POV Lydia
Todas as noites ela chorava e todas as noites eu via-me a pedir-lhe desculpa sabendo que eu era a principal responsável por ela estar naquele lugar.
-Tessa… - chamo-a num sussurro não tendo a certeza se Scott estaria por perto, eu fui perdendo a noção do dia e das horas naquele lugar, sem haver uma janela para ver o sol a nascer e a pôr-se ajudava nessa tarefa.
O soluço que escapou em resposta deu-me a entender que estava na sua fase do choro, aquela em que ela em poucos instantes estaria a falar dos seus filhos e do seu marido.
-Jaime deve estar a perguntar-se porque é que eu não o tenho deitado na cama e despedido dele com uma prece de sonhos bons. - e ali estava, tal qual como eu tinha previsto, a voz de Tessa mantinha-se num tom baixo e pouco a pouca ela interrompia-se a si mesma para libertar um dos seus soluços.
Soltei um suspiro encarando o teto por cima de nós, a escuridão voltava a dominar aquele sitio impedindo-me de ter qualquer visão se não aquela que os meus olhos conseguiam apanhar. Scott ia e vinha, deixava-nos comida e água só para nos poder torturar um pouco mais, por vezes mantinha-se alguns minutos aqui só para poder saborear uma conversa que nunca lhe era dada de boa vontade.
Ele dera a entender que Malia estava à minha procura, que Stiles sabia da minha situação, mas que nada podia fazer porque uma vez mais tinha feito um acordo com o Scott e desta vez Scott ia leva-lo à risca independentemente daquilo que arriscaria.
-Bom dia meninas! - a voz de Scott chega aos meus ouvidos num tom humorado, no mesmo tom que tinha vindo a usar naqueles últimos tempos.
Eu sinceramente já tinha perdido a conta dos dias em que estava ali presa.
Uma luz ofuscante feriu os meus olhos obrigando-os a semicerrar por apenas alguns instantes, mas rapidamente obriguei-me abri-los quando ouvi um grito vindo de Tessa.
Levei algum tempo a perceber o que se tinha acabado de passar. A primeira coisa que me apercebi foi do sangue que pintava o chão que não estava ali até à um momento, a segunda foi a cadeira caída de Tessa com ela a soltar gemidos de dor.
Olhei chocada para Scott, mas a atenção dele mantinha-se presa no corpo de Tessa ao mesmo tempo que mantinha uma arma apontada na direção dela.
-Scott... - chamo-o num sussurro não tendo muita a certeza quando é que eu tinha tomado a decisão de fazer isso.
Os olhos dele desviaram-se para mim e deu para ver um brilho no mesmo que antes não estava ali. O brilho que uma pessoa tinha quando tinha acabado de fazer que há muito tempo fazer, algo que a pessoa amava fazer.
Engoli em seco torcendo as mãos numa tentativa de me libertar, mas as cordas mantinham-se bem apertadas impedindo que qualquer movimento fosse feito.
-Eu acertei-lhe na perna. - pronuncia-se finalmente Scott como se aquela fosse uma informação desinteressante.
Um sorriso surgiu nos lábios do moreno segundos depois antes dele voltar a olhar para a Tessa e fazer miragem com a arma. Antes que eu pudesse impedir-lhe já ele tinha voltado a disparar e dois gritos surgiram naquele lugar, um mais alto que o outro, mas depressa demais foram silenciados pelas gargalhadas do McCall.
-Isto é divertido! - solta Scott voltando a guardar a pistola, em pouco tempo ele tinha levantado a cadeira com Tessa ainda presa à mesma.
Por aquela altura, o rosto de Tessa estava banhado em lágrimas, dava para ver o sangue acumular-se nas suas calças.
Era muito sangue!
-Tu és doente! - é a única coisa que sou capaz de fazer antes de cuspir no chão.
-Só agora é que te apercebeste disso? - questiona Scott antes de piscar-me um olho como se aquilo não passasse por mais uma das suas provocações. -Sabes, Stiles tinha razão desde do inicio. Ele falou-me que os nossos destinos estão escritos desde que nós nascemos, uns estão fadados a serem inferiores e outros superiores. É fácil adivinhar qual é o meu lugar na hierarquia certo?
-Tu não precisas de ser essa pessoa, nós escrevemos os nossos próprios destinos. - declaro não conseguindo entender como é que uma pessoa pode ter tanta baixa auestima como Scott tinha, algo lhe tinha acontecido para ele se transformar na pessoa que era.
-Não! - o grito que Scott libertou faz-me saltar no lugar e deixar lágrimas, que não tinha percebido que prendia, libertarem-se. -Isso não acontece dessa forma.
-Scott...
-Eu estou fadado desde que eu nasci. - aquele sussurro não era para ter sido ouvido por mais ninguém do que o Scott, contudo ele não tinha sido baixo o suficiente.
-O que é que isso significa?
O olhar perdido de Scott focou-se rapidamente em mim, era um olhar desesperado e ao mesmo tempo de tristeza.
-Nada... Não é para significar nada.
Scott abanou a cabeça como se tentasse afastar de pensamentos que não deviam ter surgido na cabeça e logo de seguida, antes de eu poder digerir tudo o que tinha acabado de acontecer, um novo sorriso sádico estava nos seus lábios.
