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História Tatuado de Medo - Capítulo Único


Escrita por: taozing

Notas do Autor


hey hey hey!!!!
eu participei da kyungsoo!fest com esta fanfic~ era pra ser anonimamente, mas só faltou eu escrever FOI A TAOZING QUE ESCREVEU no fim pra ficar mais óbvio /shame
obrigada à ksoo fest por trazer essa ideia ao fandom br, obrigada à @lydiancora por ter doado esse plot sensacional e obrigada a todo mundo que leu e participou e afins <3

boa leitura e espero que gostem!!

Capítulo 1 - Capítulo Único


Não era como se Chanyeol estivesse com medo. Era só uma tatuagem... né? É. Não tinha por que ficar preocupado. Só uma tatuagem. Umazinha só. Só uma agulha lhe perfurando a pele contínuas vezes e injetando tinta e deixando uma cicatriz bonita. Só isso.

Chanyeol estava longe de ser crente, mas rezou baixinho ao dobrar a esquina, só para garantir.

Chegou ao estúdio de tatuagem e empurrou a porta, vendo o local ser dominado por um breu sinistro e uma música screamo abafada. Mordendo os lábios em puro nervosismo, Chanyeol deu passos vacilantes em direção à salinha de tatuagem, a música ficando mais alta e mesclando-se à uma risada maldosa típica de vilão de filme.

A porta entreaberta que separava a sala de espera da sala de tatuagem revelou um homem musculoso deitado de bruços, cheio de lágrimas correndo pelo rosto contorcido de dor, os dedos segurando os lados da cadeira com força para amenizar as agulhadas que recebia nas costas. Atrás de si, um sujeito baixinho, de cabelos negros e arrepiados, com os braços cheinhos de tatuagens de todos os tipos e cores e tamanhos, se acabava de tanto rir do sofrimento alheio, a música pesada e alta só deixando a cena mais amedrontadora.

Chanyeol se borrou todo de medo.

Quando os olhos de Chanyeol se encontraram aos olhos do tatuador, o garoto começou a clamar um mantra mental de “fodeu fodeu fodeu fodeu fodeu” e considerou sair correndo como o medroso arregão que era. Mas não, hoje não!

– E-e-eu t-tenho horário m-ma... m-ma-marcado.

You tried.

– Ah, tem horário ma-ma-marcado? – O tatuador debochou, olhando Chanyeol de cima a baixo com um sorrisinho malicioso. – Senta e espera, moleque. Já, já, te chamo.

Chanyeol saiu bambeando os dois quilômetros de perna que tinha, sentando-se numa das poltronas da sala de espera e embolando nervosamente os dedos. Era sua primeira tatuagem, poxa, não era culpa dele estar tão afoito!

O tal estúdio fora indicação de um dos melhores amigos de Chanyeol, na verdade. Sehun era um carinha novinho, mas já colecionava – com orgulho! – vários desenhos bonitos sobre a derme branca; disse que os melhores eram obra de Do Kyungsoo, tatuador conhecido na cidade e com o livro de reservas estourando de horários preenchidos e encaixes e sessões até nas altas horas da madrugada. Quando Chanyeol contou que queria fazer uma tatuagem, Sehun bateu palminhas animadas e falou confiante “vai no Kyungsoo que não tem erro!”, e lá foi o Chanyeol se meter com o famoso Do Kyungsoo.

– Daí, moleque? – Kyungsoo se apoiou no batente da porta, retirando as luvas de látex preto. – Deixa só o brother aqui parar de chorar feito criancinha que te atendo, ouviu?

– T-tá – Chanyeol balbuciou.

De dentro da saleta de tatuagem, o brother resmungou alto e Kyungsoo riu daquele jeito maléfico.

O tatuador desfilou pela sala de espera estralando os dedos, se abaixando atrás do balcão para pegar o livro de horários e riscar os atendimentos já feitos. Feito isso, largou a caneta de qualquer jeito e se esticou, estalando as costas e os braços, puxando a cabeça para um lado e para o outro com as mãos para estralar o pescoço também. Chanyeol se perturbou com o barulho dos ossos rangendo.  

– Deixa eu dar uma olhada no que tu vai fazer – mandou em voz autoritária, e Chanyeol se enrolou todo ao procurar freneticamente o papelzinho com o desenho pelos bolsos da jaqueta e da calça. – Cê tá nervoso pra caralho, viado. Deve ser um puta desenho, hein?

Chanyeol deu o papel para Kyungsoo e sorriu amarelo, as bochechas esquentando quando o tatuador riu em escárnio.

É isso? – Apontou para o desenho. – Guri, tu nunca fez tatuagem né?

– N-não. É minha primeira vez – Chanyeol murmurou envergonhado. Kyungsoo deu um sorriso de canto.

– Percebe-se. Bom, fico feliz que tenha me escolhido pra tirar sua virgindade.

Chanyeol corou e desviou o olhar, notando a merda que havia dito. Kyungsoo riu mais uma vez e caminhou até a sala de tatuagem, gesticulando para que Chanyeol o seguisse.

– Bro. – O brutamontes chorão pousou uma mão sobre o ombro de Chanyeol. – Boa sorte. O baixinho aí é sádico, vai te ralar até o osso.

– Tá falando o que aí, amigão? – Kyungsoo interferiu, arqueando a sobrancelha grossa de um jeito nada amigável (que ironia).

O brother deu dois tapinhas nas costas de Chanyeol, como se lhe dissesse “meus pêsames”, e Chanyeol quase pulou nas costas dele e berrou um “rápido! Não olha pra trás! Vamos!”. Kyungsoo encarou Chanyeol de cima a baixo mais uma vez e deu um sorrisinho maldoso, e o garoto sentiu o coração acelerar perigosamente. Oh, ok, Kyungsoo não só fazia Chanyeol se tremer de medo, como aparentemente também o fazia se tremer de tesão. Quer dizer, Chanyeol era gay e há tempos não dava uns beijinhos, e Kyungsoo estava bem ali, com aquela pose de homão da porra que com certeza faria as calças de qualquer um ficarem desconfortáveis. Chanyeol não tinha culpa... né?

