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História Take my Hand - Negociação


Escrita por: kaisoophilia

Notas do Autor


ooi gente
desculpa a demora
tentei postar antes do ano novo, nao deu
tentei postar antes do niver do d.o e do kai mas tb nao deu
mas finalmente eu finalizei essa porra hj!!!! ta foda arrumar tempo mesmo nas férias
vou tentar nao demorar muito no prox capitulo
vms ver se ela da uma aumentada nos views dps do de hj
espero q gostem
boa leitura e uma ótima semana p todos
bjs e obgd por lerem <3

Capítulo 3 - Negociação


"you gave up being good when you declared a state of war." - | Kill V Maim - Grimes

 

A senhora D.O nunca se lamentou de pegar o turno da noite na cozinha do restaurante do hotel cinco estrelas onde cozinhava de mão cheia, no centro de Seul. E gostava disso porque era o turno mais tranquilo de todos e de onde podia sair as melhores gorjetas; começava um pouco puxado no início da noite, com clientes entrando e saindo e pedindo as refeições mais caras e gordas depois de um dia exaustivo de trabalho. Pouco depois da meia noite, a clientela se reduzia a alguns casais jovens jantando timidamente aqui e ali ou a algum sujeito mal encarado e solitário, sentado cabisbaixo numa das mesas mais distantes acompanhado de um cigarro preso nos dedos e um copo cheio de uísque.

Quando o restaurante ficava por fim desocupado, pouco depois das três da manhã, a senhora D.O dispensava alguns garçons e até os ajudava a empilhar as cadeiras sobre as mesas. Aconchegava-se num canto no quartinho dos funcionários enquanto as moças da limpeza executavam a faxina, acompanhada de um romance de páginas amarelas ou simplesmente assistindo a qualquer coisa na pobre tevê pré-histórica que ficava suspensa num canto de cima rodeada de teias de aranha. A senhora D.O sabia que o filho detestava que a mãe trabalhasse á noite, mas para ela isso servia para ensiná-lo a se virar sozinho e como bônus lhe dava a liberdade que todos os jovens imploram e quase nunca encontram em casa. Deixava sempre uma boa quantia em dinheiro na mesa da cozinha ou na escrivaninha do corredor, sempre acompanhado de um bilhete para o filho e com esse gesto ela sentia seu papel de mãe responsável cumprido.

Naquela madrugada, porém, a senhora D.O não iria ler romance algum, nem praguejar com a imagem ruim da tevê por não conseguir ouvir direito ao noticiário. Nem mesmo esperaria que seu turno terminasse. Quando um dos filhos do patrão entrou de supetão no quartinho dos funcionários, tinha o rosto paralisado de preocupação e os olhos arregalados.

- aconteceu... aconteceu um acidente! - balbuciou ele e saiu correndo.

A senhora D.O mal tinha acabado de se soltar do avental e largou-o no chão sem ao menos dobrá-lo, saindo ás pressas atrás do subchefe. Sob o pequeno balcão que recepcionava os clientes, a tela do computador exibia a notícia em letras garrafais. A boate para onde o filho tinha dito que iria havia sido incendiada, reduzida a pó e tocos de madeira enegrecidos. A polícia não tinha suspeita de que fosse incêndio acidental ou não e ainda demoraria a descobrir, mas o número de vítimas era zero. Com a mão ainda cobrindo a boca de espanto, a senhora D.O se afastou e correu para buscar sua bolsa. Demoraria quase meia hora para chegar em sua casa pela distância, mesmo de carro e com o trânsito ainda dormindo. Nem ao menos avisou aos poucos colegas de trabalho que ficavam para trás que iria compensar as horas extras depois. Correu até o estacionamento do hotel revirando a bolsa em busca das chaves, lançando palavrões ao vento por não conseguir encontrá-las em nenhum dos pequenos bolsos interiores. O estacionamento ecoava seus passos por toda a parte e os carros perfeitamente alinhados dormiam sob a pálida iluminação fluorescente.

- está procurando isso aqui? – perguntou uma voz ao seu lado.

