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História Take Me If You Want Me - Lisboa, Parte I


Escrita por: cherrylispector

Notas do Autor


olá, espero que gostem <3

Capítulo 19 - Lisboa, Parte I


A mariposa vê a chama, mas mesmo assim se aproxima, sente o perigo, mas continua a rodeando, pois, a luz da chama é bonita demais para ser ignorada.

Raquel era encantada por Portugal e por sua capital, Lisboa. Ela havia me contado de diversas viagens que já havia feito naquele país e eu sempre sorria ouvindo as histórias interessantes que ela possuía para compartilhar. Ela me disse que aquele era um dos lugares com o qual ela mais havia se identificado, mesmo com a quantidade de países que já havia visitado, ela sentia uma conexão diferente com Portugal, uma conexão diferente com Lisboa. Ela estava tão feliz que eu não queria estragar a felicidade dela, e apenas partilhar daquela felicidade com ela.

Ela havia dormido no avião e eu mal conseguia pregar o olho desde a noite passada, eu tinha velado o seu sono por tanto tempo que me sentia um Stalker e me perguntava se ela poderia sentir o meu olhar sobre ela o tempo inteiro. Decidimos almoçar em um dos inúmeros restaurantes dali, depois de fazermos check-in no hotel. Eu estava gostando de estar em outro país com ela e poder mostrar ao mundo que estávamos juntos, e gostava do olhar de inveja dos outros homens ao vê-la comigo. As ruas coloridas de Lisboa eram encantadoras e passear de mãos dadas com ela era o prazer mais bobo que eu era privado de ter, mas que agora possuía. Por outro lado, eu queria me matar.

Omitir aquilo tudo dela, fazia com que eu me sentisse sujo, ao mesmo tempo que não queria assumir o que havia acontecido e perdê-la. Se eu soubesse quem ela era, jamais teria deixado nosso caso chegar ao nível que estava. Eu nunca teria deixado aquele sentimento se enraizar dentro de mim e nem dentro dela. Porém, agora já não havia mais volta. A vida não possuía um botão de volta. Eu jamais poderia ter previsto aquela situação, eu tomava tanto cuidado com as pessoas ao meu redor. E acabei me envolvendo com a única mulher que não deveria.

Eu a observava e via nela todo o meu passado, logo quando costumava pensar que ela seria um escape para tudo que eu havia vivido, eu estava totalmente errado. Ela era a imagem viva, a imagem mais linda e mais dolorosa. E o mais interessante de tudo, era que a única coisa que me preocupava era o medo de perdê-la. Eu pouco me importava com o que o pai dela havia feito comigo e com os meus pais, só queria saber o que ela sentiria quando descobrisse quem eu era, quem nós éramos. Levantei o olhar da mesa que eu estava observando e a encarei.

Raquel estava com um visual um pouco diferente hoje, estava usando uma calça preta apertada e uma blusa branca simples que possuía alguns detalhes em renda que a deixavam muito sensual. Os cabelos estavam soltos e ela possuía pequenos brincos nas orelhas, mas dava para perceber que era um tipo de joia, eu chutava um diamante. Tal detalhe me fazia lembrar com clareza de onde ela havia nascido.

Joder.

- Uma das coisas que mais gosto aqui é a culinária. - Levou uma garfada de comida até a boca e mastigou graciosamente, bebendo um gole do vinho tinto em seguida.

- Você gosta da culinária de praticamente todos os países. Você já me disse que gosta da alemã, francesa, italiana, japonesa... - Brinquei e ela assentiu querendo sorrir, pousando a mão sobre a boca, pois ainda estava mastigando.

- Eu não posso negar isso. Acho que a culinária que menos gostei até agora, foi a holandesa. - Ponderou por alguns segundos. - Porém, a portuguesa tem um lugar muito especial no meu coração. Experimente um Pastel de Belém, e você pensará exatamente como eu. É o meu doce favorito. - Sorriu e eu acabei sorrindo também.

- Parece que eu acertei o lugar para te trazer, então? - Perguntei sorrindo e empurrando os meus óculos para trás.

- Não banque o espertinho, Sérgio. Sei que tem dedos do Andrés nisso. Você mesmo disse que a ideia foi dele. - Arqueou uma sobrancelha como se houvesse me flagrado fazendo algo errado. - E ele sabe muito bem do meu amor por Lisboa.

- E foi. Eu desabafei com ele sobre a nossa vontade de vivermos livremente e ele sugeriu irmos para um país vizinho passar uns dias. E Portugal é uma escolha prática porque é ao lado da Espanha e uma opção que você iria gostar muito. - Sorri.

- E você não pensou duas vezes antes de comprar duas passagens aéreas. - Estreitou os olhos. - Logo você que sempre planeja tudo, se arriscando dessa forma...

- Quis me arriscar dessa vez, a gente não sabe quando tudo pode acabar, não é mesmo? - Perguntei e ela pareceu estranhar a questão.

- Sim, talvez seja o meu lema de vida. - Deu de ombros. Um casal brincava com os filhos do lado de fora do restaurante do hotel e nós paramos para observá-los com certa ternura. Era um casal de crianças, um menino e uma menina, muito parecidos com os pais. Os quatro estavam perto da piscina, e a mãe estava encaixando uma boia vermelha na garota, enquanto o pai conversava algo com o garoto animadamente.

- Acho que são alemães... - Ela sorriu e me olhou.

- Por que acha isso?

- Com nenhuma base científica, só estou chutando. - Brincou. - Vivi muito tempo na Alemanha e pareço sentir quando alguém veio de lá. Amo muito a Espanha, mas vivi boa parte da minha vida na Alemanha. - Pensou por alguns segundos. - Sente vontade de ter filhos, Sérgio? - Aquela pergunta me pegou de surpresa e totalmente desprevenido. Empurrei os óculos para trás um pouco nervoso e pigarreei.