Ave maria, Chanyeol, controla os hormônios.

– Anda, garoto, senta aqui de uma vez – Kyungsoo falou, ainda com aquele sorriso maldito nos lábios grossos. – Fica aí me olhando como se quisesse dar pra mim, qual é? Putaria no estúdio é em outro horário.

Chanyeol corou de vergonha e riu amarelo, se sentando na cadeira reclinável. Kyungsoo deu uma risadinha e perguntou onde o outro queria fazer a tatuagem enquanto pegava materiais novinhos em seu armário. A tatuagem era bem simplesinha, apenas um “love is a high” junto a um traço de um coração humano, e Chanyeol havia pensado em marcá-la na panturrilha direita.

Belê – Kyungsoo murmurou. – Deita e vira.

Chanyeol obedeceu.

– Essa calça aí dá pra subir ou...? – Apontou para o jeans skinny de Chanyeol, que piscou lentamente.

– É... a-acho que não.

– Tá, e tu pretende tatuar por cima da roupa? – Riu irônico. – Tira essa calça, bro.

Chanyeol ficou vermelho, mas obedeceu mais uma vez. Viu Kyungsoo voltar com o estêncil da tatuagem e ouviu-o soltar uma risadinha.

– Bela cueca.

Tá, tipo, talvez Chanyeol devesse ter botado uma cueca que não tivesse a cara do Pikachu na bunda, mas aquela era sua cuequinha da sorte, não podia ir se tatuar sem ela! ...Mas, tá, passar essa vergonheira toda não estava nos planos do menino... ainda mais na frente de Kyungsoo...

Achando que ia ser melhor ignorar o comentário e afundar o rosto nos braços para não morrer de vergonha, Chanyeol só resmungou uma risada forçada e esperou Kyungsoo começar seu trabalho. O tatuador ligou uma luz forte em cima da perna do garoto, fez todos os procedimentos de higiene necessários, acertou bem bonitinho o estêncil – e conferiu com Chanyeol se estava tudo ok – e então pegou a máquina. Mal encostou a agulha na pele de Chanyeol, já teve que fazer uma pausa; o menino estava muito nervoso.

– Respira – disse, vendo que Chanyeol tremia de medo e ansiedade. – Escuta, vai doer, mas vai ficar foda pra caralho, tá legal? Relaxa. Confia no papai aqui.

Chanyeol ficou corado por ter sido pego no flagra de seu pânico. Inspirou e expirou algumas vezes, tentando manter a calma, torcendo a carinha em pleno desconforto quando sentiu as primeiras agulhadas perfurarem sua pele. Sério, se já não tivesse depositado uma parcela considerável de seu salário nas mãos daquele nanico sádico, Chanyeol teria desistido e saído correndo. Doía, meu deus, como doía! Chanyeol tentou até se distrair ao tentar comparar a dor da agulha à dor da perda da virgindade, mas falhou miseravelmente. Ouviu Kyungsoo suspirar entre os barulhos da maquininha.

– Chanyeol, né? – O tatuador perguntou. Chanyeol confirmou com um murmurinho. – Quantos anos?

– V-vi-vinte e c-cinco – respondeu.

– Pagou isso aqui com o dinheirinho dos pais ou cê trabalha?

– T-trabalho.

– Faz o quê?

– E-edição de vídeo.

– Legal. E paga bem?

– Até q-que sim.

– E não estuda?

– Não. J-já me formei.

– Formou em quê?

– Hã?

– Se formou em qual curso?

– Ah, d-design gráfico.

– Tô ligado. Tenho um amigo que cursa. Ele diz que é legal pra caralho, mas tem que manjar de computador.

– A-aham.

– Tu manja bastante?

– M-manjo.

– Aprendeu tudo sozinho?

– Uhum.

– Ah, assim que é bom. Ir na marra. Meter a cara. Tem que ser assim, mesmo. E cê sabe desenhar?

– M-mais ou menos. Eu geralmente só desenho... p-personagens.

– Personagem de quê?

– Ah, de anime, videogame...

– Bem que eu te achei com cara de nerdão, mesmo. – Riu. – Qual teu game preferido?

Final Fantasy VII.

– Sei. Eu, particularmente, prefiro um negócio mais sangrento, sabe? Tipo Manhunt.

– A-ah, tô ligado...

– Não curte?

– Não.

– Ok, terminamos.

– ...Q-quê?

O barulho da máquina cessou e Kyungsoo deu uma risadinha nasalada.

– A tatuagem, Chanyeol. Tá pronta.

Chanyeol arregalou os olhos e espiou por cima do ombro, tentando inutilmente enxergar alguma coisa. Pronta? Já!? Chanyeol nem sentiu tanta dor assim...

Kyungsoo pegou um espelho e mostrou a tattoo para o garoto, que abriu um sorrisão ao ver o resultado; perfeito! Do jeitinho que ele queria! Do Kyungsoo era realmente o cara!

– Gostou? – O tatuador quis saber, apesar de nem precisar perguntar nada.

– Sim! – Chanyeol exclamou, pulando da cadeira para se fitar no espelho de corpo inteiro. – Ficou muito boa!

– Falei, ora. – Kyungsoo deu de ombros, cruzando os braços. – Deixa tudo nas mãos do papai que não tem como dar errado.

– Nossa! E... e nem doeu... – Chanyeol se virou para Kyungsoo, os olhinhos brilhando. – Aquele cara disse que você é sádico e que ia me ralar até o osso...

– É, eu geralmente faço isso, mesmo. É engraçado ver os machões tudo soltando a franga quando deitam na minha cadeira. – Kyungsoo riu de canto. – Mas tu é bonitinho, aí fiquei com pena.

