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História Tales of Aether - A Ascensão de ZanZabar


Escrita por: Jhin

Capítulo 1 - A Ascensão de ZanZabar


Existia um lugar, além dos céus e da imaginação. Acima das Estrelas e dos Astros, onde vivam os mais peculiares tipos de formas de vida. Algo que sobre a Terra seria chamado de lenda, fantasia ou ate mesmo loucura.

Com suas diversas ilhas flutuantes - algumas pequenas, capazes de portarem apenas uma pequena árvore e outras com porte para segurar toda uma cidade colossal – lendas e mistérios ao redor formava-se Aether;

O lugar onde Anjos viviam ao lado de homens, onde bestas pairavam sobre o solo e baleias cruzavam os céus, guardava também as mais peculiares historias.

Desde de um simples pastor de ovelhas observando-as de cima de uma montanha, cuidando para que elas não deslizassem em algum desfiladeiro.

A de um Anjo descobrindo as traições dentro do seio de sua própria irmandade.

Ou mesmo de uma menina dando seu primeiro beijo à luz de um luar.

Talvez sobre um caçador estraçalhando alguma monstruosidade ou vice-versa.

Começaremos por Zan’Zabar, um pródigo caçador de baleias...

 

A Ascensão de Zan’Zabar

Uma das mais majestosas criaturas cruzava os céus, uma Baleia, enorme e calma, de uma força brutal e de uma natureza infinitamente pacifica. Mas naquele momento a calma e a paz não estavam com ela. Naquele momento ela fazia o que todos nós fazemos todos os dias...

Correndo pela sua própria vida;

Pois atrás dela estava ninguém menos que Zan’Zabar de Ameloth, o caçador mais infame dos céus. Transpirando sua juventude, Zan’Zabar tinha conseguido seu barco flutuador de porte médio numa aposta suja feita numa taverna qualquer. Depois de arrumar alguns arpões e alguns capangas começou a viver de caçar e comer e vender baleias.

Tudo isso a margem da lei, já que não pagava impostos e caçava em lugares que tal atividade não era legal

—AVANTE HOMENS! IMAGINEM ALI A MERETRIZ DOS SEUS SONHOS!!! – berrou o rapaz

Os capangas gritaram, animados;

—ESSA É BALEIA É PARA MIM, A VIRGEM DE MOUNT BLANK!!! – falou um dos imediatos

A tripulação bradou em apoio;

—PARA MIM É A SENHORA DOS PRAZERES DE MIDDLETON!!! – berrou outro entregando arpões a todos

E novamente, a tripulação bradou em apoio;

—PARA MIM É O CAMPEÃO BENHART DE MIDDLETON!!!

Por um momento a gritaria parou e todos ficaram a encarar o senhor de meia-idade com olhares tortos. O Jovem Capitão apenas sorriu;

—PREPAREM OS ARPÕES BANDO DE PERRAPADOS!!! – gritou Zan’Zabar

E assim todos assumiram suas posições ofensivas a fim de pegar a baleia que cortava as nuvens em desespero. Então o primeiro arpão foi lançado, o segundo, o terceiro... Por fim 7 arpões estavam cravados nas costas do pobre animal.

—RAIO!!

E o imediato jogou para Zan’Zabar um pote com um brilho amarelo latente e com toda sua desenvoltura o rapaz arremessou a garrafa contra a baleia, a mesma foi eletrocutada pela antiga magia do ‘Raio no Pote’. Então quando sua vida se esvaiu seu peso começou a ser sentido, puxando o barco para baixo.

Algo interessante sobre O Aether é que ninguém dali sabe exatamente o que os espera no vácuo do abaixo das ilhas flutuantes. Não eram raros os casos de barcos de caçadores que eram puxados para a vala infinita por não suportarem o peso de suas presas.

Mas Zan’Zabar era um maltrapilho preparado imprudentemente para o pior;

—HOMENS! CANHÕES!!!

—Estamos a quanto de distancia da terra Senhor?! – perguntou um dos Imediatos mais fiéis ao Capitão.

—Longe pra caralho, Velberan!

—Então, todos os canhões?

—TODOS!!! – falou o Jovem Capitão em toda sua excitação e insanidade.

—Mas não sabemos o que tem pra trás Zan! Podemos acertar alguma vila ou navio!

Zan’Zabar olhou para seu amigo com um sorriso no rosto.

—Antes eles do que nós! DISPARE!!