A senhora D.O se virou num susto, o rosto ficando inteiramente branco enquanto a voz do rapaz ecoava pelas paredes do estacionamento como um trovão. Um jovem loiro estava sentado sobre o teto reluzente de um charmoso carro de lataria preta. Ouviu-se um tilintar metálico e a senhora D.O encontrou seu pequeno molho de chaves erguendo-se no ar na mão daquele jovem que ela nunca tinha visto na vida. O chaveiro do Pororo que ela ganhara do filho anos atrás quando ele estava ainda na pré-escola balançou entre as chaves.

- Quem é você e como conseguiu pegar isto? – ladrou a senhora D.O revoltadamente. – devolva!

- não tão rápido mulher. – outra voz surgiu desta vez e ao se virar novamente ela deu de cara com outro jovem estranho, menor que o outro que permanecia sentado em cima do carro.

O segundo jovem parecia menos ameaçador que o primeiro e a senhora D.O até sentiu uma néscia de alívio quando imaginou que ele poderia ter vindo para lhe ajudar. Ele vestia roupas caras e tinha o visual de um dos galãs de seus dramas favoritos. Mas ele havia dito mulher, e não rapaz.

- mas quem diabos são vocês? – sua voz começava a ficar esganiçada, denotando que estava se sentindo ameaçada. – tenho pressa, meu filho precisa de mim.

- nós também precisamos dele. – vociferou Suho, revirando os olhos. – mas morto.

Lady D.O, como o marido um dia a chamou assim, começou a se sentir zonza. A visão se tornara turva e já não tinha certeza se via um garoto ou dois no mesmo lugar. O jovem em cima do carro dava risadinhas e o outro á sua frente a encarava de modo sério, parecendo até mesmo cheio de tédio. A mulher caiu sob os joelhos, levando as mãos ao pescoço, o corpo sacolejando em agonia. Tinha a língua para fora e com muito esforço conseguiu pronunciar quase inaudivelmente: “Ar... Ar... respiro... não!”

Com o rosto começando a tomar uma tonalidade arroxeada, Lady D.O sucumbiu ao chão. Sehun e Suho a assistiram calmamente enquanto a mulher perdia o ar e desmaiava. Quando ela ficou imóvel e os membros afrouxaram ao lado da bolsa, Suho deu alguns passos em sua direção com a mão aberta suspensa no ar. Seus dedos tocaram algo invisível, delicado, e o garoto espalmou levemente a mão sob uma superfície inclinada e transparente: uma enorme bolha de água. Uma jaula para a mãe de D.O.

- eu sempre quis usar esse golpe. – murmurou Suho olhando para sua mão enquanto Sehun descia de cima do carro levitando na direção do amigo. – não tinha certeza de que estava suficientemente bom.

- está brincando? Se eu pudesse fazer isso prenderia essa cidade inteira dentro de uma bolha, mataria a todos! – comentou alegremente Sehun. Suho revirou os olhos novamente.

A bolha se desfez num estalo surdo quando Suho afastou sua mão e o ar voltou a rodear a atmosfera em volta da Senhora D.O. No entanto, a mulher permaneceu desacordada. Sehun rapidamente a colocou sob os ombros depois de arremessar as chaves do carro para o colega.

- vamos levar a senhora D.O pra casa. – Suho apontou o controle do alarme em todas as direções e logo ouviu o bip do carro vindo dos fundos do estacionamento, num canto totalmente escuro. As luzes laterais piscaram como grandes olhos vermelhos na penumbra. Sehun o seguiu com a mãe de D.O balançando nas costas e rapidamente os garotos deixaram o estacionamento sem serem notados.

 

 

 

A casa de Kyungsoo tinha um cheiro agradável que dava a ideia de lar e todos os móveis, tapetes e quadros estavam sempre todos perfeitamente arrumados e alinhados, obra do próprio garoto, pois Baekhyun duvidava que aquilo tudo pudesse ter sido feito diariamente pela pobre senhora D.O. No quarto de Kyungsoo uma cama e uma escrivaninha encimada por um computador antigo lutavam por espaço no mesmo canto e no outro o guarda roupas vomitava uma pilha de uniformes escolar sujos pelas portas entreabertas. Kyungsoo sentiu-se envergonhado de ter de colocar todos lá dentro, mas era o único lugar onde poderiam conversar sem serem incomodados. Ao abrir a porta Jongin caiu sob suas costas como uma parede de tijolos desmoronando.