Chanyeol se sentiu na obrigação de ficar vermelhinho e rir baixo. Kyungsoo o fitou de cima a baixo de novo e abriu um sorrisinho.

– Espera um pouco pra poder vestir a calça de novo. Enquanto isso, vem cá. – Gesticulou. Chanyeol obedeceu e foi até o tatuador, que lhe entregou um papelzinho. – Aqui tem as instruções de limpeza bem explicadinhas, mas, basicamente, limpa todo dia e cuidado com onde vai esfregar essa panturrilha.

– Tá bom – Chanyeol falou, todo bobo. Tatuado. Tatuado! Era um homem tatuado agora!

– Qualquer coisa que dê errado, cê volta aqui pra eu dar uma olhada, tá legal?

– Tá.

– Vai, se veste logo. Já falei que a putaria é em outro horário.

Chanyeol deu uma risada e tratou de cobrir os quilômetros de pernas com a calça justinha, fazendo uma carinha doída ao roçar o brim no plástico que envolvia a tatuagem. Kyungsoo estralou os dois lados do pescoço e bocejou, passando por Chanyeol para ir até a sala de espera, deixando as luvas em algum lugar. Chan ouviu o tatuador murmurar um cumprimento e um “pera que já te chamo”, voltando à sala de tatuagem com um copo d’água e um cartãozinho.

– Aqui tem meu telefone – falou, passando o cartãozinho para o grandão. – Se acontecer alguma coisa ou cê quiser vir fazer outra tattoo ou sei lá, caso queira vir na hora da putaria, é só me ligar.

Chanyeol riu e guardou o cartão no bolso da calça, bagunçando os cabelos.

– Bom, então tá – balbuciou, sem saber muito bem o que fazer. – Muito obrigado! – Estendeu uma mão na direção de Kyungsoo.

– Eu que agradeço. – O tatuador apertou a mão de Chanyeol. Com força. Bastante força. Até deu um estralo meio desesperador.

– T-tchau – Chanyeol balbuciou, ficando com medo dele de novo. Kyungsoo abriu um sorriso tenebroso.

– Aparece por aí – Ele murmurou, cruzando os braços. Chanyeol concordou com um sorrisinho sem-graça e deu o fora dali.

Papai era bom, mas tão assustador...

 

*

 

Duas semanas tropeçaram e Chanyeol se enfiou no estúdio de tatuagem de novo, agora apenas como companhia de seu migo, Oh Sehun.

– Daí, pirralho? – Kyungsoo deu um abraço estapeado em Sehun. – Teu guri não veio contigo? Oi, Chanyeol. – Acenou para o grandão.

– Hoje não – Sehun respondeu. – Ele tá fazendo hora extra às sextas, agora. Mas eu trouxe o Chanyeol, porque não consigo vir sozinho.

– É um viadão, mesmo, hein? – Kyungsoo sorriu malicioso, fazendo Sehun rir e Chanyeol arregalar os olhos.

– Ah, porque tu pode falar muito, né? – Sehun debochou. – A bicha mais colorida da cidade!

Kyungsoo deu uma risadinha e Chanyeol abriu um sorriso aliviado.

Sehun entregou o desenho para o tatuador, pendurou o moletom no cabideiro e se sentou na cadeira reclinável, papeando sobre alguma coisa. Chanyeol puxou uma cadeira e ficou ali quietinho, só ouvindo tudo; geralmente era bem tagarela e extrovertido, mas ficava um pouco tímido na frente de gente nova – ainda mais gente tipo Kyungsoo, aquele homão, todo sexy e misterioso, com as roupas todas esculhambadas e aquelas tatuagens todas pelo corpo, os cabelos todos bagunçados, o sorriso todo sensual brincando nos lábios grossos, os olhos todos redondos e pesados, ui, ui, ui!, Chanyeol até sentiu um arrepiozinho correr a espinha.

Sehun chamou Chanyeol para perto e se agarrou na mão dele, franzindo o rosto numa expressão dolorida quando Kyungsoo começou a tatuar o lado direito de seu pescoço. Kyungsoo deu uma olhadinha para Chanyeol e lhe lançou um sorrisinho, e Chanyeol abriu um sorrisão ao perceber que o tatuador ia fazer Sehun sofrer.

Dito e feito. Sempre que Sehun tentava desviar o foco da dor para outra coisa, Kyungsoo o interrompia; mandava-o fechar o bico, aquietar o rabo, ficar quietinho porque o silêncio era sagrado, e Chanyeol sentiu até pena de seu amigo, apesar de estar achando graça vê-lo todo encolhidinho de dor – Sehun também gostava de pagar de fortão, às vezes – e ter ficado com medo de ter seus dedos mutilados pela força descomunal que Sehun esmagava-os.

– Pronto, bonequinho, pode parar de chorar – Kyungsoo disse ao finalizar a tatuagem.

Sehun resmungou alto e limpou o rosto, esperando Kyungsoo fazer todas aquelas coisas pós-tatuagem para soltar um grandessíssimo “te odeio, Soo! Vai se foder!” na cara do tatuador, arrancando uma gargalhada gostosa dele, nada parecida com as malévolas que ele soltara noutro dia. Ai, olha aí o Chanyeol ficando todo bobinho. Olha, olha! Até corou, que fofo. Mas também, ninguém o julga, não é mesmo? Kyungsoo era um desses caras que faziam cabeças virarem e sexualidades serem questionadas.

Os três se acomodaram na sala de espera, Sehun e Chanyeol no sofá e Kyungsoo na poltrona frente a eles. O estúdio estava num breu um tanto amedrontador, as sombras se acentuando e sobrepondo os pontos iluminados que sumiam junto às horas restantes do dia.

– Tem alguém agora? – Sehun perguntou para Kyungsoo.

– Não. Eu tenho tirado uma sexta-feira de cada mês pra encerrar mais cedo – respondeu.

– Mais cedo? – Chanyeol arregalou os olhos. – Mas já são mais de sete da noite!

