História Swap - KakaHina - Incertezas

HINATA

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Passara a noite completamente em claro.

Desde que retornara ao apartamento, havia se isolado no quarto, queria apenas se deitar encolhida e se esquecer por completo de Kakashi, pois pensar no prateado a fazia apenas sofrer. Para seu azar, estava rodeada por tudo que a ele pertencia.

Simplesmente não havia forma de apagar o homem de seus pensamentos e aquilo tornava-se uma tortura para ela naquele momento tão delicado.

O sol começava a nascer e, ainda assim, sequer havia conseguido fechar os olhos, por mais que tivesse tentado com todas as suas forças. O cansaço tomava conta de si e tinha certeza de que seus olhos estavam emoldurados por profundas olheiras.

Seu coração pesava, as incertezas tomavam conta de si e a solidão apenas acentuava-se diante de toda aquela dificuldade. Estando presa em um corpo que não lhe pertencia, a única pessoa com quem poderia confidenciar seria Kakashi, uma vez que ele era o único que sabia toda a verdade. No entanto, as atitudes do homem haviam balançado por completo os sentimentos da Hyuuga e a confiança que sentia.

Estava chateada com ele e sentia-se traída.

Enquanto ela fizera de tudo para preservar cada mínimo segredo do Hatake, ele havia tocado em seu corpo de maneira indevida. Ele havia feito exatamente o que ela lhe havia pedido para não fazer.

Por outro lado, ele ao menos havia lhe contado a verdade, um gesto correto, mas a que preço? Hinata já não tinha mais certeza se poderia acreditar nele, assim como não se imaginava conversando com ele de maneira natural e confortável. Sentiu uma leve dor nos olhos e sabia que, em breve, lágrimas estariam escorrendo por seu rosto.

Se ao menos tivesse alguém com quem conversar. Alguém com quem pudesse confidenciar seus pensamentos, sentimentos, a situação como um todo, mas não havia ninguém.

Ninguém exceto os ninkens.

Mas de que adiantaria invocar um cão ninja para chorar suas mágoas, e pior ainda: reclamar do verdadeiro shinobi a quem estes cães serviam.

Definitivamente, não daria certo.

Cansada de falhar em sua tentativa de dormir, Hinata desistiu de ficar deitada. Ela sentou-se na cama e encarou a parede com uma expressão um pouco vazia. Sabia que seria melhor tomar um banho, comer algo e seguir para o escritório. Ao menos por lá teria trabalho para realizar e ocupar sua cabeça.

Mas ainda precisava escrever tudo que fosse necessário para a noite das garotas.

Suspirou baixo. Por mais que estivesse chateada com o que ocorrera, sua consciência não permitia que ficasse completamente alheia a Kakashi. Assim como ela estava dependendo dele, ele também estava dependendo dela e, apenas se ambos trabalhassem em colaboração e harmonia, conseguiriam dar a volta por cima naquela situação.

— Que droga... — Ela resmungou baixo e sentiu-se ainda pior ao ouvir a voz masculina vinda de si.

A voz daquele que a havia magoado.

Tocou seus pés no chão e fechou os olhos por alguns instantes. O sono intenso que sentia a deixava tonta, e precisou apoiar a mão contra a janela para que pudesse se manter erguida. Inspirou profundamente e, assim que se sentiu um pouco melhor, tornou a abrir os olhos.

Atentamente, observou ao seu redor e seu coração deu saltos descompassados. Tudo ali era dele, tudo ali lembrava ele. Até mesmo o suave aroma masculino ao qual ela já estava praticamente habituada a sentir naquele ambiente.

Aquele era o perfume de Kakashi.

— Ele ao menos me contou a verdade... Ele poderia ter escondido isso. — Sussurrou pensativa e deu um passo vacilante em direção ao guarda-roupas.

Estava decidida a tomar um banho e, no fundo, aquela ideia a deixava um pouco apreensiva. Aquele seria seu primeiro contato com a nudez masculina, que tanto havia tentado evitar até aquele momento, principalmente por conta de receio e nervosismo. Ainda estava assustada com a ideia, mas a leitura de Icha Icha a havia deixado um pouco mais preparada para aquele momento. Para agravar, agora que sabia que Kakashi não tivera pudor algum com seu corpo, não se sentia mais em obrigação de tomar tanto cuidado.

Não era vingativa nem rancorosa, e certamente não cometeria nenhum deslize como aquele que o Hatake havia cometido com ela. No entanto, começaria a relaxar um pouco.

