História Sutilmente - Revelação

Shun abre a porta sobressaltado, com os olhos arregalados. Sem acreditar no que vê, ele fala devagar:

– Eiri?

– Dá licença que meu assunto é com o seu irmão! – Dizendo isso, ela o empurra para o lado, tirando-o do caminho.

Shun se assusta com a atitude da moça.

– Que isso?! – Diz ele sem entender.

– Ikki, precisamos conversar. – O cavaleiro revira os olhos. Não estava nem um pouco interessado em falar nada com ela. Não gostava dela. Estava cansado, mal dormira a noite e ainda não havia terminado de tomar seu café. Nem no banheiro tinha ido ainda! Bufando, Ikki deposita a caneca em cima da mesa e entediado, olha para a mulher a sua frente.

– Bom dia pra você também. – Responde com sarcasmo.

– Não sei se vai ser muito bom depois que escutar o que tenho pra dizer. – Responde ela ríspida.

– Espero que não me dê uma azia. – Comenta com um sorriso irônico.

– Eu vim falar do seu irmão.

– Se veio falar mal de Shun, pode dar meia voltar e sair. – Responde taxativo.

– Eu vou falar quer você queira quer não! – Grita ela nervosa.

Ikki a observa sério. Shun que ainda estava encostado na porta fica nervoso. Tinha um mau pressentimento quanto aquilo. Ele fecha a porta devagar. Sua respiração fica pesada. O que ela iria dizer sobre ele? Não tinha nada para dizer a Ikki. “A não ser que...” – pensava ele com os olhos arregalados.

– Não... – Sussurra Shun.

– Sim senhor! – Eiri diz olhando com desprezo para andrômeda.

– Por favor... – Implora ele tão baixo, que quase não foi ouvido.

– Shun, o que... – Ikki é interrompido por Eiri que irada, continua sem a menor cerimônia.

– O seu “irmãozinho” mente pra você!

– Não... – Shun pede já com lágrimas nos olhos. Ikki olha para Shun, sério.

– Mente há anos! Porque além de mentiroso ele é um covarde!

– Não... Por favor! – Shun continua pedindo inutilmente. Ela não pararia. Iria até o fim.

– Eiri, para. – Aconselha Ikki sério.

– Ele é um covarde porque não é homem pra assumir o que ele é!

– Para. – Ikki fala mais uma vez.

– Aliás, nem homem ele é... – Diz ela ironicamente.

­– Não faz isso! – Pede Shun exaltado. As lágrimas já não podiam mais ser controladas.

– Eu sei. – Ikki comenta em num tom baixo encarando a moça.

– Ele é tão covarde e incompetente, que não consegue nem arrumar alguém pra ele! Tem que dar em cima do namorado dos outros! – Ela continua irada.

– Não! Não é nada disso! – Shun desespera-se. Não era assim que queria contar ao irmão. Ela estava estragando tudo!

– Eu sei já sei de tudo. – Ikki repete.

– Ele é um nojento sem vergonha na cara!

– Para Eiri! – Implora Shun aos prantos.

– Eu já sei. – Repete mais uma vez.

– O seu irmão...

– Não, não... Não!! – Grita Shun.

– O Seu irmão é gay! E tá tentando roubar meu noivo! SEU amigo!  - Grita ela, sem dó.

– Não!!!! – Shun desespera-se. Encolhido, com vergonha, ele encosta-se à parede e abaixa a cabeça. Não tinha coragem de olhar nos olhos do irmão.

– EU JÁ SEI! – Grita Ikki enraivecido – Eu sei que Shun é gay! – Com a respiração pesada e os olhos mareados, ele continua – Eu sempre soube... – Completa com uma voz serena, encarando os olhos de Shun.

Shun chora copiosamente olhando para seu irmão. Ele já sabia... Shina o havia alertado disso. Mas, teve esperanças de que fosse um erro da amazona. Ikki sabia. E encarava Eiri com ódio.

– Você sabia? – Pergunta ela indignada com a informação.

– Eu já sabia. Mas você se enganou. – Ele se aproxima da jovem, que se retrai, com medo do cavaleiro a sua frente – Meu irmão nunca tentou roubar seu noivo! Hyoga sempre gostou de Shun! Você sempre foi à única egoísta nessa história toda que pensava poder mudar esse sentimento e separar os dois!! – Ele se aproxima mais, fazendo Eiri recuar alguns passos até a porta – Agora, por gentileza, SAI DA MINHA CASA!