– Alguém tem que fazer dinheiro na casa, né? – Kyungsoo deu de ombros. – E esse alguém com certeza não vai ser a Kuro.

Sehun deu uma risadinha.

– Kuro? – Chanyeol quis saber.

– Minha gata. – Sorriu ao responder.

– Sua... gata? – Chanyeol uniu as sobrancelhas. Mas... Kyungsoo... não era... – Mas... Sehun disse que...

Longos segundos de silêncio se esticaram pelo estúdio até Kyungsoo dar uma risadinha.

– A gata animal, Chanyeol. Kuro, minha bichana, minha felina – O tatuador explicou. Chanyeol fez “aaaahh!”, balançando a cabeça, e Kyungsoo deu um sorrisinho de canto. – Qual é, tá interessado?

– N-não... – Chanyeol sorriu constrangido, desviando o olhar. Sehun deu um sorriso de canto, malicioso que só.

Sehun e Chanyeol tinham combinado de se encontrarem com o namorado de Sehun, Jongin, para fazerem um lanche. Sehun achou que seria legal chamar Kyungsoo para ir com eles, já que era a sexta de folga do tatuador e fazia tempo que este não via Jongin.

E lá foi o quarteto fantástico. Sehun e Jongin eram um casal esquisito, se xingavam, se batiam, mostravam a língua e do nada engatavam um beijão melado. Chanyeol e Kyungsoo, sentadinhos do outro lado da mesa, tiveram que fazer um esforço enorme para ignorar os pombinhos, o que acabou forçando-os a se conhecerem melhor.

– De onde cê conhece o Sehun? – Kyungsoo perguntou, encarando Chanyeol.

– A gente é vizinho há um bom tempo, aí viramos amigos. E você?

– Conheço do estúdio, mesmo. Ele é um carinha legal, é fácil fazer amizade com ele.

– É.

Silêncio. Barulho de beijação. Bochechas do Chanyeol ficando coradinhas.

– Quantos anos você tem? – Chan perguntou, fitando Kyungsoo.

– Tenho vinte e cinco.

– Também? Você é de que ano? Eu sou de noventa e dois.

– Noventa e três.

– Ah, então sou seu hyung. – Sorriu divertido.

– É nada. – Kyungsoo sorriu também. – Nem morto que te chamo assim.

– Por quê? – Chanyeol fez um beicinho e Kyungsoo riu irônico e apontou um dedo na cara dele.

– Por isso, mesmo.

Quietude. Saliva sendo trocada. Kyungsoo suspirando e mexendo nos cabelos.

– Quer, sei lá, dar uma volta? – O tatuador chamou, e Chanyeol não era bobo nem nada de negar.

Caminharam pela rua, Kyungsoo com as mãos nos bolsos da calça e Chanyeol gesticulando exageradamente depois de pegar um nivelzinho de intimidade. Chanyeol era divertido, fazia umas piadas horríveis que acabavam sendo engraçadas, e Kyungsoo rodava os olhos e balançava a cabeça, mas sorria, mostrando estar gostando da companhia do mais velho.

– E cê pensa em fazer outra tatuagem? – Kyungsoo perguntou, fitando Chanyeol.

– Penso, sim! – Chanyeol respondeu animado, já catando o celular do bolso. – Olha, eu tava esboçando esses dias... aqui! – Mostrou a tela para o tatuador, que franziu o cenho e confirmou com a cabeça.

– Vai fazer onde?

– Hm? Acho que no braço, mas não sei ainda.

– Não – riu. – Em qual estúdio?

Chanyeol piscou lentamente.

– Ah... com você...? – murmurou, coçando a nuca.

– Legal. Gosto de ganhar dinheiro.

Riram.

– Gosto de tatuar, também. O dinheiro é extra – Kyungsoo explicou. – Eu acho que tenho horário pra depois de amanhã. Quer dizer, ter, eu não tenho, mas eu posso te encaixar. Se cê quiser, claro.

– Quero! Quero sim!

– Belê. A gente se combina melhor por mensagem, porque eu tenho que ver certinho no livro e tal. E cê ainda tem que decidir onde vai fazer.

– Ué, contigo.

– Não – riu de novo. – Em qual parte do corpo.

Chanyeol se sentiu na obrigação de rir de si mesmo.

Voltaram para Jongin e Sehun, apenas para levarem uns comentários maldosos nas costas. Kyungsoo subiu os dois dedos médios, um na cara de Jongin e o outro na cara de Sehun, e Chanyeol jura que ficou corado de tanto rir – e não por vergonha por ter sido pego crushando o tatuador.

Quando deixaram Chanyeol em casa, Kyungsoo olhou o garoto de cima a baixo e deu um sorrisinho sinistro, de olhos bem abertos e cabeça meio tombada para frente, e a penumbra de dentro do carro só tornava a cena pior. Chanyeol saiu tropeçando nos próprios pés, a imagem ondulando em sua mente.

Cristo.

 

*

 

Kyungsoo tatuador do demo: eu tenho encaixe pra amanhã depois das onze

Kyungsoo tatuador do demo: ou pra depois de amanhã às dez

Kyungsoo tatuador do demo: ou semana que vem à tarde

Chanyeolie: pode ser depois de manhã mesmo

Kyungsoo tatuador do demo: às dez então?

Kyungsoo tatuador do demo: tu tá ligado que é dez da noite né

Chanyeolie: sim sim

Chanyeolie: alguém tem que fazer dinheiro na casa e não vai ser a kuro

Kyungsoo tatuador do demo: exato

Chanyeolie: aliás por que o nome dela é kuro?