‘Isso não vai acabar bem’ pensou Velberan, mas mesmo com o incomodo no peito, deu a ordem

—HOMENS!! CANHÕES PARA O SOL! DISPAREM A VONTADE!!!

E assim a tripulação fez, com o impacto dos disparos consecutivos, o navio pouco a pouco era empurrado em direção as ilhas flutuantes. Ate que finalmente a baleia alcançou o solo. Onde o velho barco pode descansar por um tempo

—Homens! Mais uma caçada com sucesso, graças a essa banheira velha e a fé em Mehers, tudo o que queremos será atendido!

—Essa é das grandes, chefe! Vai render um bom dinheiro... – verbalizou um dos capangas

—Agora é só retirar o que dá pra vender, metade vai pro barco e a outro vocês fazem o que bem entender – disse o Jovem Capitão, aliviado por aquela tensão ter acabado.

Depois de longas horas retirando a pele, a gordura e a carne do enorme animal - atividade que lhes tomou quase um dia inteiro – eles finalmente puderam tomar um bom banho numa cachoeira que tinha ali por perto e descansar. Porém o jovem Zan não dormia tão facilmente, a maioria das vezes ele ficava a encarar algumas luzes no céu.

Toda noite, num canto especifico geralmente duas luzes se sobressaiam mesmo em dias nublados e ás vezes em volta delas se concentrava o que parecia ser um acumulado de constelações...

—Vejo que o Senhor gosta de encarar Altashan – pronunciou-se Velberan

Zan’Zabar sorriu.

—Devia dormir homem, amanhã vamos rodar muito pra vender essas carcaças! Já sabe como vai gastar sua parte?

—Você sabe... Guardar e guardar, ai quando eu arrumar uma esposa e tiver filhos, posso dar uma boa vida a eles. Isso se suas aventuras não me matarem primeiro;

Ambos compartilharam de uma boa risada.

—Mas ainda não entendo qual razão esse fascínio por Altashan... É uma cidade de elfos, semideuses e essas coisas.

—É uma cidade inalcançável amigo, eu, te digo, um dia, eu vou estar lá!

Os olhos dele brilhavam. Mas morar lá não era o que fazia seus olhos brilharem, não. O imediato sabia a verdade, a verdade que ocorreu nos primeiros dias a serviço de seu Capitão, quando soldados exigiam documentos e impostos e uma bela bem feitora salvou-lhe de tal situação.

—Entendo; Mas Shiiel não tem nada haver com isso...

O homem gostou do jeito que seu Capitão ficou desconcertado com aquele nome.

—Shiiel? Quem é Shiiel? – respondeu ele com um olhar torto

—Aqui homem – o imediato entregou-lhe uma garrafa de Gin – Nostalgia sem bebidas dá depressão.

—Hunf. Obrigado amigo...

E assim Velberan se retirou do convés, deixando seu Capitão sonhar acordado.

A manhã chegou com o sol baixado no horizonte, era hora de vender os espólios da caçada. Os homens pegaram a carne, a gordura e alguns ossos aproveitáveis e os enrolaram numa lona resistente, apanharam seus valiosos arpões e voaram para a cidade comercial mais próxima.

O Porto de Gall

Gall era uma enorme montanha que parecia uma agulha de tão íngreme e tão alta, era um ótimo ponto de referência, fazendo então formarem-se a sua volta vários portos, alguns independentes, outros controlados por Reinos.  Vários aviadores de vários lugares iam ali para negociar seus tesouros e frutos de seus trabalhos. Ali também era uma ótima fonte de diversão e bebedeira para quem soubesse procurar.

Em pouco tempo tudo que os homens de Zan’Zabar haviam pego já estava vendido. O Lucro era exacerbadamente alto porque pouquíssimos homens sujeitavam-se a caçar tais animais naquelas regiões – principalmente por ser ilegal e ter os Corsários Reais dominando esse tipo de negocio por ali.

—Então? Quanto à gente ganhou? – perguntou Zan’Zabar a um de seus homens

— 8020 Platinas! – respondeu ele animadamente

—Mais de 8000?!

—Sim! Isso dá pra arrumar a barca e ainda sobram umas 3000 Platinas!

O Capitão sentou-se na cadeira, aproveitando aquela boa notícia. E novamente olhou para o companheiro, com um largo sorriso.

—Sabe o que isso quer dizer, né?

—Mais arpões, balas de canhão e Potes de Raio... Senhor?

O Jovem gargalhou, pediu para os homens se reunirem de volta na velha barca e descansar.

