História Táticas de Sobrevivência - O Primeiro Amor

- Pois o mais importante é nunca desistir dos seus sonhos... 

Naruto olhou surpreso para Sasuke, pois ele sabia exatamente a continuação da sua frase, não que fosse uma frase que somente ele teria usado. 

- É isso mesmo, como você sabe disso? 

- Depois disso ela abriu um sincero sorriso, te deu um selinho e saiu correndo toda envergonhada. 

- Como que você... Não brinca... 

- Pois é... Parece que você também foi o meu primeiro amor. 

- Mas eu sempre achei que fosse uma garota. Não pode ser, você tá me tirando né? 

- Desculpa estragar uma memória tão especial pra você assim, mas é verdade. Naquele dia o meu irmão me obrigou a ir em uma festinha de aniversário que foi perto desse parquinho, e ele me fez vestir aquela fantasia idiota. Eu odiei justamente por ter ficado parecendo uma garota, ainda mais que o meu cabelo estava mais comprido naquela época. Os garotos começaram a rir e me provocar me chamando de maricas, que eu devia ser um fracote e me empurraram, eu caí e machuquei as minhas mãos e depois comecei a chorar. Eu saí de lá correndo e parei naquele parquinho e logo depois você chegou. Eu não falei nada porque achei que você, assim como os outros garotos, iria rir de mim, mas você foi tão legal e gentil comigo. Se bem que meu irmão teve um problemão pra resolver depois que eu voltei pra festa. 

- O que você fez? 

- A minha fama de “demônio” começou naquele dia, porque quando eu voltei lá eu meti a porrada em todos aqueles idiotas que debocharam de mim, sem tirar o meu típico sorriso sinistro dos lábios. Pode-se dizer que o seu concelho fez de mim o que sou hoje. 

- Uau... Isso é muito louco. Tipo, o cara que eu mais detestava por um motivo besta, também é a pessoa que foi o meu amor de infância... e a gente tá falando disso enquanto tá tomando banho juntos e pelados no meio do mato... 

- Eu tô de cueca... 

Os dois se entreolharam e depois de rir da situação, um silêncio constrangedor tomou conta. Nenhum dos dois sabia o que fazer ou dizer depois de revelada tamanha coincidência. 

- Acho melhor a gente sair Naruto, o tempo já está virando pra chuva e precisamos nos secar ou podemos ficar gripados. 

- É claro. Será que você pode me alcançar a minha cueca, por favor. 

Sasuke saiu primeiro e jogou a cueca pra ele e já foi subindo para o abrigo com as roupas. O moreno percebeu que Naruto parecia ter ficado bem desconfortável com a sua revelação e por isso revolveu lhe dar espaço para processar as informações. Quem não ficaria chocado ao descobrir que o seu primeiro amor, um amor puro de infância que se pensava ter por uma garota era na verdade por um garoto, cujo mesmo estava bem ali na sua frente agora. 

Naruto esperou o moreno subir e só depois saiu da água. Sua cabeça estava confusa, pois ele ainda achava que Sasuke estava brincando com ele, mas nunca havia contado essa história pra ninguém então não tinha como ele estar mentindo, ele nem teria motivos para mentir de qualquer maneira. Aquilo havia acontecido há muitos anos, mas sempre que parava para lembrar, sentia “borboletas no estômago”, exatamente como naquele dia. 
Sempre fantasiou em reencontrar aquela fofa garota, nesse dia iria convida-la para sair e se divertir e, ao final dele iria a pedir em namoro e então lhe daria um beijo de verdade, para sentir apropriadamente aqueles suaves lábios. 

- Acabou que era um garoto... hahahahaha... E agora, o que eu vou fazer com essas malditas borboletas no meu estômago? Se acalme você também coração! Meu Deus... eu achei ela, não, ele... Ai caramba e agora o que eu faço? Eu não sou como o Menma, mas... é “ela”... Espera, mas ele disse que eu “fui” o seu primeiro amor, então ele não gosta mais de mim, e ele é um garoto também. Ele pode não gostar de garotos, mas se ele me beijou na época, não isso não quer dizer nada, mas também pode ser né... AAAAAAAA... Tá bom Naruto, respira fundo e se acalma, isso, se acalma, relaxa... 

