História Symphony - A Sandália, a Semi-Lésbica e o Namorado

 

Nós tivemos que ir em dois táxis separados já que não havia espaço para todos, então eu fui em um separado com a Rosa. Eu tentei puxar assunto com ela durante o caminho, mas ela não estava com muita vontade de falar e deitou a cabeça no meu ombro, o corpo dela parece fraco, mais frio do que o normal.

Eu encostei a minha cabeça na dela e comecei a passar a minhas mãos levemente pelo braço dela, ela estava bastante calma e eu apenas descobri que ela tinha adormecido quando chegamos no shopping, eu a chamei e ela demorou a responder, levantando a cabeça levemente com os olhos semi-abertos vermelhos de sono.

 

— Se você quiser podemos voltar para a sua casa - Propûs

 

— Não, eu quero ficar com você, eu não quero me trancar no quarto - Ela respondeu rapidamente ao mesmo tempo que esfregava os olhos

 

Assenti e saímos do carro, eu paguei o taxista e fiquei com a Rosa esperando os outros chegarem, o que não demorou, pois o táxi que estava atrás de nós era onde eles se encontravam.

Eles saíram do carro animados e se juntaram a nós. Entramos no shopping sem saber para onde ir, então paramos para ver a hora do cinema e descobrimos que ainda faltam duas horas para a sessão começar.

Resolvemos começar a passear até achar algo interessante para fazer até lá.

 

— Credo, parece que a Bia tá colada na Daniela, eu nem sei como a Dani não tá incomodada - Pensei, enquanto observava a Dani ao meu lado com uma cara entediada

 

— Eu já to acostumada - Ela disse como se tivesse lido os meus pensamentos

 

— Como é que você...? 

 

— É que você não para de olhar - Ela respondeu antes que eu terminasse a minha pergunta e deu de ombros

 

— Daniii, vamos naquela loja - A Bia não esperou a Dani responder e já foi puxando ela até uma loja de pelúcias

 

Eu olhei para trás procurando os outros e vi que o Fabras e a Rita estavam tentando animar a Rosa que sorria timidamente.
Parei, esperando eles andarem até mim.

 

— Sapatona, eu e o Fabras vamos comprar os bilhetes e depois vamos a uma loja de eletrônicos porque o Fabras quer ver umas câmeras, então... - A Rita disse e depois fez um sorriso fofo - Se divirtam e até já!

 

Ela saiu puxando o Fabras que quase tropeçou e embateu várias vezes contra as pessoas pelo caminho.

 

— Cuida bem da Sandália! - Ele falou rápido enquanto se afastava de nós e eu comecei a rir muito alto

 

Esse filho da puta tinha que me fazer rir numa hora dessas, tanto nome e ele resolve dizer logo Sandália? Puta que pariu!

Eu estava rindo tanto e tão alto que várias pessoas começaram a me olhar, mas eu não me importei, a 'Sandália' começou a olhar para os lados como se não me conhecesse, completamente envergonhada pelo meu riso de foca com ataque epilético.

 

— Anh... Sky..? Porque você tá rindo? - Ela perguntou um pouco corada

 

Eu apenas comecei a rir mais pensando em como ia explicar isso da Sandália sendo que não faria sentido algum na língua dela.

 

— Não é nada de m... - Eu comecei a rir de novo, eu sou muito idiota por rir de algo assim mas eu adoro quando fazem isso com os nomes

 

— Você tá tendo um ataque de risos! - Ela colocou uma mão no topo na minha cabeça tentando me acalmar

 

— To mesmo - Eu disse um pouco mais calma, limpando as lágrimas que apareceram nos meus olhos de tanto rir, até a minha barriga está doendo

 

Ela gargalhou baixo olhando para a minha cara, só de olhar pra cara da Rosa e lembrar de Sandália eu já quero começar a rir. Porque tipo, sandália parece Rosalya e o Fabras só faz idiotices desse tipo então saiu a palavra sandália e... É melhor eu parar de explicar porque tá me dando vontade de rir de novo e eu não quero passar mais vergonha hoje. Beijos, falou, fui.

 

— Skyllar eu vou jogar água em você se não parar - Ela riu baixo pegando a garrafa de água que estava na bolsa dela

 

— NÃO - Eu comecei a me afastar dela, ainda tentando parar de rir - CALMAAAA!

