História Tela em Branco - São por essas coisas que o mundo está permeado de bucéfalos

Capítulo II- - SÃO POR ESSAS COISAS QUE O MUNDO ESTÁ PERMEADO DE BUCÉFALOS COMO TU!

-O QUÊ?

-Isso mesmo senhor Eren, foi o que o diretor decidiu.

-Mas por que, professora?

Olhei para ela. Era um misto de descrença e deboche no olhar.

-Não sei, mas se ele decidiu, é o que tu e eu iremos fazer. Portanto tudo está arranjado. Não vamos comentar isso com ninguém da turma, nem com teus amigos.

-Fica tranquila professora, não vou falar para ninguém, não tenho amigos para contar nada...

-Ok, ok, adolescentes...bom estamos acertados. E senhor Eren, presta atenção, fica atento, te concentra, que acredito que esta será sua última oportunidade antes de chamarmos o teu pai.

-Sim, professora, entendi minha situação, muito obrigado.

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Logo a professora Petra entra na sala. Após se posicionar, começa a fazer a chamada. Nunca prestei a atenção nos nomes que ela estava citando. Sempre me pareceu perca de tempo, um momento para meus colegas conversarem e eu, bom... eu desenhar. Mas parece que tenho colegas com vozes bem distintas e nomes incomuns...acabei de escutar um “Hércules”! Quem em sã consciência dá um nome deste para seu filho em pleno século vinte e um? Tenho uma colega com nome de História! Deve ser filha da professora Petra! Para homenagear seu próprio trabalho! E ainda mais, tem uma voz muito aguda...acho que quebraria um copo...fiquei imaginando a cena e rindo até que um nome me chamou atenção.

-Levi.

Professora Petra o chamou, não escutei a voz. Olhei para todos os lados, e no fundo da sala estava ele terminando de baixar a mão.

Então ele é o Levi.

-Bom gente, nossa próxima avaliação será um trabalho em duplas. Escolham seus colegas de parceria e pensem que estamos em meados do ano letivo. Toda oportunidade deve ser agarrada para conseguirem suas notas de aprovação. Alguns precisam mais que outros, mas todos devem se esforçar. A primeira parte consiste em uma pesquisa científic...

Enquanto a professora falava, começou o burburinho. Ela ainda estava explicando o que fazer e como fazer e vejo meus colegas se movimentando, arrastando mesas e cadeiras, sentado perto de seus parceiros. Outros conversavam sobre lugares para se encontrarem, qual lanche levar...Volto a atenção para professora e percebo que três garotas se aproximam dela, discutindo sobre não conseguirem ficar separadas e a professora ser obrigada a deixá-las fazer um trio para o trabalho.

-Irritantes, não?

-Haã?

-Percebo por que a necessidade de ajuda para estudar, se desconcentra com facilidade.

Ao meu lado, colocando sua mesa alinhada a minha se encontra o tal de Levi. Ele se senta, e começa a organizar seu material. Percebo que ele arruma seu estojo, caderno e livros de forma metódica, sendo os maiores em baixo alinhados de maneira piramidal. A professora passa com os papéis dos temas do trabalho. Ele retira. Fica olhando, e faz um som com a boca, nunca tinha escutado aquilo.

-Tsssc. Acho que estamos com sorte.

Ele abre o papel e me mostra. Está escrito: Grécia Antiga.

-Por quê?

Levanto meus olhos ao falar com ele. Percebo pela primeira vez seus olhos. Levi tem os olhos de um azul acinzentado. Nunca tinha visto alguém com esta cor de olhos. E para complementar, ele estava com um contorno de sei lá o quê na volta deles, destacando-os mais. Em minutos, sentado ao lado de Levi percebo três coisas que nunca tinha visto na minha vida.

-Por que acho muito interessante a Grécia Antiga. Já li bastante sobre o assunto e tenho muitos livros. Isso vai facilitar  para apresentar o trabalho, e como tu precisas de nota, quanto melhor nos sairmos, melhor para ti! Certo?