O loiro ficou nesse dilema por um bom tempo, andando de um lado para o outro como uma barata tonta. Sasuke já havia acendido a fogueira e estava inquieto com a demora do loiro. Como iriam passar o restante do dia e a noite naquele clima estranho e constrangedor? Talvez não tivesse sido uma boa ideia revelar a Naruto o que havia acontecido entre eles no passado, mas para Sasuke que vinha há tantos anos guardando para si essa memória tão preciosa, essa era a melhor oportunidade, talvez até a única que teria de expor ao loiro como se sente. Ele já o odiava antes, então nada mudaria se ele passasse o rejeitá-lo novamente, ao menos iria colocar para fora o que há anos estava guardando no seu coração. 

- Ei... se ficar muito tempo aí nesse traje, vai ficar doente. Entra logo que já está começando a chover, vem se esquentar que eu já acendi a fogueira. 

- Claro! Já tô indo. 

Sasuke entrou e o loiro veio logo em seguida e se sentou perto da fogueira para se aquecer. 

- Queria ter trago o meu casaco também. 

- Eu já estou bem aquecido, pode ficar com o meu se quiser. 

- Não! Não precisa, valeu. 

- Certo, então... Eu vou preparar mais uma compressa pra sua mão, não podemos deixar essa ferida exposta. 

- Tá bom. Eu vou ver o que tem de proteína no kit de comida enquanto isso. 

Enquanto Sasuke estava perto da fogueira amassando as folhas, Naruto foi remexer no kit e ver o que tinha. Estava tão surpreso e nervoso com a revelação do moreno, que até a fome havia sumido. Queria falar mais a respeito do assunto, mas tinha medo do que poderia escutar, já que por muito tempo havia o rejeitado. No fundo nunca odiou Sasuke, o que sentia era inveja, talvez, por ele ser tão descolado e forte e tão bonito. Essa era uma oportunidade incrível então tinha que deixar de covardia e falar tudo que estava se passando na sua cabeça. 

- Esses sacanas só colocaram barras de proteína no kit, nem se pode chamar isso de kit. 

- Eles querem forçar a gente a se virar, então isso era o esperado. Quantas barras temos? 

- São dez barras no total, nem dá uma para cada por dia. Ainda bem que não comemos nenhuma antes. 

- Vai ser o bastante, desde que a gente não fique mais de sete dias. Vem, senta aqui pra eu colocar a sua compressa. 

Naruto se sentou ao seu lado e estendeu a mão machuca. Sasuke, com toda calma e cuidado, foi colocando a compressa e ajeitando de maneira que ficasse firme e confortável. 

- Está muito apertado? 

- Não, está perfeito. Obrigado. 

- Então está feito. Me passa uma barra dessas pra cá que eu estou faminto. Será que vai chover o resto do dia? Eu espero que não esfrie muito né. 

- É sério isso Sasuke! Vamos mesmo fingir que aquela conversa de antes não aconteceu? 

- Bom, você me pareceu ficar bem incomodado então eu achei melhor não falar mais nada, mas se quiser falar fique à vontade. Pode me perguntar o que quiser. 

- Você não está de brincadeira comigo né, tipo entrou na onda da minha história pra me zoar? 

- E por qual motivo eu iria brincar com uma coisa séria dessas? Você mesmo disse que nunca contou isso pra ninguém, então como eu saberia dos detalhes? 

- Tá certo. Sabe, pra mim aquele dia foi muito marcante, eu fiquei super empolgado com o que aconteceu. Eu voltei lá naquele parquinho todos os dias por um bom tempo esperando encontrar a garota, quer dizer, encontrar você, mas você nunca voltou. 

- Não é que eu não quis voltar lá, eu só não pude voltar. Depois do que eu fiz na festa, quando chegamos em casa, o meu pai me deixou um mês de castigo. Eu só podia ir à escola e nada mais, quando o castigo acabou eu voltei lá, mas nenhuma das vezes eu te encontrei. 

- Foi por essa época que nós nos mudamos. Meu pai arrumou uma casa maior que ficava do outro lado da cidade, então eu não pude mais ir ao parquinho. 