- essa não! – resmungou Chanyeol, puxando o amigo pela roupa.

- o que está havendo? – precipitou-se Baekhyun ao ver Kyungsoo desaparecendo debaixo de Jongin.

- acontece quando ele teleporta gente demais. – esclareceu Chanyeol erguendo o rosto de Jongin, que estava de olhos fechados. – eu já o avisei tantas vezes, mas ele nunca dá ouvidos a ninguém. Tem algum lugar onde eu possa colocá-lo?

A perspectiva de ter Jongin deitado em sua cama fez o estômago de Kyungsoo revirar, libertando borboletas em todas as direções e ele silenciosamente rezou para que não estivesse ficando vermelho. Lançou um breve olhar a Baekhyun, mas o amigo tinha os olhos em Jongin e parecia seriamente preocupado.

- coloque-o aqui. – Kyungsoo afastou-se e foi até a cama, empurrando os objetos que jaziam sob ela para o canto e arrumando o lençol em seguida.

Chanyeol passou um dos braços de Jongin em volta do pescoço e Baekhyun fez o mesmo, dividindo o peso do rapaz entre eles. Jongin parecia um boneco de pano, a cabeça pendendo para baixo escondendo-lhe o rosto. As articulações pareceram de borracha quando os garotos o arrumaram cuidadosamente em cima da cama. Já era possível ouvi-lo roncando baixinho.

- aí está o seu herói. – disse Chanyeol tentando parecer descontraído. – mal teve uma luta e ele já desmaia como um bêbado.

Kyungsoo terminava de posicionar um travesseiro debaixo da cabeça de Jongin, segurando os dedos para não acariciar-lhe os cabelos levemente úmidos do chuvisco da manhã.

- ele sempre desmaia quando teletransporta demais? – perguntou Baekhyun com o olhar crítico.

- sabemos muito pouco sobre nós ainda. – declarou Chanyeol com pesar. – conhecemos nossas habilidades mais ainda não as controlamos direito e nem sabemos a que dimensão elas podem chegar. Jongin nunca teleportou seres humanos normais, então não posso lhe dizer se teleportar mais de um o cansaria tanto, mas sabemos que teleportar outros como nós e em maior número lhe sugam toda a energia. Duvido que vá acordar até amanhã.

- até amanhã?! – Kyungsoo sobressaltou-se, deixando de ficar de joelhos ao lado de Jongin e indo parar de frente com Chanyeol. – mas ele não pode... quero dizer, não podemos... não temos tanto tempo assim! Minha mãe retornará em breve e...

- tenho certeza de que você poderá lidar muito bem com isso. – Baekhyun lhe deu tapinhas amigáveis no ombro, seguidos de uma piscadela cúmplice. Kyungsoo percebeu que o amigo não saía do lado de Chanyeol e que tinham os braços quase entrelaçados.

- você não conhece minha mãe... – resmungou Kyungsoo.

- você já conseguiu me fazer colocar milhões de garotos aqui pra dentro quando te pedi! – Baekhyun começou a argumentar, e ao mencionar daquela frase, Chanyeol lhe desviou um olhar desconfiado. – acha que vai ser muito difícil esconder da sua mãe que nunca está em casa alguém que pode se teletransportar? Eu acho que não.

- fique você com a tarefa então. – rebateu Kyungsoo.

- eu adoraria, mas notei que sua geladeira está deserta e estamos em quatro. Nesse caso, vou sair para fazer compras. Vai ficar tudo bem, eu não vou demorar. Chanyeol, você pode me acompanhar? Podemos tratar de tudo mais tarde.