E a noite atingiu Porto de Gall. O grande lugar se preparava para outro dia de grandes negócios enquanto aqueles que buscavam descanso para os ossos e para mente desfrutavam dos prazeres da cidade. Esse era o caso dos tripulantes de Zan’Zabar...

Alguns comiam, alguns bebiam, alguns comiam e bebiam enquanto saboreavam os deleites de um corpo feminino quente. O Capitão da equipe apenas bebia goles e mais goles de Gin Negro observando seus companheiros em alegria. A noite estava perfeita;

Mas a vida de Maltrapilhos Insanos é...

Insana.

Com um forte estrondo a porta da Taverna se abriu, todos ficaram em silêncio encarando a enorme figura parada na porta e adentrando a estalagem estava o mais conhecido Corsário daquelas bandas. Logárius III, trajando seu imponente sobretudo negro por cima de suas roupas carmesins com detalhes dourados com cintos largos prendendo suas espadas e armas.

 Com o olhar de um frio assassino ele procurava visualmente alguém.

—Zan’Zabar? – pronunciou com sua voz rouca.

Como num julgamento, todos olharam para o rapaz que estava de pernas para o ar, saboreando mais uma caneca de sua bebida, ate finalmente reparar nos olhares preocupados de todos.

—O que foi? Tem alguma coisa... No meu cabelo?

Então Logárius jogou uma bola de canhão sobre a mesa do rapaz – e julgando pela distancia que o Corsário estava, podíamos dizer que ele tinha uma boa pontaria, pois havia acertado a caneca de Gin e o liquido esparramou-se no jovem caçador.

Os homens ficaram tensos. Sabiam que Zan não era do tipo que engolia desaforos, no fundo eles estavam animados, queriam ver como seu Capitão reagiria aquele insulto.

—Reconhece esse símbolo? – verbalizou o homem de Cabelos Negros indo ate Zan’Zabar.

—É só uma caveira com língua pra fora... Não creio que um desenho numa bala de canhão seja motivo pra atrapalhar a alegria de meus companheiros ou mesmo quebrar minha caneca de Gin;

Logárius gargalhou

—Não... Essa bala é motivo para eu abrir um rombo na sua cabeça – então ele sacou seu enorme revolver de cano duplo.

Todos ficaram surpresos com a atitude do Corsário, os homens de Zan’Zabar se levantaram das mesas – não que pudessem fazer alguma coisa, afinal, nenhum deles tinha arma ou algo do tipo – para tentar defender seu chefe.

Atrás deles um homem derramou um saco pesado e pelo chão rolaram varias balas de canhão com o mesmo desenho. Naquele momento Zan’Zabar percebeu que uma’ marca registrada’ era realmente uma ideia imbecil para quem andava a margem da lei.

—Encontramos essas no seu navio aéreo.  Aquela porcaria que provavelmente foi roubada...

—Ei amigo, aquela ‘porcaria’ não foi roubada e aquela ‘porcaria’ é o sustento de toda minha tripulação e graças aquela ‘porcaria’ estamos agora num momento de descontração... E graças à outra ‘porcaria’ esse momento foi interrompido.

Alguns deram risadas, apoiando-o. Mas Logárius também deu sua risada, o que fez todos se calarem.

—A Juventude desse tempo, são idiotas usando métodos mais idiotas pra realizarem seus desejos mais idiotas ainda;

—Como... Assim? – perguntou desentendido

—Essas balas acertaram o casco da minha embarcação depois de uma longa semana de caça. Destruiu alguns compartimentos de runas de levitação e pior, arrebentou a rede que segurava a carcaça das 27 baleias que tínhamos capturados. E pela distância de onde os tiros vieram, eu julgo que você não estava num ambiente ‘próprio’ pra tal atividade;

O jovem Capitão se levantou e enxugou a bebida do rosto.

—Isso é uma pena, meu bom Corsário, acidentes acontecem...

Mas assim que ele passou por Logárius, foi violentamente jogado de volta à cadeira onde estava sentado. Os tripulantes de Zan assistiam a cena com certo desgosto. O homem aproximou-se do rosto do Jovem Capitão e com um sorriso nada amistoso sussurrou;

—Vejo que você se faz de retardado pra bancar o que parece ser uma espécie de imbecil para seus amigos de bebida, mas agora vou te dizer o que realmente é um acidente, um famoso Corsário sem querer estoura a cabeça de um moleque desmiolado porque o vandalizou uma embarcação real.