 

Ela fez menção em jogar água e eu desviei como se fosse uma ninja da Aldeia da Folha.

 

— O que foi isso? - Ela tapou o rosto com uma das mãos e começou a gargalhar

 

— Eu sou a Naruta, beijos - Passei por ela dando beijos no ombro e ela riu mais ainda, fazendo menção mais uma vez de jogar água

 

É tão bom quando uma pessoa ri com as idiotices que você faz... SANDÁLIA, ai minha barriga, deuses, alguém me ajuda.

 

 

Vinte minutos depois eu estava completamente recuperada do meu ataque de risos, mas sério tinha que ser logo Sandália? Tá bom, eu já parei mas ainda quero rir mais.

Como não temos nada para fazer, eu levei a Rosa para a mesma loja de pelúcias que a Dani foi, mas não encontrei elas lá, provavelmente já estão com os outros.

 

Eu e a Rosa ficamos olhando alguns e eu me apaixonei por uma pantera grande negra, me lembrei de Carmilla e aposto que se a Dani também viu, ela se lembrou do mesmo.
Nós passamos por um corredor cheio de ursos e eu notei que havia uns em uma prateleira que são iguais ao que a Rosa me deu.

 

— Foi aqui que eu comprei o seu presente de aniversário - A Rosa disse

 

— Eu notei, calma que eu não queimei ele - Eu ri e acabei me lembrando de coisas a mais

 

Nós passamos por mais um corredor em silêncio e eu senti obrigação de falar como eu estava me sentindo.

 

— Sabe, eu ainda me sinto mal por tudo o que disse para você - Abaixei a cabeça, tentando não lembrar as coisas que disse a ela quando estava de cabeça quente

 

— E eu ainda me sinto mal por tudo o que eu fiz com você e com os outros - Ela admitiu, com uma expressão séria

 

— Você foi praticamente obrigada e estava com medo, eu te entendo e sei que os outros também - Disse a verdade, o que eu mais quero é que ela entenda que não tem culpa de nada

 

Ela continuou olhando para a frente sem reação.

 

— Eu acho que nós deveríamos começar de novo - Afirmei

 

— De novo? - Ela finalmente olhou para mim, o que me fez querer continuar falando

 

— Sim, esquecer de tudo de mal que aconteceu entre nós, vamos fingir que nada disso aconteceu, claro que vai deixar marcas e ás vezes lembrar vai nós deixar tristes mas agora tudo se resolveu da melhor forma possível e devemos apenas pensar nas coisas boas - Eu fiz um discurso como a Rita faz quando eu estou mal com alguma coisa

 

Ela me observou, escutando atentamente.

 

— Então - Eu parei e estendi a minha mão para ela - Eu sou a Skyllar Grace, e você?

 

Ela olhou para a minha mão e logo a apertou.

 

— Rosalya Byrne, como vai você? - Ela riu e eu me senti como se tudo de mal entre nós tivesse desaparecido finalmente

 

Eu coloquei as minhas mãos entrelaçadas por trás das costas e começamos a andar devagar pelo corredor.

 

— Vou bem, vim com o meu melhor amigo e as minhas melhores amigas que são um bando de pestes ver um filme de terror que provavelmente vai nos matar do coração, e você? - Disse ironicamente e ela sorriu mexendo a cabeça deixando uma mecha de cabelo cubrir uma parte dos olhos dela

 

— Vim ver o mesmo filme com a minha namorada

 

— Ah, então provavelmente vamos todos morrer do... Pera aí, o que? - Parei e olhei surpresa para ela

 

— Eu sei que acabámos de nós conhecer - Ela fez aspas com as mãos - E a minha vida tá uma merda, mas eu preciso de alguém para me animar e ficar do meu lado e prometo não magoar nunca mais essa pessoa

 

Eu estou completamente boquiaberta, eu não esperava uma declaração dela nem tão cedo.
A cada palavra que ela fala o meu coração derrete mais, eu sou muito apaixonada por ela, alguém me ajuda.

 

— Skyllar, você ainda quer tentar algo comigo?

 

POV. Dani:

 

— Dani, dá um beijinho no urso - A Bia não para de insistir para que eu dê um beijo na porra do urso que ela carrega nos braços

 

— Não - Respondi de forma seca

 

— Por favooooor - Ela abraçou o urso e deixou a voz mais fina que o normal

 

Eu já estava cansada da insistência dela e aproximei logo o meu rosto para dar um beijinho rápido urso, eu senti algo macio tocar os meus lábios, mas não é como a pelagem do urso, é molhado e doce.
Abri os olhos e vi que a Bia estava sorrindo.

