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História Take A Chance On Me - O cinto de segurança deve estar afivelado durante o voo


Escrita por: Yel_eeteuk

Notas do Autor


Platão em sua obra "O Banquete" afirmava que "o que não se tem, o que não se é, aquilo de que se carece, esses são os objetos do desejo e do amor".
Essa frase se encaixa um pouco nesse início de história 83Line e nessa relação de opostos que precisam um do outro pra despertar aspectos próprios de suas personalidades e vontades que desconheciam. Esse capítulo aborda como o desejo aumenta quando o objeto de estima parece inatingível.

Espero que gostem!
Creio que essa fic tenha 11 ou 12 capítulos, organizando ainda! ^^

Capítulo 2 - O cinto de segurança deve estar afivelado durante o voo


Fanfic / Fanfiction Take A Chance On Me - O cinto de segurança deve estar afivelado durante o voo

O amanhecer, antes de qualquer viagem, sempre se torna uma bagunça inevitável, porque sempre existem tantos detalhes e pormenores pra organizar que mesmo após centenas de levantar e pousar de voos, ainda lançam dúvidas de “você trouxe todos os documentos!?” e bufadas na respiração de pessoas apressadas e sem muita boa vontade em perceber que o passaporte está na valise dentro da mala, debaixo do saco de meias.

Na confusão que se seguia a checagem dos materiais, o manager olhava para a minha roupa, entediado, talvez pensando em alguma piada que ele faria se esse fosse outro dia, mas hoje não, nessa manhã, ele estava cansado. Todos estávamos.

Subimos e descemos da van em silêncio, uma ou outra troca de palavras rápidas, entre bocejos e a constatação de que em breve nem óculos escuros conseguiriam esconder as olheiras de noites mal ou nem dormidas.

Encontramos dezenas e dezenas de fãs no aeroporto, sorri por trás da máscara, o barulho dos flashes eram similares ao farfalhar das asas de passarinhos, animando um pouco o clima e batendo com o tapete do cansaço na parede até que esse dissipasse, momentaneamente, na vibração do ambiente.

Talvez, porque o ensaio ontem tenha sido realmente produtivo, havia poucas conversas relevantes para se colocar em dia. Usualmente, Yesung era o mais entusiasmado, quase como uma criança que ficou presa em casa e pode, depois de muito tempo, voltar a brincar no parquinho, tudo o fazia rir, apontar e agir como um garoto inexperiente que nunca saiu da cidade ou viu uma esteira de bagagem, exigindo excessiva atenção dos demais.

Como um satélite, Yesung orbitava em volta de Leeteuk, brincando, sorrindo, mostrando fotos, contando uma história sobre um senhor com chapéu de marinheiro que ele encontrou na rua e uma outra conversa entediante que fazia o JungSu apenas balançar a cabeça, com certeza, dormindo de olhos abertos, mas receando ser rude com o dongsaeng que tanta o estimava.

Passei um tempo observando a cena e quando JungSu me flagrou olhando para eles, sorriu; ocorre que um sorriso brotar em seu rosto é muito fácil; tal qual rasgar uma roupa é mais fácil do que costurá-la. Saber dessa verdade pública, contudo, não impediu o meu coração de revirar no peito e se arremessar em direção ao começo da minha virilha. Sorri de volta, relutante. Kim Heechul não é dado a sorrisos antes das duas da tarde e eu ainda tenho(inha) uma reputação a zelar.

Na fila do check-in foi crescendo o entusiasmo e o falatório passou a ser sobre conhecer o estádio em que ocorreu um jogo que, ao que parece, foi importante, uma luta que ocorreria em breve, sobre o fato do Leeteuk ser o MC do Idol Athletic Championships porque não tem mais condição de fazer mais do que cinco agachamentos.

As risadas e implicâncias pairavam por trás das máscaras e os assuntos prosseguiam sobre temas dos quais eu nem podia fingir que me interessava. Odiava isso, como o JungSu sempre estava no centro e envolvido em coisas completamente opostas as que eu fazia ou que chamariam, à primeira vista, minha atenção.

Mentira. Disse uma vozinha chata em minha consciência; eu amava como ele não parecia comigo ou com meus amigos mais próximos, como se tivéssemos sido feitos de materiais diferentes. Amava como reclamava todo pomposo dos meus jogos, como reclamava das minhas danças e como, às vezes, estreitava tanto os olhos tentando entender uma loucura que eu lhe dizia que eu precisava enfiar apressadamente minhas mãos nos bolsos para controlar o desejo ardente de massagear as suas têmporas, rindo por dentro da sua necessidade intrínseca de ser útil e agradável com todos.

Entramos no Boeing, a acomodação foi demorada, gente sonolenta e falta de planejamento com antecedência sobre os pares de lugares levaram a um amontoado de conversas sobre fones, travesseiros, janelas e lugares marcados. Leeteuk, por fim, sentou-se ao lado do Eunhyuk. O clima entre Donghae e o Hyuk ainda estava um pouco arisco e o Eunhyuk parecia um filhote de gato carente e solitário miando pelos cantos, em busca de um afago.