- Eu já tenho duas, Silene e Sara. - Brinquei e ela riu.

- Como foi criar a Silene sozinho? - Perguntou interessada, levando o vinho até a boca novamente. Ela nunca bebia vinho tão rápido, sempre dizia que era preciso apreciar. Aquele comportamento era incomum.

- Estranho. - Disse sério, mas ela riu mais ainda. - A infância dela foi difícil, ela era uma criança difícil. Eu a apelidei de bomba-relógio porque a qualquer momento ela explodia. Eu vivia em hospitais, porque ela estava sempre caindo, quebrando um membro do corpo, se cortando... - Sorri. - Mas, eu compreendia. Ela sentia o abandono. Ela sabia que tinha pais, e que eles morreram... - Desviei o meu olhar de Raquel, mirando a taça de vinho na minha frente. - Então, ela se tornou uma criança difícil. Ela não era meiga, nem doce e quase toda a semana eu era chamado na escola porque ela havia agredido algum coleguinha da classe. E todos sempre torciam o nariz por eu ser um “pai solteiro” tão novo. E eu sei que era difícil para ela ser criada por um homem e um homem como eu. - Dei de ombros. - Então, ela se tornou adolescente e as feridas que ela tinha foram se curando aos poucos... Ela ficou bonita rápido... - Sorri. - Nunca foi muito inteligente, mas sempre foi muito esperta e decidida. Mas como eu disse, ela sempre foi uma bomba-relógio e tomava decisões precipitadas no calor do momento. Então, aos dezessete anos, ela me apareceu grávida.

- E como você lidou com isso? - Perguntou com interesse. - Com a gravidez dela?

- Eu fiquei estressado no começo, não irei mentir. Ela era jovem demais. Ela mal tinha terminado o ensino médio... - Neguei com a cabeça. - Mas depois eu fiquei feliz, eu não poderia fazer nada para mudar aquilo, e ela já era jovem e sozinha... Brigar com ela, só pioraria a situação. Então, eu acompanhei toda a gravidez dela, a compreendi, e a apoiei. A Sara nasceu e eu virei o tio mais bobo do mundo. Mas é claro que eu conversei com a Silene e a enchi de sermões. - Sorri. - E a convenci a entrar na Universidade, mesmo com o bebê.

- Deve ser bom ter uma criança... - Comentou com um meio sorriso. - Eu só vejo a Sara algumas vezes e ela anima o meu dia totalmente. Eu até comprei um presente para ela, mas ainda não tive a oportunidade de entregar.

- Você tem vontade de ser mãe? - Perguntei e ela pareceu refletir.

- Para ser sincera, não. Mas eu não rejeitaria se acontecesse. - Disse aquilo em um tom sério e eu senti sinceridade em sua voz.

- É por causa da garotinha que você perdeu? - Indaguei aquilo com cuidado, talvez ainda fosse uma ferida não sarada e eu não queria mexer com ela.

- Eu nunca tive um bom instinto maternal... eu sempre fugi de bebês e mulheres grávidas. - Sorri e ela sorriu também. - E depois que eu perdi o meu bebê, eu resolvi que a maternidade não é algo que ficou para Raquel Murillo. - Ela não disse aquilo com tristeza, apenas com um certo receio.

- Mas você queria a criança, quando esteve grávida?

- Queria, queria sim. Eu fiquei muito feliz quando descobri que estava grávida. Quando o aborto aconteceu foi literalmente um tombo. Mas, a vida é assim, um tombo atrás do outro. - Pareceu refletir por alguns segundos.

- Se me permite perguntar, o pai da criança...

- Hum, ficou interessado em saber quem me engravidou... - Comentou de forma irônica e eu revirei os olhos. - Foi um cara lá de Madri, tivemos uns envolvimentos só por diversão e eu fiquei grávida. Porém, nunca cheguei a contar para ele que estava grávida.

- Você ainda tem contato com ele? - Perguntei.

- Não, só sei que ele é empresário. - Disse e eu quase cuspi o vinho que estava bebendo. - Era um pouco mais velho...

- Era casado? - Perguntei em alerta.

- Não. - Negou rapidamente. - Mas você não respondeu a minha pergunta, se quer filhos...

- Eu não sei... acho que penso como você. Se acontecesse eu ficaria feliz de ter um bebê, mas não é algo que eu fique pensando e planejando. Estou no auge dos quarenta anos e criei uma irmã mais nova e uma sobrinha, não sei como seria com um filho biológico. - Empurrei os óculos para trás.

- Sabe que um filho nosso já iria nascer lendo Machado de Assis e jogando xadrez... - Comentou e eu ri. - Coitado, filho de dois professores, que pressão... - Negou com a cabeça. - E você iria ensinar italiano para ele e eu ensinaria francês. Talvez ele tocasse piano aos cinco anos se ele herdasse o seu QI, e então poderíamos ter um novo Mozart. Ou ele poderia herdar os talentos da Sara, então teríamos um Michelangelo.

- Parece que você quer ser mãe. - Sorri de lado e empurrei os óculos para trás.

- Foram só suposições, eu só fantasiei uma mistura de nós dois e como seríamos criando uma criança. Não quer dizer que eu queira uma. - Revirou os olhos, mas havia um sorriso em seus lábios.

- Suposições de alguém que quer ser mamãe. - Zombei e ela me olhou com desdém. - Posso fazer o bebê em você, quando quiser. - Sussurrei e ela jogou um guardanapo em mim. Eu gostava de fazer aquelas brincadeiras com ela, não me sentia mais envergonhado.

- Quer fazer agora? - Provocou.

- Raquel... - Repreendi, mas um sorriso teimava em aparecer em meus lábios.