Os ombros de Zan’Zabar baixaram junto com um suspiro pesaroso. Ele não encarava mais o homem a sua frente. E seus olhos denunciavam algo que para ele e seus companheiros era uma terrível novidade: Medo.

—Você tem dois dias pra recuperar o que eu perdi... – continuou Logárius – Isso dá um total de 320 Mil Platinas ou 40 Baleias, você escolhe. – e com um sorriso cruel concluiu – Isso é pouco pra quem tem tanta energia e uma boa lábia como você, não é?

O Corsário levantou-se, pegou o copo de Gin que seria servido ao rapaz e saiu da Hotelaria. A situação ainda estava tenebrosa, Zan’Zabar e seus homens já tinham se metido em confusões grandes. Mas se envolver diretamente com o Reino era um poço profundo comparado aos pequenos buracos de antes.

—Zan? Está tudo bem? – perguntou Velberan

—Não. – respondeu o rapaz pegando a bebida do amigo e tomando tudo num só gole - Definitivamente não.

E subiu as escadarias da Hotelaria e deitou-se na cama, pensando no que poderia ser o ultimo vacilo de sua vida. Os homens se perguntavam o que diabos tinha acontecido com seu Capitão, nunca o viram daquele jeito e alguns juravam que viram seus olhos lacrimejarem.

—Será que no final de tudo, Zan’Zabar era apenas um moleque maltrapilho?

—Não sejam assim! – protestou Velberan – Ele foi ameaçado de morte pelo Logárius, apesar de tudo ele ainda é um bom Capitão.

—Ele ficou de cabeça baixa perante aquele homem, igual um cão sem dono! – verbalizou um dos tripulantes.

—Exato! Aquilo era Zan’Zabar sendo covarde! Ele vai ser executado em poucos dias, não vale a pena morrer por um covarde!

E como resposta para tal afirmação, o homem levou um soco no queixo, o Imediato olhou para os homens à sua volta com extremo desprezo.

—É assim? Vão abandona-lo exatamente quando ele mais precisa de nós?

A tripulação baixou o olhar e com um ‘sinto muito’ alguns se despediram, saindo da taverna.

—Velberan, você não pode negar o que viu... – falou o um dos homens

Ele assentiu, com um peso no peito.

—Vou conversar com ele. Zan’Zabar tem um plano, não o abandonem homens, porque ele nunca faria isso com vocês...

Subindo ás escadarias, ele foi falar com seu amigo. Os quartos que estavam ocupados estavam levemente mais barulhentos. Ele sabia que seu Capitão não era esse tipo de capitão, em verdade, depois de ser ameaçado de morte pelo Corsário mais famoso de Gall, a ultima coisa pra qual ele teria forças seria para uma longa noite de sexo.

Chegando a porta do fim do corredor, o Imediato bateu;

—Zan?

Não obteve resposta, mas ao abrir viu o rapaz na escrivaninha contando algo que parecia ser um pouco de dinheiro. Na verdade, muito dinheiro;

—O que está fazendo?

—Contando o dinheiro... – respondeu ele com um tom... Desesperado.

O imediato sorriu.

—Você... Está mesmo pensando em pagar Logárius?

Ambos ficaram em um silêncio desconfortável por alguns minutos. Ate Velberan ver que ali tinha bem mais do que as 8020 Platinas que eles haviam conquistado naquela manhã

—Zan, isso... PELOS DEUSES ZAN, ESSE É MEU DINHEIRO!!

O rapaz se afastou da mesa enquanto o seu Imediato parecia contar e não acreditar no que estava acontecendo.

—Você... Você vai mesmo tentar pagar Logárius? Vai pagar ele com... Deuses!

—Parece o certo a se... Fazer;

Velberan não acreditou naquelas palavras.

—Certo? Você está louco? O que aconteceu com você?

—Eu fui condenado à morte por um Oficial do Rei!

—VOCÊ ESTÁ ROUBANDO DOS SEUS, ZAN! ESTÁ ROUBANDO DE MIM!

—Eu estou tentando te SALVAR!

Velberan sorriu um sorriso amargo.

—Tem homens lá embaixo que desacreditaram em você, por uma simples atitude. O que acha que eles vão pensar disso?

O jovem apenas bufou

—Se eles forem inteligentes, irão me agradecer;

O Imediato se afastou, um misto de decepção e tristeza estava em seu peito.

—Deuses; Realmente não vale a pena morrer por você. Realmente não vale a pena morrer por um covarde... Fica com esse dinheiro, vai ser melhor pra você.

