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História Telepatia - Capítulo Quatro


Escrita por: hwaclip

Capítulo 4 - Capítulo Quatro


park seonghwa.

Você precisa me ajudar, escrevo chorando após Heetae ter finalmente dormido. As madrugadas daqui são preenchidas por sinfonias de corujas e grilos e o quarto vazio parece maior, mais frio. As lágrimas caem nas queimaduras recentes do rosto e arde como se eu estivesse morrendo, porém contenho a dor e abafo o grito na pelúcia. Ela é útil nesses momentos. Você me disse que eu morreria em quatro dias, agora três. Não tenho ideia de quem você é, mas não me importo. Eu não posso morrer nas mãos dele. Por favor, me ajude de alguma forma. Farei de tudo para te pagar de volta. Estou desesperado. Meu peito sobe e desce num ritmo descompassado. A agonia me corrompe. Esse não pode ser o meu destino, não suporto a ideia de me resumir a uma vítima preenchendo os índices. Não quero estar nas notícias. Preciso sair daqui.

Nós nos vimos hoje. Acho que estamos conectados de alguma maneira, responde ele quase no mesmo instante. Acha que conseguimos mudar o rumo das coisas?

Sinceramente, eu não tenho certeza de nada neste momento.

Qual é o seu nome? Eu posso entrar em contato com o você do meu presente e...

Não dá.

Por quê não?

Eu estou na cadeia no seu presente.

Respiro fundo. Tento pensar, mas minha cabeça dói. Tenho ânsia novamente ao lembrar do ocorrido do soju e o palito de fósforo, porém acabarei colocando os meus órgãos para fora neste ritmo. Não há mais nada para sair de dentro de mim, afinal não como há dias.

Então eu o vejo do outro lado do quarto, encostado na parede de frente para mim. Seu semblante encontra-se tão surpreso quanto o meu e temos exatamente o mesmo caderno no colo, mas as folhas do dele têm um aspecto mais amarelado e velho.

— Você vai sair dessa. Daremos um jeito. Acredito que tudo o que precisa fazer é mudar o passado para trazer consequências no futuro — sua voz é baixa e serena, diferente do grito de outrora. Ele aparenta ter a mesma idade que eu.

— Nada adiantará. Fugir é impossível, porque ele sempre arranja um jeito de me encontrar. Ele é amigo de todos os policiais desta cidadezinha e eu não conheço ninguém — sussurro. Notei que Heetae não é capaz de ouvi-lo, mas é claro que ainda me ouve. E seu sono infelizmente não é tão pesado quanto eu gostaria.

O jovem à minha frente abaixa a cabeça e reflete por breves segundos, sem falar uma única palavra.

— Você não me disse o seu nome — afirmo, mudando de assunto. Sei que há apenas uma solução, no entanto, irei colocá-la em prática quando sua imagem se dissipar.

— Choi San — responde de modo simples. — É uma pena que tenhamos nos conhecido dessa maneira.

Após esses três anos morando com Heetae, minha audição ficou um pouco mais aguçada. Ouço passos e rapidamente guardo o caderno sob o piso, onde recentemente encontrei uma brecha. O chamado San desaparece ao passo que Heetae abre a porta abruptamente com força.

— O que estava fazendo aqui sozinho? Deveria estar dormindo — cada sílaba saída de sua boca me enoja, faz crescer esta sensação ruim que carrego comigo desde que as agressões começaram.

Quero gritar, sair correndo daqui. Não suportarei mais um dia ao lado dele.

— Vamos voltar para o quarto, faz tempo que não… — puxa a minha mão, porém percebe que mal saio do lugar. — Ah, vai querer mesmo se fazer de difícil? Eu já pedi desculpas pelo que fiz, ok? Eu me arrependo! Agora vamos, Seonghwa, pare com esse draminha.

— Estou indo, só… quero comer algo antes — digo, a voz trêmula. Há uma porção imensa de ódio em cada palavra vinda de mim, mas ele é idiota demais para se dar conta.

— Tudo bem, só não demore — bate a porta e me deixa aqui, um corpo magro já sem nada por dentro, nem mesmo uma alma. Uma concha vazia.

Desço até a cozinha e escondo uma faca de carne entre o pijama e o casaco — costumo usar várias peças de roupa pois sinto o frio com mais intensidade devido à ausência de gordura. A cada degrau pisado, uma inspiração ou expiração pesada. Minha cabeça roda, dando a impressão de que cairei a qualquer instante. Mas tenho de me manter firme. Só por esta noite. Eu não posso passar desta noite.

— Finalmente! Achei que fosse passar a madrugada inteira lá — Heetae exclama assim que me vê abrindo a porta. Conforme me aproximo, seu cenho franze um pouco mais — Está estranho… comeu algo estragado? Realmente preciso ir ao mercado, as nossas coisas já passaram da validade há dias — ele ri. Meu âmago se revira em ódio toda vez que o faz.

Quando ele está prestes a falar mais alguma coisa, deixo o impulso me controlar e levo a lâmina ao seu pescoço num movimento abrupto, vendo sangue espirrar no meu rosto e jorrar em seu peito, irrigando o lençol e o colchão. Seu olhar desacreditado me desafia e suas mãos fortes tentam me alcançar e me machucar como de costume, mas é em vão. É a primeira vez em que me sinto assim, tão liberto. Minhas mãos tremem. Acabou. Finalmente acabou.

Guardo o caderno de desenhos, o toca-discos com o headphone e o urso de pelúcia na minha antiga mochila e abro a porta da frente pela primeira vez em meses. Pisar no asfalto após todo esse tempo é tão prazeroso que tenho vontade de ficar descalço, entretanto não o faço, pois o frio me mataria de hipotermia. O breu da noite me assusta, porém o brilho da lua me acalenta. Não ligo de ter sido uma péssima escolha. Eu estou vivo. E me sinto vivo.

Depois de alguns metros, acabo caindo no chão, tamanha fraqueza. Minhas pernas mal conseguem se mover e falta ar em meus pulmões. Um jovem de cabelos castanhos que fumava na entrada de sua casa corre em minha direção e me ajuda a levantar. Lembro-me dele, trabalha no mercado.

— Você está bem? Acho que precisa comer alguma coisa — sua voz é doce e quase inaudível, o oposto do tom rígido e rude do cara que jurei amar um dia.

Ele me leva para dentro enquanto enxergo tudo meio borrado. Oferece-me água e algumas bolachas, pedindo desculpas por ser tão pouco e afirmando ser tudo o que ele tem no momento. É a primeira vez que como esta semana. É a primeira vez que não desejo colocar tudo de mim para fora. É a primeira vez que um sorriso singelo não me enoja.


Notas Finais


seonghwa mudou o passado, quais serão as consequências no presente do san?


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