História Tão lindo... - Calor e Desolação

Calor e Desolação.

— Que calor do caralho! — Um escandaloso Bokuto se pronuncia com um grito alto num tom de voz alarmante, não se importando se isso incomoda alguém por perto. Seu cabelo agora caído sobre o rosto grudado na testa pelo suor na face amigável, traz uma aura nova ao seu redor. O rosto abaixado para o chão coberto pela grama verdinha e cintilante o deixa com uma postura curvada e as pernas cruzadas numa posição borboleta junto a infantilidade dos resmungos o deixa estupidamente acriançado, um pouco fofo e sendo descrito ao longe como infantil ao todo.

A verdade é que o Kotarou não está errado em reclamar, afinal tudo hoje está dolorosamente horrível... o calor, o treino pesado para os jogos e os intervalos parecem não ajudar muito no descanso e na fome desgraçada que tem no exato momento. A humilhação do leva sua mente tão longe que quis desistir, e seu corpo reclamou de forma incomum apenas por ouvir o som do time adversário jogando duro na quadra do ginásio à sua frente.

Seus músculos pedem ajuda e misericórdia desde a manhã e, embora aprecie e goste de treinar e competir com seus amigos, a exaustão o desagrada. Akaashi estava certo quando disse que deveria ir com calma…

Do lado de fora do ginásio, um sol escaldante queima a pele dos corajosos presentes, especialmente uma coruja de pelagem bicolor e um gato preto cínico que na tentativa frustrada de se refrescarem do insano calor, deixam seus torsos a mostra com as camisetas de time jogadas na grama. O suor misturado com a água jogada no corpo a alguns minutos como um banho mal tomado começa a incomodar, embora tenha ajudado por milésimos de segundos anteriores.

Mesmo protegidos por uma sombra leve, o sol que já não toca diretamente ainda aborrece.

As garrafas usadas para tal agora jogadas por cima da camisa dos uniformes pouco importam, poderiam levantar para enchê-la? Sim, a resposta é óbvia.

Se suas pernas cooperassem para tal.

— Eu quero meu Akaashi... —

— Para de reclamar cara! — Kuroo respondeu totalmente cansado dos resmungos e esperneios do melhor amigo de tanquinho exposto sentado ao lado.

— Me deixa! A gente acabou de terminar o treino naquele lugar fechado e tá um puta calor! — Rebate Bokuto se jogando na grama de peito pra cima com os braços abertos e esparramados fechando os olhos e franzindo a testa com raiva, sem se importar que o feixe de luz em seu rosto fizesse sua expressão parecer feia.

— Argh… — O de cabelos negros repousa suas mãos sobre seus ombros pretendendo massagear suavemente para relaxar inclinando a cabeça para trás, as pernas retas e esticadas como um alongamento simples diário e já não exaustivo.

Uma carranca é estampada no lugar onde sempre é carregado um sorriso traiçoeiro conforme o som em forma de reclamação sai da sua boca — Fica calado um pouco. —

— Porra, Kurro! Deixa de ser chato! Esses dias você tá cada vez mais insuportável! — O Ace dos Fukurodani diz — O que te deu? Sinceramente... — Começando a desabafar, ou melhor, discutir consigo mesmo sobre o amigo mais uma vez no dia. 

Tudo que se passa na mente de Tetsurou é o nada absoluto, como um fundo branco junto ao barulho irritante de uma velha TV de tubo sendo ligada vagarosamente.

— ...mas isso não é motivo pra me tratar assim! — Chateado e ainda de olhos fechados, o bicolor faz um beicinho frustrado — E-! — Ele abra os olhos com dificuldade pela luz forte que enche seus olhos de lágrimas solitárias, percebendo então algo importante — VOCÊ NEM TÁ ME OUVINDO NÉ? SEU COCÔ! —

Enquanto há um ser insuportável tagarelando sem parar, o time Karasuno passa subindo o pequeno morrinho de grama cor verde saudável bem cuidada e aparada pouco distante dos dois.

E honestamente... naquele momento, Kuroo mal ouviu o que seu amigo cara de coruja bem ali do lado estava dizendo. Sua mente entra em transe completa, mas os pensamentos agora são direcionados a um certo alguém. Um nome se destaca

Sawamura Daichi.

