e você também, eu já estava apaixonado e achei que falar aquilo pra ele iria o retrair, que ele se sentiria ameaçado e iria recuar, iria parar de te perseguir. Me enganei em cheio! A primeira coisa que ele fez foi pegar todos os meus documentos originais e sumir com eles, alguém simplesmente invadiu meu apartamento e levou tudo, então ele disse que se eu não continuasse ele me denunciaria para a polícia por calúnia e identidade falsa. Eu tinha uma acusação contra ele, mas qual prova eu teria? Foi quando as chateagens começaram outra vez, ele saber que eu gostava de você foi muito pior, foi quando eu vi você e a Lauren juntas pela primeira vez. Aquilo me causou uma dor enorme, mas eu então eu entendi que jamais seria alguém para você e simplesmente parei de te seguir. Ele enlouqueceu e começou a ameaçar fazer mal a você se eu não continuasse, ele desconfiava que você tinha alguém e tentava me obrigar a todo custo a falar quem era, porque ele sabia que eu sabia, foi quando ele começou a prejudicar você e a sua família. Tirou o pagamento da escola da Sofia, demitiu o seu pai e disse que o próximo passo seria matar você. Como eu poderia lidar com isso? Eu surtei, Camila.

— Você sempre soube de todas essas coisas, tudo... Céus...

— Eu temia em ele fazer realmente o que diria que faria. Então eu menti, eu disse pra ele que você estava comigo. Que nós estávamos juntos! Aquilo foi o estopim, ele ligou para a polícia na minha frente para me denunciar. Eu disse que poderia até ir preso, só pra ele te deixar em paz. Mas aquele homem é o próprio diabo. Ele disse que faria pior, que me ver preso seria muito pouco. Ele iria te matar e me matar pela audácia de ter o enganado pela segunda vez. O preço para não fazer nada foi o que eu fiz. Eu precisaria te fazer me odiar e sumir do mapa. – Àquela altura eu já não o olhava mais, meu rosto fervia, o ódio que eu tinha por aquele homem cresceu em uma proporção que eu não imaginava ser possível. Respirei fundo e antes mesmo que pudesse falar algo, ele continuou. — Meu nome é Shawn Mendes também, pode continuar me chamando assim, eu já me acostumei. Mas eu quero que você saiba, Camila, que eu jamais faria algo para te prejudicar por minha própria vontade, eu amo você. E sei que não é recíproco, e não me importo mais sabendo que pelo menos você agora tem a Lauren, uma mulher fantástica, alguém digna de estar ao seu lado.

— Ok, escute. Isso tudo que você me disse é algo muito sério, não existe nenhuma forma de você comprovar tudo o que ele fez? – Falei em frenesi ainda encaixando uma informação na outra.

— Sim, eu fiz minha primeira tentativa de tentar resolver isso. E o resultado foi esse em meu rosto e em todo o meu corpo. Ele ainda tem meus documentos e pelo o que sei, já sabe sobre vocês duas. Então tenha cuidado, Mila. Ele só não me matou porque eu consegui fugir.

— Então ele sabe que você está por aqui?

— Agora não, porque eu consegui escapar. Mas estou em alerta, eu sei que sua obsessão no momento é conseguir me achar, e com certeza não é para me entregar a polícia. Ele na verdade torce para que a polícia não me encontre antes dele. Você já sabe para quê... – Eu não o respondi, apenas desviei o olhar. Sim eu sabia. — Eu estou tentando buscar algumas provas contra ele, sobre o que ele fez com você, comigo, com quase todas as mulheres com quem se envolve. Eu preciso reunir isso e o colocar contra a parede, fazer ele confessar, gravar isso, mas tenho que o pegar sozinho. Porém preciso de recursos também, eu estou sem quase nada, estou morando de favor e arranjar emprego agora é impossível, você sabe. Ele está com a Miley mas aquela relação é apenas de interesse, ela satisfaz o que ele deseja e ele finge que faz algo por ela, mas vai ser só mais uma descartada em breve.

— Você está precisando de dinheiro? E o dinheiro que foi desviado?