A geladeira não estava de todo vazia e Kyungsoo não entendeu por que Baekhyun tinha de comprar comida para todos quando a casa dele ficava a dois quarteirões de distância. Algo naquela atitude o fez desconfiar de que o amigo queria mais tempo a sós com Chanyeol e de quebra deixá-lo tempo a sós com Jongin, que dormia de boa aberta. Kyungsoo não gostou da ideia.

- e se eles voltarem? – perguntou Kyungsoo ao ver os dois se movimentarem para fora do quarto.

- duvido que consigam antes que nós voltemos do supermercado. – acalmou-o Baekhyun. – voltaremos logo.

Havia tantas coisas que Kyungsoo queria perguntar... Desejava acima de tudo saber quem era e por que era o que era. Queria saber por que Baekhyun também tinha poderes e por que nunca tinha lhe dito nada. Queria saber de onde Chanyeol e Jongin tinham vindo e por que este segundo havia desistido de cumprir sua tarefa. Mas ele agora estava adormecido, jogado em sua cama de barriga pra cima com um dos braços jogado em volta da cabeça. Kyungsoo ouviu os ruídos abafados da dupla descendo as escadas, abrindo a porta dos fundos novamente e saindo para o quintal que começava a clarear com o amanhecer. Quando os murmúrios de Baekhyun e Chanyeol desapareceram, enfim Kyungsoo sentiu-se completamente sozinho. Atreveu-se a olhar para a cama rápida e repetidas vezes enquanto trocava de roupa desajeitadamente num canto, certificando-se de que Jongin ainda dormia. Seu ronco enchia o ar do quarto e Kyungsoo se perguntava se a mãe conseguiria ouvir aqueles ruídos. Mãe... afinal onde estava sua mãe? Ela nunca chegava antes do sol subir. Correu na direção do telefone em cima da escrivaninha e no instante em que tocou o aparelho algo firmemente agarrou seu pulso: dedos fortes e ossudos que apertavam como alicate a pele branca. Kyungsoo estremeceu por dentro engolindo o susto.

- água... por favor. – pediu Jongin, e desmaiou novamente.

Kyungsoo puxou o braço de volta no instante em que a mão de Jongin amoleceu e saiu correndo do quarto. Com o braço tremendo posicionou o copo debaixo da torneira enquanto ele enchia-se de água, supresso ao ver as marcas vermelhas que ficaram em sua pele. Tornou a subir vacilante as escadas, o copo cheio até a borda pingando por onde passava. Seu quarto estava bem mais aquecido por dentro do que o resto da casa, e uma claridade opaca entrava pela fresta das cortinas, indo depositar um raio de sol no rosto de Jongin. Kyungsoo apressou-se em fechar a janela e no segundo seguinte deparou-se com a difícil tarefa de acordar Jongin para que bebesse a água.  

O garoto ajoelhou-se ao lado da cama, ficando com o rosto de frente para Jongin e a centímetros dele. Cutucou-o no ombro com a ponta do dedo feito uma criança e prosseguiu por alguns instantes, sem efeito. Jongin tossiu e remexe-se sob o colchão e continuou roncando. Algo em seus lábios chamou a atenção de Kyungsoo: estavam muito secos e rachados como lama seca. Lembrou-se de que havia apenas algumas horas desejara aqueles lábios como um consolo para outra noite solitária na boate com Baekhyun, mas naquele momento percebeu que queria aqueles lábios por muito mais que apenas uma noite. Jongin era sem dúvida um rapaz muito bonito. Os cabelos cor de bronze lhe caíam lindamente sob os olhos rodeados de olheiras, a pele morena parecia encerada á luz do sol e assisti-lo dormindo era como ver um filme que queremos que nunca se acabe.

Kyungsoo molhou as pontas dos dedos na água, na esperança de fazer Jongin acordar com o toque ao passá-los por seus lábios ressecados. Tocou-os com o dedo úmido e lentamente começou a desliza-lo pela superfície rugosa e macia, sentindo a temperatura agradável que emanava do corpo do belo adormecido. Logo os lábios de Jongin ficaram molhados e mais escuros e subitamente o rapaz acordou. Kyungsoo se preparava para molhar os dedos novamente quando viu olhos de águia o encarando de cima do travesseiro.