O capitão do time dos corvos incentiva a corrida do time com seus gritos altos de encorajamento direcionados aos amigos após o jogo obviamente exaustivo, mantendo uma postura correta mesmo na corrida cansativa e desgastante. Inevitável, é realmente inevitável não fixar seu olhar diretamente nas grossas e bem torneadas coxas do moreno enquanto o suor escorre por seu rosto seguindo um caminho perigoso pelo seu pescoço até sua camiseta branca encharcada de suor que gruda na pele expondo seu peitoral quase nitidamente.

A pergunta ainda sem resposta que paira em sua mente maliciosa é nada mais do que saborear a euforia de sentir sua mão aventurar pelo corpo atraente e deleitoso do capitão do time adversário ao seu, ter a satisfação de ouvir os tipos de gemidos que ele deixaria escapar por seus lábios quando ao extremo de seus limites. Imaginar tais cenas usando de todas as situações onde já ouvira aquela voz tão marcante vibrar por seus ouvidos atentos o faz ir ao céu, e ao juntar tudo isso ao semblante sério do outro é capaz de o fazer perder a linha por completo.

Devanear sobre um outro lado de Daichi que nunca chegou a conhecer é sem igual.

Caralho… O calor está realmente mexendo com a sua cabeça. 

Desde que se conheceram pessoalmente não pôde mais tirar os olhos dele logo após as poucas palavras trocadas durante os dias que se passaram. 

Quem tiraria? 

Olha só pra esse homem!

Muitas garotas de sua escola devem babar por ele toda vez que o veem andando pelos corredores e, claro, alguns muitos garotos também. Seu coração aperta no peito ao pensar na probabilidade de que essas pessoas consigam a atenção total do mesmo a todo momento.

— Fecha a boca, tá começando a babar — Bokuto não pôde deixar de rir quando percebeu que seu amigo parecia distante em pensamentos internos e por algum motivo tinha um filete de saliva começando a escorrer pelo canto de sua boca. Ele se senta e estala os dedos em frente ao rosto do outro. — KUROO! —

— N-não-! O que-! — O Nekoma saltou levemente no lugar, surpreso com o estalo e desconcertado em meio à situação em que se deixou passar em frente de seu lento amigo.

— Cê não tá legal cara, o que de teu? —

— Bokuto, acho que ele não vai te ouvir agora — Akaashi chega repentinamente, lento e calmo como sempre, não esbanjando muito alegria — Ele está concentrado demais nas coxas do Daichi novamente — Um sorriso de lado surge em seu rosto fino e bem ornamentado, um divertimento parece ocupar seu corpo e suas palavras. 

O rapaz levantador dos Fukurodani despretensiosamente coloca uma mão amiga na perna de Bokuto, sentando-se ao lado dele e entrega aos dois amigos confidentes garrafas cheias de água gelada e refrescante que os mesmos aceitam de bom grado.

Definitivamente Akaashi mima seu Ace como ninguém fazia.

— AKAAASHI! —

— QUE! Ei, calma aí! Eu não tava pensando em nada... — O Tetsurou passa a mão nervosamente no canto da boca, limpando a baba que havia ali — ...errado! Se é o que tá insinuando — Olhando duvidoso para o moreno de olhar afiado que a pouco chegou e mesmo assim parecia ter lido de camarote todos os pensamentos e desejos impróprios que a pouco tinham consumido e se alastrado por toda a sua mente sem limite aparente. O tipo de coisa que nunca diria em voz alta de tanta vergonha mas que a paixão do seu melhor amigo consegue visualizar como ninguém — Panaca. —

O esguio gato preto leva o olhar constrangido a observar o levantador reservado com um certo grau de receio. O rapaz que agora os acompanha não mexe um centímetro ao notar a aproximação de seu mais valioso atacante, que descansa a cabeça um tanto sonolenta em seu ombro.

Ainda assim mantém seus olhos mais aguçados do que nunca como uma linda coruja negra olhando em volta na quietude da noite em busca da comida mais saborosa.

"Não poderia estar mais frustrado! Agora tem outra coruja estranha no encalço, essa muito mais esperta do que a idiota anterior." Pensa consigo Kuroo bebendo a água da garrafinha na tentativa de acalmar seu coração fraco.

— Seu constrangimento não parece querer tornar suas palavras mais verdadeiras — Pontuou o Keiji com firmeza mas sem muita energia, distribuído uma provocação afetuosa nos cabelos desgrenhados de companheiro de time parecendo não se importar nem um pouco com fato do outro não estar usando camisa e suado o suficiente para encher uma piscina. 

