Hoseok
— Dami... Jinie... Eu não quero ir... — murmuro manhoso, vestindo uma calça preta apertada e com rasgões, enquanto olho meus dois amigos através do espelho de meu guarda-roupa.
— Que pena, mas a gente não tá nem aí — a garota de longos cabelos azuis revira os olhos e se joga em minha cama, por cima da pilha de roupas — Aposta é aposta.
— O que aconteceu com aquele discurso fodão de "sou corajoso, vou mostrar para vocês"? Até agora não tô vendo bosta nenhuma — Seokjin fala, revirando sua mochila apoiada na cama.
— Deem um desconto, vai. Eu nem sei que porra de lugar é esse que vocês arranjaram — abro a porta do guarda-roupa para pegar do cabide meu moletom azul e branco, com gatinhos estampados nele — Sério, vocês pegaram muito pesado — bato o pé no chão fazendo birra, mas nenhum dos dois parece ligar para o meu drama.
— Opa, pera aí! Com quem aprendeu a falar palavrão, mochinho? — se vira para me olhar de repente, com ambas as mãos apoiadas na cintura.
— Com você — dou de ombros e começo a vestir meu moletom favorito.
— Sério, Jin, você tem que parar de falar palavrão na frente dele. O Hobi parece um papagaio que repete cada caralho de palavra — Dami se levanta da pilha de roupas e bagunça tudo mais ainda quando parece caçar algo.
— Nem vem, você é a primeira a ser boca suja.
— Será que vocês podem calar a boca?! Tô tentando concentrar minhas energias para ficar calmo — eles nem sequer dão bola e voltam a fazer o que quer que seja.
É assim todas as vezes que preciso ir até um lugar com muito barulho e pessoas, suar frio e tentar inspirar e expirar com calma, mesmo sendo praticamente inútil tentar me acalmar.
Músicas ou barulhos altos e irritantes, me deixam totalmente desconfortável e inquieto. Além do pouco espaço e falta de respeito em um ambiente cheio de pessoas.
— Nem pensar que você vai com essa coisa feia — Jin puxa o moletom de meu corpo com brutalidade e joga em um canto qualquer do quarto, me deixando com o tronco nu novamente.
— Ei! Não é feio — formo um bico involuntário nos lábios.
— Toma, veste isso — a garota joga para mim uma camisa social branca.
Abotoo toda a camisa e a deixo para fora da calça. Finalmente vejo Jin tirar algo de dentro da mochila, algo com várias tiras de couro e argolas de metal, e se aproximar de mim.
— Mas que coisa estranha é essa? — junto as sobrancelhas, confuso com o que é isso tudo.
Sem dizer nada, o mais alto envolve meu tronco com as várias tiras de couro, por fim, prendendo-as em minhas costas. Então, ele me vira em direção ao espelho, me fazendo comtemplar a imagem de minha roupa.
— Combina com você — ele sorri orgulhoso por seu trabalho, dando um tapinha em minha bunda antes de se afastar.
— Esse negócio é tão apertado... — reclamo pelo aperto em meu tórax, mesmo não sendo tão grande assim.
Eu adoro um drama. Vai dizer que vocês também não gostam?
— Porra, você reclama de tudo, hein — Jin revira os olhos e volta a guardar suas coisas na mochila — Temos que ir. É melhor chegarmos cedo para não pegarmos uma fila enorme.
— Vou deixar vocês lá e voltar para a lanchonete. Meu turno é daqui a pouco — a garota procura sua jaqueta preta e calça seus tênis, depois de levantar, com muita dificuldade, de minha cama — Tenho que trabalhar, né... Ou o meu carro já era... Queria tanto ser rica... — resmunga e gesticula com as mãos enquanto começa a andar para fora do meu quarto.
— Você é o nosso Uber particular, de jeito nenhum pode perder esse carro... — Jin vai logo atrás dela com sua mochila nas costas — Nem que pra isso você tenha que se vestir de frango e ficar dançando a música da lanchonete lá na frente. Se bem que você já é bem galinha, né, Lee Yoobin?
— Vai se foder! E não me chame pelo nome, filho da puta! Sabe que eu não gosto... — ela diz, já longe. Então, os dois saem discutindo e se xingando.
Com os dois, provavelmente, já pegando o elevador, observo minha imagem através do espelho mais uma vez: meus cabelos ruivos perfeitamente alinhados, a maquiagem leve que Dami fez em mim logo depois que acabei meu banho e esse negócio de couro contrastando com minha camisa branca e calça preta.
Hmmm, parece que não estou tão mal assim, hein... Eu usaria essa coisa couro mais vezes. Me deixou gostoso e eu achei linda — apesar do estranhamento inicial.
Eu deveria comemorar, já que na maior parte do tempo minha autoestima é baixa...
Depois de me admirar por mais alguns segundos, calço meus coturnos, pego meus óculos, passo perfume, pego celular e chaves, e claro, meu moletom.
Tiro algumas selfies e fotos de corpo inteiro no espelho, escolho três rapidamente e posto no Instagram com algum emoji aleatório, para finalmente sair de meu pequeno apartamento, pegar o elevador e ir em direção ao estacionamento.
— Esse seu perfume doce da porra sempre fica impregnado no meu carro — ouço mais uma das reclamações da garota assim que entro nos bancos de trás do carro.
— Nossa, sim. Me dá até dor de cabeça — Jin, que está no banco do carona, diz e eu posso jurar que ouço seus olhos revirando.
— Ultimamente vocês estão insuportáveis, hein — reclamo, vendo os dois dando de ombros ao mesmo tempo antes de Dami sair com o carro da garagem.