- Eu voltei lá por um tempo na esperança de te encontrar, pois eu queria agradecer por ter me ajudado naquele momento e me desculpar também pelo que fiz. Eu percebi que você havia me confundido com uma garota e, mesmo assim eu te beijei e isso não foi certo da minha parte. Eu queria ter podido me explicar no passado e quem sabe assim hoje a nossa relação fosse melhor. 

- Eu era uma criança e como tal eu criei inúmeras fantasias sobre você. Eu me imaginei um dia te encontrando e a gente sairia juntos e tal, mas eu não esperava por isso. Descobrir dessa maneira, nesse lugar, isso é tão frustrante. 

- Eu sinto muito. Eu, há muito tempo, venho tentando te falar a respeito, mas seria muito bizarro o cara que você mais detestava de repente chegar e falar: “Olha só, lembra da garota que te beijou num parquinho quando você tinha cinco anos? Pois é, aquela garota sou eu.” Você, com certeza, teria socado a minha cara, não é? 

- É muito provável que isso aconteceria mesmo. 

- Pois é! Quando você começou a contar, eu pensei que era o momento perfeito. Você não me odiava mais, então pensei que assim eu não levaria um soco. Eu realmente sinto muito por frustrar as suas expectativas e eu vou entender se você não quiser mais que sejamos amigos depois disso. 

- Eu... Sinceramente, eu não sei se consigo mais ser seu amigo depois disso. 

- Ah, claro. Eu entendo... Nossa, eu estou tão cansado e com toda essa chuva só nos resta dormir né. Você pode ficar com a cama, precisa mais que eu. 

- Fique à vontade para usar, eu não vou dormir. 

- Tá bom... 

Sasuke agradeceu por estar chovendo, pois o barulho lá de fora abafaria qualquer som que sua profunda tristeza viesse a fazer. Agradeceu mais ainda por ter trago o seu casaco, pois assim poderia esconder o seu rosto que já estava banhado em lágrimas. Esperava um dia conseguir falar sobre isso com o loiro, esperava ser compreendido e que seus sentimentos fossem retribuídos, mas diante da reação de Naruto não teve coragem de dizer que ele continua sendo o seu primeiro e único amor. Como poderia se confessar depois de ouvir do próprio loiro que ele não poderia mais nem ser seu amigo. Isso era muito cruel, nunca pensou que um dia fosse sentir tamanha dor, doía mais do que qualquer machucado que já teve em toda sua vida. As suas lágrimas só cessaram quando o sono falou mais alto. 

Enquanto Sasuke chorava escondido, Naruto estava absorto em seus pensamentos tentando convencer a si mesmo que a revelação do moreno não havia mexido com os seus sentimentos. 
Desde o primeiro dia que viu Sasuke na academia, teve um pressentimento sobre ele, mas não sabia direito do que se tratava. Queria se aproximar, mas ele sempre estava cercado de garotas que o bajulavam o tempo todo e isso o irritava muito, então por consequência disso começou a sentir raiva. Mas e se esse tempo todo estava sentindo raiva por Sasuke estar dando atenção as garotas e não a si? Se fosse isso mesmo, então toda aquela raiva que sentia era somente amor reprimido. Mas de qualquer maneira, sempre que imaginava o reencontro com o seu primeiro amor, era com uma garota. Será que conseguiria ficar com um garoto? 

A chuva estava intensa do lado de fora e já havia escurecido quando decidiu ir dormir também, mas quando estava se levantando para fazer isso escutou ao longe o som de algum animal, o seu grito parecia carregado de dor. Ficou mais um tempo próximo da entrada da caverna atento a qualquer novo ruído, porém não ouviu mais nada e com a chuva intensa que caía e a escuridão que estava não conseguiria ver nada. Naruto apenas colocou mais alguns gravetos na fogueira e foi se deitar também. 

Sasuke tentou disfarçar quando foi deitar, mas o loiro percebeu que ele havia ficado triste com a conversa, mas mesmo assim fez questão de se deitar de maneira que, se Naruto quisesse, teria espaço para deitar na cama também. Não queria que o moreno se sentisse desconfortável por estar dormindo do seu lado, mas ao mesmo tempo não queria ter que dormir no chão duro e frio, ainda mais que estava só de cueca. Então, com cuidado para não o acordar, se deitou ao seu lado e logo dormiu sentindo o calor reconfortante das suas costas.