Kyungsoo tatuador do demo: kuro é preto em japonês e eu tava sem criatividade

Chanyeolie: ahh ela é preta? amo gato preto (coração)

Kyungsoo tatuador do demo: eu posso ir buscar ela pra você conhecer depois de amanhã

Kyungsoo tatuador do demo: se você quiser

Chanyeolie: quero

Chanyeolie: se não for incomodar

Kyungsoo tatuador do demo: se fosse incomodar eu não teria oferecido

Kyungsoo tatuador do demo: até porque eu quase não tenho ficado com ela

Chanyeolie: belê

Kyungsoo tatuador do demo: te vejo depois de amanhã então

Kyungsoo tatuador do demo: agora você não vai mais me encantar com essa carinha bonitinha

Kyungsoo tatuador do demo: vou te desgraçar

Chanyeolie: nãooooooo (emoji chorando)

 

A gente vai ignorar o jeitinho que as bochechas de Chanyeol arderam quando ele leu a mensagem de Kyungsoo, tudo bem?

 

*

 

Chanyeol penetrou o estúdio de Kyungsoo com cuidado, espiando para lá e para cá, estranhando não ouvir a típica música alta que geralmente ecoava por ali. Ao invés de um monte de gente berrando e chorando – não necessariamente nessa ordem –, Chanyeol foi recebido por um miadinho e uma bolinha de pelos pretos se enroscando em sua perna. Chanyeol abriu um sorrisão, fez um “awn”, agachou os quilômetros de perna para acariciar as orelhas da gata preta que se insinuava para ele. Ouviu-a ronronar contente, fechando os olhinhos grandes de gato e esfregando a cabeça contra a palma de Chanyeol, querendo mais carinho.

– Vejo que conheceu a Kuro.

Chanyeol ergueu o olhar e viu Kyungsoo se apoiar no batente da porta da sala de tatuagem, de braços cruzados e sorrisinho no rosto. Kuro correu até Kyungsoo e o tatuador a pegou nos braços, sorrindo doce quando a gata se enrolou toda em si e roçou o rosto em seu peito. Chanyeol sentiu o coração dar um pulinho.

Kyungsoo se acomodou no sofá de dois lugares da sala de espera, relaxando sobre o estofado. Hospedou Kuro em seu colo e fez carinho nas orelhas dela, subindo o olhar até Chanyeol e indicando com a cabeça o espaço livre ao seu lado. Chanyeol se sentou do lado do tatuador, sorrindo minimamente ao ver Kuro ronronando gostoso, apreciando a carícia que seu dono deixava em si.

– Cê se importa de eu descansar um pouco? – Kyungsoo perguntou, virando o rosto para encarar Chanyeol. – Tô desde às seis sem parar nem pra mijar.

– De boa. – Chanyeol sorriu, tocando delicadamente a carinha de Kuro com a ponta dos dedos. Kyungsoo suspirou e relaxou visivelmente, tombando a cabeça no encosto.

– Vai com o Chanyeol, Kuro – murmurou baixinho, tirando a gata de cima de si e pondo-a no colo do outro.

– K-Kyungsoo, eu não sei... – Chanyeol mordeu os lábios quando Kuro se aninhou em seu colo e miou, querendo carinho. Cedeu à manha felina, deslizando a palma levemente pela bolinha de pelos preta.

Kyungsoo deu uma risadinha, apreciando o clima confortável e aconchegante que pairava por ali. Fechou os olhos, deixando que sua cabeça se apoiasse no encosto do sofá, respirando fundo, o corpo finalmente relaxando após um longo dia.

– Sério, acho que sou capaz de dormir aqui mesmo – falou baixo.

– Quer que eu volte outro dia? – Chanyeol perguntou cautelosamente. Kyungsoo abriu os olhos e negou com a cabeça.

– Cê já pagou, já tá aqui. – Deu dois tapinhas no joelho de Chanyeol, levantando-se do sofá. – Vou me limpar e arrumar as coisas e já te chamo.

Kyungsoo voltou alguns minutos depois, já de olhos bem abertos e luvas bem esticadas. Parou na porta, encarando Chanyeol e Kuro no maior chamego, atraindo a atenção do outro garoto ao soltar um risinho.

– Que foi? – Chanyeol quis saber.

– Porra, Chanyeol, não acredito que tu vai me fazer ter pena de te desgraçar. De novo.

Chanyeol riu, desviando o olhar. Kyungsoo sorriu meio-que-gentilmente.

– Vem, deixa a Kuro aí no sofá. Ela deve estar com sono, já, já, dorme – Kyungsoo disse, adentrando a salinha de tatuagem. Chanyeol obedeceu e seguiu seu crush.

A dorzona da tatuagem virou beijinhos de agulha com o papo que bateram. Falaram de várias coisas, distraindo Chanyeol da dor e Kyungsoo do sono, por vezes fazendo pequenas pausas para darem umas risadas. Em menos tempo do que pareceu, o antebraço esquerdo de Chanyeol tinha uma bonita imagem minimalista de uma cadeia de montanhas com uma lua atrás. Kyungsoo enrolou o plástico, passou as instruções de higiene e cuidado e agradeceu Chanyeol.

– Quer ajuda? – Chanyeol ofereceu antes de ir embora.

– Não, valeu – O tatuador respondeu, bocejando enquanto descartava as coisas usadas.

Chanyeol balançou a cabeça e saiu da salinha de tatuagem, se agachando para deixar um carinho numa Kuro adormecida. Kyungsoo viu a cena e abriu um sorrisinho.

– Para de ser tão bonitinho, moleque – falou em tom de brincadeira, arrancando uma risada envergonhada do grandão. – Dirige com cuidado. – Acenou.

Chanyeol saiu dali com um sorrisão.

 

*

 

Eles passaram a se falar constantemente. Começou com Chanyeol, na verdade, perguntando se Kyungsoo tinha um horário vago para uma colega de trabalho, e daí em diante o assunto rolou solto. Descobriram que tinham muito em comum, além da idade, do coração de artista e dos nomes com oito letras: gostavam de videogame, preferiam chocolate amargo a chocolate branco, pizza a hambúrguer, filminho em casa a filme no cinema, outono a verão...