Não estava mais em situação de ficar com um pé atrás.

Assim que terminou de separar vestes limpas, foi até o banheiro, onde se trancou. Olhou seu reflexo no espelho com certo desânimo. Já não se surpreendia mais em ver aqueles cabelos prateados e desordenados, aqueles olhos ônix com um leve ar entediado e aquela cicatriz no rosto e a icônica máscara. Estava ficando realmente habituada com a ideia de que era Kakashi. Inspirou profundamente e virou-se de costas para a superfície de vidro.

Apesar de tudo que havia se passado, ainda iria respeitar o segredo que era o rosto verdadeiro do homem.

Inspirou profundamente e tirou a blusa que vestia com cuidado. Em seguida, livrou-se das calças, ficando apenas de boxer. Seus batimentos cardíacos começaram a acelerar, afinal, estava prestes a ver aquilo que havia evitado nos dias anteriores. Com as mãos levemente trêmulas, segurou o cós daquela peça de roupa e, de maneira lenta, deslizou-a para baixo. Assim que a intimidade masculina ficou à mostra, Hinata arregalou ligeiramente os olhos.

Não era tão grande quanto aquilo que sentira na tarde anterior, mas sabia que isto devia-se ao fato de não estar excitada no momento. Ainda assim, não podia negar. Sentia-se estranha vendo aquilo entre suas pernas.

Mais do que rapidamente, ligou a torneira de água quente e entrou na banheira. Não esperaria que esta enchesse para iniciar o banho, queria acabar aquele momento o quanto antes. Pegou o sabonete que repousava sobre um suporte e começou a passá-lo por cada parte do corpo, porém evitando a intimidade masculina. Minutos antes, achava que estava preparada para aquele contato, mas definitivamente não estava.

— Céus, por que isso está acontecendo comigo? — Sussurrou em um diálogo solitário. — Ah, claro... Porque eu fui até aquela missão, encontrei aquele pergaminho bizarro e o entreguei para Kakashi... — Respondeu como um resmungo. — Agora eu estou presa no corpo dele, tenho que passar por todas essas situações constrangedoras, estou conversando sozinha, mas sequer sou capaz de ouvir minha própria voz... — Aos poucos, a amargura foi se revelando em seu tom e uma lágrima escorreu por seu rosto. — Eu só posso estar ficando louca...

Tornou a ficar em silêncio, não era o momento certo para chorar. Precisava apenas focar-se em terminar de se lavar e ir ao escritório.

Ainda tinha muito a resolver até a hora do almoço.

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KAKASHI

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Definitivamente, não gostava de acordar cedo, mas não tinha escolha. Estando sob a pele de Hinata, precisava seguir a rotina da garota, e já sabia que ela não era o tipo de pessoa que ficava na cama até tarde. Ele já havia cometido erros demais com ela, especialmente o fato de ter ultrapassado os limites que lhe haviam sido impostos.

Havia vacilado e precisava corrigir-se.

Passara boa parte da manhã no pátio da mansão Hyuuga, treinando movimentos de batalha que eram friamente analisados pelo olhar severo do líder do clã. Em diversos momentos, ouviu sermões cobrando correções de gestos e posturas.

A cada vez que ouvira a voz seca do homem mais velho, sentira-se pior, como se toda a sua felicidade fosse sugada. A cada vez que ouvira aquelas cobranças, havia pensado em Hinata.

Havia pensado na maneira como ela sofria nas mãos de seu pai, havia pensado em como ela poderia estar se sentido diante da solidão...

Havia pensado na maneira como ele a havia decepcionado.

A Princesa do Byakugan era uma pessoa especial. Era doce, bondosa, determinada e empática. Tinha uma educação exemplar, uma delicadeza de dar inveja a muitas garotas, mas nada disso a tornava fraca, pelo contrário.

Saber que havia feito algo ruim para alguém como ela, fazia com que Kakashi se sentisse péssimo.

Quando tomou seu banho, após o treino, desligou-se por completo da nudez feminina. Naquele momento, sua mente trabalhava insistentemente em suas dúvidas e receios.

O que faria para afastar Hinata dos abusos de Hiashi? Só conseguia vê-la livre de tudo aquilo, desvinculando-a do clã Hyuuga, fazendo-a viver longe do distrito ou enviando-a em uma longa missão para algum lugar distante. Todas as possibilidades lhe soavam extremas e sabia, aquela era uma decisão que não cabia a ele, e sim à vontade da garota.