- Começa e não aguenta. Se quiser subimos lá para o quarto e fazemos um bebê. - Disse provocante.

- Então, vamos. - A desafiei.

- Quer mesmo um filho, professor? - Apoiou o cotovelo na mesa, com a bochecha apoiada na mão.

- Raquel, eu sei muito bem que não podemos fazer um filho agora, pois você faz uso de anticoncepcionais. Você mesma me disse isso. - Ela revirou os olhos. - Você teria que suspender o uso por uns dias, aí poderíamos começar a tentar.

- Cortou a brincadeira. Como você sempre faz. - Bebeu um pouco mais do vinho e minha mente ficou em alerta, porém eu preferi ignorar. - Lembrei de quando transamos a primeira vez e você me ligou desesperado na segunda-feira por causa disso. - Comentou aquilo em um tom de brincadeira e com malícia.

- Eu não estava desesperado. - Ela arqueou a sobrancelha com deboche.

- Não? - Sorriu zombeteira. - Acho que você nem dormiu no sábado a noite só pensando na possibilidade de que eu ficasse grávida.

- Sim, não dormi. Mas não foi por causa disso... - Enrubesci um pouco.

- E foi por quê? - Passou o salto que estava usando por minha panturrilha. Estávamos em uma fase bem diferente, mas as provocações dela ainda existiam como se fôssemos apenas um casal flertando.

- Fiquei pensando em você...

- Pensando como? - Subiu um pouco o tecido da minha calça. Usando a ponta do salto alto.

- Você sabe como. - Engoli em seco.

- Não sei não, preciso que diga. - Me olhou intensamente. E foi o primeiro momento que eu consegui me distrair de tudo o que pesava na minha consciência.

- Sou um homem...

- Sei que é...

- Tenho fantasias...

- Está indo bem.

- E já havia um tempo que eu não... tinha estado com uma mulher. - Pigarreei. - Era difícil dormir.

- Entendo. Foi difícil para mim também, ficava pensando em como as coisas aconteceriam entre nós a partir daquele ponto. Como ficaria a nossa relação dentro da sala de aula e infinitas coisas... Até passou por minha cabeça você não querer mais orientar o meu projeto. - Passou a mãos por seus cabelos, ajeitando os fios entre os dedos. Seu olhar estava um pouco estranho naquela tarde, ela parecia um pouco perturbada. Geralmente, eu era um homem que sentia o perigo, sentia a ameaça. Porém, ela se comportava tão naturalmente que me fazia pensar o oposto. - E sabe, nunca acreditei que aquela seria a última vez... - Sorriu.

- Para falar a verdade, nem eu. - Respondi e ela riu.

- Quando pretende começar a corrigir a minha tese? - Mexeu na comida a sua frente.

- Segunda-feira, assim que voltarmos para Madri. - Ela assentiu e pareceu pensar em outra coisa.

- Tem algum lugar que queira visitar em especial? Lisboa possui muitos pontos turísticos, não é Paris, nem Nova York, mas também é um país incrível. - Colocou mais vinho dentro da taça e a levou a boca mais uma vez naquela tarde. - Ainda temos o restante da tarde e a noite, para fazermos um passeio romântico. - Brincou e eu sorri.

- Não tenho nenhum lugar em especial, mas gostaria de visitar o castelo de São Jorge e também o parque.

- O parque Eduardo VII? - Perguntou e eu assenti.

- Esse mesmo. Parece um bom lugar para um passeio e eu espero que não esteja lotado de pessoas. - Ela apenas assentiu com convicção.

- Sim, vamos nesses lugares durante o resto do dia, e a noite podemos ir a um clube que existe aqui.

- Um clube?

- É tipo um bar... todo mundo bebe e dança. - Sorriu do modo eufórico que sempre fazia ao falar de algo que gostava. - E depois podemos dar uma passadinha no “Menina e Moça”.

- O que é isso?

- É um bar. Mas é um bar diferente, um bar literário. A decoração é toda feita de livros e fotografias... creio que você vai gostar. Mas se quiser ir em uma boate podemos ir ao “K Urban Beach.”

- Não, eu prefiro lugares um pouco mais calmos. - Bebi um pouco do meu vinho também e ela pareceu me analisar. - Esse nome me assustou um pouco. - Ela riu por causa de minha reação e suspirou, olhando para mim em seguida.

- Você está feliz, Sérgio?

- Hum? - Indaguei um pouco atônito.

- Está feliz aqui comigo? Está feliz comigo?

- Estou, claro que estou. Por que a pergunta? - Estreitei os olhos.

- Por vezes, é bom reafirmar. - Sorriu e alcançou a minha mão na mesa, a acariciando.

[...]

O parque era um lugar bonito, a grama era muito verde e aquele era um dia agradável. O clima estava ameno e o vento circulava pelo local, derrubando as folhas das árvores. Raquel caminhava ao meu lado enquanto observava aos arredores e eu agradecia por não ter muitas pessoas ali. Além de nós dois, só havia mais um casal de jovens um pouco mais distante de onde estávamos e ainda mais longe havia uma mãe com o filho. A criança corria na grama livremente e ela estava lendo um livro pacientemente abaixo de uma árvore.

Raquel ergueu os óculos escuros para acima da cabeça e puxou a mochila vermelha que usava nas costas, a abrindo e tirando de lá um fino lençol do tipo que se usa para forrar na grama ao fazer um piquenique. E foi o que ela fez, forrou o lençol na grama e deitou ali, colocando a mochila de lado. A alguns metros dali, havia outro casal fazendo a mesma coisa que estávamos fazendo. Eles eram bem mais jovens, deviam ser universitários. E foi apenas deitarem na grama, para começarem uma sessão de beijos prolongados.