Quase derrubou o copo em cima do telefone com o susto, mas Jongin segurou-o ao puxá-lo pela gola da camiseta. Ficaram ainda mais de frente um para o outro, as pontas dos narizes quase roçando. Kyungsoo podia sentir a respiração quente do rapaz espalhar-se em volta de suas bochechas.

- não quis acordá-lo. – foi tudo o que conseguiu dizer aos olhos ameaçadores que o encaravam.

Jongin soltou-o num gesto seco, voltando sua atenção para o copo com água. Bebeu-o e depois virou-se na cama, dando as costas á Kyungsoo.

- diga a Chanyeol para me acordar quando voltar, aquele imbecil. – resmungou numa voz rouca. Doía agir daquela forma, mas era necessário.

Kyungsoo ficou encarando as costas de Jongin ainda agasalhadas com a jaqueta de couro, sentindo-se um completo paspalho. Silenciosamente colocou-se de pé, apanhou o copo vazio de cima da escrivaninha e saiu do quarto sem fazer barulho. Agradeceu pela mãe ainda não ter retornado nem Baekhyun e Chanyeol, pois assim pôde chorar despreocupadamente no quartinho debaixo das escadas. Apesar das emoções fluindo por ele como veneno, nenhum tremor aconteceu em parte alguma.

 

 

 

A casa onde Kyungsoo e a mãe moravam ficava no fim de uma rua estreita pavimentada com rochas e ladeada por prédios escuros e antigos, silenciosos àquela hora da manhã. Nenhuma janela tinha sido aberta ainda e Baekhyun caminhava pela sombra, encolhido contra a parede. Chanyeol preferia ir pelo meio da rua absorvendo a luz dourada e quente da manhã, o brilho ofuscante em seus cabelos castanhos delicadamente assumindo o tom avermelhado de madeira em brasa. Uma brisa doce e gelada acariciava seus rostos e fazia as sacolas em suas mãos farfalharem. Tinham comprado leite, pão e algumas frutas. A residência dos D.O aguardava no pé da ladeira por onde eles desciam em silêncio, timidamente escondida entre as árvores altas que a mãe de Kyungsoo recusava-se a podar, envolta numa escuridão que o sol ainda não tinha conseguido espantar. As árvores espalhadas pelo jardim em volta da casa davam a impressão de que a cercavam numa atitude de proteção com seus longos galhos suspensos em direção á casa, compridos como mãos esqueléticas. Durante todo o percurso os garotos tinham se mantido estranhamente em silêncio embora Baekhyun tivesse tantas perguntas presas na garganta que parecia que iria estrangulá-lo a qualquer momento. No entanto, para sua surpresa, Chanyeol falou primeiro:

- sinto cheiro de água. – anunciou numa voz tensa. – fique atento.

Baekhyun olhou ao redor sem prestar realmente atenção a nada em particular, procurando vultos e qualquer coisa que se assemelhasse a um ser humano na varanda das casas, nas esquinas silenciosas, entre os carros estacionados ao longo da rua. Não havia nada ali. Nenhum rapazinho vestido de azul, nenhum magricela loiro saltitando em parte alguma. Sehun e Suho deviam estar longe e com certeza já nem se lembravam de Kyungsoo, era essa a esperança de Baekhyun.

- então... o que exatamente são vocês? – lançou a pergunta a Chanyeol despreocupadamente, retomando o passo. Faltava pouco para chegar de volta a casa de D.O e desfrutar de um bom café da manhã.

- nós? – havia uma néscia de desdém na voz de Chanyeol. – me corrija se eu estiver errado, mas eu não sou o único com habilidades incomuns aqui. – e lançou um olhar de cobiça para o garoto caminhando ao seu lado.

- acontece que eu não faço parte de nenhum grupo terrorista que mata garotos mutantes por aí. Tenho família, amigos, raízes... sei de onde eu vim. – defendeu-se Baekhyun, arrependendo-se logo depois de tê-lo dito quando notou um fragmento de tristeza perpassar o semblante do maior e logo acrescentou: - o que eu nunca soube foi porque nasci com fotocinese.