Kotarou está em completo êxtase pela sensação maravilhosa dos longos dedos finos de Akaashi correndo por seus fios, seus olhos se fecham lentamente enquanto se deixa voar entre nuvens.

O calor parece não importar agora.

Mas com um simples "click" na mente de Bokuto — o Fukurodani mais desatento em relação às coisas não relacionadas ao vôlei num todo acorda.

— CALMA! VOCÊ TAVA SECANDO O DAICHI?! — Quando finalmente juntou as peças, o rapaz pareceu surpreso. Afastar sua cabeça do ombro confortável do seu moreno foi uma ação instantânea, este que não parece surpreso com a falta de contato físico que anteriormente lhe foi entregue, está acostumado com as situações de descobertas "chocantes" de seu... amigo e por um lado é cômico ver o quanto o mesmo é desligado das coisas. No entanto, deixando de lado esse fato divertido e fofo, vamos apenas dizer que essa coruja tagarela grita um tanto alto, ou como a mente conturbada de Kuroo diria...

ALTO PRA CARALHO!

Rapidamente a garrafa que residia na mão do Nekoma é jogada de lado impiedosamente e água transborda pela grama e seu peito exposto pela falta de tecido presente, a mão que originalmente descansava em suas pernas relaxadas foi em direção a boca grande do seu melhor amigo de maneira nada gentil e com uma força suficiente para deixar uma bela marca avermelhada na face pela tapa quase involuntário.

Akaashi não parece se abalar, isso é apenas uma cena corriqueira do dia a dia que está o divertindo mais do que achava que estaria, um sorriso quase imperceptível nasce em seus lábios rosados ao notar a cara estupefata de Boku pela surpresa e dor.

— Fala baixo, encosto! — Tetsurou diz num sussurro estrangulado que corta parte de sua voz melódica e rouca pela adolescência.

Ele continua olhando para seu melhor amigo com descrença e desespero.

— Secando o Daichi... o que significa? — Um alguém cuja voz é reconhecível a quilômetros de distância pergunta em confusão e dúvida, não para que os outros respondam antecipadamente, mas para si mesmo numa forma de fazer sua mente confusa dar um passo em entender por si só. O que resulta em nada mais do que deixá-lo em meio a uma expressão de quem que se esforça demais para atender às necessidades básicas e falha miseravelmente.

Não é atoa que Hinata pode ser comparado a um brilho de sol inocente ambulante — Eu diria que alguém está de olho no nosso capitão — Uma outra voz diferente também se mostra atrás de Kuroo, essa que diferente da anterior parece apreciar a sensação boa de uma nova descoberta — Que interessante... — E rindo a pessoa que conhece bem como ninguém finaliza divertido.

Olhando para trás rapidamente por cima dos ombros o Nekoma pôde visualizar um loiro alto de óculos olhando cinicamente em sua direção, com um sorriso sádico desenfreado no rosto bem adornado acompanhado de um pequeno grande e desnorteado raio de sol brilhante e confuso — Tsuk-! — Tentou dizer o de cabelo preto de franja espetada antes de sentir algo molhar sua mão e voltar-se para onde antes tinha sua atenção direcionada dando as costas para os dois que acabam de chegar.

— Tsukki!! Você sabia que o Kuroo gosta do Dai-! — Ainda falando alto, a coruja faladeira tenta fofocar sem ressentimento sobre sua nova descoberta depois de morder e babar toda a mão que estava em sua boca na tentativa concluída de tirá-la de si.

— SEU NOJENTO! — O jovem do time vermelho grita de asco, esfregando a grama com as mãos tentando limpar a saliva de Bokuto grudada no lugar.

— Olá Tsukishima, Hinata. — Akaashi cumprimentou seus amigos educadamente, interrompendo a discussão e gritaria dos dois ali a parte.

— Ah! Akaashi, olá! — A partir do momento em que a voz é ouvida por Kei, seu porte antes brutal passa a ser acobertado por uma faceta de completo tédio e cansaço. Correspondendo a boa forma como foi tratado sem segundas intenções.

— O que significa secar alguém? — Ainda confuso, o menor dentre todos perguntou sem notar os olhares que o cercam como se tivesse perguntado algo que ultrapassa o limites da inocência, mas de alguma forma a questão falada foi feita especialmente ao seu próprio mundinho interno numa pose desleixada.