— Eu apenas invadi o sistema e corrompi a programação das contas bancárias, mas tudo foi pra ele, eu não recebi nada sobre isso, juro. Estou tentando conseguir provas para o denunciar contra isso também, mas o processo já foi desfeito. Eu só peço para que você tenha cautela, não se exponha tanto assim ainda com a Lauren, ninguém sabe do que ele é capaz de fazer. Ele ainda é obcecado por você, ainda não aceitou te perder. Ele foi embora e te deixou naquele estado com medo do que o pai faria, é um covarde que usa as artimanhas do dinheiro para não sujar as mãos. É um lunático, mas eu vou fazer ele pagar por tudo que fez. – Seu olhar foi em direção ao balcão, ele colocou os óculos outra vez e virou o rosto em minha direção.

— Está com fome? – Perguntei percebendo sua retração na poltrona e a mão sobre a barriga. Ele apenas meneou com a cabeça em negação, parecia envergonhado. — Peça algo para você comer, eu preciso ir. 

— Eu vou ficar me comunicando com você, te deixando ciente de tudo que eu descobrir. Posso?

— Precisamos ter cuidado com isso. É seguro aquilo que você disse sobre apagar o registro de suas ligações do meu celular?

— Sim, não se preocupe. Estou com esse provisório, mas tentarei arranjar outros, eu vou me virando. Cuide da sua parte em não deixar perceberem que nos comunicamos, que eu cuido de apagar os rastros. Eu tenho pressa, e se depender de mim tudo se resolverá logo. Eu vou acabar com o Charlie, e ter minha vida de volta. – Suas mãos fecharam outra vez sobre a mesa. — Eu só preciso agora que você me perdoe, que entenda que eu fiz isso para te proteger, mesmo te prejudicando. Me desculpa, por favor.

— Ok, Shawn. – Busquei minha bolsa, tirei de lá algumas notas, não era muito, mas já o ajudaria por agora a comprar algumas roupas e algo pra comer. Estendi o braço para que ele pegasse o dinheiro, mas como eu presumia ele negou. Então abri seu notebook outra vez e deixei as cédulas lá, entre o teclado e a tela, o fechando outra vez. — Me mande uma conta onde eu possa depositar algum dinheiro para você.

— Não, Camila. Não quero seu dinheiro...

— Estou oferecendo minha ajuda em troca do que você fez. Não estou apenas lhe oferecendo dinheiro. – Ele relutou outra vez. — Você conseguir o incriminar também será benefício para mim, eu tenho muito interesse em o ver pagando por tudo de ruim que ele fez, então podemos tratar como pagamento ao seu serviço. Acha melhor assim?

— Mila, eu... – Era perceptível o quanto ele parecia incomodado com aquela situação.

— Se não for assim, então não teremos mais contato. – Falei firme o encarando, mesmo sem que ele pudesse ver meus olhos, já que eu não tirei o óculos em nenhum instante. Soltou uma lufada forte de ar e por sim concordou. — Peça um lanche, eu preciso mesmo ir agora.

Me levantei e ao passar ao seu lado, ele segurou em minha mão, levantou o rosto em direção ao meu e sorriu singelo.

— Obrigado.... Obrigado por acreditar em mim. Eu prometo que vou fazer ele pagar. – Eu assenti passando a mão em seu ombro e caminhei para fora da lanchonete, pedi um táxi e fui resolver uma outra questão.

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Notas Finais


Olá, Olá meu amores! 
Que capítulo enorme, meu Deus! Quantas revelações, não é? Mas é isso mesmo, reta final os podres vão aparecendo e às peças se encaixando.
Espero que tenham gostado e não achado tão cansativo, eu até pensei em dividir mas como o próximo já será os finalmentes, não faria sentido quebrar a trama no meio. Ainda tem algumas coisinhas para vocês descobrirem, então fiquem por aí. Estamos enfim encerrando esse ciclo, Surrender está acabando e finalmente poderei ficar em paz com essa promessa cumprida.

Obrigada sempre a todos que estiveram até aqui, vocês foram primordiais em ter me feito voltar depois de quase ter desistido. 

Se cuidem e até mais gente linda. 😘💖

🐦 @MirneyCruz


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