- Eu trouxe um livro para lermos. - Disse quando eu sentei ao seu lado, debaixo de uma enorme árvore. - Sempre quis fazer isso, me lembra uma cena romântica de “Pretty Woman.” - Revirou os olhos e eu deitei ao seu lado, apoiamos a cabeça na pequena mochila dela. Ela abriu o livro e pediu que eu segurasse, era um livro de sonetos de William Shakespeare.

- Pode ler para mim? - Indagou e colocou os óculos escuros de volta no rosto. - Gosto quando lê, sua voz é gostosa de ouvir. - Comentou com certa malícia.

- Hum, William Shakespeare? - Perguntei com deboche e ela riu.

- Já disse a você que gosto de Shakespeare, só não sou muito fã de Romeu e Julieta. Não entendo porque é a obra mais aclamada dele, sendo que ele escreveu coisas melhores.

- Não entendo a sua aversão a esse livro. - Brinquei e folheei algumas páginas do livro, tentando sortear algum soneto bonito.

- Eu já te expliquei, adolescentes morrendo, famílias brigando... - Não conseguia enxergar através de seus óculos, mas sabia que ela estava revirando os olhos. - Tudo seria evitado se aquelas duas famílias parassem de brigar. - Deu de ombros.

- É um romance trágico, Raquel. Eles tinham que morrer. É o que dá vida a peça, o que a transforma em um clássico.

- Estou revirando os olhos nesse momento.

- Eu sei, conheço você. - Brinquei e ela sorriu, me puxando para um beijo calmo e tímido. - E se eles não fossem adolescentes?

- Aí talvez eles tivessem possuído uma decisão mais sábia do que se suicidar sem verificar se o outro estava vivo. Minha nossa, eles não sabiam verificar o pulso. - Comentou e eu ri. - Uma verificação de pulso, e tudo seria evitado.

- Mas então não seriam Romeu e Julieta. - Ela suspirou de cansaço.

- Desiste, Sérgio. Você não vai me convencer. - Empurrou o meu ombro e eu sorri. Desviei os olhos para o soneto e comecei a ler.

- “Se amor é cego, nunca acerta o alvo. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para, para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar.” - Li parte do soneto que estava grifada com um marca-texto rosa e sorri para ela. - Alguma história sobre esse trecho? - Perguntei com curiosidade.

- Nada, apenas gostei do trecho, então grifei. - Deu de ombros. Folheei as páginas, e várias dela possuíam trechos grifados. Olhei sério para Raquel.

- Faz isso com todos os seus livros? - Perguntei com interesse, gostava de conhecer detalhes sobre ela, detalhes que outras pessoas não iriam reparar.

- Faço sim. - Confirmou com um sorriso quase travesso.

- Isso não é bom para o meu TOC. - Brinquei e ela gargalhou.

- Você é dramático, Sérgio. - Lambeu os lábios. - Qual a graça de ler o livro se não posso grifar todas as partes que eu gosto? Hum? - Perguntou com deboche. - Eu compro livros para isso.

- Ou rouba de bibliotecas. - Provoquei e ela negou com a cabeça.

- Seu senso de humor... machuca. - Brincou e eu ri.

- É, mas se outra pessoa for ler... - Voltei ao tópico sobre grifar os livros.

- É, se outra pessoa for ler, vai sentir exatamente a energia que eu deixei no livro. Digamos que eu estou deixando parte de mim no livro... parte da minha essência.

- Poético, nunca pensei nessa perspectiva. - Sorri e ela sorriu também.

- Às vezes você só vê o que está exatamente na sua frente, Sérgio. Não olha ao redor. - Brincou e eu estranhei um pouco a frase. - Sabe, eu sempre achei casos entre professores e alunas bem clichês e sempre odiei. - Deu de ombros. - Hipócrita da minha parte, talvez um pouco.

- Confesso que também sempre pensei da mesma forma, me envolver com uma aluna sempre esteve fora de questão. - Sorri. - Sempre considerei algo absurdo.

- Até porque... na maioria das vezes, esses casos são apenas um fetiche masculino de ter uma mulher que está em uma posição um pouco abaixo dele e que pode ser facilmente manipulada e que geralmente tem uns vinte anos a menos que ele. E também é um fetiche feminino, ter um homem em posição de autoridade... - Sorriu. - E existe a questão do assédio... há muito professores que aproveitam da autoridade e da diferença de idade para manipular garotas. Já presenciei muitos casos.

- Eu nunca tive esse fetiche, para ser sincero. - Empurrei os óculos para trás. - Antes de você sempre olhei para as minhas alunas com total respeito. Principalmente, as mais novas, que sempre vi como filhas, apesar de algumas delas não me verem assim... - Enrubesci um pouco.

- Sigmund Freud as explicaria. - Brincou e eu a olhei incrédulo.

- Raquel, você é ruim. Seu tipo de humor é pesado. - Nesse momento ela já gargalhava.

- Nunca te disse que eu era boazinha.

- É verdade. Mas, e você? Mesmo odiando... Já teve esse fetiche? - Sorri de lado.

- Para ser sincera, antes de você... só tive umas paixonites leves por professores... sabe? Aquele tipo de paixão platônica que você se ilude, mas tem certeza que não irá acontecer nada. - Deu de ombros. - Mas aí veio você e eu... não sei o que aconteceu comigo, perdi total a razão. Eu sempre tinha tudo o que eu queria e você... você simplesmente me dizia não. - Riu. - Só que eu sabia que você queria, se eu tivesse percebido que você não me queria, eu jamais teria insistido, seria incomodativo e doentio.

- Tenho que confessar que você foi a primeira aluna que eu olhei com... “olhos maldosos” ... - Comentei e ela riu. - Desde o primeiro dia de aula.

- Desde o primeiro dia de aula? - Levantou a cabeça para me encarar.