Ocasionalmente, claro, vieram os convites para saírem. “Vai ter uma exposição, a gente podia ir. Aí depois, sei lá, podíamos comer alguma coisa”, e iam os dois. “Tá ocupado?”, “não, por quê?”, “porque eu pedi jantar pra duas pessoas, mas esqueci que o Sehun não vem comer comigo hoje. Aí, não sei, se você quiser vir...”, e Kyungsoo ia ao encontro de Chanyeol. “Dá uma chegada aí no estúdio, quero te mostrar um negócio”, e Chanyeol ia, só para se deslumbrar com um desenho que Kyungsoo havia feito numa das paredes da sala de espera.

Não podiam dizer que eram amigos – apesar de dizerem justamente isto, “somos só amigos”, quando Sehun os encarava com um sorriso maldoso –, porque os olhares que trocaram traziam mais do que só amizade. Às vezes, na calada das sextas-feiras, Kyungsoo chamava Chanyeol para o estúdio e os dois ficavam largados no sofá com Kuro ronronando entre eles, pulando de um colo para o outro, enquanto os dois só-amigos conversavam sobre qualquer coisa. Depois de algum desses encontros, Kyungsoo passou a se despedir de Chanyeol com um beijo na bochecha do mais alto, após pegá-lo pelo punho e puxá-lo pelo pescoço para grudar os lábios no rosto dele, deixando Chanyeol uma bagunça cômica de pele ardente e coração trovejante.

E foi assim que o tempo passou.

Cerca de dois meses depois de se conhecerem, Chanyeol caiu no estúdio de novo, já sendo recebido com a sua bolinha de pelos preferida correndo em sua direção e escalando suas pernas quilométricas. Pegou Kuro no colo, aconchegando-a em seu peito, sorrindo ao roçar o nariz na bochecha da gata.

– Eu achei que cê ia parar de ser bonitinho em algum momento, mas parece que eu tava errado. – A voz de Kyungsoo soou de dentro da sala de tatuagem. Chanyeol ergueu o olhar e riu quietinho, sentindo o rosto ficar mais quente. E Chanyeol achava que ia parar de se sentir encurralado pelos olhos pesados de Kyungsoo, mas aparentemente ele estava errado também.

Chanyeol se sentou no sofá, esperando Kyungsoo surgir. O tatuador, de fato, apareceu poucos minutos depois, sentando-se do lado de Chanyeol. Kuro pulou para o colinho de seu dono, coisa que fez Kyungsoo sorrir minimamente.

Ficaram em silêncio. Em algum momento, Kuro desistiu de Kyungsoo e pulou fora, se metendo entre o curto espaço de um garoto para o outro. Chanyeol pensou em falar alguma coisa para quebrar aquela quietude toda, mas... será que devia? Sei lá, parece que algo dentro de si lhe sussurrava “fica calado, Chanyeol, por favor, não estraga tudo”. Estragar o quê?

Virou o rosto para ver se Kyungsoo lhe daria alguma dica da resposta, e boy, oh boy, o jeitinho que o tatuador lhe olhava naquele momento fez as perguntas se misturarem às respostas numa bagunça total de sentimentos e palavras. Os olhos de Kyungsoo eram pesados, pesadíssimos, e escondiam muito sentimento; suas orbes percorriam o rosto inteiro de Chanyeol, como se o admirasse, como se o adorasse, como se o achasse mais que “bonitinho”, e Chanyeol sentiu medo.

Medo de quê?

Kyungsoo não lhe trouxe respostas à essa pergunta; ao invés disto, trouxe a palma até o rosto de Chanyeol, fazendo um carinho ali com o polegar. Escorregou os dedinhos calejados de tatuador até o pescoço do outro, dando aquela puxada que Chanyeol conhecia e desconhecia ao mesmo tempo – a puxada do beijo, lembrou-se. As bocas se tocaram brevemente, num contato simplesinho, inundado de emoções. Ao se separarem, Kyungsoo viu que Chanyeol estava estático e arregalado, e pulou para trás, levantando as mãos.

– Desculpa, eu entendi errado? – perguntou, preocupado.

Chanyeol cerrou os olhos, mordendo os lábios. Riu. Negou com a cabeça.

– Eu só... – murmurou. Pegou na mão de Kyungsoo, pondo-a sobre seu coração doído de tanto acelerar. O tatuador abriu um sorriso largo. – É que eu quero fazer isso desde a primeira vez que te vi.

– Idem – respondeu. Deslizou a mão pelo peito de Chanyeol, chegando ao pescoço dele mais uma vez.

Beijaram-se de novo, desta vez com ambas as partes contribuindo para o contato. Kyungsoo subiu os dedos pela nuca do outro, pegando nos cabelos dele para guiar o beijo, e Chanyeol não reclamou nem um pouco. Chanyeol apoiou uma mão no rosto do tatuador, a outra indo para o quadril dele, descendo até a coxa; Kyungsoo grunhiu e meteu a língua na boca de Chanyeol, e daí em diante os dois se alvoroçaram, chegando perto um do outro, apertando coxas, pegando nos cabelos, gemendo, grunhindo, mordendo o lábio alheio... até um miadinho nada contente interromper.

Chanyeol pulou de susto e Kyungsoo se jogou para trás, piscando lentamente antes de assimilar as coisas. O mais novo pegou Kuro no colo e fez carinho nela, como se lhe pedisse desculpas por ter quase a esmagado.

– Acho melhor a gente ir com calma – Kyungsoo falou. – Pelo menos na frente da Kuro.

Chanyeol soltou uma risadinha, coçando a nuca. Sua boca formigava de vontade de voltar a beijar o tatuador.

– Como foi sua semana? – Kyungsoo perguntou, fitando Chanyeol.

Puseram-se a conversar. Foi um tanto estranho no começo, conversar como só-amigos sendo que tinham acabado de trocar um beijo de muito-mais-que-amigos, mas os dois meninos superaram. Em algum momento, Kyungsoo olhou no celular e viu que já passava da meia-noite.