Chanyeol bufou mas Baekhyun pensou ter ouvido um riso abafado.

- tem muitas coisas que você não sabe ainda. – resmungou Chanyeol.

- então me diga.

Baekhyun havia parado de andar e ficou olhando para a nuca de Chanyeol até o maior se dar conta e voltar-se para ele, encarando-o. Os olhos do menor pareciam cheios de esperança e incerteza e imploravam por respostas que Chanyeol não podia dar.

- vamos apenas comer alguma coisa primeiro, estou com muita fome. Podemos falar disso depois. – o maior disse simplesmente depois de um incômodo silêncio.

Uma figura vestida de azul cruzou a esquina e os olhos de Chanyeol estreitaram-se enquanto Suho se aproximava por trás de Baekhyun. O leite esparramou-se dentro da sacola depois da garrafa estilhaçar-se no momento em que Chanyeol soltou-a e correu para ser o escudo de Baekhyun novamente.

- acalme-se, estou aqui pacificamente. – esclareceu Suho erguendo as mãos no ar em sinal de paz ao perceber a raiva animalesca nos olhos do gigante; era a primeira vez que via Chanyeol agir daquela forma.

- saia daqui Suho ou garanto que seu novo poder será controle do vapor. – vociferou Chanyeol. Baekhyun havia se colocado atrás dele, assustado demais para encarar o psicopata diante deles.

Suho riu.

- agora você está exatamente igual ao Jongin. Sehun sempre disse que você morria de vontade de ser igual a ele. E então, do que eu te chamo agora? Jongin 2?

Chanyeol quis avançar, mas uma mãozinha apertada em volta de seu casaco atrás dele o deteve. A rua permanecia em silêncio e as pessoas ainda dormiam dentro de suas casas. Não muito longe dali um cãozinho começou a latir irritado com as vozes dos garotos.

- de qualquer maneira, meu objetivo aqui é outro. – prosseguiu Suho calmamente. – Chanyeol, sejamos práticos. Preciso que volte para o grupo. Sabe que estão em desvantagem. Agradeça por você e Jongin não estarem na lista, mas quanto aos outros que vocês tentaram salvar... – o líder meneou a cabeça pesarosamente. – eles precisam morrer. É isso ou nada.

- eu não vou voltar Suho, nunca! – foi a resposta de Chanyeol.

- então você nunca vai saber de onde veio. – os olhos de Suho estavam semicerrados como o de um predador, cheios de ira diante da teimosia. – nem você, nem ele.

O queixo do líder se projetou na direção de Baekhyun que espiava por cima do ombro do maior.

- do que ele está falando? - perguntou Baekhyun como uma criança perguntando se Papai Noel existe.

Chanyeol ignorou-o. Suho abriu os lábios para discursar novamente:

- nesse caso, temo que devêssemos fazer uma pequena negociação. Uma vida por duas. Não será uma troca justa, eu sei.

- do que está falando?

Suho sacou um celular de um dos vários bolsos do sobretudo azul marinho que vestia. Na luz pálida da tela do aparelho exibia-se a foto de uma mulher amordaçada e inconsciente.

- meu deus... – sussurrou Baekhyun. – é a mãe do Kyungsoo. O que fizeram com ela?!

- venha até mim com seu amiguinho e nada acontecerá a nossa doce cozinheira. – respondeu Suho numa tranquilidade exagerada.

- não dê atenção a ele! – Chanyeol virou-se para Baekhyun.

- informe ao seu líder, Chanyeol! – Suho começava a se afastar indo na direção de onde tinha vindo. – vocês têm até a meia noite. Encontrem-nos no mesmo lugar em que nos reunimos pela última vez.

As mãos de Chanyeol ainda seguravam Baekhyun firmemente pelos ombros e o apertão estava começando a incomodar o menor. Chanyeol estava pálido, com os olhos arregalados, cheio de raiva e seu peito estava quente como se tivesse possuído por uma terrível febre.