- Raquel... você entrou pela sala e quase suspirei. Foi embaraçoso. - Ela voltou a colocar os óculos acima da cabeça, apenas para me olhar nos olhos.

- Conte-me mais. - Apoiou a bochecha em uma das mãos, virando-se totalmente de lado, apoiando-se no cotovelo.

- O que mais você quer saber? - A olhei com ternura. Ela estava linda, banhada pelo sol daquela tarde e me olhando de forma tão pura, me pedindo segredos e confissões.

Eu era um babaca. Eu era um babaca fodido.

- De tudo... O que você pensou de mim? Quando chegou em casa... Você pensou em mim? - Sorriu zombeteira.

- O que eu pensei? Mulher bonita à vista, não tropece e nem gagueje. - Brinquei e ela sorriu mais ainda, brincando com a minha gravata, a enrolando nos dedos. - Então eu me aproximei e disse algo sobre você ter chegado atrasada, como se você estivesse no ensino médio. - Comprimi os lábios. - Passei bastante vergonha...

- Não... - Ela acariciou o meu rosto. - Eu pensei que você fosse arrogante e autoritário, e ao mesmo tempo te achei fofo e tímido. Em primeira instância veio o ódio, mas depois eu me interessei por você ser assim. Mas, você não respondeu a minha pergunta sobre ter pensado em mim quando você chegou em casa.

- Pensei sim. Você me mandou ir me foder no primeiro dia de aula. Como esquecer disso? “Com todo o respeito, vai se foder, professor.” - Repeti a sua fala naquela noite e ela abaixou a cabeça rindo. - Foi a primeira vez em anos que eu lembrei que estava vivo. Você me deixou intrigado com toda aquela ousadia e determinação. Sem se importar ao mínimo se eu ia orientar o seu trabalho ou não. Quem manda o orientador ir se foder, Raquel? - A encarei e ela sorriu.

- Eu mandei. E você não foi o primeiro professor que fiz isso. - Levei a cabeça um pouco para trás surpreso e ela deu de ombros. - Se eu sou assim com quarenta anos, me imagina com dezessete. A idade da rebeldia.

- Você devia ser uma adolescente difícil... - Neguei com a cabeça.

- Era sim e já até te falei sobre isso, e você como era na adolescência? - Eu pensei por alguns segundos, pensando o que eu poderia contar sobre a minha adolescência sem entregar a minha identidade.

- Chato, retraído... - Dei de ombros. - Estudioso, leitor...

- Deveria ser fofo. Eu teria namorado você, se houvéssemos nos conhecido quando jovens. Nossa, eu teria provocado muito você, só para te ver vermelho. - Selou os nossos lábios rapidamente.

- Não teria não, aos dezessete você estava colocando um piercing, aos dezoito perdendo a virgindade e eu estava lendo uma versão de “O Conde de Monte Cristo.” - Ela jogou a cabeça para trás rindo. - Espera, há um furo nisso, você me disse na festa que perdeu a virgindade com dezoito anos, mas que se envolveu com o Alberto ainda menor de idade. - Estreitei os olhos.

- Contei com a vez que eu transei de verdade. Aos dezoito eu transei propriamente falando, aos dezesseis eu rompi o hímen, tirei o lacre... - Disse como se fosse a coisa mais normal do mundo.

- Raquel, não fala essas coisas assim, “tirar o lacre" que expressão horrível para falar sobre você...

- Mas é a verdade, foi horrível... Doeu como o inferno, e nas outras vezes seguintes também e eu fiquei com medo de sexo, achando que iria ser para sempre assim. Aquilo não foi transar, foi tirar o lacre. Aí depois eu transei de verdade, aí eu percebi que sexo era bom. E que o problema não era transar, o problema era o Alberto. - Sorriu de lado.

- Minha primeira vez também não foi muito satisfatória, então... estamos empatados.

- Mas a “nossa” primeira vez foi bem satisfatória... - Mordeu o lábio inferior.

- Sim, foi. Foi como se não houvesse outras vezes, como se aquela fosse a primeira. - Respirei fundo.

- Foi exatamente o que eu senti, fiquei nervosa como se aquela fosse a primeira vez que eu fosse... - Lambeu os lábios para umedecê-los e eu desci o olhar para o seu gesto, segurando o seu queixo entre meus dedos para a beijar na boca docemente. Eu não sabia por quanto tempo eu ainda iria poder beijá-la, então queria aproveitar ao máximo as oportunidades. Soltei o livro na grama e pousei a mão em seu pescoço, a puxando um pouco mais para mim, sentindo seus seios roçarem em meu peito e percebendo o quanto o coração dela batia forte, assim como o meu. Desci um pouco a mão para a sua cintura, por dentro da blusa que ela estava usando e ela sorriu em meus lábios, parando o beijo. - Estamos no meio de um parque, professor. - Roçou os dedos em meu peito, e suspirou.

- Eu só estava beijando você. - Me defendi.

- Sim, mas suas mãos já estavam indo fazer um caminho que eu conheço bem. - Brincou e me beijou mais uma vez. Ela voltou a deitar-se de costas e a colocar os óculos no lugar certo. - Aqui é calmo e quieto... Diferente da universidade. Estava sentindo falta de estar em um lugar assim por uns dias. - Suspirou. - Qual a foi a maior vergonha que você já passou na escola? Todos temos histórias na escola... - Brincou.

- Bem, uma vez gaguejei ao apresentar um trabalho. - Menti, eu nunca havia ido a escola.

- Que genérico. Uma vez chorei na frente da sala inteira porque zerei uma prova. - Olhou para a grama.

- Genérica também. - Provoquei e ela deu de ombros.

- Uma vez a minha turma foi acampar... já na faculdade... fui dar uns beijos dentro da barraca e esqueci a luz acesa, então foi ter um luau bem na frente da barraca que eu estava... todo mundo vendo as sombras se movendo... - Disse com pesar e eu ri.