– Te mando mensagem amanhã pra gente fazer alguma coisa. – disse ao seguir Chanyeol até a porta principal do estúdio.

– Tá. – Sorriu, hesitando em abrir a porta.

O coraçãozinho de Chanyeol já estava se partindo, pensando que não ia ganhar nem o típico beijinho na bochecha, quando ouviu Kyungsoo rir baixinho e puxar o punho do mais alto, virando-o de frente para si e o prensando na porta. Kyungsoo sorriu de canto antes de apertar a cintura de Chanyeol, ficando na ponta dos pés para atacar os lábios dele, já chegando com língua e tudo. Chanyeol deixou um gemidinho escapar, o corpo todo se esquentando com o beijo afoito e com a mão do tatuador que sorrateiramente descia e descia. Kyungsoo grudou os lábios no pescoço do mais velho, recuperando o ar, a destra encontrando a bunda de Chanyeol num apertão malicioso. As bocas se encaixaram de novo e um joelho roçou entre as pernas do mais alto numa provocação maldita, fazendo Chanyeol gemer no meio do beijo e Kyungsoo sorrir de canto.

Kuro correu enroscar o rabo na perna de Kyungsoo, como se quisesse lembrar seu dono que ela ainda estava ali. Os dois meninos se separaram ofegantes, dando vários selinhos enquanto recuperavam o ar, não querendo se distanciar tão cedo.

– Não na frente da Kuro – Kyungsoo murmurou, dando uma risadinha. Chanyeol sentiu três partes específicas do corpo pulsarem; tão sexy, tão bonito, tão destruidor de corações, tão lindo, ay papi! – Vai. Dirige com cuidado. – Abriu a porta, jogando Chanyeol para fora, acenando e dando aquele famoso sorriso tenebroso.

Chanyeol não soube direto por que estava todo tremido. Estava confuso, sim, mas era uma confusão gostosa que ele não necessariamente queria solucionar. Virou o rosto para trás, sorrindo largo quando viu que Kyungsoo também o observava e também sorria.

 

*

 

Papai andava trabalhando demais – alguém tem que fazer dinheiro, blá blá blá, não vai ser a Kuro, mi mi mi; cala a boca, Kyungsoo.

Não era como se Chanyeol estivesse reclamando das madrugadas de sexta-feira no estúdio, ou dos encontrinhos sábado à tarde, ou das mensagens entre uma e outra tatuagem; não, Chanyeol adorava tudo isso! É só que... ele e o tatuador já estavam dando uns beijinhos por quase um mês, e, bom... eram adultos, maduros, bem resolvidos, não precisavam fazer aqueles joguinhos adolescentes de fingir que não tinham interesse e essas coisas. Tinham interesse sim, e isto era muito claro.

Também não era como se Chanyeol não tivesse tentado. Quer dizer, ainda sentia um puta medo desgraçado do tatuador, porque Kyungsoo era muito intimidador e irritadiço e sádico, mas Chanyeol gostava dele e queria pelo menos dar uns pegas sem que a Kuro visse. Chanyeol já tinha tentado chamar Kyungsoo para dar um pulinho em sua casa, já tinha engolido um picolé inteiro de uma vez só – para mostrar sua habilidade, sabe –, já tinha trazido as duas mãos do tatuador até suas nádegas e murmurado um “pega com força” no meio da beijação, já tinha até sentado no colo dele e dado uma reboladinha! E Kyungsoo, por mais duro que ficasse entre as pernas, ficava duro de cansaço também, dizendo “Yeolie, depois...”, só que o depois nunca vinha.

E, apesar de querer muito, Chanyeol não tinha coragem de sugerir uma foda de longas horas quando Kyungsoo finalmente tirava uma folga; sabia que o tatuador precisava descansar, ficar bem relaxado e paradinho, só dormindo agarrado em Kuro e comendo besteira na frente do computador. E, bom... Chanyeol se preocupava com Kyungsoo. Era triste vê-lo cambaleando de sono pelo estúdio quando se encontravam à noite, era triste encarar as olheiras fundas e roxas sob os olhos dele, era triste ouvi-lo reclamar de canseira.

Aquele dia, porém, era diferente. Era um sábado, fim de tarde, e Kyungsoo havia tirado a semana inteira para descansar, só voltando ao estúdio no sábado para limpar tudo e organizar as coisas para voltar ao trabalho na semana seguinte. Chanyeol o acompanhou de bom grado.

Chanyeol estava sentado no balcão da sala de espera, balançando as pernas grandes no ar, observando Kyungsoo arrumar os quadros acima do sofá – o grandão havia oferecido ajuda, mas o tatuador dissera que não, tudo bem, já estava acabando. Chanyeol olhou as horas em seu celular e acabou dando uma risadinha que chamou a atenção de Kyungsoo.

– Que foi?

– Hoje eu vim num horário diferente do que sempre venho – falou com um sorriso bobo. – Tô aqui pensando se hoje eu não vim no... “horário da putaria no estúdio”.

Nada sutil, sim, Chanyeol sabe, mas ele jura que, dessa vez, foi majoritariamente na inocência.

O que não foi inocente foi o sorriso que Kyungsoo lhe direcionou, virando o corpo e encarando Chanyeol daquele jeito intenso que fazia parecer que o mais velho tinha um e trinta de altura. Kyungsoo se aproximou e se meteu entre as pernas de Chanyeol, as mãozinhas trilhando as coxas dele.

– Cê queria ter vindo no “horário da putaria”? – perguntou num tom baixo e arrepiante, olhando para Chanyeol como se fosse devorá-lo.

– D-depende... – murmurou, não conseguindo tirar os olhos dos olhos de Kyungsoo.

– Depende? – Abriu um sorrisinho. – Do quê?

– Se você ia estar sozinho aqui... – Enroscou os braços ao redor do pescoço de Kyungsoo. – Se você ia estar disponível... se você ia estar bem... se não ia ter nenhuma Kuro pra miar, literalmente, nosso beijo...

