História Tamara - O começo do inferno

Julian obervava sua irmã arrumar o baú com seus pertences dentro. Incluindo seus vestidos e mais alguns objetos como uma escova de cabelo, livros e sua boneca de pano.

-Isso não faz sentido..-comentou Julian enquanto obervava.-Você nunca teve vocação para o convento!

-Eu mudei.

-Da noite para o dia? Não me faça rir, Tamara. Você nunca gostou desse tipo de coisa. Sempre disse que o convento servia apenas para receber os fanáticos religiosos.

-Eu não preciso ser uma fanática religiosa para entrar no convento, Julian. Eu quero poder ajudar os necessitados. As freiras fazem boas ações.

-Sim, disso eu sei. Mas nunca foi um desejo seu se tornar freira.

-Eu quero descansar a minha mente.

-O que aquele "abutre" disse a você para que tomasse essa decisão tão repentina?

-Não disse nada...Foi uma decisão minha e de mais ninguém.

-Eu conheço você, Tamara. E eu sei que tem algo de errado nessa história. Ainda não sei o que é.

-Não há nada de errado. Não precisa se preocupar.

Julian suspirou e ficou em silêncio.

O dia da partida chegou. O baú com os pertences de Tamara foi colocado atrás da carruagem juntamente os baús do inquisidor e do bispo.

Heloísa abraçou sua filha fortemente.

-Vá com Deus, minha filha. Eu espero que você seja muito feliz no convento.

-Até mais ver, minha irmã..-disse Miguel que a abraçou logo em seguida.

-Até mais ver, Miguel.

-Seja feliz, minha querida..-disse Laércio com certa melancolia.

-Obrigada, papai.

-Vou sentir muito a sua falta.

-Eu também vou sentir a sua.

-Sua filha será muito bem recebida no convento, senhor delegado..-disse Emílio.-Eu tomei a liberdade de enviar uma carta de recomendação à Madre superiora na qual eu menciono a sua filha. Senhorita Tamara será muito bem cuidada, fique tranquilo.

-Assim espero.

Julian aproximou-se de Emílio e o fulminou com o olhar e disse:

-Eu não sei qual é o seu plano ainda..Mas se algo acontecer com a minha irmã, eu mesmo vou matar você.

Emílio simplesmente sorriu de forma irônica. Os três então subiram na carruagem que logo em seguida deixou vila Mariana. 

-Ansiosa para se tornar freira, minha jovem?-perguntou o bispo. 

-Sim, vossa excelência. 

-A minha sobrinha também entrou para o convento com mesma idade. Hoje é uma das Irmãs de caridade. 

Tamara estava calada e cabisbaixa. Depois de algumas horas, Tamara pegou no sono com a cabeça recostada no assento do banco. Emílio a obervava cheio de desejo. 

-Diga-me a verdade, Emílio...Você não está levando essa menina ao convento...

-Não, senhor. Não estou. 

O bispo riu com sarcasmo e disse:

-Como eu imaginava. Você a está conduzindo para a sua residência. 

-Exato. 

-Muito perspicaz da sua parte inventar essa desculpa do convento. 

-Foi a melhor desculpa que encontrei, excelência. A família dela não poderia saber da verdade. 

-Que você a engravidou?..Era o que eu imaginava também. Que o tribunal do Santo Ofício não saiba disso jamais. 

-Eles nunca saberão, senhor. Eu já tenho tudo planejado de antemão. 

-Seria muito desmoralizador. Um pecado extremamente grave.

-Como o da sua sobrinha?

-Nem me lembre de tal coisa... Tive que enviar aquela vagabunda para o convento aos quinze anos quando ficou grávida de mim.

-E o que aconteceu com a criança?

-Felizmente morreu durante o parto. Eu criei aquela menina desde os sete anos quando meu irmão e a esposa dele morreram durante uma viagem em alto mar. Mas conforme a maldita crescia, o meu desejo aumentava bruscamente. Num certo dia, eu a vi enquanto se banhava na tina do quarto...Um corpo praticamente desenvolvido... seios fartos e lindas pernas. Fiquei completamente excitado e meu membro latejava de desejo. Então eu entrei no quarto e a tirei daquela tina....Fiquei possuído pela luxúria que a penetrei com voracidade. A penetrei profundamente, gozando até a última gota. Era um deleite indescritível...Durante um mês inteiro eu a levava para a cama e a possuía com desejo e ardência. Foi então que a ordinária ficou grávida!..Eu não tive outra alternativa senão a enviar para o convento Santo Antônio com a desculpa de que ela havia sido violentada por um bêbado na rua.

-Foi uma bela desculpa.

-Realmente foi sim. Todas as Irmãs ficaram comovidas e a receberam carinhosamente.

-O senhor não a viu mais?

-Há mais de dez anos que não a vejo.

-No meu caso, levarei Tamara para minha casa e a tornarei minha mulher.

-Procure mantê-la dentro de casa. Não é seguro circular pela rua de braços dados com uma mulher. Você tem uma reputação a zelar. É o nosso principal inquisidor.

-Sim, eu sei. Não vou deixá-la sair de casa. Estou ciente dos riscos que poderia correr se me vissem conjugado com uma mulher.

Dois dias depois, Tamara chegou na cidade do Rio de Janeiro acompanhada de Emílio e do bispo que fora deixado em sua residência durante o trajeto. A carruagem então parou em frente a uma casa enorme e antiga. Rapidamente os criados do inquisidor aparecerem e carregaram os baús para dentro da casa. Emílio ajudou Tamara a descer da carruagem. 

-Seja bem vinda à sua nova casa, meu amor. 

Tamara observou a grandeza daquele edifício. Uma casa com arquitetura portuguesa, incluindo móveis e objetos de alto valor. Uma grande sala com assoalho de madeira coberto por um tapete português ornamentado. Pendurado no teto, um grande lustre com velas acesas. Móveis de mogno castanho-avermelhado e candelabros de prata e ouro. A comprida escada de madeira conduzia aos quartos no andar de cima. Emílio conduziu Tamara até o seu quarto. Chegando lá, abriu a porta e fez entrar com um gesto cortês. Uma enorme cama de casal com mosquiteiro de armação, um toucador, um biombo e um pequeno altar com a imagem de Santa Isabel de Portugal. 

-Este será o nosso quarto. Vou deixá-la sozinha por duas horas para que se banhe e se arrume. Ficarei ausente durante esse período para resolver alguns assuntos inquisitoriais em meu gabinete não muito longe daqui. Vou mandar trazer sua refeição aqui no quarto. 

Antes de sair, Emílio beijou a mão dela com delicadeza. 

Tamara olhou tudo ao redor daquele luxuoso quarto e sentiu-se frustrada e vazia. Não desejou nada daquilo para si. Agora era prisioneira de um sádico sacerdote religioso e repulsivo que a amava loucamente.