- Não foi tão ruim assim...

- Sim, você não estava lá. - Comentou com ironia. - A professora de literatura espanhola ficou horrorizada. - Massageou as têmporas. - Mas eu sinto saudade dessa época...

- Sente?

- Você não? Por mais que eu goste de agora, a juventude é uma fase maravilhosa. Aquela bagunça que é crescer sem saber exatamente para onde iremos ou o que seremos. As inúmeras primeiras vezes...

- Claro que sinto. - Menti novamente. Raquel deitou a cabeça no meu ombro e pareceu fechar os olhos, enquanto parte de mim só conseguia se concentrar na avalanche que vinha para cima de nós dois.

[...]

Quando a noite chegou, por muita insistência de Raquel, fomos até o tal clube que ela tanto mencionava. Se tratava de um bar/restaurante com um local para dançar, ela me arrastou por entre a multidão e eu apenas a seguia, odiava aquele tipo de lugar. Raquel usava um vestido preto apertado e com alças finas, no pescoço ela tinha um colar com um pequeno pingente e nos lábios um batom vermelho, eu nunca a havia visto de batom vermelho antes, então eu quase não conseguia desviar o olhar.

Mas a minha atenção total ainda estava presa em outra coisa, em outro assunto. Eu estava ali há um dia com Raquel e me via tomado por uma angústia inexplicável. Ao mesmo tempo que eu queria estar com ela, que queria usufruir e desfrutar daqueles momentos, eu também queria dizer a verdade, ser sincero. O problema era não saber até onde a minha sinceridade nos levaria.

Todas as pessoas estavam animadas, bebendo, rindo e dançando com a música e pela primeira vez eu me senti bem em um lugar como aquele. Geralmente, aquele tipo de lugar me fazia sentir-me inseguro e sempre com medo, mas eu estava seguro com ela.

- Gostando do ambiente? - Perguntou em meu ouvido por conta da música alta.

- Não. - Respondi de volta e ela riu. Segurou as minhas duas mãos e as colocou em seus quadris, começando a movê-los ao som da música. Eu apenas dava passos para o lado tentando acompanhá-la, mas era impossível. Eu não sabia dançar e seus movimentos eram hipnotizantes. Ela jogou os braços em meus ombros e aproximou um pouco mais o corpo do meu. Segurei seus quadris com mais força, olhando apenas em seus olhos.

- Raquel... - Protestei. - Não sei dançar. - A soltei. - Não consigo acompanhar o ritmo. - Menti, naquele momento eu sentia o meu coração apertar e precisava me afastar o mínimo dela, ou iria terminar contando tudo. Nem a música, nem a dança, nada estava me distraindo.

- Amor, eu quero dançar... - Colou um pouco mais o corpo no meu e me deu um rápido beijo na boca. - Faz um esforço. Hum? Eu te ensino a dançar. - Passou as mãos por meus braços. - Você está bonito. - Admirou, já que ela havia me convencido a vestir roupas um pouco mais leves do que eu usava habitualmente. - Na verdade, você é sempre. Mas assim parece um pouco menos um professor universitário.

- Eu gosto de parecer um professor universitário. - Respondi.

- Eu sei. - Colocou as mãos em meu rosto. - Eu gosto, não quero mudar você. Mas é bom ser diferente algumas vezes... - Deu de ombros.

- Vou sentar um pouco. - Disse e ela assentiu.

- Mas você volta? - Indagou com um sorriso.

- Volto. - Andei até as mesas postas ali e escolhi uma que ficasse em um ângulo que eu pudesse observá-la. Ela percebeu o meu olhar e pareceu querer provocar, movendo os quadris de forma contínua e chamando a minha atenção para os seus movimentos. Infelizmente não era só a minha atenção que ela havia conseguido. Ela era linda, e dançando, era como colocar um letreiro por cima dela. Um tipo de reggaeton estava tocando, e ela estava no meio da multidão dançando sozinha. Resolvi ir ao bar beber alguma coisa e foi cerca de minutos para que quando eu voltasse tivesse um homem em cima dela. Coloquei a bebida na mesa e fui andando para perto dos dois.

- Não, estou acompanhada. - Ela disse educadamente, e o empurrou pelo ombro.

- Onde que eu não estou o vendo? - Rodou os olhos pelo ambiente.

- Olha, eu não quero dançar com você. - Disse e o cara segurou a sua cintura, ele era bem maior que ela, mais ou menos da minha altura.

- Sai. - Ela retirou a mão dele de sua cintura, mas ele colocou de volta, dessa vez as duas. - Não coloque as mãos em mim. - Havia uma autoridade em sua voz.

- Hum, é brava. Eu gosto. - Comentou com um sorriso malicioso.

- Sai de cima da minha mulher. - Disse e ele virou-se para me olhar. Raquel arregalou os olhos por causa do “minha mulher” e depois sorriu.

- Não sabia que ela estava acompanhada. - Tentou se justificar.

- Sim, você sabia. - Empurrei os meus óculos para trás. - E ela deixou claro várias vezes que não queria dançar com você, ela não precisava estar acompanhada para você respeitar a decisão dela. - Disse sério e ele levantou as duas mãos na frente do corpo como em um sinal de redenção e se afastou de nós dois.

- Minha mulher? - Perguntou zombeteira e eu senti o meu rosto esquentar. - Não acha que está indo rápido demais? - Colocou as duas mãos em meu ombro.

- Desculpa, eu só... vi aquele cara com as mãos em você e quis deixar claro com quem você estava. - Respondi com raiva, olhando para o homem de longe. Ela sorriu e negou com a cabeça.

- Não tem problema, eu gostei. Espero que me chame assim na cama. - Revirou os olhos como se não devesse dizer aquilo. - Agora você pretende dançar comigo?