— Significa que ele quer fazer algo inapropriado com nosso capitão, mas isso só pode ser tornar realidade na imaginação hiperativa dele — Kei pausa a sua fala pensando em como decorrer a mesma cheia de veneno — Porque, bom, como eu posso dizer isso… — Sua face ganha uma expressão exageradamente sorridente, uma mão delicadamente colocada na frente da boca em zombaria enquanto a outra descansa na cintura fina — Ele é medroso demais pra dizer o que sente por ele. Um covarde total eu diria —

— TSUKISHIMA! — Kuroo exaspera num grito alto de constrangimento e rapidamente vira a cabeça quando ouve as palavras afiadas.

— Acho que ainda não entendi... — O laranjinha ainda não parece compreender o que se passa, especialmente depois da fala de seu companheiro de time mais amargamente sarcástico.

— É mais ou menos o que você faz na sala dos materiais do ginásio com o rei às escondidas — Começa o loiro — A propósito, vocês deviam ter mais cuidado numa próxima vez, e por favor... — Ele ajeita seu óculos no rosto suspirando pesado — Façam menos barulho. Agradeço desde já — Olhando Hinata de cima abaixo ele desabafa sarcasticamente. A cada palavra que chega aos ouvidos atentos do pequeno carinha seu rosto fica mais e mais vermelho, fazendo um contraste interessante com o cabelo laranja junto aos olhos arregalados em estado de choque.

Bokuto e Akaashi olham para ele embasbacados.

"A inocência do nosso filhinho..." Pensaram eles, as palavras de Kei os deixaram descrentes e um tanto assustados. Teriam uma conversa muito séria com o levantador de cabelos negros da Karasuno. Ah se teriam…

— M-Mas e você! Você e o Yama fazem o mesmo! — O grito empolgado do ruivo faz Tsukishima, que ainda estava parado ao lado dele, se assustar levemente.

— O que você está tentando insinuar com isso. H i n a t a. — O adolescente alto e esguio se faz intimidante sem um pingo piedade, conseguindo com proeza tal ato ao pronunciar lentamente o nome do suposto novo pequeno gigante.

— V-Você fica fazendo barulhos estranhos no banheiro toda vez que vocês dois entram! Você acha que ninguém sabe!? — Apertando seus ombros e puxando sua camisa para baixo tentando se esconder, Shoyo totalmente envergonhado joga os fatos para Kei chamando a atenção das pessoas ao redor que olharam para o pequeno grupo sem conseguir entender a conversa, mas assustados com a gritaria por parte do menor.

Talvez pensassem que estivessem discutindo sobre algo estúpido, o que não é uma errada conclusão.

O olhar afiado e amedrontador de Tsukishima já dizia tudo para a alma de Hinata, que queria fugir sem dar satisfação em meio à desesperança.

— Ei ei! Acho que a conversa tá indo longe demais… — Nekoma tentando acalmar a tensão que aumenta entre os dois se intromete — Senta aqui e acalma os nervos tampinha —Tentando não focar os olhos naquele homem muito bonito que agora desce o pequeno morrinho como um modelo sexy de capa de revista e falhando miseravelmente. Dando leves batidinhas no chão ao seu lado chamando Hinata para se sentar ali, Kurro mente para si mesmo que seus pensamentos não passam de delírios sem sentido e não desejos ocultos pela covardia.

— Pode sentar aqui Tsukishima — Dessa vez é Akaashi que gentilmente chama o loiro rabugento, deixando espaço entre ele e Bokuto para que o mesmo possa se estabelecer.

Hesitando em aceitar a sugestão do levantador, Kei um tanto a contra gosto se deu por convencido. E assim, Kuroo e Hinata sentados em frente dos outros três ficam.

— Vocês fugiram da punição? — Perguntou Kuroo confuso, cruzando as pernas como borboleta assim como Bokuto.

— Vocês estavam tão inertes do mundo que nem perceberam, mas acabamos há poucos minutos — Tsukki responde apático, irritado pela falta de atenção do outro.

— Você sabia! — Boku interrompe a conversa rapidamente não se importando se isso soaria ofensivo, ainda curioso sobre o assunto anterior, claramente animado com a fofoca pouco conhecida.

O rapaz mencionado suspira pesado — Você realmente não sabe como falar baixo nem quando estão citando esse tipo de assunto vergonhoso — Resumindo sua decepção diante a estupidez de Bokuto com palavras proferidas por seus lábios — Tiveram sorte que o resto do time não veio aqui — Diz ele sem muito caso, olhando para a porta do ginásio a poucos metros de distância dele.

