História Take Me To Church - Stay

“Foi uma febre o tempo todo. Uma pessoa crédula, medrosa e impulsiva. Joguei minhas mãos para o alto, eu disse 'mostre-me algo’ Ele disse, 'se você se atreve, chegue mais perto’. Por aí, por aí, por aí nós vamos. Oh, diga-me agora, diga-me agora, diga-me agora, você sabe...

— Demetria... Eu...

Completamente sem reação era como eu estava naquele momento, encarava os olhos castanhos sem ao menos conseguir formular uma frase inteira. A morena a minha frente estava neutra, esperando uma resposta sobre o beijo e as desculpas que acabara de me dar. Foi então que tomei uma atitude.

— Tenho que ir!

As únicas palavras que saíram por minha boca foram essas, não esperei Demetria se mexer para sair correndo dali como uma idiota que foge dos seus medos. Mas que merda! Ela não tinha nada que me beijar, dizer que me ama e ainda pedir desculpa. Não era assim que eu planejava, eu que deveria correr atrás dela, fazer a mesma se apaixonar e por fim, a abandonar. Deus, Demetria me ama! Ou será que está apenas mentindo mais uma vez?

Em meu carro, apertei o volante com força enquanto dirigia. Bufei com raiva de mim mesma, de Demetria. Lembrando de tudo que passei por causa dela, eu fui parar na reabilitação e a perdoei. Não posso fazer isso novamente, não posso me deixar levar por um sentimento idiota que tenho por ela. Meus planos tem que continuar.

— Miley, você também não se decide!

José ralhou comigo.

— Não era isso que você queria? A mulher está nos seus pés.

— Mas eu não queria, não assim... Minha cabeça está uma bagunça.

— É claro que está. Você ama ela!

Soltei um grande suspiro aos ouvir tais palavras “você ama ela”. Não tenho ideia do que está acontecendo na minha cabeça, coração, nada. Afirmar que amo Demetria é bobagem demais, sentir o que eu sentia no passado é burrice demais!

— Responde ela, não aguento mais ouvir esse celular apitando.

Revirei os olhos para meu melhor amigo que jogou o celular em minha direção, desde que saí do parque, meu celular vem apitando e o nome de Demetria brilhando em minha tela, parecia desesperada.

“Miley, me desculpa, não sei o que deu em mim.”

“Espero que não fique chateada.”

“Me desculpa se você tem alguém.”

“Me mande um sinal de vida, você saiu correndo.”

“Não quero perder você mais uma vez, por favor.”

— Vou a chamar para vir aqui.

Encarei José, vendo sua expressão mudar.

— Na minha casa? Miley...

— Um jantar, hoje a noite, quero que ela se aproxime de nós novamente.

Tudo por água abaixo? Nem pensar. Demetria iria pagar, voltar atrás não está nas minhas opções. Meu melhor amigo, bufou, sabendo das minhas intenções. Encarei meu celular, o ignorando e digitando para Demetria.

“Vamos jantar na casa do José, te mando o endereço, ok? Me desculpa por sair daquele jeito, fiquei surpresa.”

Umedeci meus lábios, estava nervosa demais, mas isso iria passar. Hoje irei agir naturalmente, se Demetria me beijar irei retribuir, serei a mulher perfeita ao seu lado, mas quando a mesma menos esperar, não me terá mais. Está decidido.

Demetria não demorou a responder minha mensagem confirmando que viria ao jantar, me perguntei por um momento o que seu noivo acharia disso. Afinal, o que esses dois tem de verdade? Se a morena gostasse pelo menos do seu noivo, não iria me beijar, certo? Preciso de respostas.

Resolvi que ficaria até o horário do jantar com José, Mike não estava em casa então, meu melhor amigo aproveitou para falar até sobre sua vida sexual. O mesmo quando quer consegue ser um tagarela insuportável, dei graças a Deus quando Mike chegou para acalma-lo um pouco.

— Já estava ficando tonta.

Reclamei, jogando meu corpo no sofá exausta de ouvir José falar. O mesmo me deu o dedo do meio e beijou seu marido, fiz uma cara de nojo, mesmo admirando o casal que eles fazem.

— Demetria vai vir jantar aqui.

— Já voltaram? Você me deve uma recompensa.

Mike sorriu malicioso para José, franzi a testa.

— Como assim?

— José disse que Demetria não iria querer nada com você, eu disse que vocês acabariam juntas, acho que ganhei uma aposta.

— Vocês são um nojo.

Neguei, reprovando a atitude dos dois.

— Vou tomar um banho para esperar a visita então, já volto.

Mike deu um último beijo em José e correu para o quarto. Por alguns segundos me imaginei tendo uma vida assim com Demetria, mas teria Beatriz junto, certo? Se bem, que as vezes parece que a menina nem é filha da morena, as duas não parecem ter intimidade alguma.

Tentei me livrar daqueles pensamentos, não foi difícil já que José voltou a falar, não sei como Mike o aguenta, parece que o mesmo não consegue manter a língua dentro da boca. Dei graças a Deus quando o mesmo saiu do banho e se juntou a nós, José foi para a cozinha enquanto nós conversávamos sobre jogos e assuntos aleatórios.

— Ela chegou!