Enquanto ele falava isso, percebi sua sobrancelha levemente arqueada. O que seria isso? Esse cara que usa maquiagem nos olhos se acha? Como assim, ele sabe bastante? Enquanto ele falava outras coisas comecei a perceber outros detalhes do meu colega de trabalho e mais novo tutor de ensino. Ele era pequeno. Bom pelo menos comparado comigo. Acho que tenho uns dez centímetros a mais que ele. Ele é moreno, mas não como eu, ele é um moreno branco, quase pálido. Com olheiras acentuadas. Seus cabelos são bem negros, lisos, com um corte estranho...olho para sua nuca...parece que é raspado atrás, e na frente tem uma franja repartida.. Será que usa maquiagem no rosto para ficar branco? Fico olhando atentamente para seu rosto em busca de um pó ou algo que o deixe daquela cor.

-Pirralho burro. O QUE ESTÁ ME OLHANDO?

Sua voz sai baixa, porém muito grave e rouca, como se estive quase silabando as palavras devido a ênfase que postava na voz.

-Haã?

-Haã nada. O QUE TU PERDEU NA MINHA CARA?

-Haã, desculpa. É que estava vendo seu rosto e fiquei pensando se tu usas algo na cara para ficar assim branco.

Levi ficou me encarando, com os olhos estreitados e aquela sobrancelha erguida:

-E se uso? Algum problema para ti? Quem sabe vai te contaminar comigo por causa da minha maquiagem?

-Ah não, me desculpa se fui mal educado. -começo a gaguejar e esfregar a nuca- É que nunca vi um cara maquiado. Então estranhei. Mas é muito perfeita a pintura do teu rosto. Nem parece que tem alguma coisa grudada. Tá perfeito mesmo! Sério! Muito bonito, não parece nenhuma marca de espinha...

-Cala a boca.

-Há... desculpa de novo.- Resolvi me calar. Acho que ele está ofendido comigo.

-Sem problemas. Vamos nos concentrar no trabalho. Vou separar uns livros em casa, depois nos encontramos na biblioteca amanhã depois da aula. Temos que fazer as leituras deles...

-Vamos ler livros? Não é mais fácil pegar a pesquisa pronta na internet?

Levi levantou seu rosto e me olhou fixamente. Sua expressão não mudou, mas comecei a perceber que sua energia estava muito negativa. Encarando-me de forma  intensa, suas pálpebras inferiores tremendo, seus lábios já fino conseguiram se estreitar ainda mais, e a sobrancelha... percebi que ele estava fulo. Ele vai me matar.

Levi se levanta abruptamente. Começa a organizar seu material.

-PORRA! SÃO POR ESSAS COISAS QUE O MUNDO ESTÁ PERMEADO DE BUCÉFALOS COMO TU!

Então ele saiu. Deixou sua mesa no lugar. Seu material organizado dentro da mochila e saiu da sala. Tive a impressão que estava praticamente marchando, como se fosse um militar. Bateu a porta.

Fiquei olhando ele sair. O que será que eu fiz para deixá-lo daquele jeito? Não entendo as pessoas...logo depois vejo uma sombra se aproximar por trás.

-Então você conseguiu deixar seu tutor indignado? É bom o Irvin saber disso, daí ele vai perceber que não são coisinhas de mulher histérica, mas que tu consegues tirar todos do sério. Até o Levi...

Então a professora se afastou e foi atender o trio de colegas que agora estavam exigindo expulsarem uma delas, pois não estavam se acertando...

Até o Levi...

O que será que isso queria dizer?

Bom o que quer que seja, eu realmente não consigo entender as pessoas... não consigo ficar perto delas... resolvi fazer o que sempre faço nestes momentos. Baixei minha cabeça, e fui desenhar.

Quando dei por mim, estava traçado um perfil de um rosto muito elegante, com fortes olhos cinzas contornados de preto...