E assim Velberan saiu do quarto de seu Capitão.

O dia se passou e o sono não pegou Zan’Zabar. O porto estava movimentado como sempre, mas no meio da multidão apressada estava o rapaz encarando sua embarcação enquanto seus homens arrumavam as coisas para uma caçada.

—Você vai mesmo caçar 40 baleias? – perguntou um dos tripulantes

—Tenho certeza que você não tem quase meio milhão de platinas pra me emprestar.

—Não... Mas eu tenho certeza que achar 40 baleias, logo em tempo fora de migração, parece meio impossível.

O Capitão deu um suspiro desanimado, puxou um fumo do bolso e o mastigou nervosamente. Era difícil trabalhar sob a pressão da morte, mais difícil ainda ver sua tripulação a ponto de saltar pra fora do barco e os olhares de pena e desprezo. Mas naquele momento sua mente só se voltava para o Corsário.

Logárius III era um dos 10 Corsários Reais. Ele era conhecido por massacrar viajantes ilegais e qualquer monstro aéreo que tentasse invadir a parte leste do Frontier. Lendas diziam que ele tinha matado a esposa grávida com uma pancada na cabeça porque ela estaria esperando uma menina, que seus tripulantes não podiam falar a bordo, com pena de perder a língua e que tinha vendido sua própria alma em troca de habilidades com navios aéreos.

No final as lendas só ressaltavam como ele era temível. Talvez aquele fosse o fim de Zan’Zabar e sua tripulação, mas pior de tudo era ver o jovem aceitando de forma miserável seu destino.

Eles partiram céu adentro, cortando as nuvens laranja atrás de alguma baleia. Horas e horas se passaram, a noite engolia os céus abaixo do barco. Os homens não estavam gostando daquilo, o clima era desesperador, ver o rapaz que antes tinha tanta energia e alegria, preocupado, tenso, com um olhar assustado.

—Senhor, os homens estão cansados, não pegamos nenhum suprimento e estamos nos céus faz umas 5 horas. Não achamos nenhuma baleia...

O Jovem Capitão permanecia com uma expressão impassível, com os olhos totalmente atentos no céu;

—ALI!! – berrou ele

E os homens aprontaram os arpões enquanto preparavam o barco para a perseguição. Estranhamente, a baleia não fugiu, sequer esboçou qualquer reação à presença dos caçadores;

—É uma anciã, Senhor!

Zan’Zabar hesitou, não era correto matar uma baleia que já estava no fim de sua vida. Mas a piedade podia significar o fim da sua vida

E assim ele lançou o primeiro arpão. Os homens estavam hesitando, mas acompanharam e em pouco tempo a baleia estava morta no chão. Os homens arrancaram sua pele, sua carne, sua gordura e seus ossos; Mas pouca coisa dali se aproveitou.

—Isso deve dar umas 2000 platinas...  Embala isso, vamos deixar em algum galpão e tentar achar outra;

Os tripulantes o encaravam com desgosto. Zan’Zabar sentiu os olhares acusadores sobre seus ombros.

—VAMOS HOMENS! – berrou ele desesperado

Pouco a pouco eles começavam o serviço.

A noite de caça perdurou e eles encontraram mais 2 baleias. Os homens estavam exaustos – e zangados – afinal, eles mal tinham saído de uma noite de bebedeira e foram caçar exaustivamente por algumas baleias . O dia chegou devagar, alguns homens tinham acabado de deitar os ossos cansados sobre os sacos de ossos da baleia. Porém essa regalia durou pouco.

—ACORDEM! Hora de vender!

Alguns murmuravam palavrões e outros apenas acatavam a ordem. Zan sentiu falta de alguém ali, mas ele precisava vender o mais rápido possível seu peixe. Porém não era todo dia que as pessoas compravam carne e gordura. As horas se passaram e sem sucesso os homens retornavam de volta com a mercadoria;

—Senhor ninguém comprou o produto. – falou um

—Me expulsaram da venda, Capitão... – falou outro

O rapaz apenas batia o pé, então veio a sua mente algo que realmente estava lhe perturbando;

—Onde está o Velberan?

—Ele não entrou no barco Capitão. Apenas saiu da taverna com uma trouxa de roupas...

—Se Velberan foi embora, não temos razão para ficar aqui. – disse um dos tripulantes ao longe.

Zan’Zabar olhou para ele assustado. Os tripulantes de seu barco já tinham perdido a fé nele, só estavam esperando o dia da sua execução para deixa-lo pra trás.