Teria que pensar em alguma outra solução.

Conforme os pensamentos fluíram, retornou o temido assunto: As mágoas que ela provavelmente sentia diante de suas atitudes. A verdade o Hatake já havia contado, mas aquilo era o suficiente? Não tinha certeza.

Poderia esperar que o tempo auxiliasse a garota a tomar suas decisões acerca da situação, mas o homem não tinha certeza de que aquele era o caminho certo. Eles ainda precisavam voltar para seus corpos originais.

Talvez devesse se desculpar. Mostrar a ela que estava realmente arrependido pelo que fizera. Aquela não deveria ser sua principal preocupação naquele momento, teria um dia cheio.

Um almoço com Naruto e uma longa noite com as garotas lhe aguardavam pela frente.

No entanto, nenhum daqueles movimentados compromissos foram capazes de espantar Hinata de seus pensamentos enquanto Kakashi atravessava a vila, caminhando em direção ao edifício administrativo. Por algum motivo, — que acreditava ser apenas uma tentativa de limpar sua consciência — ele desejava redimir-se com a garota o quanto antes, e sua distração com aquele assunto era tão intensa que sequer percebeu o caminho passar. Quando se deu conta, já estava em seu destino.

Ao parar diante das imponentes portas vermelhas, sentiu o coração disparar. Estava prestes a reencontrá-la e simplesmente não sabia que tipo de reação esperar.

Como seria recepcionado?

— Hokage-Sama, Hinata-Chan está aqui novamente... — Shizune anunciou após bater na porta com delicadeza.

— Agradeço, Shizune... Mande-a entrar, por favor. — A voz masculina respondeu de maneira educada.

A assistente abriu as portas e gesticulou para que Kakashi entrasse. Ele agradeceu silenciosamente com um aceno de cabeça e adentrou o escritório, logo ficando a sós com a Herdeira Hyuuga.

— Então você veio... — Ela disse em voz baixa, sem erguer o olhar. Parecia ocupada escrevendo algo.

— Era o combinado... — Ele respondeu um pouco receoso e deu uma breve olhada para trás. Queria certificar-se de que eles poderiam conversar de maneira segura. — Eu gostaria de falar sobre o que aconteceu ont.... — Começou a falar, mas, surpreendentemente, a jovem o interrompeu.

— Vamos deixar este assunto para depois, certo? Acredito que, no momento, há algumas outras coisas que são prioridade. — Ela disse em voz baixa e finalmente ergueu a cabeça. Silenciosamente, ela o analisou, mas sua expressão era vazia, não denunciava nada do que se passava em seus pensamentos.

— Você está certa... — Ele respondeu em voz baixa e aproximou-se, sentando-se diante dela. — Bem... Você já tem algum plano sobre como faremos com Naruto?

— Hm? — Ela perguntou um pouco baixo, como se não tivesse compreendido, mas logo prosseguiu. — Para ser sincera, não... Estava meio ocupada pensando nos detalhes sobre a noite das garotas.

— Entendo... Se me permite, eu tenho uma estratégia. — Comentou.

— Certo. Me explique, por favor.

Kakashi inspirou profundamente. Apesar de Hinata estar falando normalmente com ele e sem faltar com a educação, ele sentia algo pesado no ar. De alguma forma, sabia que as coisas realmente não estavam bem.

— Quando ele chegar aqui, terei de ser eu acompanhá-lo, ou seja, você não pode estar aqui... Não como Kakashi. — Ele começou a explicação. — Imagino que não esteja em condições de manter uma transformação por muito tempo, mas... Uma coisa é fato: você não poderá ser vista sob minha forma por aí, concorda comigo?

— Sim, está correto. — Ela assentiu lentamente.

— E neste mesmo tempo, não podemos correr o risco de que Hinata tenha sumido por completo. — Prosseguiu. — Minha sugestão é que eu faça um Kage Bunshin. Este clone permanecerá sob a forma de Hinata e irá para um campo de treinamento isolado. Eu usarei o jutsu de transformação para assumir a forma de Kakashi. Quanto a você... Precisarei que se transforme momentaneamente em uma shuriken. No caminho para o Ichiraku, convencerei Naruto a passar em meu apartamento e deixarei você lá, em segurança. — Ele a observou com atenção.