Tsukishima fecha os olhos, aproveitando a brisa agradável que bate em seu rosto.

— E podemos dizer que desde que chegamos você não sabe disfarçar nenhum um pouco — Zomba o de óculos, incomodado por sua pele sensível não suportar a alta temperatura que deixa suas bochechas levemente coradas — Todos já perceberam, você é péssimo nisso —

— Eu não olho pra ele tanto assim! Vocês fazem parecer como se eu fizesse isso o tempo todo... — O gato emburrado cruza os braços conforme fala, mas o olhar desconfiado dos amigos ao redor fazem sua espinha gelar — TA! Admito que ele é lindo demais! — As maçãs do rosto ficam ligeiramente vermelhas.

— Eu gosto muito dele, não posso evitar tá legal? Não me olhem assim — Kuroo se trai inconscientemente, e tudo que consegue pensar é somente num Daichi confiante que passou por ali — Ele é perfeito de todas as formas possíveis — É inevitável, ele sabe que não deveria, mas estarem juntos é um cenário impossível na vida real... não faz mal sonhar um pouco.

— Quem sabe finalmente me confessar de uma vez seja uma opção … e sei lá, talvez ele corresponda — É nesse momento que seu rosto muda drasticamente, a chateação é nítida e a esperança de que tais palavras possam ser realizadas em sua visão são abaixo de zero. Mas os pensamentos de esperança fluem sem notar por todo seu ser.

"Impossível. Ele nunca aceitaria ter algo comigo" Essa é a frase que sempre vem à cabeça ao tentar imaginar um momento romântico com o moreno que roubou seu coração da forma mais brutal possível sem nem perceber.

As três pessoas a frente o olham em uníssono um pouco surpresos, como se não acreditassem muito no que o outro dizia.

Que ofensa!

— Já não tava "ÓbViO" como vocês disseram? — As aspas com os dedos se fazem presentes durante a fala — Porque essas caras?! —

— Você é descuidado, essas coisas deviam ser guardadas para você — O loiro reprime uma possível risada intercalada entre desdém e sarcasmo.

— De fato — Akaashi concorda imediatamente após as observações críticas de Tsukishima, sorrindo leve sem dentes abraçando os joelhos contra o peito. Bokuto dá uma risada nervosa tomando um gole de água da garrafa que ainda está devidamente gelada de alguma forma inexplicável.

— Do que cê tá rindo Bokuto? — Hinata estava prestes a perguntar mais avidamente, mas tanto ele quanto Kuroo notam uma enorme sombra no chão bem à frente dos dois, projetada por alguém alto sob o sol caloroso da tarde. O Nekoma influenciado pelo melhor amigo, também estava prestes a saborear a água descer por sua garganta, mas é interrompido por uma voz conhecida e de alguma forma irritavelmente divertida.

— UAHH! Você gosta do Daichi, Kuroo? — A voz não perde tempo de perguntar com sua animação e sotaque um tanto diferenciado e forte. Que estranhamente não soa confuso como Hinata, mas curioso ou mais para eufórico do que qualquer coisa.

Essa voz só pode ser de uma pessoa…

— GOSTO LEV! ALGUM PROBLEMA? — Grita Tetsurou com raiva pela pergunta repetitiva que já começa a irritar, o rapaz se vira para ver o rosto do poste meio a meio intrometido, mas assim que o fez seu mundo desmorona.

— Você gosta… Kuroo? —

— Daichi. — Foi tudo que vagarosamente o de cabelo preto disse diante ao choque, por um momento ele jurou que o mundo ficou preto. O corpo amoleceu diante da tensão olhando surpreso para cima com uma expressão confusa e envergonhada.

"Porra! Há quanto tempo ele tá aqui!"

Um silêncio mórbido foi estabelecido em um instante e os olhos dos dois rapazes se encontraram e se prendem. É provável que Lev tenha dito algo burro naqueles milissegundos que pareceram horas ou Tsukishima tenha feito um comentário amargo nessa situação. No entanto, Daichi e Kuroo se envergonham em seus próprios mundos sem sequer notar o que se passa ao redor.

Ser rejeitado assim chegaria a ser cômico, se não fosse trágico. 

"Que piada, uma pessoa como eu do lado de Daichi... Isso nunca daria certo e ele descobriu tudo da pior maneira possível." Kuroo nega a si mesmo, nervoso, depreciativo. A seu ver, a negação é a única opção de Daichi diante dessa situação, e isso dói.