Correndo ele saiu do barco. Tinha que achar seu imediato, precisava dele, era seu melhor amigo, se não tivesse o apoio dele como iria conseguir manter sua tripulação? Era isso que ele pensava em sua mente fervorosa de desespero e medo.

Ate que ele bateu de frente com a causa de tudo isso;

—Olha; se não é o nosso pequeno jovem ousado...

Zan’Zabar engoliu em seco.

—Conseguiu o dinheiro?

—Estou trabalhando nisso... – respondeu ele sem olhar o Corsário nos olhos.

E ele gargalhou, chamando a atenção de todos para a situação ali.

—Você acha mesmo que vai conseguir me pagar? Melhor, você acha mesmo que eu vou aceitar sua miséria, algo vindo de um ladrão medíocre – Logárius abaixou-se pra encarar o rapaz – Você vai ser executado. Vai ser enforcado e vai ficar pendurado, apodrecendo, como uma fruta num galho;

Zan ficou perplexo, pela primeira vez ele sentiu o sabor da morte em sua boca, olhou para as pessoas em volta, olhou para o impiedoso Logárius. E apenas correu, correu o mais rápido que pode, correu ate seus pulmões não aguentarem mais, obrigando-o a parar para respirar.  Neste meio tempo de descanso ele pode visualizar o seu imediato, num porto, esperando outro barco.

—Velberan?

O imediato olhou para ele, então voltou a encarar os navios voando ao longe

—VELBERAN! O QUE TÁ FAZENDO AI?! – gritou Zan’Zabar correndo em direção a seu imediato;

—Não é óbvio? Eu vou embora. Não vale a pena ser morto... Não por você;

Aquela frase pesou no peito do jovem Capitão como uma pedra esmagadora.

—C-Como assim? Somos um bando! Temos que ficar unidos!

Velberan sorriu

—Unidos? Homem, você está mijado! Está com medo, com medo da morte!

Zan’Zabar recuou alguns passos.

—Não vou morrer por um Capitão que se mija de medo na frente de um nobre qualquer;

O jovem Capitão caiu de joelhos.

—Mas... O que eu faço? – seus olhos marejavam em lagrimas e ali ele caia em sua imaturidade e insegurança – Eu... Eu não quero morrer. Não quero perder vocês, meus amigos, nossas memorias;

Então ele sentiu mãos sobre seus ombros e ironicamente, o peso delas, os deixou mais leves;

—Homem, vire um homem! A morte é um gatilho e já que você está com o pescoço na corda, o que você tem a perder?

Zan enxugou suas lagrimas e olhou para o companheiro que esteve consigo desde o inicio. Ele tinha razão. Por que continuar a ter medo e andar por ai como um covarde implorando pela vida? Aquilo não era ele. Não podia deixar a Paixão que fervia dentro de si morrer por medo de morrer.

—Então... O que você sugere?

—Me diga você... O que o Zan’Zabar faria no auge de sua insanidade?

O Capitão pensou um pouco e devolveu com um amistoso olhar, brilhante das lagrimas, para seu imediato.

E o dia se passou, calmamente.

—ACORDEM HOMENS!!! – berrou Zan’Zabar

E eles acordaram sobressaltados, alguns xingavam e outros simplesmente continuaram a dormir.

—Tenho um anuncio para fazer a vocês.

Os homens se organizaram, esperavam ouvir mais alguma ordem desesperada de seu jovem Capitão. Mas daquela vez, o que ele falaria seria um pouco mais profundo.

—Há um dia vocês viram em mim algo vergonhoso. A covardia, a vergonha, o medo. Não me surpreendo que alguns de vocês tenham perdido a fé em mim e muito menos que queiram me abandonar – agora os homens mais despertos acordavam os dorminhocos para ouvir o pronunciamento de Zan.

—A vocês eu tenho minhas sinceras desculpas – continuou o rapaz -Mas desculpas não curam corações feridos e não recuperam a confiança perdida de amigos leais. Atos! Atos sim! – ele então subiu no gradeado a frente do timão – Homens! Daqui dois dias nós teremos a possibilidade de nos tornarmos lendas vivas ou só mais um bando de maltrapilhos executados por um carrasco;

—O que faremos Senhor? – perguntou o senhor de idade.

—Nós, meu bom Felix, vamos conquistar o mundo!