— E depois disso, Hokage-Sama? — Ela perguntou baixo. O termo polido havia retornado, evidenciando o quão incomodada estava.

— Você pode tirar a tarde de folga. Eu retornarei ao escritório ainda sob minha forma e trabalharei. Irei resolver assuntos mais sérios que possam estar sendo um problema para você. Ao final do expediente, irei até meu apartamento, para parecer que retornei e depois disso você estará livre para circular por aí novamente. Então eu sairei furtivamente e irei até onde estiver o Bunshin. Após isso, tornarei a assumir a forma de Hinata e seguirei normalmente para o distrito Hyuuga e então para a noite das garotas. — Expirou lentamente ao terminar de falar.

— É bem... Complexo, não? — Ela levou uma mão ao queixo, estava um pouco pensativa.

— Sim, é um plano complexo, mas é a maneira mais segura de não sermos descobertos. —­ Explicou com calma.

— Entendo... Olhando por este lado, faz sentido. Aceito este plano. — Ela suspirou.

— Ótimo, agradeço a confiança, Hinata-Chan. — Ele sussurrou, receando que Shizune escutasse algo.

Ela desviou ligeiramente o olhar, parecia presa em um conflito interno.

— Bem, minha vez de falar. — Ela pegou a folha de papel na qual escrevia quando Kakashi havia chegado. — Hoje tem a noite das garotas, eu irei explicar mais ou menos como estas ocasiões funcionam. — Por baixo da máscara, seu rosto corou um pouco. — Geralmente, as noites das garotas são pequenas festinhas que fazemos, nas quais comemos um monte de porcarias, jogamos conversa fora, fazemos alguns jogos, contamos segredos, assistimos filmes e... Depois disso tudo, nós vamos dormir — Resumiu. — Eu sempre levo uma caixa de chocolates, você não pode se esquecer de comprar uma antes de ir até lá.

— Certo... Acho que eu consigo lidar com isso. — Disse de maneira relaxada.

— Não tão rápido. — Ela sussurrou. — Você tem que saber o mínimo sobre mim, afinal, certamente virão perguntas sobre relacionamentos e sentimentos. — Comentou constrangida. — Eu anotei os pontos principais, assim como alguns detalhes sobre as garotas, pode ser útil, só... Cuidado, não seria muito bom se estas anotações fossem vistas por outras pessoas. — Ela estende a folha de papel na direção dele.

O Hatake pegou a folha com cuidado e passou seus olhos rapidamente pelos escritos, reconhecendo o nome das garotas que estariam presentes no evento. Não pode deixar de notar quão caprichada era a caligrafia da Herdeira Hyuuga.

— Tudo bem, irei decorar tudo até o anoitecer. — Comentou de maneira vaga, enquanto lia as informações.

 — Tá... — Ela respondeu em um tom quase inaudível.

O silêncio tomou conta do ambiente, enquanto cada um submergiu em seus próprios assuntos. Hinata tentava pesar o que estava sentindo em relação às atitudes de Kakashi naquele momento. Queria estar brava, mas via-se incapaz, pois reconhecia as tentativas dele de tentar consertar o erro que havia cometido. Ainda assim, sabia que não estava conseguindo soar tranquila e natural. O homem, por sua vez, tentava se concentrar em assimilar as anotações, mas sua consciência só conseguia o fazer lembrar do fato de que precisava se desculpar apropriadamente com Hinata.

Ele suspirou baixo e observou a figura masculina sentada diante de si.

— Então... Como eu ia dizer antes, eu gostaria de falar sobre ontem... — Ele disse com toda a coragem que conseguiu reunir.

Ela respirou fundo. Esperava do fundo de seu coração que cada palavra que ele viesse a proferir valesse à pena.

— Pode falar. — Ela acenou brevemente com a cabeça.

— Então, eu realmente cometi o erro que comentei. — Disse levemente constrangido. — Mas o que eu queria te falar é que eu não estou... — Parou de falar repentinamente ao ouvir uma movimentação estranha vinda dos corredores.

— “Shizune, como você tá?” — A inconfundível e animada voz fez-se presente.

— Ele chegou! — Hinata exclamou em voz baixa, seus olhos estavam ligeiramente arregalados. — Depois você fala. — Ela concentrou-se e fez os selos de mão. Uma nuvem de fumaça invadiu o ambiente e quando se dissipou, a imagem do Hokage havia desaparecido completamente. Uma Shuriken repousava sobre a mesa de madeira, ao lado do molho de chaves do apartamento e a carteira dele.