— Nooossa! E-Eu lembrei que tenho que ajudar a Yachi em uma... UMA TAREFA! — Hinata foi o primeiro a sair da roda assim que viu seu capitão de time, coisa boa dali não sairia e estar em meio a tudo não é uma boa ideia, então inventou a primeira desculpa esfarrapada que conseguiu correndo o mais rápido que pôde em qualquer direção.

O loiro em amigo a todos suspira pesadamente, constrangido pela fala do menor e a cena que presencia no momento — É um idiota não liguem, também estou de saida — Se levantanado enquanto fala o bloqueador do time dos corvos continua — Me acompanharia Akaashi? — Levando uma mão para que seu amigo levante, surpreendentemente gentil de sua maneira.

— Claro — Responde o rapaz que se junta ao caminho para o ginásio conversando sobre coisas banais e variadas na tentativa de fugir daquele silêncio incômodo.

— ME ESPEREM! — Bokuto grita correndo até os dois, temendo ficar ali no meio de tudo.

Lev foi o único estúpido que ousou ficar ali, Kuroo tinha o motivo perfeito para fugir, mas seu plano foi destruído em um instante.

— LEV! O QUE VOCÊ PENSA QUE TÁ FAZENDO! — Yaku grita de algum lugar, chamando a atenção do poste de 2 metros e meio — NÃO VAI PENSANDO QUE EU ESQUECI DO SEU TREINO! 

— Que droga! Foi mal Kuroo — O citado saiu correndo para se esconder do namorado novamente.

— Calma aí! LEV! — Implora Kuroo vendo o platinado fugir sem olhar pra trás.

— Então… — Aí vem Daichi — Do que você estava falando exatamente? — Um pouco envergonhado ele vai perdendo sua compostura antes confiante.

"Por que Sawamura Daichi é tão lindo…"

— Daichi eu... — Levantando sem ânimo algum Kuroo tenta dizer — Esquece isso tá? Não precisa dizer nada, só... — Confuso ele põe as mãos nos ombros, evitando olhar diretamente para Sawamura bem a sua frente agora, tentando se esquivar do mundo cruel que acabara de quebrar seu coração em milhares de pedaços — Desculpa. — O mesmo sai andando rápido em direção ao ginásio com a camiseta em mãos amassada pela força se seus punhos. Mas antes que isso seja possível, uma voz é ouvida por seus tímpanos sensíveis.

— Espera! — E antes que Kurro passe por si, o moreno segura o pulso do outro com demasiada força, puxando tão forte e de maneira tão abrupta que foi capaz de desequilibrar o passo do Nekoma. Entretanto, uma voz interfere nos planos do capitão dos corvos.

— Daichi? — Sugawara aparece de repente, contendo um claro riso frouxo ao perceber o contato físico entre os dois.

"Não poderia ficar pior..." Kuroo pensou consigo ao notar Sugawara ali

Ao ser ver, o Koshi sempre pareceu gostar do capitão dos "Corvos caídos" o que sempre deixou o Nekoma com um aperto forte no peito a todo instante. Mas o que poderia fazer, fora do vôlei os dois tem uma intimidade sem igual, estudam juntos, treinam diariamente juntos...

Comparando a relação atual entre Daichi para consigo, é vista uma discrepância gigantesca, um mundo totalmente diferente… e isso torna seu coração amargo a cada dia mais.

— Temos que jogar agora Daichi — Disse o de cabelo acinzentado, alegre até demais por algum motivo. Bom, Kuroo poderia até não saber, mas Suga não poderia estar mais orgulhoso da situação que presenciou seu capitão estar.

— Ah! Claro, o jogo... — Daichi felizmente ou não solta o punho do outro que por algum motivo ainda podia sentir o toque da mão forte no local. 

"Eu gosto dele pra caralho, mas não pensei que fosse tanto assim… Porra."

— Então...vamos? — Pergunta Tetsurou aos dois timidamente, obviamente incomodado. E tragicamente falhando em ocultar esse fato.

— Claro... — Daichi responde um confuso pelo que tentou fazer anteriormente, evitando também olhar para o capitão e bloqueador do time adversário natural

Suga ao fundo ri alegremente, acertando o braço de seu melhor amigo com o cotovelo sem medir forças.

Mas isso Kuroo sequer viu, andando desolado mais a frente.