Os tripulantes ficaram animados, não sabia o que estava por vir, mas ver novamente Zan’Zabar com aquele sorriso no rosto fez seus corações se aquecerem;

—ESTÃO COMIGO HOMENS!?

E bradando um forte ‘Yeeah!’ eles confirmaram

—ME EMPRESTARÃO MAIS UMA VEZ A FORÇA DE SEUS BRAÇOS E A PAIXÃO DE SUAS ALMAS!?

E mais uma vez o brado se repetiu, dessa vez mais forte, voltando à atenção de varias pessoas do porto para eles. E com aplausos eles começaram a preparar o barco para voar

—Foi um belo discurso;

—Eu sei Velberan, nunca estive tão vivo!

—Sim mas... Você tem um plano?

—Tenho sim amigo – seus olhos brilhavam de excitação.

—Não vai dizer qual é a ideia, como vamos executar?

—Ha! E estragar a surpresa? – ele então virou as costas ao seu imediato – Ei! Compra umas tintas azuis e uma vermelha...

O Imediato apenas observava seu Capitão voltar à vida, nem imaginava o que passava debaixo da bandana dele. Mas tinha certeza que era algo muito louco;

Zan’Zabar reunia pequenos grupos dos seus homens e lhes dava ordens, alguns ficaram animados, outros estupefatos, alguns questionavam sua sanidade e a resposta do Capitão para esses era sempre a mesma:

—Amigo, posso te dizer que ‘bom-senso’ é a última coisa que alguém como eu precisa!

E mais um dia se passou...

Numa cabine, no outro lado do Porto, em uma parte reservada apenas para navios aéreos governamentais, estava o grande ‘Pomo de Ares’, navio aéreo de Logárius, totalmente pintado de negro, carregava quatro velas extremamente grandes pintadas em vermelho sangue, o navio tinha detalhes em dourado ao longo da proa, era feito da madeira mais pura conhecida, a parte traseira era enorme e abrigava os ‘fornos’ de magia rúnica que permitiam a levitação da monstruosa embarcação sem a necessidade de balões.

Num gabinete, bem dentro do barco, estava Logárius retirando a barba que insistia em crescer. Tinha muitos compromissos com o Reino, mas algo naquele dia não podia ser adiado. Enfocar o garoto Zan’Zabar faria o dia do Corsário ser bem mais suportável.

E como uma profecia de um Deus brincalhão, um dos tripulantes bateu a porta, fazendo Logárius cortar a bochecha com a lâmina.

—Maldição! O QUE FOI?! – falou enquanto tentava estancar a pequena ferida

—S-Senhor , Zan’Zabar... Ele está aqui!

O rosto de Logárius ignorou a ferida por alguns segundo e formou um largo sorriso.  O tripulante encarou seu capitão com tremor.

—Ora! Pois me deixe ir lhe dar ás ultimas boas-vindas que ele vai ter nessa vida miserável! Chame os guardas e entregue esse documento de execução, uma morte é sempre boa para abrir o apetite!

Tremendo, ele pegou o papel e abriu passagem para seu capitão passar. Em pouco tempo o Corsário já estava no pátio do porto, de frente para o Jovem Zan’Zabar.

—Ora, ora... Suponho que não tenha as 300 mil Platinas ou minhas 40 baleias;

—Realmente, eu não tenho nada; - o rapaz agora olhava fixo nos olhos do Corsário, diferente da noite naquela taverna. E o Corsário percebeu isso.

Logárius riu. Para ele aquela figura era patética. Não era digna de sua atenção, em verdade, exigir a morte daquele menino só mostrava o quão ele estava se rendendo a mediocridade do poder;

—Olhe rapaz, vou fazer por você algo que quase nunca faço. Saia desse porto, vá para outro lugar, muito longe, onde ninguém saiba quem é Zan’Zabar ‘O Fanfarrão’. Venda aquela porcaria que você chama de barco, arrume uma nova vida – então ele colocou a mão sobre o ombro do garoto – Estou te dando uma chance para viver...

O jovem Capitão sorriu e voltou seus olhos para os de Logárius.

—Pode parecer incrível para um tio chato de bolas murchas como você, mas eu já estou vivendo – e com um tapa ele tirou a mão do homem de seu ombro .

Deu-lhe as costas e seguiu de volta a seu barco, os homens ficaram encarando a ousadia do rapaz, dar as costas daquele jeito a Logárius era pedir para levar um tiro na nuca, mas mal sabiam eles que o homem estava estático perante aquela atitude. Quando ele pensou em sacar sua arma, Zan’Zabar já tinha sumido de sua vista;

—Imediato...