Kakashi deu um pequeno sorriso, satisfeito pela preocupação de Hinata. Ele não havia pensado naquele pequeno detalhe, que poderia se tornar sua perdição.

— “Eu estou bem, Naruto-Kun... E você?” — A voz feminina respondeu.

Kakashi engoliu em seco e fechou os olhos em uma tentativa de manter o foco. Seu plano demandaria de uma grande quantia de chakra. Sabia que tinha competência para executar uma manobra como aquela, mas, ainda assim, seria uma jogada arriscada.

— “Tô bem! Eu vim ver Kakashi-Sensei!” — Ele explicou. — “Ele vai almoçar comigo hoje!”

Kakashi mentalizou o plano e executou os selos de mão necessários para o Kage Bunshin. Assim que concluiu, havia uma Hinata parada ao seu lado. Só faltava a segunda etapa.

— “Ah, sim... Irei chamá-lo, certo?” — A assistente responde compreensiva.

O Hatake começou a fazer a nova sequência e suspirou aliviado ao conclui-la. Reconheceu as mãos diante de si, a transformação fora um sucesso. Com cuidado, pegou a Shuriken, a carteira e as chaves, guardando todos os objetos em um bolso interno de sua túnica.

— Vai tudo dar certo, Hinata-Chan. — Ele sussurrou de maneira reconfortante. Segundos depois, as portas foram abertas.

— Hokage-Sama, Naruto-Kun está aqui... Disse que vocês irão almoçar — Shizune anunciou.

— Ah, ele chegou? Estou indo em um instante. — Ele virou-se para o clone. — Então é isso... Agradeço mesmo por ter vindo me avisar, Hinata-Chan. — Com um pouco de dificuldade, sorriu com os olhos. Já havia se acostumado a usar os lábios.

— Não há de que, Hokage-Sama. Agora eu preciso ir treinar. — Ela devolveu o sorriso e saiu da sala, seguida pelo Hatake.

Naruto observou a cena com certa curiosidade.

— Oi, Hinata! — Ele cumprimentou.

— Olá, Naruto-Kun. — Ela respondeu. — Estou indo treinar, se me dá licença. — Disse de maneira levemente robótica. — Até mais, Shizune-San! — Ela acenou para a morena e logo saiu do edifício administrativo.

— Kakashi-Sensei! — O Uzumaki cumprimentou o prateado. Parecia um pouco surpreso. — Podemos ir?

— Eu gostaria de passar em meu apartamento antes... Podemos? — O mais velho questionou.

— Tudo bem, você que manda... Só vamos rápido, eu tô com fome! — Disse ao sentir seu estômago roncar.

— Tá, tá, serei rápido, Naruto... — Ele gesticulou com as mãos de maneira descontraída. Não conseguia deixar de estranhar a ideia de ser ele mesmo novamente, após três dias fingindo ser a Herdeira Hyuuga. Havia se acostumado com a ideia. — Shizune, voltarei mais tarde. — Avisou, recebendo um aceno positivo como resposta.

Juntos, os dois homens deixaram a imponente edificação, caminhando lado a lado.

Finalmente teriam a tal conversa.

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HINATA

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Aquela fora a primeira vez que se transformara em um objeto.

Tivera receio de que não conseguisse manter a transformação, tanto por tratar-se de algo diferenciado, quanto pelo fato de que estava um pouco enfraquecida pelo uso excessivo de chakra.

Era estranho. Estando naquela forma, sabia que não tinha olhos, mas conseguia enxergar. Sabia que não tinha ouvidos, mas conseguia ouvir.

Escutara toda a algazarra das ruas de Konoha, as constantes reclamações de Naruto sobre a fome que sentia, os planos do Uzumaki sobre o que comeria e o tilintar das chaves.

Conseguiu ouvir o som dos passos subindo as escadas e sentiu o toque da mão de Kakashi ao vasculhar o bolso.

— “Só um instante, Naruto” — Disse o mais velho.

Hinata sentiu ser balançada pelo caminhar ritmado e, em seguida, aquela mão a tocou novamente. Foi deixada sobre a superfície macia do colchão, conseguia reconhecer.

Os passos se afastaram, a porta foi fechada.

Estava sozinha no apartamento.

Por segurança, aguardou alguns minutos. Nada mudou, estava realmente em segurança. Desfez a transformação, voltado a ser Kakashi. Estava deitada na cama, o teto branco era tudo que via.

