História Take me back to those old days (Eremika) - Chapter Twelve

Apesar de termos voltado todos juntos para casa, não nos falamos muito no caminho. Eu tive que deixar o trabalho mais tarde por conta do tempo que perdi conversando com Hange em seu escritório. Não me arrependo por ter cumprido hora extra, não podia simplesmente deixa-la sozinha naquele estado.

Durante quase todo o nosso trajeto, fiquei calada. Apenas respondia Armin quando ele tentava puxar assunto conosco. Surpreendentemente, Eren estava tão pensativo e para baixo quanto eu. Fiquei preocupada com aquilo, mas sabia que poderíamos conversar a sós mais tarde.

Uma leve onda de alegria e excitação se manifestou no meu peito, quase conseguindo me fazer esquecer do que acontecera mais cedo. Eu e Eren caminhávamos de mãos dadas, e aquilo era quase tão bom quanto saber que dormiríamos juntos. Sorri comigo mesma, porém logo minha expressão voltou ao estado anterior.

Eu estava triste pelo que acontecera com Hange e Levi, mas aquilo não era a única coisa que atormentava meus pensamentos. Eu achava que sabia como se fazia um bebê, mas estava errada. Na verdade, eu tinha apenas uma pequena ideia do processo, porém ela estava tão incompleta que chegava a ser humilhante.

Havia ficado tão atônita com o que ouvira que agora sentia que as palavras de Hange ainda ecoavam em meus ouvidos.

“Eu não sei se você ficou sabendo. Na verdade, não contamos para ninguém, porém pensei que todos já desconfiavam. Eu e Levi estamos juntos há um tempo.”

“Juntos? Como isso começou?” Me sentia uma idiota por nunca ter notado nada entre eles na época que lutávamos juntos. Agora tudo que acontecera na festa fazia sentido.  

“Bom, desde o dia em que Levi deixou o hospital. Na verdade, já havíamos confessado o que sentíamos um pelo outro algumas semanas antes disso. Acho que foi por conta da emoção que senti ao vê-lo melhorando. Ele também se deixou levar ao se dar conta de que não haviam mais titãs para nos atormentar.” Hange sorriu consigo mesma ao lembrar daquilo, porém nem mesmo tais memórias pareciam ser capazes de afastar a tristeza em seus olhos. Ela continuou:

“Estávamos esperando um bebê, Mikasa.” Ouvir aquilo me deixou pálida, todo o meu corpo congelou. Queria ficar feliz imediatamente por Hange, mas era óbvio que por algum motivo ela não estava mais grávida.

“Foi por isso que Levi não me deixou beber na festa. Não fazia muito tempo que tínhamos descoberto, mas estávamos empolgados. De qualquer forma, há males que vem para bem. Era muito cedo para que tivéssemos um filho.” Eu me levantei em um pulo após ouvir aquilo, não poderia ter ficado mais confusa.

“Mas o que houve, afinal? Por que você não está mais esperando o bebê?” Hange agora me encarava quase tão confusa quanto eu. De repente, fiquei corada por me sentir tão ignorante, era óbvio que quem não entendera direito fora eu. Me sentei novamente esperei por uma explicação.

“Mikasa... eu perdi o bebê” sua voz falhou, ela claramente não queria dizer aquilo em voz alta. “Essas coisas acontecem, os três primeiros meses são os piores. Mas mesmo assim, sinto como se parte de mim tivesse ido embora.” As lágrimas voltaram a brotar pelos seus olhos, então deixei de lado aquela maldita conduta social e corri para abraçá-la.

(...)

Quando chegamos em casa, Armin nos surpreendeu ao falar que não estava com fome e iria logo para o seu quarto dormir. Ele parecia mais feliz do que o de costume, porém eu e Eren apenas concordamos sem questionar. Armin ficou levemente surpreso por nos ver tão para baixo e agindo com tanta indiferença, mas aparentemente o que o aguardava em seu quarto era mais urgente, então ele não nos perguntou nada.

Eu e Eren nos sentamos para comer em silêncio. Durante quase todo o jantar, achei que ele não falaria nada e aquilo estava me preocupando. Foi quando decidi que deveria puxar alguma conversa que ele começou a falar.

- Você já sabe o que houve com Hange e Levi. – aquilo não era uma pergunta e sim uma afirmação. Queria saber como ele descobrira, mas ao mesmo tempo também ficara curiosa por ele ter tanta certeza de que eu sabia.

- Sim, eu soube. – falei simplesmente – Como descobriu?

- O capitão estava péssimo... e ele quase botou a culpa em mim. – Eren sussurrou com a voz trêmula, podia ver que ele estava completamente abalado.

- Eren como você poderia ser culpado por isso? Ele não bate bem, aquele nanico!

