JUNE
Paris, France. 2019.
Quando voltei para meu quarto naquela noite de natal, a única coisa que ouvi foram os gemidos no quarto vizinho; o de Lena. Deus, eles pareciam coelhos.
Nem eu e nem Júnior comentamos nada do que houve naquela cadeira e eu o agradeci por isso. Não sabia que diabos tinha rolado ali e sinceramente tinha medo da resposta.
Não podia, não quero, saber.
O ano novo estava chegando e Júnior não para de me pedir para ir com ele ao Brasil junto da família. Juro, se eu o ouvir falar mais uma vez da Bahia o enterro na grama do quintal.
— Oi, Junezinha do meu coração! — Rafaella pula no meu quarto, levantando meu olhar do laptop a vejo sorrindo largamente.
— O que você quer?
— Nossa, que grossa — ela se coloca a minha frente, cruzando os braços. — Vim te chamar para ir ao Brasil com a gente.
— Nossa, mas é bem perto o Brasil né?! Tinha esquecido que eram apenas dua horas de distância daqui! — debocho.
— Para de drama e vamos logo! — a loira bate o pé, como uma menina mimada. — Por favor, June! Vai ser legal ter você lá comigo e a Thaís! Seremos as únicas mulheres.
— Ah jura?
— Bem, pelo menos na casa, porque na festas... Enfim, você entendeu — faz um bico. — Até o Lucca vai!
— E a Carol?
— Ela vai ficar com o marido né — diz o óbvio. — Além do mais, o Valentin é muito pequeno para ir pro que nos espera.
— Ah — estalo a língua. Eu havia me esquecido do pequeno Valentin.
— Mas eu sequer planejei minha mala! Não tenho biquíni para ir ao Brasil — aponto para as bagagens no canto do quarto. Eu tinha ido mais cedo ao meu apartamento pegar umas roupas de frio, alguns bons casacos e botas. Eu pretendia passar o Ano Novo bebendo chocolate quente enquanto encarava a Torre Eiffel da janela do meu quarto, no meu apartamento.
Eu sequer poderia mensurar o quanto estava ansiosa para ficar longe de Júnior e o mar de confusão que ele me coloca.
— Eu te ajudo a fazer sua mala! Te dou alguns biquínis novos que não usei e, quando chegarmos ao Brasil, compramos ainda mais outras peças — ela sorri gigante. Eu iria ceder... Droga!
— Minha roupa da virada do ano seria um pijama bem confortável — choramingo.
— E agora vai ser um vestido branco bem decotado com rasteirinha e óculos de sol! — ela pula animada na cama, me fazendo rir do seu entusiasmo. Se eu aceitasse, já estava automáticamente assinado a minha sina de virar um camarão em solo brasileiro. Ew.
— Tudo bem, você me convenceu.
— ISSO! — grita. — Partimos hoje a noite, pela madrugada.
— O quê?!
— Depois eu venho te ajudar com as suas malas, vou terminar as minhas — e Rafa simplesmente sai, me deixando encabulada em como os Santos são bons de lábia!
Por sorte (ou azar), nós conseguimos arrumar as minhas coisas a tempo e às 3 da manhã estávamos embarcando para o Rio De Janeiro, onde os pais de Júnior ficariam para poder irem a Mangaratiba. Seja lá aonde fica isso.
Com Lucca o tempo todo ao meu lado, o jogador apenas me provoca de longe durante a viajem, o que me fazia querer esmagar sua cabeça no batente do jatinho. Ao embarcamos na cidade do Cristo, me vi encantada pela paisagem maravilhosa, mesmo a noite.
Eu já tinha vindo ao Rio, para a final da Copa de 2014. Eu e meu pai não perdíamos uma. Assim como no Super Bowl. Torcemos para a Alemanha porque meu pai é um super fã do Toni Kroos.
Deixamos os pais de Júnior no hotel e então seguimos de volta ao aeroporto quando recebemos a notificação de que já tinham abastecido o jato. Aproveitamos o caminho para pegar alguns outros dos amigos de Neymar.
Gil e Gui já estavam conosco. E então se juntaram Gabriel, Raphael, os Lucas, Léo, Gus e Bruno. E claro, Thaís; a terceira e última mulher que ficaria na casa. Ela é esposa do Gustavo.
Nossa ida para Bahia foi até que divertida, os meninos eram engraçados e eu logo me simpatizei com Thaís. Lucca dormia com a cabeça no meu colo enquanto jogávamos UNO e os meninos papeavam sobre esportes.
Assim que chegamos, todos concordamos em dormir, porém a tarde, já estávamos todos na praia. Os adultos embaixo de uma barraca com um bar emprovisado e Lucas C. como bartender. As crianças na água e na areia.
E eu embaixo de um guarda sol, lendo um livro deitada sob a toalha. Eu sou extremamente branca, não fico bronzeada, apenas queimada. Não tive sorte de ter uma genética que me permitisse melanina.