Teria a tarde de folga, mas não poderia sair dali, para não levantar suspeitas. Abriu um discreto sorriso para si mesma.

Poderia passar a tarde lendo Icha Icha em paz.

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KAKASHI

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Sentados diante do balcão, Kakashi e Naruto aguardavam por seus pedidos. Até então, o Uzumaki não tentara iniciar um diálogo e o platinado quase começava a acreditar que Hinata havia se enganado, e que de fato, seu ex-aluno apenas desejava uma refeição em sua companhia.

Alguns minutos se passaram até que as tigelas repletas com as generosas porções de lámen foram postas diante dos homens.

— Bom apetite. — Disse o senhor Teuchi com um sorriso estampado nos lábios, antes de retornar aos seus afazeres.

— Valeu, tio! — Naruto agradeceu e pegou um par de Hashis em um pote que tinha diante de si. — Finalmente, vamos comer!

Kakashi acompanhou o gesto e pegou um par de talheres para si. Uniu as mãos em uma oração silenciosa. De maneira discreta, afastou sua máscara e colocou uma grande porção de comida em sua boca, cobrindo-a com o tecido rapidamente.

— Então, sensei. — Naruto começou a falar de boa cheia. — Tem algo que eu queria falar com você...

Kakashi estreitou os olhos e observou o ex-aluno de canto de olho. A Herdeira Hyuuga não havia se enganado no final das costas.

— Diga... — Falou de maneira curta e repetiu o processo de afastar a máscara e encher a boa de comida.

— Eu tava pensando, já faz tempo desde que a guerra acabou e... Tem Sasuke que está vagando por aí, aquele idiota nem dá notícias!

— Hm... — Kakashi murmurou. — E...?

— Você sabe de alguma coisa sobre ele? — Perguntou o Uzumaki sem rodeios.

— Claro que sei, Naruto. Eu sou Hokage, e Sasuke é minha responsabilidade, esqueceu?

— Ótimo, bem como eu pensei! — O loiro abriu um sorriso radiante e encheu a boca de comida.

— Era isso? — O Hatake questionou um pouco confuso.

— Na verdade, esse era só o começo. — O mais novo riu baixo. — Eu queria saber, você não pode, eu sei lá... Me contar onde Sasuke tá? Eu queria notícias daquele idiota!

Kakashi deu um tapa na própria testa. Por que não estava surpreso?

Certas coisas nunca mudavam, e Naruto querendo correr atrás de Sasuke certamente era uma destas coisas.

— Sinto muito, mas não posso lhe dizer. — Falou calmamente, empurrando a tigela vazia para longe. — Esta é uma informação confidencial que só compete a mim e ao conselho de Konoha. — Explicou.

— Mas que droga. — O rapaz resmungou baixo. — Não pode me contar nem um pouquinho de nada? — Pressionou.

— Não, e não insista. — Repetiu com firmeza.

— Mas Sakura-chan está sabendo de algo, ela só não quer me contar! — Ele exclamou. — Por que você conta as coisas para ela e para mim não? — O rapaz cruzou os braços e fez bico. — Não é justo.

— Eu não disse nada a Sakura. — Massageou a testa um pouco exausto. Sasuke era um assunto delicado, estava tudo tão tranquilo naquele tempo que Naruto não falara do amigo. Kakashi esperava que o Uzumaki deixasse aquele assunto de lado. — Sakura pode ter dito isso para blefar e te convencer a vir falar comigo. — Teorizou. — Eu realmente não disse nada a ela.

— Porra. — Naruto encheu a boca com comida, como se aquele gesto fosse aliviar toda a frustração que sentia. — Ah, é... — Disse de maneira meio abafada pela comida. — O que a Hinata-Chan tava fazendo lá no seu escritório? É verdade que vocês estão saindo? — Um travesso sorriso de raposa formou-se nos lábios do rapaz.

— Até você está com este papo?! — Kakashi arqueou uma sobrancelha. — Não estamos saindo, alguém inventou esse boato, mas não é nada disso... Apenas estamos fazendo um pequeno trabalho em conjunto.

— Você não me engana, sensei! — O rapaz respondeu em um tom travesso e cobriu levemente a boca com a mão, como se estivesse prestes a contar um segredo. — Sakura-Chan disse que Ino-Chan viu vocês dois, e vocês saíram da vila juntos... É claro que aí tem coisa! — O Uzumaki piscou. — Pode falar para mim, eu prometo que não vou contar para ninguém.