- o que vamos fazer agora? – perguntou a voz trêmula de Baekhyun.

- pensar.

Baekhyun acabou voltando sozinho para a casa de Kyungsoo enquanto o maior subia novamente á rua em direção ao mercadinho para buscar outra garrafa de leite. Embora ambos estivessem atentos a qualquer sinal de Suho enquanto andavam pela rua, acabaram terminando aliviados ao perceberem que o líder tinha de fato realmente ido embora. O cheiro de chuva desapareceu no ar. Os rapazes estavam tão atentos a ameaças que acabaram não notando que tinham sido observados por duas figuras desconhecidas paradas lado a lado no alto de uma das casas velhas ao longo da rua.

- o que acha disso? – perguntou uma dos sujeitos que tinha a pele exalando uma espessa névoa branca que ondulava em volta de seu corpo. – podemos nos intrometer agora?

- ainda não. – respondeu o outro depois de um minuto de análise do território. – vamos ver o que acontece nessa tal meia noite. Tenho certeza que será divertido.

E assim como Suho, também estes desapareceram antes que o sol estivesse alto demais para que alguém pudesse notá-los.

 

Kyungsoo havia adormecido no armário sobre as escadas, com um tapete enrolado improvisado como travesseiro e o gosto salgado das lágrimas espalhando-se na boca. Quando acordou, Baekhyun o observava da entrada do armário com a cabeça inclinada sob o teto baixo. O amigo havia deixado-o dormir por algumas horas ainda que tivesse sido no armário que era usado para guardar os instrumentos de limpeza e quinquilharias da mãe, mas na verdade Baekhyun desejava apenas encontrar a forma certa de dizer a Kyungsoo que sua mãe era agora a refém de dois garotos psicopatas com super poderes, se é que existia algum jeito certo de dizer isso a alguém. Vinha pensando nisso a manhã toda e, no entanto Baekhyun ainda não havia tido nenhuma luz, muito menos Chanyeol. Tomaram café da manhã incrivelmente em silêncio e o gigante permaneceu mudo boa parte do dia, atrevendo-se até mesmo a ausentar-se por alguns momentos quando ia ao quarto de Kyungsoo para dar outra checada na soneca de Jongin.

Kyungsoo saiu do armário cambaleando de sono e a claridade do dia feriu seus olhos. A julgar pela luz radiante do sol, devia ser o começo da tarde. O cheiro de carne estava no ar e ao senti-lo a boca de Kyungsoo salivou; não havia comido nada desde que chegara da festa e agora passava da hora do almoço.

- minha mãe já está aqui? – sua expressão encheu-se de alegria e temor, imaginando o que a mãe podia ter pensado ao dar de cara com dois rapazes desconhecidos em sua casa.

Baekhyun sentia seu rosto inteiro azular-se de medo com o que teria de responder ao amigo, mas o som abafado dos passos de Chanyeol descendo as escadas encheu o aposento:

- ele continua dormindo. – anunciou para ninguém em particular, retornando de outra parada no quarto de Kyungsoo. – o que temos para o almoço?

- minha mãe os viu? – os olhos de Kyungsoo estavam arregalados na direção de um nervoso Baekhyun.

Um silêncio de morte estabeleceu-se sobre eles, fazendo até o ar da sala ficar remotamente pesado.

- Baekhyun... – chamou Kyungsoo em tom de alerta. – qual é o problema?

- que tal esperarmos Jongin acordar para conversarmos? – disse Baekhyun numa péssima e nervosa demonstração de calma.

- Kyungsoo. – dessa vez foi Chanyeol quem chamou num aveludado tom de seriedade. – precisamos que seja forte agora. Se não pelo seu amigo Baekhyun ou pela sua mãe, pelo menos por você mesmo. Precisamos que acredite em você.

- o que está querendo dizer com isso?

Chanyeol ficou de frente para ele, as mãos enormes segurando-o firmemente pelos ombros moles e esguios; por mais inocente e séria que a cena fosse, Baekhyun involuntariamente cruzou os braços e deslizou um dedo desconfiado pelo queixo fino.