Kyungsoo deu uma risadinha, chegando mais perto, roçando o nariz no nariz de Chanyeol.

– Olha só, você veio justo quando eu tô totalmente sozinho, bem, e cem por cento disponível. Que coincidência, hm?

– Aham...

Beijaram-se ansiosos, as mãos navegando por baixo das roupas, pernas se entrelaçando, pescoços se curvando, gemidos sendo soltos, dedinhos dançando pra lá e pra cá. Deram uma fodida gostosa no sofá, que com certeza deixou os dois felizinhos e prontinhos para enfrentarem mais uma longa semana de trabalho.

Ao sair, meio cambaleante por seus atos prévios, Chanyeol foi – quem diria! – gentilmente prensado contra a porta, os lábios sendo roubados num beijo lento e íntimo.

– Dirige com cuidado – Kyungsoo sussurrou, e ele sorria tão bonito que Chanyeol viu o mundo parar ao seu redor para admirar o tatuador. Chanyeol não queria ir embora. Chanyeol não queria ir para seu apartamentinho. Chanyeol não queria ficar sozinho. Chanyeol não queria sair de perto de Kyungsoo.

Chanyeol suspirou e mordeu os lábios, jogando o peso do corpo de um lado para o outro. Ia parecer muito desesperado... né? Muito apegado, muito carente, muito bobão, muito apaixonadinho, muito... crianção. Era isso que ele estava sendo, um crianção. Adultos. Sem joguinhos. Lembra?

– É... cê quer jantar comigo? – perguntou.

Chanyeol achou que jamais veria Kyungsoo sorrir de jeito mais bonito, mas, quando o tatuador alargou o sorriso, Chanyeol sentiu o coração revirar de ponta-cabeça.

– Eu adoraria.

Comeram.

Depois se comeram.

Goals.

 

*

 

Não era como se Chanyeol estivesse com medo. Era só um pedido... né? É. Não tinha por que ficar preocupado. Só um pedido. Unzinho só. Só uma dose de palavras que mudaria sua vida para sempre. Só isso.

Abriu a porta do estúdio, pegou Kuro no colo e foi tropeçando até a salinha de tatuagem. Deu um sorrisinho para Kyungsoo, que interrompeu a tatuagem que fazia para abaixar a máscara e dar um selinho na boca de Chanyeol.

– Seu namorado? – A cliente de Kyungsoo quis saber, sorrindo doce. Kyungsoo sorriu também.

– Aham.

Chanyeol quase deixou Kuro cair.

Seu namorado?

Aham.

Caramba. Cacete. Namorado. Namorado! Era um homem namorado agora!

Bom, pelo menos ele não teve que fazer o tal pedido. Risada nervosa.

Encolheu-se no sofá. Jesus, o sofá. Ficou vermelho. Acariciou perdidamente os pelos de Kuro. Sorriu amarelo quando a cliente saiu e lhe lançou um sinal de positivo com o polegar. Sentiu um medo gigante se apossar de si ao fitar Kyungsoo apoiado no batente da porta.

Medo de quê?

Chanyeol era um medroso, mesmo. Tivera medo de fazer a tatuagem, tivera medo de machucar e/ou ser machucado por Kuro, tivera medo de ser deixado de lado por Sehun e Jongin, tivera medo de pagar mico na frente de Kyungsoo e o afastar de si, tivera medo de beijar ele, tivera medo de transar com ele, tivera medo de pedir para namorar com ele, tivera medo de ser rejeitado, tivera medo de sair ferido, tivera medo de ter o coração partido...

– Yeolie... desculpa por dizer que você é meu namorado – Kyungsoo murmurou. E Chanyeol arregalou os olhos. Kyungsoo, também, tinha medo.

Me-do-de-quê?

– Tipo, já era pra eu ter te pedido em namoro, mas... – Kyungsoo continuou falando, passando a mão pelos cabelos nervosamente. – Desculpa. Se não quiser mais nada, eu vou entender.

M e d o d e q u ê ?

– T-tudo bem. Tá tudo bem, Soo. – Chanyeol sorriu largamente. – Eu quero. Quero ser seu namorado. Eu gosto muito de ti. Eu quero isso.

Kyungsoo arregalou os olhos e abriu um sorriso do tamanho do universo. Correu para beijar Chanyeol desesperadamente, despontando adoração e felicidade, como se fossem adolescentes virgens descobrindo o primeiro amor.

Medo de quê, mesmo?

 

*

 

– Sempre soube que cês não eram só amigos – Sehun disse, mostrando a língua. – Ai, ai, Soo!

– Fica quietinho, fica, moleque – O tatuador murmurou, apertando a orelha de Sehun antes de voltar a tatuar o quadril dele.

– Que culpa eu tenho se eu sempre sei de tudo? Eu falava todo dia pro Jongin “não sei por que o Soo e o Chan não admitem logo que tão se pegando”.

– Em minha defesa, eu nunca me meti nessa história – Jongin falou por trás de um livro.

Os outros três deram risadinhas. Sehun esmagou os dedos de Chanyeol, fechando os olhos com força quando sentiu as agulhadas maldosas lhe perfurando a pele.

Chanyeol subiu os olhos por Kyungsoo – seu namorado, lembrou –, admirando-o de coração acelerado e sorriso bobo brincando nos lábios. Observou a pele toda colorida de tatuagens, as sobrancelhas grossas franzidas em concentração, as roupas pretas e bagunçadas escondendo o corpo bonito e cheio de segredos que Chanyeol gostava de desvendar.

Chanyeol se perdeu no famoso sorrisinho sádico e amedrontador e nos olhos intensos de Kyungsoo. Sentiu uma pontinha de medo do futuro se acender dentro de si, mas, quando o sorriso tenebroso do outro virou um sorriso apaixonado, Chanyeol soube que não precisava ter medo de nada.

 

FIM


Notas Finais


obrigada por ler ♥


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