O Hatake suspirou baixo, pensando em como deveria responder, mas estava na mesma saia justa de todas as outras vezes. Ele e Hinata não tinham absolutamente nada a não ser a troca de corpos, mas, se parasse para pensar, aquilo os tornava mais íntimos do que qualquer casal. Também não deixariam de andar juntos tão cedo.

Ao menos não enquanto não resolvessem a emaranhada situação na qual estavam metidos.

E no fundo, Kakashi admitia. Mesmo que ele e a Herdeira não tivessem nada, ele não recusaria a oportunidade de viver algumas noites e aventuras com ela. Nada sério, nenhum compromisso, apenas boas experiências e momentos de prazer.

Se confirmasse, estaria contando uma mentia, mas se negasse, poderia estar afastando possibilidades futuras.

De maneira clara, lembrou-se de algumas das anotações de Hinata.

“Se as garotas perguntarem sobre relacionamentos e sentimentos, diga que continua sem viver qualquer experiência, e que está esperando alguma atitude de Naruto ou a pessoa certa aparecer.”

Ela ainda tinha sentimentos pelo Uzumaki, ou ao menos Naruto era o referencial mais próximo que ela tinha de amor. Por alguns segundos, Kakashi desejou ser “a pessoa certa”. Não reclamaria se tivesse que passar alguns momentos na companhia daquela garota admirável.

Ali o Hatake tinha sua oportunidade de ajudar Hinata. Poderia falar sobre os sentimentos dela acerca do portador da Kyuubi, mas sinceramente?

Algo em seu interior não queria dar essa ajuda.

— Pense como quiser, Naruto. — Disse por fim, sem afirmar ou negar qualquer coisa. Deixar a resposta como incógnita poderia deixar uma liberdade maior para qualquer gênero de resposta.

— Ok, vou considerar que estão juntos. — Ele sorriu divertido. — Nunca te vi ficar a sós com uma garota em seu escritório. — Ele suspirou. — Só cuide bem da Hinata-Chan, ok? Ela é uma ótima amiga e não merece sofrer nas mãos de homem nenhum.

“E ela já não sofre nas suas, por não saber os seus sentimentos?”, pensou Kakashi de maneira ácida.

— Definitivamente, você vai levar mesmo para esse lado? — Suspirou exausto.

— Eu vou... Já tava na hora de você largar seus livrinhos e partir para a ação de verdade, né? — Provocou.

— Francamente, Naruto... — O mais velho resmungou baixo e pegou a carteira em seu bolso. — Preciso voltar ao trabalho. — Comentou.

— Ah sim... As ocupações de Kage... Mal posso esperar pela minha vez. — Ele abriu um sorriso convencido.

— Quem sabe um dia. — O prateado lançou uma nota sobre o balcão... — Teuchi-San, pode ficar com o troco.

— Hokage-San, obrigado! — O senhor sorriu radiante. — Voltem sempre! — Ele fez uma pequena reverência assim que os dois clientes se levantaram.

— Então, Naruto... Vou nessa, tá? — Forçou um sorriso com os olhos.

— Claro, claro. — O loiro resmungou de maneira bem-humorada. — Mande lembranças para a Hinata-Chan! — Exclamou.

— Não verei mais ela hoje, ela tem a noite das garotas... — Comentou e deu um tapa na própria testa em seguida. Havia acabado falando demais.

— Para quem não está tendo nada com ela... Você está sabendo demais, não está, Sensei? — Ele piscou de maneira sugestiva.

— Pare de pensar bosta, Naruto, ela apenas comentou comigo. — Deu de ombros, tentando soar desinteressado.

— Sei, sei... — Ele colocou os braços atrás da cabeça, ainda sorrindo. — Então, você não ia para o trabalho?

O mais velho revirou os olhos de maneira instintiva.

— Sim, estou indo. — Expirou lentamente. — Tenha um bom dia.

— Eu terei... Já você, longe da sua namoradinha.... Sei não, hein? — Ele provocou.

— Francamente... — Kakashi resmungou, dando as costas ao mais jovem.

Precisava de fator retornar ao escritório. Precisava se ocupar e só queria que a tarde passasse rapidamente, para que pudesse desfazer aquele jutsu de uma vez por todas.

Teria um longo restante de dia pela frente.