A garota sai chorosa. Ikki bate a porta à suas costas. Fechando os olhos e tentando controlar a respiração, ele encosta a testa na porta. Sentia raiva, ódio daquela mulher. Fazia força para se acalmar, quando percebe o som do choro de Shun. Levantando a cabeça, ele olha para o irmão, tão fragilizado, ali ao lado. Ikki aproxima-se e abraça Shun com carinho. Andrômeda não contém a emoção e seus soluços entregam toda dor contida naquele choro. Queria parar de chorar, mas não conseguia.

– Você já sabia... – Lamenta Shun aos prantos.

– Sabia... – Sussurra Ikki abraçado ao irmão.

– Por que nunca me falou? – Shun finalmente encara o irmão, e para sua surpresa, este lhe olhava sereno, com lágrimas nos olhos.

– Porque era você quem deveria vir falar comigo e não o contrário. – Ikki sorri docemente para o menor, afagando seus cabelos. – Esperei o dia em que confiaria em mim e viria me contar a verdade.

– Eu ia te contar... Ontem. – Responde baixando o olhar – Não deu. Aconteceram tantas coisas... – conclui com a voz embargada.

– Eu sei. – Ikki sorri para Shun e apertando o abraço, ele continua – Você é meu irmão e eu te amo. Quero que seja feliz. – Afastando-se um pouco de andrômenda para encará-lo, Ikki conclui com um sorriso ferino – Mas se o pato te magoar, vou ter que matar ele.

Shun sorri e abraça novamente o irmão. Sentiu-se feliz. Nunca imaginara que Ikki reagiria dessa forma. E pensar que Eiri tentou estragar tudo. “Aquela vaca...” – Pensou ele. Ikki o defendeu. E pelo que pode notar, aceitava Hyoga. Faltava apenas se acertar com o loiro para a felicidade ser completa. Lembrou-se de Shina. Queria que a amiga estivesse feliz também. Queria que todos pudessem se sentir assim, acolhidos, leves. Pensou na mensagem que recebera de Hyoga. Iria esperá-lo voltar da China. E então, conversariam.

– Também te amo Ikki. – Sorri.

– Agora, por favor, me deixe dormir. Não tô legal. Eu PRECISO dormir... – Shun sabia o quanto o humor de Ikki ficava azedo quando não dormia. Passara a noite toda com Shina e agora com ele. Sem falar na “visita” de Eiri.

– Dorme lá na minha cama. – Dizendo isso, Shun viu seu irmão pegar as coisas que deixara no sofá e se encaminhar para o quarto do mais novo.

Ikki se joga na cama. Estava cansado, física e mentalmente. Havia batido seu record de gentilezas. Não aguentava mais ver gente chorando. Pensou em como Shun aguentou tudo sozinho, em silêncio. Como deve ter sido difícil para ele. Como aquela cretina da Eiri o havia magoado. Suspirou. Fechou os olhos e pensou em Shina. A amazona estava triste. Não admitia ela ter acreditado em todas as besteiras que aquele traste do ex namorado havia lhe falado. Ela não era nada daquilo, ele sabia! Se importava com ela. Não queria, mas estava realmente começando a gostar da italiana. “Não posso fazer isso” – Pensava enquanto lembrava-se de como foram suas duas antigas paixões. Lembrou-se da doce Esmeralda, que morrera lhe protegendo durante seu treinamento. Pensou em Pandora... Tinha morrido após ajudá-lo a entrar nos Campos Elíseos. Preocupou-se com Shina. E se lhe acontecesse o mesmo? “Elas morrem... Todas sempre morrem” – Pensou com lágrimas nos olhos. Não demorou para que fosse tragado para o mundo dos sonhos. Estava exausto. Precisava dormir.

♥♥♥♥♥

Shina dormira no quarto de Ikki. Depois de lhe desejar boa noite, a amazona deitou-se na cama desarrumada. Não queria mais pensar no que havia acontecido. E nem chorar. Estava decidida a não chorar, nunca mais. Repousou a cabeça no travesseiro, quando sentiu o perfume do cavaleio de fênix. “Ikki”... Sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo e uma quentura se apossar do peito. Suspirou. Lembrou-se de como ele estava sendo bom com ela e sorriu. Acomodou-se melhor na cama e adormeceu, inebriada com o cheiro gostoso que dominava todo o ambiente e começava a querer também, tomar seu coração.

CONTINUA...