-Lydia é verdade que tens o curso de primeiros socorros? - a pergunta de Scott surpreende-me em especial porque essa era uma informação que eu nunca tinha dado em entrevistas.
-Sim, desde que o meu pai morreu que eu tenho curiosidade a cerca do que se pode fazer a vida de alguém.
-Já o fizeste? Salvar a vida de alguém? - questiona Scott aproximando-se de Tessa e pousando uma mão no ombro da mesma fazendo estremecer todo o corpo da ruiva.
-Não. - a minha resposta é hesitante, olhava para Scott desconfiada sabendo que tudo o que ele dizia tinha que significar algo mais.
O sorriso de Scott pareceu a largar-se com a minha resposta e antes de eu poder prever aquilo que estava para acontecer, o McCall sacou de uma faca de caça que eu nunca me tinha apercebido que tinha com ele e cortou a lateral do pescoço de Tessa.
Em poucos segundos toda a blusa da mesma estava manchada em sangue.
-Podes me mostrar os teus talentos de cura. - revela Scott atraindo-me para fora do choque ao surprender-me ao cortar as cordas em voltas dos meus pulsos e das minhas pernas.
Encarei-o sem saber muito o que fazer, eu nem tinha notado o momento em que ele se aproximou de mim.
-Quanto mais tempo estás aqui menos probabilidades tens de a salvar.
As palavras de Scott são o suficiente para me despertar do estupor e fazer-me sair de uma vez da cadeira, tudo para eu me ajoelhar à beira de Tessa e manchar as minhas mãos com o seu sangue enquanto fazia pressão na zona atingida.
-Algo me diz que isso não é o suficiente para a curar. - afirma Scott fazendo um barulho com a sua língua ao mesmo tempo em que se ocupava de limpar a lâmina da faca a um pano velho esquecido naquele lugar.
-Eu preciso dos instrumentos especificos.
-Tens aqui uma caixa de primeiros socorros, é a única coisa que vais receber. - declara Scott lançando-me a caixa com o seu pé.
Encarei por algum tempo o rosto de Tessa que mantinha os seus olhos arregalados fixos em mim, eu via pequenas lágrimas a caírem no chão enquanto aos poucos a sua face ia perdendo a sua cor natural.
Arriscando a manter a pressão só com uma mão, dirigi a outra para a caixa tentando abri-la numa única tentativa. Após três tentativas falhadas, a tampa da caixa cai num banque surdo e enquanto eu sentia os olhos de Scott presos em mim procurei por algo que pudesse suster a vida de Tessa por mais algumas horas.
-Tu só tens aqui pensos e ligaduras! - grito lançando a caixa para longe de mim, a raiva estava a começar a dominar-me assim como a frustração.
-Achavas mesmo que eu te ia dar algo que pudesses utilizar para fugir daqui? - questiona Scott antes de abanar a cabeça negativamente como se não acreditasse na minha linha de pensamentos.
Agarrei na primeira coisa que me chegou à mão percebendo mais tarde que era uma ligadura que nada me podia ajudar naquele caos.
-Tessa... - chamo-a quando vejo os seus olhos a quererem-se fechar. -Tessa!
-Estou cansada. - ela é capaz de falar num murmúrio obrigando-me a bater-lhe na face fazendo-a abrir os olhos com brusquidão.
-Eu sei, mas não te podes vencer!
Tessa resmungou algo e voltou a fechar os olhos fazendo com que o desespero voltasse a chegar até mim. Pressionei com mais força a ferida, mas por aquela altura não havia do que se fazer, o sangue ensopava a ligadura como se fosse um pano velho.
O cheiro a cobre do sangue invadia-me fazendo-me lembrar dos enjoos que eu sentia sempre que sentia o cheiro a sangue.
-O teu plano era eu nunca salva-la! - pronunciou-me chegando finalmente àquela conclusão, olhei para o Scott que em algum momento tinha aproveitado para ocupar a minha cadeira.
-Agora sabes como é ter sangue de inocente nas tuas mãos. - esclarece simplesmente Scott fazendo-me voltar a olhar para Tessa e perceber que ela tinha cedido de uma vez por todas.
Ela nunca mais veria o seu filho!
-Bastardo! - grito num ataque de raiva, levantando-me e lançando-me na direção de Scott, mas antes da minha mão poder tocar em alguma parte do seu corpo senti algo duro tocar na minha têmpora.
A sensação de uma arma na minha cabeça não me era estranha, mas era algo que eu dispensava que se começasse a tornar familiar.
-Vamos dispara! Acaba de uma vez com isto! - falo num ápice sabendo que eu não tinha mais nada a perder, a culpa começava a chegar até mim.
-Não me parece ruiva... - solta Scott enquanto dava a volta ao meu corpo e prendia as minhas mãos atrás das costas só com uma única mão, o cano da arma continuava encostado à minha cabeça. -Nós ainda temos tantos para fazer.
Quando estava seguro de que as minhas mãos estavam presas ele guardou finalmente a pistola. Não levou muito tempo para eu voltar a estar presa à cadeira agora com o corpo morto de Tessa à minha frente.
Senti um nó a formar-se na minha garganta enquanto via aquilo que eu podia ter feito caso tivesse aquilo que era necessário para lhe salvar a vida.
-Nós vamos divertir-nos tanto agora!
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