—S-Sim, Capitão Logárius;

—Chame todas as autoridades existentes nesse maldito porto, com ordens reais para executar Zan’Zabar!

—Já foi mandado Senhor, eles estão a caminho e...

Logárius sacou a arma de seu cinturão;

—Pois chame os homens armados disponíveis nessa merda!

O imediato apenas obedeceu à ordem enquanto Logárius caminhava com passos firmes em direção ao porto onde estava Zan’Zabar. Seu coração estava descompassado em fúria e seu ego só seria sarado vendo o sangue do jovem derramado sobre o chão;

Uma hora se passou;

—ONDE ESTÁ AQUELE MALDITO!?

—Eu não sei! – respondeu o mercador com os olhos lacrimejando – Ele saiu faz tempo!

Logárius largou o colarinho do pobre senhor e continuou sua busca pelo foragido, sob suas ordens tinham mais de 30 homens procurando o garoto e sua tripulação.

—Senhor!

—O QUE?

—T-Temos ordens para escoltar a Princesa ate o Reino de Ruthrar;

—Estou ocupado – disse entre dentes o Corsário

—Mas Senhor, são ordens reais

E com um olhar mortal para o pobre subalterno ele repetiu

—Estou... Ocupado, caçando um inimigo do Reino;

Então uma grande explosão foi ouvida, vindo do Porto reservado aos navios reais. Logárius sentiu em seu estomago pedras de gelo, não era possível que aquela audácia fosse se estender mais do que o ele esperava;

‘Aquele garoto, ele não é imbecil o suficiente’ pensou o Corsário.

Mas para sua infelicidade, a imbecilidade de Zan’Zabar era uma de suas maiores qualidades. Fumaças subiam aos céus, pessoas corriam e no fim, o acesso para o ‘Pomo de Ares’ estava bloqueado por um pequeno barco baleeiro tendo pintado no casco uma caveira com a língua de fora.

A ferida no rosto do homem voltou a arder.

Seu coração batia forte e o ar mal saia de seus pulmões, seus olhos não piscavam, mesmo subindo à montanha de entulhos cobertas de fumaça e fogo. No topo de toda a destruição causada pelo barco lançado ele viu o precioso ‘Pomo de Ares’ alçando voo ao longe, com um jovem rapaz vestindo uma bandana roxa lhe fazendo uma clássica reverência;

Um soldado se aproximou do Corsário estático;

—Logárius III?

—Sim... – respondeu ele com seu tom de voz baixo

—Somos a Policia do Porto de Gall, viemos aqui pelo Zan’Zabar!

O Corsário olhou o homem atrás de si com desprezo.

—Tarde homem, graças a vocês, aquele moleque arrumou um adversário implacável;

 

Ao longe, muito distante, um virtuoso e medonho navio voava pelos céus a toda velocidade, no convés tinham vários homens amordaçados, outros trabalhavam sob a mira de armas, alguns mortos no chão e na ponta do gurupés estava o vitorioso Zan’Zabar

—Sabe que você condenou todos nós a morte pela espada né? – falou Velberan se achegando na lateral;

—Vamos todos morrer amigo! Antes pelo fio da espada como uma lenda do que pela corda fria como um covarde!

—Amém! – disseram os tripulantes ao fundo.

Ambos sorriram e o Imediato tomou um gole do Rum.

—Caramba! Isso aqui é coisa dos Deuses!

—É sim meu bom Imediato! Com esse navio vamos fazer nossos nomes!

—O lendário ‘Pomo de Ares’ sob as mãos do maltrapilho Zan’Zabar!

O Capitão olhou para seu imediato com um largo sorriso.

—Admita que jogar o navio contra a entrada do Porto Real foi uma ideia de gênio!

—Ah sim claro que foi...

—A propósito, obrigado por ter jogado o navio contra a entrada do Porto Real e por ter deixado eu gastar toda sua economia com armas para a tripulação, fico te devendo essa;

—Oh, sim, sim...

O olhar do jovem agora tinha se tornado mais terno;

—Obrigado...

O Imediato apenas assentiu e se retirou, pegou mais um gole da bebida e ficou a olhar Zan’Zabar perante a luz alaranjada que atravessava as nuvens. Ele reparou que um dos prisioneiros olhava o rapaz fixamente;

—Só lhe digo uma coisa amigo, o que vai acontecer daqui pra frente – falou levantando o copo e Rum – vai ser lendário!



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