- Mikasa, fale baixo! Não fique chamando o Capitão Levi de nanico alto assim! – Eren quase levantou para tapar minha boca. Era quase engraçado ver como ele ainda sentia um medo irracional do capitão.

Ao ver que eu respeitaria seu pedido, Eren ficou tranquilo e voltou a falar.

- Ele associou isso ao plano de eutanásia do Zeke. Eu sei que ele estava exagerando, mas falou que iria atrás do meu irmão e arrancaria a cabeça dele. Aparentemente não é a primeira vez que Levi surta e fala que irá atrás de Zeke para matá-lo. Enfim, ele sempre desiste em algum momento, ninguém sabe do paradeiro de meu irmão há semanas. Provavelmente, Zeke fugiu para bem longe se sabe o que é melhor para ele.

Nós dois voltamos a ficar em silêncio depois daquilo. Então Levi achava que Eren em algum momento fora a favor do plano de eutanásia? De qualquer forma, aquilo não importava. Algum dia Levi superaria aquilo.

- Eren você sabe como se faz um bebê? – eu quebrei o silêncio de repente, deixando que aquela frase fugisse de meus lábios. Minhas bochechas ficaram vermelhas, me sentia novamente ingênua.

- Bom... – ele pareceu surpreso com a pergunta, ficou um pouco corado também – Armin e eu conversamos um pouco sobre essas coisas há uns dois dias e... – não me contive e o interrompi.

- Eu sabia que você e Armin estavam conspirando sobre algo. – afirmei, agora meu rosto queimava. Imaginar Eren pedindo conselhos à Armin sobre nós dois me deixava mais do que envergonhada. Porém sabia que Eren precisaria recorrer a alguém em busca de conhecimento, e ficava aliviada por ter sido Armin.

- Não fique chateada. Eu não falei nada demais, juro! – ele se apressou para explicar, apenas assenti e não consegui controlar uma risada ao vê-lo tão afoito. Eren coçou a garganta para continuar: Bom ele me disse algumas coisas. Eu sei agora um pouco sobre os cuidados que devo tomar para que não tenhamos um bebê agora... – ele travou, nossos olhares se encontraram e de repente estávamos vermelhos de novo.

- Eu vou perguntar à Armin um pouco mais sobre isso. Afinal, não queremos nenhuma surpresa antes de estarmos casados. – ele tentou rir para quebrar a tensão que ficara no ar – Mikasa... sinto que precisamos falar sobre isso. – fiquei surpresa por ele continuar o assunto, mas fiquei ainda mais incrédula com a ideia de conversar sobre aquilo com Eren.

- Mikasa... não sei se sou capaz de ter um filho. Isso se você quiser ter um. Não quero apressar nada, estou apenas dizendo o que penso sobre o assunto.

Eren

Sabia que não havia porque esconder aquilo. Não queria que houvessem segredos entre nós, eu precisava ser claro sobre tudo o que se passava em minha cabeça, pois sabia que Mikasa sempre fora sincera comigo.

Apesar de saber disso, foi difícil olhá-la nos olhos após dizer aquelas palavras. Mikasa com certeza queria filhos, e eu percebi isso quando a vi com Ymir nos braços.

Não era como se eu não gostasse de crianças, pelo contrário. Eu apenas achava que querer ter um filho era uma completa hipocrisia para mim. Eu havia matado inocentes, e se não tivesse parado a tempo, pisotearia com os Colossais oitenta por cento da população mundial. Não me sentia capaz de encarar uma criança inocente e pura, tendo um passado tão desprezível.

Além disso, ainda temia que o bebê puxasse a mim. Eu fora um pirralho insolente minha infância inteira, assassinei pessoas quando tinha apenas nove anos. Mikasa se arrependeria de ter me escolhido como pai de seus filhos quando visse a personalidade deles. Não haveria dúvidas quanto a genética quando as crianças ficassem obcecadas por lutas e vingança.

- Eren, como assim você não sabe se é capaz? – Mikasa finalmente perguntou algo, e eu temia esse momento.

- Mikasa, que tipo de pai serei? Um assassino como pai? Acha isso bom para uma criança? E como pensa que serão nossos filhos? Com a sua força e minha falta de senso, provavelmente serão incontroláveis. – deixei que a explicação fluísse tão rápido, que nem mesmo parei para respirar entre as palavras.

Ela ficou em silêncio por um tempo, e sabia que me sondava com o olhar, por isso fiquei encarando minhas mãos sobre a mesa.

- Daqui a pouco falamos melhor sobre isso. Preciso pensar. Eu fico com a louça hoje. – ela nem mesmo elevou o tom de voz e foi clara em cada palavra.