Mesmo assim, eu usava um biquíni por debaixo do short e regata. Além de bastante protetor solar.
— Tia June! — ouço o grito do loirinho de olhos verdes e sorrio para Lucca, que corria em minha direção. — Vem brincar com a gente na água, tia.
— Oh querido, não estou...
— Por favor, precisamos de alguém para ser nosso goleiro na trave inflável — aponta.
— Tudo bem, vamos lá — eu suspiro, largando o livro cuidadosamente em cima da cadeira e retirando a regata, seguida do short.
Corro com Lucca em direção a água e mergulhamos, o contato frio da água foi refrescante. Emergi a tempo de ver Lucca e o amigo tentarem me agarrar.
Brincamos até meu corpo cansar, pedindo por uma Coca-Cola geladinha. Avisei os meninos que iria para a área dos adultos e eles acenaram. A babá deles estava afastada, na areia, sorri para ela ao passar pela mesma.
Assobios nada discretos dos rapazes me faz revirar os olhos e rir da palhaçada deles.
— Deus no céu e June na terra — Gil elogia, erguendo sua latinha.
— Gata, desse jeito o pai aqui fica até fraco — gargalho de Bruno, que sorrira cafajeste.
— É sério que vocês conseguem mulheres assim?! — brinco, me aproximando do bar e me inclinando na direção de Lucas. — Me vê sua latinha mais gelada de Coca.
— O que você quiser, morena — pisca.
— Mas sério, June, como pode ser tão bonita? — olho para Bruno ao meu lado e rio.
— Obrigada, mas é um segredo de estado — pisco de volta, pegando minha lata geladinha e um canudo, agradecendo Lucas.
— Sai de cima, abutre — Gabriel empurra o Youtuber para o lado e sorri galanteador. — E aí?
— Vem sempre aqui? — entro na onda, o fazendo rir. Olho de relance por trás dele e vejo o olhar de Júnior queimando nas costas do surfista. Coitado de Medina se a força daquele olhar realmente queimasse.
— Sabe, meu grande amigo Ney é meio lerdo — ele cochicha.
— Ah jura? Nem tinha percebido — debocho, sugando um pouco da minha bebida. Estava tão boa que causava arrepios.
— Enfim, eu e toda a galera aqui já percebemos que ele está afim de uma garota — meu corpo pareceu endurecer na hora. Quem diabos ele estava se referindo?
— E? — perguntei fingindo indiferença.
— E ela é uma morena igualmente lerda — sua boca estala. — Mas não se preocupe, nós vamos dar um jeito nisso.
— Nós?
— Sim, inclusive, preciso que você venha comigo — ele estende a mão. Eu hesito por um instante, mas a curiosidade me vence e aceito-a. Medina me guia de volta para a casa principal. Fiz um esforço fenomenal para ignorar os olhares em nossas costas. Andamos calmamente pela propriedade alugada. — Sabe, é bem interessante ver meu amigo caidinho por alguém. Ainda mais depois de tanto tempo de cachorrada.
— Deve ser um choque — não sei porque, mas o deboche que sai da minha boca está mais ácido que o natural. Gabriel apenas ri.
— E foi para mim, até vê-la pessoalmente e conhecê-la mais de perto — conta. — Ela é o extremo oposto de todas as garotas que já vi com ele. É incrível como eles combinam mesmo com toda as brigas deles.
Eu paro um instante, o olhando. Estávamos na cozinha e Medina abria a geladeira para pegar água.
— Aonde você quer chegar, Gabriel?
— Que você e ele deveriam ter mais vergonha na cara e admitirem logo que se gostam — opina, servindo a água no copo. Estou travada, sem saber como reagir. Estava tão óbvio assim? Quer dizer, o que diabos estava óbvio para eles que não estava para mim em relação a Júnior? — E não me olhe assim, você sabe que é verdade.
— Só quero entender...
— O quê? Que todo mundo consegue sentir essa tensão sexual gritante de vocês dois? Dá até agonia — ele faz uma careta. Me sento na bancada e bufo, balançando as pernas. Me sinto uma idiota adolescente. Quando eu desaprendi a disfarçar? — Você é tão fofa!
— Vai se danar!
— E grossa — ele ri. — Sabe, acabei de ver uma coisa na janela.
— Tomara que seja a Beyoncé — murmuro, ainda encabulada com a sua revelação.
Mas Medina não diz nada, apenas se aproxima e me enrola em seus braços. Seu corpo está próximo e isso me deixa estática por um instante. Porém, quando penso em chutar suas bolas, ele sussurra:
— Ao menos finja retribuir — e então ele beija meu pescoço. Seus lábios refrescantes encostam na minha pele enquanto suas mãos no meu corpo parecem indecentes, mas não me apertam nem nada. Que porra...?
— Uh-hum — ouço um pigarreado forte e imediamente reconheço de quem veio. Oh, merda.
Júnior.
Droga, Medina, mil vezes droga!
Se você vai me provocar... Vá em frente e me provoque — Tease Me, Ke$ha.
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