 

— Porque você me beijou? - Toquei nos meus lábios levemente

 

— Não sei - Ela deu de ombros e estava com uma cara de cu sem saber o que fazer

 

Eu juro que não entendo a Beatriz ás vezes, sinceramente.

 

— Tá bom né, fazer o que... - Me virei de costas para ela tentando parecer normal e continuei olhando para as pelúcias nas prateleiras, uma mais fofa que a outra

 

— Dani, você quer uma? - Ela tocou no meu ombro e eu virei o meu rosto para ela

 

— Anh?

 

— Você. Quer. Uma. Pelúcia. Pra. Você? - Ela explicou pausadamente

 

— Não precisa - Dei de ombros e peguei o meu celular no bolso das calças

 

— Precisa sim, faz tempo que não estamos juntas e eu quero te dar algo que te faça lembrar de mim quando eu for embora - Ela segurou nos meus ombros me fazendo olhar para ela e sorriu enquanto falava

 

Pensar em a Bia voltar pra Portugal até me faz ficar triste, mesmo sendo muito estranha, carinhosa demais e infantil ao dobro, ela é uma boa amiga e eu senti falta delas por todos esses anos e quero que ela fique aqui por bem mais que um mês.

 

— Esse daqui combina com você - Ela sorriu mostrando uma pelúcia grande de uma pantera negra

 

— É fofo - Eu falei normalmente mas por dentro estou quase gritando por uma pelúcia dessas, me lembra Carmilla

 

— Então é seu - Ela se aproximou me oferecendo o peluche e eu o peguei com um pouco de receio de ela vir tentar me beijar de novo

 

Eu tenho quase 100% de certeza que a Bia gosta de mim, mas ela nunca admitiu isso, ela não é preconceituosa, adora segurar a minha mão, me beijar várias vezes, tá sempre dizendo que me ama, fica se declarando para mim e é como se ela me pedisse em namoro todos os dias só que sem dizer ''Você quer namorar comigo?'', e por mais que eu ame a Bia, eu nunca senti algo diferente por ela como sinto pelo Sérgio, eu amo o meu namorado e nunca traíria ele.

O Sérgio foi uma das primeiras pessoas que eu conheci quando cheguei que fosse português assim como eu e depois de um tempo começamos a ter uma relação cada vez mais forte até que eu pedi ele em namoro. Sim, fui eu mesma, ele é muito tímido para fazer algo assim e mesmo sabendo que podia levar um fora eu arranjei coragem e fiz o que eu mais achei certo na vida e até hoje não me arrependo, mesmo depois de todas as discussões que tivemos eu continuo amando ele e sei que a Bia nunca o vai substituir.

 

— Obrigada - Eu respondi a Bia depois de algum tempo e abracei a pelúcia que é maior que eu (N.A: Claro né, pequena do jeito que é, tudo é maior que você!)

Nós nos dirigimos ao caixa e ela pagou a pelúcia com um sorriso satisfeito no rosto. Como normalmente faz, ela agarrou o meu braço e saímos da loja.
Os outros não estavam por perto e como a minha barriga estava roncando, eu arrastei ela até o McDonalds e comprei lanche para nós duas.

 

— Danii - Ela me chamou com uma voz fina

 

— Hum? - Mordi o sanduíche esperando a resposta dela

 

— Você sabe que o que temos é especial, certo? - Ela estava com um sorriso bobo no rosto

 

— Como assim? - Franzi as sobrancelhas

 

— A nossa amizade, eu te amo e vou sempre te amar - Ela aproximou a mão dela e a colocou por cima da minha

 

A mão dela está quente, e eu não consigo parar de olhar para o rosto dela, parece que ela está apaixonada pelo o que está vendo.

 

— Oi Dani - Desviei o meu olhar da Bia e olhei para o meu lado esquerdo - Podes me explicar o que tá a acontecer?

 

O Sérgio está nos olhando com uma cara nada simpática, encarando a mão da Bia por cima da minha.
Agora eu tô fodida.

