História Take me back to those old days (Eremika) - Chapter Two

Flash Back Off

- Porque ela não vai voltar! Ela não vai mais voltar para casa... voltar para mim... – fiquei surpreso como as palavras saíram com mais facilidade do que eu imaginava, e junto delas, vieram as lágrimas descontroladas.

Não me lembro da última vez que chorei na frente de Armin, também não me lembro de um dia ter sido tão sincero com ele. Para a minha surpresa, ele se aproximou e apoiou a mão em meu ombro.

- Porque você acha que ela não vai voltar, Eren? Mikasa não faria isso... ela disse para mim em sua última carta que voltaria. – quando eu tive coragem de o encarar, Armin me olhava apreensivo, claramente assustado com a minha reação tão repentina e dramática.

Respirei fundo e me recompus, continuar agindo daquela maneira era estranho e humilhante.

- Ela disse na última carta que... que talvez fosse ficar por lá. Ela elogiou demais o lugar, os costumes e as pessoas. – peguei um guardanapo na mesa para secar o rosto – Talvez seja melhor para ela, ela vai ser feliz lá, feliz de uma maneira que eu jamais...

- Eren, cale essa maldita boca! Será que você não consegue dizer ao menos três palavras sem se lamentar? Vê se para de falar merda! Todos nós sabemos o peso que você carrega nos ombros por ter visto um futuro trágico, criado pelas suas próprias ações, mas nada disso está acontecendo agora! Vê se acorda, seu imbecil! Se continuar se afastando, vai perder ela para sempre! Agora Mikasa é uma mulher, dona de si e do seu próprio destino, ela não vai ficar esperando você acordar e se declarar! Você esqueceu do porquê Kyomi veio para Paradis e ficou tão aliviada ao encontrar Mikasa e descobrir que além de Azumabito ela é uma Ackerman? Acha mesmo que ela ficou assim tão feliz apenas por ter encontrado um membro perdido do clã? Mikasa é poderosa, e importante para a linhagem deles, não vai demorar muito para que arranjem um casamento para que ela fortaleça o clã e tenha vários filhos!

Durante a maior parte daquela longa gritaria, fiquei encolhido como um gato assustado diante do discurso de Armin. Ele sempre fora inteligente, não só em suas ações e estratégias, mas também emocionalmente. Armin era um homem sensível que sabia o que dizer quando queria comover ou motivar outras pessoas. Não era atoa que eu estava morando aqui e não em uma cela nojenta.

Suas palavras fizeram uma parte de mim despertar, um lado meu que nesses últimos meses eu acreditei ter conseguido expurgar de meu ser. Aquela raiva que subia pela minha garganta era familiar, eu sentia que poderia esmagar qualquer um para conseguir o que queria, e dessa vez seria capaz de controla-la e usá-la na medida correta. Como poderia me livrar daquilo? Fazia parte de quem eu sou.

- Não vou deixa-la escapar. – sussurrei com a maior convicção possível. Eu iria até o inferno para ter Mikasa de volta.

- Ah, vá se foder, seu... Espere, o que? – quase ri da expressão que se instalou no rosto de Armin ao ouvir o que disse. Nunca o havia visto tão surpreso.

- Armin, eu a amo! – se há cinco segundos eu havia pensado que Armin não poderia ficar ainda mais atônito, estava enganado – Só me ajude, me diga o que devo fazer!

- Vamos ao porto amanhã, e vamos buscar Mikasa, e se ela não voltar, iremos a nado até Hizuru.

                                                                                         *****

Aquela noite definitivamente foi a pior da minha vida. Eu já havia passado muitas noites em claro sofrendo com meus antigos anseios e pensamentos desprezíveis. Mas aquilo era diferente, tudo o que eu sentia era tão novo e estranho, meu coração não parava de me atormentar, batendo tão forte no meu peito que chegava a doer. Eu não conseguia fechar os olhos sem acidentalmente mentalizar o rosto delicado de Mikasa sorrindo para mim.

Eu queria tanto revê-la, aquela espera estava me matando, já não bastava ter aguentado três meses longe dela? Eu iria passar essa noite sendo torturado pela sensação de ter que esperar mais algumas horas para tê-la novamente em meus braços.