- A noite inteira, não te deixo sozinha aqui de jeito nenhum. - Levei as minhas duas mãos para a sua cintura. Ela riu e me puxou para um beijo, um beijo calmo. Uma outra música começou a tocar e ela riu mais ainda.

- Sabe como essa música se chama? - Mordeu o lábio inferior. - “When I Kissed the Teacher”. - Disse e eu sorri ouvindo a música que falava sobre beijar um professor.

- Que oportuno, não? - Perguntei e acabei rindo também.

- Sim, amo ABBA e essa música é tudo. - Jogou a cabeça para trás rindo e eu ri também. Éramos o único casal parado na pista de dança, apenas escutando a letra da música e rindo do significado que ela possuía para nós dois. - When I kissed the teacher, couldn't quite believe her eyes, when I kissed the teacher, my whole class went wild. - Acompanhou um trecho da música. - What a mad day... - Voltou a cantar novamente e eu acabei rindo ainda mais. - Eu acho que irei cantar essa música depois da minha apresentação de tese e de te dar um beijo na frente da banca avaliativa. - Brincou.

- Não brinque com a nossa carreira. - Zombei e ela deu de ombros, colando o corpo um pouco mais no meu.

- Seria lindo... - Disse no mesmo tom de zombaria e a puxei para um beijo, descendo a mão para a curvatura de sua bunda. - Eu gosto muito de músicas dos anos 80 e 90. - Comentou com um sorriso. - E também dos anos 50 e 60, eu até curto um pouco de Elvis Presley por causa do Andrés que adora. - Revirou os olhos.

- Deve ter sido uma aventura crescer com o Andrés.

- Ah, era sim. Ele sempre teve um certo gosto por músicas muito antigas e por piano, e arte... e como ele era um pouquinho mais velho, acabou me influenciando nisso. - Deu de ombros. - Já ouviu Van Morrison?

- Não. - Neguei com a cabeça.

- Sério? Vou te mostrar umas músicas dele quando chegarmos no hotel. - Esticou-se para me beijar de leve e eu aprofundei o beijo, a colando em meu corpo. Ela ofegou em meus lábios e mordeu o meu lábio inferior.

- Pensei que iríamos dançar. - Comentou após alguns beijos.

- E vamos. - Sorri. - Você precisa me ensinar. - Acariciei um lado de seu corpo.

- Te ensinei o básico naquele dia da festa na faculdade. - Me beijou mais uma vez.

- O básico do básico, ainda possuo medo de pisar nos seus pés. Essa música é rápida... - Comentei e ela deu de ombros.

- É só você seguir o ritmo e esquecer as outras pessoas. - Moveu os quadris novamente e eu desci o olhar para sua cintura. - Não é para ficar me olhando dançar, é para dançar comigo. - Soltou os meus ombros e segurou uma de minhas mãos, entrelaçando os nossos dedos. A puxei para mim e segurei suas costas com a outra mão, a virando em direção ao chão e depois a trazendo de volta. - Isso, tipo assim. - Disse enquanto gargalhava e me puxava para outro beijo. Outra música começou e era um ritmo mais sexy e mais lento.

- Não quero dançar, mas quero que você dance. - Sussurrei em seu ouvido, raspando os dentes no lóbulo de sua orelha.

- Em você...? - Perguntou.

- De preferência. - Ela sorriu e negou com a cabeça, como se me repreendesse. A música espanhola era animada e ela virou-se de costas para mim, pousando as minhas duas mãos em seus quadris. Raquel rebolou em meu corpo e eu quase suspirei com o contato.

Ela realmente sabia como provocar.

- Coloca a mão na minha coxa. - Pediu e eu obedeci, colocando a mão em sua coxa, já dentro do vestido que ela usava. - Gosta que eu dance assim em você? - Perguntou provocante e roçando ainda mais o corpo no meu.

- Gosto. - Sussurrei de volta e ela sorriu. Beijei um lado de seu pescoço a arrancando um suspiro.

- Como isso começou a ficar erótico? - Perguntou com a respiração levemente ofegante.

- Eu não sei... - Respondi de volta, mas ainda distribuindo beijos calmos e discretos no pescoço dela, a sentindo dançar no ritmo da música enquanto roçava o corpo no meu.

- Isso está... - Virou-se para mim e me beijou. - Me acendendo... - Sorriu, me beijando mais uma vez. - Vamos voltar para o hotel?

- Você ainda não queria passar naquele bar? - Perguntei, deixando beijos leves em seu pescoço novamente.

- Já desisti, amor.

- Eu gosto quando me chama de amor. - Passei os dedos por seus cabelos, os tirando da frente de seu rosto.

- Então, vamos para o hotel para eu te chamar de amor enquanto a gente transa. - Acariciou os meus cabelos.

- Não sei, estou gostando de estar aqui.

- Sérgio... - Ela revirou os olhos.

- Gosto da música, de você dançando...

- Eu danço para você no hotel, um show particular... - Sussurrou e eu sorri.

- Agora me convenceu. - Acariciei suas costas com as duas mãos. Entrelaçamos nossas mãos e saímos do clube de mãos dadas. Caminhamos um ao lado do outro e ela respirava pesado, estava suada pela dança e ansiosa pelo que aconteceria. Eu não estava diferente. O hotel era perto dali, então rápido chegamos. Já entramos no local aos beijos e amassos.

- Vamos para a piscina? - Perguntou, olhando para trás, e para a piscina perto do jardim.

- Raquel, a piscina já está fechada a essa hora.

- Eu sei. - Me beijou novamente e me puxou pela mão. Passamos por duas piscinas e paramos perto da que era perto do jardim e consequentemente mais afastada.