O caminho é silencioso, acompanhado da música baixa no som, o que surpreendentemente é o que fazemos sempre que andamos de carro, gostamos de curtir mesmo o menor caminho. Olhando para o céu estrelado através da janela, sinto o frio causado pelo ar-condicionado ligado e minha camisa relativamente fina, então, visto meu moletom quentinho.
A partir de um certo momento os estabelecimentos começaram a ficar com a mesma cara: letreiros neons, luzes coloridas escapando do interior das boates e filas enormes se formando no lado de fora.
A de cabelos azuis para o carro em frente a, aparentemente, maior boate de todas que vi ao longo do caminho. A fachada é totalmente escura, com um letreiro enorme escrito “Sweet Candy” com letras bonitas e em um rosa forte.
— Vocês arranjem um jeito de voltar para casa — a que dirige diz impaciente depois de conferir as horas no painel do carro, olhando para o loiro já fora do carro e em seguida para mim, me apressando com esses olhões grandes — Merda... tô atrasada de novo — salto para fora do veículo e aceno fraco para ela, que apenas mostra o dedo do meio e vai embora.
Aaaaah, como a amizade é linda...
— Ah não — mais uma vez o loiro faz a típica pose com as mãos na cintura, me julgando completamente — Você já tá com essa coisa horrorosa de novo?!
— Primeiro: meu moletom não é horroroso — imito sua pose engraçada — Segundo: eu não ia sair na rua com esse negócio estranho em mim — aponto para a coisa de couro em mim.
— O nome é harness, Hobi — bufa irritado.
Seokjin me leva até a fila na lateral da boate e me empurra de leve para que eu entre na mesma. Sinto olhares me queimando e quando olho em volta percebo que sou o pontinho azul com branco no meio de tanta gente.
Eu não ligo... Meu charme é o moletom fofinho que tanto amo!
Mas pensando bem, todas as pessoas aqui nessa fila usam sobretudos, jaquetas ou robes — na cor preta ou em tons escuros — para esconder as roupas e eu aqui com um moletom com gatinhos estampados.
Mesmo assim eu não ligo!
— Jinie... Como você tem esse negócio de harness? E como conhece esse lugar? Por acaso você já veio aqui?! — pergunto curioso depois de um tempo refletindo sobre essas perguntas em minha mente, enquanto a fila anda vagarosamente.
— Eu sou um homem experiente — se gaba ao meu lado na fila, só para certificar que não vou correr e voltar para casa.
Mesmo confuso com sua fala, minha vez na fila começa a chegar sem que eu perceba, e é quando vejo que sou o próximo que lembro que não trouxe nenhum dinheiro e mesmo se trouxesse, provavelmente não seria suficiente, já que esse lugar parece extremamente caro.
— Jin... Acho que você esqueceu da parte que tem que pagar... — olho para meu amigo e sorrio forçado.
— Ih... — ele levanta as sobrancelhas e arregala os olhos — Esqueci desse detalhe.
— Pera aí... — apalpo os bolsos da calça, então percebo que é minha vez na fila e me atrapalho todo — Só um minutinho, moço — peço ao homem sorridente que usa uma máscara cobrindo todo o rosto, roupas de couro e está com um ipad em mãos — Tem dinheiro aqui! — digo animado para Seokjin depois de enfiar minha mão no bolso e sentir uma nota meio amassada — Ah, são só dez reais — murcho.
A animação em achar dinheiro foi tamanha que esqueci que nem sequer quero entrar nesse lugar. Mas, ver meus preciosos, mas insuficientes, dez reais é o lembrete de que ainda posso fugir.
— Mesmo que tenha dinheiro, você não está com roupas adequadas, ruivinho — viro para olhar o homem ainda com uma expressão simpática.
— Mas... — seguro na barra do moletom e o puxo para cima
Ele me olha por alguns segundos e parece se surpreender, não comigo, mas com algo além de minhas costas. Aproveito sua distração, para virar e procurar Seokjin, que por acaso já sumiu, mas, quase dou de cara com dois homens que passam bem próximos a mim e vão direto ao que recepciona. O mais alto dos dois diz algo próximo ao ouvido dele e segue para dentro, com o mais baixo logo atrás.
— Senhores — cumprimenta com respeito antes dos dois entrarem dentro da boate — Deu sorte ruivinho, sua entrada foi liberada por ninguém mais, ninguém menos que o Senhor V e o Senhor Suga.
— Quem? — franzo o cenho, já que nunca ouvi esses nomes que, aparentemente são bem famosos.
Ambos usavam sobretudos e devido a baixa luz não vi seus rostos. Mas, se pelos nomes eu não os conheço, não é pela aparência que vou conhecer. Não costumo conhecer muita gente.
— Logo saberá. Quando entrar, deixe seu moletom na entrada — ele aponta com olhos para a entrada, claramente me apressando.
Mesmo nervoso, uma súbita curiosidade me atinge. Se dois homens estranhos liberaram minha entrada na boate, eu tenho que pelo passar da porta e ver do que se trata, não é? Bom, essa é a única desculpa para eu não sair correndo daqui.
Depois de suspirar profundamente, passo pela porta a passos lentos, encontrando logo na entrada um grande armário sem portas e com vários tipos de casacos pendurados alinhadamente em cabides. Mesmo com medo de deixar meu precioso moletom aqui, o arrumo em um cabide e o coloco no meio dos outros, retirando meus óculos no processo e os guardando no bolso com cuidado.
Sigo por um longo corredor estreito até chegar ao grande espaço da boate, sentindo a música alta vibrar por meus ouvidos e as luzes coloridas brilharem sobre mim. Avalio o lugar, começando a estranhar os borrões que a infeliz miopia proporciona, então ponho de volta os óculos e meus olhos quase saltam das orbitas quando vejo o que acontece aqui.
Parece que vim parar em um universo paralelo...
| Continua |
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