Tudo em Mikasa me atraia, até mesmo suas curvas que eu jamais havia visto antes sem estarem cobertas por peças de roupas. Pensar naquilo me fazia esquentar e enrubescer por debaixo das cobertas de minha cama. Ficar imaginando como seria seu corpo sem estar coberto por todo aqueles tecidos desnecessários me tirava do sério. Era errado, mas eu não conseguia evitar.

Quando me dei conta, estava completamente suado e molhava os lençóis, então decidi ir ao banheiro jogar uma água em meu rosto. Me levantei e fiquei por alguns segundos sentado na ponta de minha cama analisando minhas memórias de jovem cadete. Surpreendentemente, uma lembrança estranha apareceu em minha mente, de repente estava certo de que aquela não era a primeira vez que tinha pensamentos ousados sobre como Mikasa ficaria sem o uniforme.

Quando éramos mais jovens, eu sentia minhas emoções a flor da pele toda vez que Mikasa aparecia no jantar com os cabelos molhados, os braços aparentes, sem usar seu casaco. As vezes eu mexia em seu cachecol, apenas usando a desculpa idiota de que iria ajeitá-lo, mas a verdade é que queria olhar para seu pescoço desnudo. Eu me imaginava como Mikasa reagiria se eu depositasse um beijo demorado ali, ou se mordesse sua pele delicadamente...

- Eren, acorda! Já preparei o café e não quero que você fique enrolando na cama hoje!

Nem me dei conta de que havia pego no sono pensando em Mikasa. Armin gritara alto e batera a porta com tanta força que acordei já pulando da cama e correndo para o banheiro, hoje eu não podia vacilar. Me arrumei da melhor forma que pude, já que tinha certeza de que não haveria tempo suficiente para fazer tudo que eu tinha planejado se eu não abrisse mão pelo menos do café.

Já vestido, desci as escadas pulando os degraus de três em três. Passei como um raio pela cozinha, peguei no caminho uma maçã na fruteira e abri a porta com tanta ferocidade que seria capaz de arrancá-la fora.

- Eren, onde você está indo? – Armin conseguiu me questionar em um tom confuso, antes de eu correr em direção à cidade.

- Preciso resolver umas coisas, te encontro no porto! – fechei a porta com um chute e mal pude escutar Armin me indagando segundos depois, eu já estava correndo.

Se eu não me apressasse e fizesse tudo que gostaria de fazer, acabaria voltando atrás, com certeza. Ao mesmo tempo que eu ansiava por dizer à Mikasa tudo que sentia, abrir meu coração e falar que a admirava desde quando olhara seus olhos escuros e puxados pela primeira vez, eu ainda me sentia inseguro. Eu não só tinha medo de que ela não fosse corresponder, mas ainda me achava um completo imbecil. Não me sentia merecedor do amor de Mikasa, mesmo com todas as broncas que Armin me dera para eu esquecer essa culpa doentia. E havia mais alguma coisa, um sentimento totalmente novo, eu estava com medo de que Mikasa tivesse conhecido alguém em Hizuru.  

Eu não contara tudo para Armin sobre o que Mikasa tinha dito em sua última carta. Já faziam dois meses que ela não escrevia, por algum motivo ela só o fizera nas primeiras semanas da viagem para mim, mas Armin continuava recebendo sua correspondência quase diariamente. Talvez ela simplesmente tenha desistido, e chegado à conclusão de que eu não a responderia nem se ela dissesse que estava casada. Eu não só teria respondido como iria até lá sequestrá-la.

Em sua última carta, Mikasa dissera que em Hizuru as pessoas se casavam cedo, e ela era uma das únicas moças solteiras em sua idade. De acordo com ela, naquele país os rapazes não esperavam muito para demonstrar seus sentimentos. Apenas agora, relembrando desse trecho, que consegui entender o que ela realmente queria me dizer. Só um completo imbecil não seria capaz de compreender o que estava ali discretamente ressaltado.

Enquanto corria, rezava mentalmente, implorava para que não fosse tarde demais.