- Você é louca. - Comentei com pesar, a vendo abrir o zíper do vestido e o retirar, deixando apenas uma lingerie branca. Desci os olhos por seu corpo e neguei com a cabeça. - E se alguém nos flagrar? - Perguntei um pouco nervoso e ela apenas sorriu.

- Pedimos desculpas e voltamos para o quarto, bem simples. - Esticou-se para tirar os óculos do meu rosto e os colocar na beirada da piscina. Se abaixou totalmente e entrou na água. - Ninguém vai se importar que tem um casal aqui na água, Sérgio. Além do mais, eu gosto de aventuras.

- Não vem, cariño? - Provocou, tombando a cabeça para o lado. - Tem medo de água?

- Raquel... - Olhei ao redor. Suspirei e comecei a retirar as minhas roupas, até que estivesse usando apenas cueca boxer.

- Uau, gostei do ângulo. - Brincou me olhando de alto a baixo e eu entrei na piscina também.

- Está fria. - Comentei e ela empurrou a minha cabeça para debaixo da água enquanto gargalhava. Quando voltei a superfície, ela me puxou para um beijo. Nos separamos, e ela se afundou na água, nadando até o outro lado da piscina. Eu não sabia nadar, então apenas fiquei parado a observando.

- Nada também, Sérgio. - Veio até mim.

- Não sei nadar. - Ela me olhou confusa e apenas assentiu uma vez.

- Ah, você tem apenas seis anos. - Zombou e eu revirei os olhos. - Quer aprender? - Segurou a minha mão e me arrastou para outra parte da piscina. Algumas luzes se acenderam no jardim e nós nos assustamos, mas percebemos que eram luzes automáticas. Rimos olhando um para o outro e eu a beijei novamente.

- Eu ia te ensinar a nadar... - Comentou, mas rodeou as pernas em meu quadril. Andei na água com ela em meus braços e ela deu um gritinho, me segurando pelos ombros.

- Outro dia você me ensina. - Abaixei a cabeça para beijar o seu pescoço. A girei para prensá-la contra a parede da piscina e ela sorriu.

- Vamos ter outro dia? - Perguntou e eu levei a cabeça um pouco para trás surpreso.

- Eu espero que sim, quando a sua tese acabar vamos visitar a Europa inteira. - Brinquei e ela assentiu com um sorriso. Ela me beijou novamente e terminou com selinhos demorados como se aquele fosse o nosso último beijo.

- Eu estou tão feliz com você aqui... - Sussurrou e depois engoliu em seco. A puxei para o fundo da piscina novamente e nos beijamos ali mais uma vez, quando voltamos para a superfície estávamos praticamente sem ar. - Cariño... - Sussurrou.

- Soa sexy quando você diz “Cariño”... - A puxei para mim.

- Sinto a mesma coisa quando você diz “Fiore” ... - Respondeu de volta.

- É? - Perguntei com um sorriso e ela assentiu, levando a mão para a parte de trás do sutiã e o abrindo. Ela estendeu a peça na minha frente e eu neguei com a cabeça. - Você me faz cometer cada loucura. - Disse sério. - Você está praticando nudismo na piscina do hotel.

- Ninguém está vendo... - Ela brincou. - Talvez algum segurança pervertido pode estar nos observando.

- Meu Deus, Raquel. - Olhei ao redor, mas ela virou o meu rosto com as mãos para que eu a olhasse.

- É brincadeira. - Sorriu. - Você fica assustado com tudo. Quer apostar quem fica mais tempo sem respirar embaixo da água? - Perguntou eufórica.

- Raquel, eu não tenho doze anos... - Antes que eu terminasse a sentença, ela empurrou a minha cabeça para baixo novamente. Aproveitei a deixa e puxei seu pé, a fazendo afundar. Voltei a superfície e ela me deu um tapa no ombro.

- Brincadeira pesada...

- Então é só você que pode? - Perguntei enquanto ria e ela assentiu. A levantei em meus braços novamente, dessa vez a segurando pela cintura e ela me beijou mais uma vez. Coloquei a mão em um lado de seu pescoço, e encostei a testa na dela, tentando acalmar as nossas respirações.

- Talvez estivéssemos mesmo destinados. - Comentei perto de sua boca. - Nosso amor é como um daqueles livros...

- Se fosse um livro, seria a minha história favorita. - Sussurrou, enquanto acariciava um lado de meu rosto. - Vamos para o quarto? - Perguntou e eu assenti. Saímos da piscina, vestimos as roupas e fomos para o quarto, entre vários beijos no elevador. Assim que eu fechei a porta atrás de mim, Raquel abriu a minha camisa, a retirando com a nossa conhecida pressa. Ela riu um pouco e trocou a posição que estávamos, me empurrando em cima da cama.

- Eu te prometi um showzinho particular. - Sorriu maliciosa.

- Sim, prometeu. - Confirmei. - Vai fazer agora? - Indaguei e ela assentiu com um sorriso malicioso. Raquel colocou uma das mãos atrás das costas em intenção de abrir o zíper do vestido e olhou para o meu quadril, e foi como se a mente dela fizesse um “clique”. Ela deixou a mão cair ao lado do corpo e apenas fixou o olhar em meu quadril.

- O produto da multiplicação dos números da sua tatuagem em pares resulta em oitocentos e dez mil. Dividindo sobre mil, oitocentos e dez. O número da “marca” da máfia. Porra, é você. É você. O cara do golpe é você. Você é o filho dos Dalís, o assaltante dos códigos... - Riu irônica e passou as mãos pelos cabelos olhando para baixo, quando ela voltou a me olhar, uma das veias dela estava quase saltando para fora da pele da testa.

- Raquel... - Tentei, mas ela não parecia querer me ouvir.

Sim, o momento que eu mais temia havia chegado. E já não havia mais como fugir.



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