 

POV. Rita:

 

Eu e o Fabras estamos em uma loja de eletrônicos, ou melhor, eu estou, porque ele sumiu e eu não faço a mínima ideia de onde ele está e muito menos se ainda tá na loja.

 

— AAAAAAA EU JURO QUE QUANDO EU ENCONTRAR ELE, EU VOU... EU VOU... AAAAAAAAA AQUELE DESGRAÇADO - Comecei a resmungar alto mexendo os braços com raiva, com as nãos fechadas em punho

 

Até que eu senti alguém me abraçar por trás e tomei um susto.

 

— Ei garota - O rapaz me abraçou mais forte e pela voz eu soube logo quem era

 

Saí dos seus braços e me virei, ficando na ponta dos pés e passando os meus braços pelo pescoço dele, o cumprimentando com um beijo calmo.

 

— Isso é tudo felicidade por me ver de novo? - Ele passou os braços pelas minhas costas, me abraçando mais uma vez

 

— Sim - Sorri de orelha a orelha

 

Eu arranjei finalmente alguém pra minha vida e é melhor eu tratar ele muito bem porque acho difícil eu arranjar outro que me queira. Eu to rindo por fora, mas por dentro to meio que chorando.

 

— O que você está fazendo aqui? 

 

AAAAAAAAA O inglês dele com sotaque britânico é tão lindo, dá vontade de morder ele.

 

— Vim ver câmeras com um amigo e ver um filme com outros amigos - Respondi quando recuperei a minha sanidade em relação a voz e fofura dele

 

Sério, eu nunca vi um rapaz de óculos tão bonito.

 

— Um amigo é? - O sorriso brilhante desapareceu do rosto dele

 

— Sim, apenas amigo, não fique com ciúmes - Acalmei-o

 

— É claro que eu fico, com uma garota bonita como você por aí, acho bem difícil ele não querer nada com você - Ele disse segurando na minha mão e me levando para fora da loja

 

— Ah, pra uma pessoa que me chama de balde de merda, eu até acho possível que ele queira algo né? - Fiquei com muita vontade de responder isso, mas apenas ri pensando

 

— Não se preocupa - Apertei a mão dele e ele concordou

 

Nós começamos a conversar sobre alguns assuntos que não terminamos de falar quando estavámos na festa de aniversário da Sky, ele prende tanto a minha atenção que eu nem percebi o tempo que se passou.
Eu vi as horas quando ele pegou no celular para enviar uma mensagem e pulei da cadeira onde estava sentada quando vi que faltavam cinco minutos para o filme começar.

 

— Ai meu Deus, eu tenho que ir me encontrar com os outros! - Me despedi o mais rápido possível com um aperto de mão, um abraço e um beijo

 

— O que? 

 

— Te amo, até logo, até mais ver, bon voyage, arrivederci, até mais, adeus, boa viagem, vá em paz, que a porta bata onde o sol não bate, hasta la vista baby, escafeda-se e tchau! - Falei tão rápido que nem eu entendi direito o que disse e saiu quase tudo em português

 

Saí correndo até o cinema e olhei uma última vez para trás vendo ele todo desnorteado com os óculos quase caindo do rosto dele pelos meus atos desesperados.

Eu corri o mais rápido que pude, quase escorregando nas curvas apertadas e pulando os degráis na escada rolante, mas consegui chegar lá e vi que estavam todos juntos na porta do cinema, menos a Dani e a Bia.

 

— Então, prontos? - Perguntei ainda ofegante, quase caindo para os lados de cansada

 

— Porque você demorou tanto? - O Fabras perguntou com uma expressão super calma no rosto

 

— Porque você, seu filho de uma senhora que presta serviços a noite de doação de xana sumiu e me deixou plantada lá na loja sem saber o que fazer - Cruzei os braços e comecei a bater o pé no chão

 

— Problema 'ceo' - Ele fez um sorriso de deboche e eu bufei de raiva

 

— Vamos entrar logo - A Sky nos apressou e fomos atrás dela

 

— Ei Rita, espera! - Ouvi uma voz masculina familiar distante de nós

 

Olhei para trás e vi ele vindo na minha direção, chocando contra mim e me abraçando mais uma vez.

 

— Você nem se despediu direito, então eu vim atrás de você - Ele explicou também ofegante

 

Todos me olharam boquiabertos, principalmente a Skyllar que estava de queixo caído. E agora? Como eu vou explicar isso para eles?