- Suho e Sehun são apenas dois e nós somos quatro. Eles têm ar e água mas nós temos fogo, luz, terra e a rapidez de Jongin. É possível que haja luta esta noite... por isso precisamos que você esteja focado e disposto a enfrentar qualquer obstáculo porque sua vida não vai mais ser a mesma. De ninguém aqui vai.

Ao ouvir aquilo, uma sensação fria perpassou pela nuca de Baekhyun, fazendo-o gelar por dentro. Kyungsoo sentia as palavras penetrando em seu ego aos poucos, sinalizando que algo estava errado e que ele devia começar a retirar forças de qualquer lugar que fosse de sua mente.

- eles pegaram minha mãe? – perguntou entre soluços. Chanyeol apenas balançou levemente a cabeça algumas vezes.

Kyungsoo pousou os olhos num dos retratos pendurados na parede atrás de Baekhyun. Entre medalhas e troféus, uma foto levemente amarelada olhava pra eles do centro de uma moldura coberta de conchinhas de praia. Era uma foto antiga, dos tempos em que a mãe ainda ia buscá-lo na escola. Tinha chovido naquele dia e os cabelos da Senhora D.O estavam grudados em seu rosto enquanto ela sorria para a fotografia, desajeitadamente agachada ao lado do filho pequeno com cara de irritado vestindo o uniforme da escola primária. Ela sempre ia buscá-lo depois da aula perto do fim do dia e nunca tinha se atrasado. Kyungsoo nunca conhecera o pai e quando perguntava, sua mãe tornava-se fria e insensível, cuspindo apenas frases incompletas como “ele foi embora” ou “os estudos eram mais importantes para ele do que nós”. Machucava-o saber que a mãe encontrava-se nas mãos de estranhos e começou a sentir aos poucos o medo começar a dar lugar á raiva.

- eu acho melhor ir dar uma olhada na comida. – anunciou Baekhyun, retirando-se até a cozinha.

Algum tempo depois os três começaram a almoçar juntos a comida feita por Baekhyun, que tomou o cuidado de deixar separado uma generosa porção do que havia preparado para Jongin comer quando acordasse. Kyungsoo sentia-se apático, impotente e toda a fome que sentia esvaiu-se dele no momento em que soube do que acontecera com a mãe. Irritava-o ainda mais saber que Jongin continuava dormindo enquanto sua mãe era feita refém.

- me leve até eles. – anunciou simplesmente em meio ao silêncio que pairava em volta da mesa, o punho cerrado ao lado do prato. – ou pelo menos me diga aonde se escondem.

Baekhyun continuou mastigando, voltando os olhos de Kyungsoo para Chanyeol. O maior pousou os talheres na mesa e levou o copo de água aos lábios.

- não é tão simples assim.

- não vou ficar aqui sem fazer nada! – os pratos tilintaram no momento em que Kyungsoo esmurrou a mesa.

Chanyeol fuzilou-o com os olhos, mas algo em sua expressão dizia que ele parecia contente com o que via.

- muito bem então, irei te levar até eles. Baekhyun, você fica e orienta meu velho amigo Jongin quando ele acordar.

- negativo. – sibilou o garoto de frente para ele, também se esquecendo da comida no prato. – vocês precisam de toda a ajuda necessária. Não vou ficar aqui lavando louça. Jongin pode ficar com um bilhete.

Baekhyun pensou ter visto um pequeno sorriso projetar-se nos cantos dos lábios de Chanyeol. Kyungsoo se pôs de pé e correu até a lavanderia, voltando de lá vestindo as roupas com que se preparava para ir atrás da mãe. Antes de sair lançou um último olhar para o alto das escadas, exatamente na curva que terminava na porta do seu quarto. Pensou em Jongin lá dentro dormindo em sua cama, abençoado no esquecimento. Aquilo não era hora para pensar nele.

- vamos logo com isso, quero ver minha mãe.

E então os três saíram pela porta da frente em busca da Senhora D.O.



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