Não é de se admirar que o JungSu sentasse com ele, seus lábios, desde ontem, involuntariamente contraiam segurando um discurso sobre união, compartilhamento de vida, promessas feitas embaixo de pés de viscos e tantas outras palavras de autoajuda que os fariam chorar e esquecer qualquer que fosse o motivo irrelevante que os deixavam incômodos um com o outro por esses tempos.

Eu o conhecia o suficiente para perceber o quanto ele queria resolver a questão, obrigá-los a conversar, subtrair as diferenças, caminhar em direção a uma noite mal dormida, mas extremamente satisfatória, porém a constatação de que a idade não traz apenas a velhice, mas também a maturidade o fazia, no fundo, saber que os dois deviam se acertar sozinhos, como adultos que compartilham vidas e destinos.

 Assim, ele se contentaria, naquele momento, a distrair o Hyukjae com conversas sobre parques famosos em Los Angeles que poderemos conhecer ou, ao menos, passar pela porta; ou, ainda, sorvetes com nomes engraçados que ele poderá degustar e ideias de roteiros que está desenvolvendo para mais um programa que está negociando para ser MC. Com certeza, a conversa o distrairia, um dos talentos do Leeteuk era fazer com que uma pessoa nem precisasse falar para se sentir parte essencial e relevante de uma conversa.

 Sentei-me na janela, o Kyuhyun estava um pouco enjoado, então sentou do meu lado e dormiu quase instantaneamente. As luzes começaram a apagar e o piloto a fazer uma saudação formal pelo áudio da cabine.

Então, a sensação de que em breve eu estaria preso em uma caixa suspensa no ar, sem chance de descida, sem qualquer escapatória, foi comprimindo o meu peito.

A minha vida estava semana após semana caminhando, sem que eu percebesse ou atinasse para esse instante em que eu seria tirado do chão das certezas e levado à loucura da dor, das suposições, do medo de ser descoberto por causa de um olhar demorado demais, do temor dos meus lábios não segurarem a verdade fazendo-a escapulir enquanto jantamos próximo um do outro e, principalmente, o pavor dos meus dedos não se controlarem e em vez de tocá-lo entre brincadeiras, eu acabe tocando-o como quem acaricia um filhote, mas traçando cada ponto de seus braços, de seu tronco, da curva do seu abdômen, do seu...

Olho em volta, inquieto, ansioso em ser dedurado, denunciado e condenado pelos sonhos intensos, febris e pervertidos, cada vez mais freqüentes, que venho tendo com o JungSu. Balanço a cabeça tentando afastar o pensamento.

Uma vez, ouvi de um sunbae que o segredo da felicidade era a liberdade, mas que o segredo da liberdade era a coragem. A lembrança continuava voltando e a voz em minha cabeça gritava tanto que doía atrás dos meus olhos. Massageei bruscamente meus olhos, eu necessitava sair, liberar o ar que estava reprimindo e dificultando a minha respiração.

Remexi-me na cadeira, mas nenhuma posição acalmava a voz, a dor e, principalmente, a sede na garganta. Eu tinha sede, mordia os lábios, involuntariamente, incapaz de controlar o desejo que agora assolava meu corpo e me fazia ruborizar. 

A aeromoça começou a falar ao longe, com uma voz doce; tentei, sem sucesso, me concentrar em seu texto extremamente decorado, mas as intensidades da dor e do aperto triplicaram.

- ... Durante a decolagem, o encosto de sua poltrona deve ser mantido na posição vertical, sua mesa fechada e travada...

A certeza de não aguentaria mais uma semana, um dia e sequer onze horas de voo com aquela dor no peito e choques na mente foi gerando um formigamento nos meus pés, em minhas mãos, em todas as minhas extremidades, gelando o meu sangue e deixando o pé da minha barriga dando repuxões para cima. Era isso, era hoje, era agora, a voz afirmava.

Eu precisava, nesse momento, da coragem que sempre tive em outras ocasiões para fazer o que desejo a tanto tempo que a memória nem consegue mais identificar o instante exato do gatilho: quando a afeição se tornou admiração e a admiração um desejo tão profundo e angustiante que impedia que qualquer outra coisa tivesse a cor e o brilho necessário para afastarem o meu olhar cobiçoso do corpo, da risada, da atenção do JungSu.

 Um pouco mais nítida, a voz doce persistia para uma platéia de passageiros exageradamente entusiasmados.

- Como medida preventiva, o cinto de segurança deve estar afivelado durante o voo.

Atendi ao aviso e afivelei o cinto, mas a sensação real era a de que estava em pé, de frente ao precipício, pronto para me tornar livre, de todas as maneiras e amarras possíveis. A percepção era tão forte e pulsante, naquele instante, que fechei os olhos, soltei o ar dos pulmões e deixei que a sensação do meu corpo desprendendo do chão tomasse todo o meu centro, formigando cada pedacinho de mim, enquanto decolávamos. 


Notas Finais


É isso. Escrever uma realidade alternativa dá um trabalho. rsrsrsrs...

A frase "citada" pelo sunbae seria "O segredo da felicidade é liberdade e o segredo da liberdade, coragem." atribuída via google ao grego Thucydides. Uma grande verdade.

Um pouco mais de interações no próximo capítulo, até porque não se tem como fugir de nada estando-se preso dentro de uma caixa pairando no ar! rsrsrsrs... ;)


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