José anunciou assim que a campainha tocou, fiquei alguns segundos estática sem saber o que fazer, mas logo tomei a atitude de ir atender a porta. Demetria estava trajando as mesmas roupas de algumas horas atrás, ela está tão linda!

— Oi.

Seu tom tímido despertou-me.

— Entra.

Pedi, dando espaço para que ela passasse e a mesma o fez. Fechei a porta atrás de mim e caminhei com Demetria até a sala, José e Mike pareciam discutir entre sussurros então, forcei a garganta chamando a atenção dos dois.

— Uhn, oi, Demi.

Mike levantou e apertou a mão de Demetria que sorriu de forma simpática. José levantou, mas apenas acenou para a morena que deu um sorriso fraco em resposta.

— Não liga para ele. Senta, fique a vontade.

O marido de José voltou a falar e assim Demetria o fez, sentei ao seu lado enquanto observava José voltar para a cozinha. O mesmo consegue ser inconveniente quando quer.

— Você trabalhou hoje?

Puxei assunto, encarando Demetria que assentiu.

— Não tem um dia que eu não trabalhe, eu mal paro em casa.

Deu de ombros, não se importando com tal. É tão ruim assim ficar em casa para a mesma ter tanto amor pelo trabalho? Existe uma grande diferença de amar o que faz e ter obsessão, ou apenas tentar fugir de algo.

— Seu marido sabe que está aqui?

— Noivo.

Corrigiu-me.

— E bom, ele sabe sim.

— Eu vou ver se José quer ajuda.

Mike levantou percebendo que estava sobrando. Péssima atitude Mike, eu não quero ficar sozinha com Demetria, pelo menos não agora. Droga, estou nervosa.

— Sobre hoje a tarde...

— Demi.

— Me deixa falar.

Pediu, virando seu corpo no sofá para encarar-me melhor, suas mãos tocaram as minhas deixando-me ainda mais apreensiva.

— Eu peço desculpas, ok? Não quero nada além da sua amizade, eu não sei o que deu em mim naquele momento.

Ok, ela me beija, diz que me ama, pede desculpa e agora diz que não sabe o que deu nela? Demetria...

— Não que que não quisesse te beijar, mas devo ter te assustado... E eu tenho Tyler, Beatriz...

Dessa vez a loucura quem fez foi eu, colei meus lábios nos seus, interrompendo qualquer bobagem que estava por vir. Demetria suspirou sobre minha boca, relaxando seus ombros.

— Para de falar.

Pedi, impaciente.

— Só deixa as coisas acontecerem, ok?

Demetria assentiu, sorrindo largo a minha proposta e roubando-me um selinho. Seus lábios tinham a mesma doçura e inocência de cinco anos atrás, é como se nada tivesse mudado nela, apenas a aparência para mais madura, mais mulher!

— Agora vamos ver o que aqueles dois estão aprontando na cozinha.

Levantei, puxando a mesma pela mão, Demetria travou não querendo sair do sofá, franzi a testa encarando a mesma que suspirou.

— José não me quer aqui, isso é nítido.

— Mas eu quero, não ligue, você sabe como ele é.

— Miley...

— Sem essa, vamos.

A puxei fazendo a mesma levantar. De má vontade ela me seguiu até a cozinha ainda sem desgrudar nossas mãos, o que foi a primeira coisa que José reparou.

— Nem pense.

Ralhei com o mesmo antes que ele falasse alguma bobagem, revirando os olhos o mesmo levantou as mãos em sinal de rendimento.

Sentei com Demetria a mesa, Mike foi simpático o bastante para puxar assunto com ela sobre o trabalho e a mesma se propôs a responder todas as perguntas do curioso. José passou o jantar inteiro quieto, emburrado para ser mais específica, mas não dei bola a ele. Nós três nos dávamos muito bem sem aquele tagarela. O tempo passou e tivemos que nos despedir, levar Demetria em casa era um dos meus planos e a mesma aceitou de boa vontade, sem ao menos pensar.

— Quando podemos sair eu, você e Beatriz?

Indaguei assim que chegamos a frente da luxuosa casa da médica. Quem diria que a mesma iria sair daquele pequeno apartamento dado pelos pais para uma casa de mais de dois andares.

— Podemos ir com calma? Tem coisas que precisam ser resolvidas.

— Tipo seu noivado?

— Tipo meu noivado.

Confirmou.

— Por que não se casou?

Franzi a testa, curiosa.

— Primeiro a gravidez, depois esperar Beatriz crescer.

— Mas ela já cresceu.

— É, meu casamento está marcado para semana que vem.

Falou por fim. Arregalei os olhos em sua direção, Demetria falava tão naturalmente que nem parecia que a mesma havia me beijado hoje.

— Demetria...

— Se for ficar comigo, eu não caso, juro, Miley.

Os castanhos focaram em mim, sua boca tremia ao falar, mas pela primeira vez eu tinha total certeza das palavras de Demetria.

— Diga que vai ficar comigo e eu acabo meu noivado amanhã mesmo! Diga, Miley.

— Eu vou ficar com você, Demetria.

...Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso, algo no seu jeito de se mexer faz com que eu acredite não ser possível viver sem você. Isso me leva do começo ao fim, quero que você fique.”

Stay - Rihanna