Aquela resposta fria me assustara tanto que quase implorei para que Mikasa brigasse comigo. Ela continuou impassível, se levantou da mesa e recolheu os pratos, logo depois se dirigindo para a pia. Ainda sem reação, deixei a cozinha. Passaria no quarto de Armin, precisava de seus conselhos, e esclarecer algumas coisas sobre evitar ter bebês agora também seria bom. Mas de qualquer forma, nem sabia se Mikasa gostaria de me tocar novamente depois do que eu dissera.

Subi as escadas e bati na porta de seu quarto duas vezes. Como não ouvi resposta alguma do lado de dentro, entrei. Armin poderia estar dormindo, mas eu precisava urgentemente de sua sabedoria. As luzes estavam apagadas e consegui ver pela leve claridade do luar que ele estava deitado.

- Armin, desculpe aparecer assim, não queria te acordar... – de repente, quando cheguei perto de sua cama, consegui ver claramente que o não havia ninguém ali.

Para disfarçar sua fuga noturna, Armin colocara diversos travesseiros embaixo dos lençóis, para fingir que dormia tranquilamente. De fato era um homem esperto e reservado, não contara para nenhum de nós que fugia para se encontrar com Annie.

Aquilo me deixou intrigado, por que não nos dissera? Estava mais do que óbvio que ele tinha ido vê-la, só não compreendia porque o fizera as escondidas. De qualquer forma, era uma situação engraçada, porém antes que eu conseguisse rir, um sentimento de angústia se instalou em meu peito. Agora estava sozinho, teria de me resolver com Mikasa sem dicas ou cola.

Agarrei meus cabelos e soltei um grunhido de desespero. Eu não poderia sempre me garantir com as ajudas de Armin, deveria saber disso, mas era inevitável querer recorrer a ele.

Mikasa

Assim que acabei a louça permiti que minha mente processasse o que escutara. Não queria pensar naquilo logo porque tinha medo de que não fosse capaz de controlar minhas emoções. Eu deveria compreender o lado de Eren, e tentar entende-lo, se me desesperasse com certeza o afastaria ainda mais da ideia de ter bebês um dia.

As lágrimas quiseram escapar, porém não permiti que escorressem, respirei fundo e mantive a compostura. Eu não estava triste por ter de lidar com o fato de que Eren talvez não queira filhos. Estava triste porque entendia o que o deixava tão aflito. De repente, senti uma raiva absurda do destino, que apesar de ter nos unido no final de tudo, ainda era tão cruel conosco.

Eren estava tentando superar seu passado, mas os traumas que vivera conseguiram ser piores que os meus. Mesmo que tentasse, jamais seria capaz de entender o peso que ele carregava quando fora um titã. Todas aquelas memórias e traumas afastaram a razão da mente dele. Tudo que ele queria era que vivêssemos em paz, só que as coisas só pareciam piorar por anos.

Tive de conter um grito de aflição ao me recordar de tudo que vivemos. Era terrível demais.

Deixei a cozinha em passos apressados, subi as escadas de dois em dois degraus. Quando cheguei ao andar de cima, pude ver Eren em seu quarto través da porta aberta, ele estava sentado em sua cama. Nosos olhares se encontraram, então entrei.

Me sentei ao seu lado e envolvi seus ombros com meus braços. Ele pareceu surpreso, provavelmente achava que eu estaria furiosa. O abracei com mais força, e então Eren correspondeu, e começou a soluçar logo em seguida, suas lágrimas molhavam meu uniforme. Havia ficado impossível para mim controlar o choro também, então deixei que as lágrimas escapassem.

Não demorou muito para que estivéssemos fungando descontroladamente, enquanto agarrávamos as roupas um do outro, querendo de alguma forma que nossos corpos se fundissem. Eu me sentia tão desolada que podia sentir o buraco em meu peito voltando a se abrir.

Quando finalmente conseguimos ficar calmos, nos levantamos e começamos e nos arrumar para dormir. A tristeza era tanta, que nem mesmo demos atenções para nossas vergonhas enquanto trocávamos de roupa.

Nos deitamos juntos finalmente e meus olhos castanhos encontraram sua imensidão verde.

- Me perdoe... – Eren sussurrou entre um soluço.

- Está tudo bem. – suspirei, minha garganta ardia ainda – Ainda quer conversar?

- Mikasa... eu disse que estava disposto a te fazer feliz, e sei o quanto você quer ter filhos um dia. Fui tolo em pensar que poderia evitar isso.

- Eren... não desista da sua felicidade. Não se esqueça de que eu também quero te fazer feliz. Vou fazer de tudo para colocar os pestinhas na linha enquanto crescerem. Eu sei que você também os quer. Não deixe que o medo continue afetando suas escolhas, você se redimiu.

- Você tem razão. – ele esboçou um sorriso terno que fez meu coração começar a bater tranquilo novamente – Construir uma família contigo é tudo que eu mais quero.