História Terapia de Risco - CAMREN - All in my head

Depois de me secar e secar meu cabelo começo a me sentir um pouco melhor, embora um pouco envergonhada por conta de tudo. Coloco a calça de moletom e a camisa branca, na verdade sentindo muita vontade de voltar pra cama, mas só são 18:00 hrs e meu estômago subitamente me relembra que eu não comi em dois dias. Volto para a sala de estar e meu coração repentinamente se enche de um calor confortável. As luzes estão fracas, dois pratos cheios de um espaguete ainda fumaçante que parece delicioso estão dispostos na mesinha de centro, e um filme antigo preto e branco está passando na TV baixinho.

Camila está no sofá sorrindo pra mim e batendo com a mão no lugar ao seu lado. ‘’Psicose, do Alfred Hitchcock acabou de começar, supostamente é um filme de terror, e realmente deve ter sido na época, mas eu só consigo achar engraçado’’ ela diz e dá uma risada tímida.

O calor ainda está aquecendo meu coração e pela primeira vez em dias, eu sinto um sorriso genuíno nascendo no meu rosto.

- ‘’Oh, eu fiz espaguete à bolonhesa pra gente, espero que você goste! É uma receita que vi na TV’’ ela diz suspirando.

Ando e me sento no sofá ao seu lado, tendo certeza de que tem um pequeno espaço entre nossos corpos. Coloco uma mão em sua coxa e olho em seus olhos que parecem ainda mais escuros nessa luz.

- ‘’Eu não mereço você sendo tão maravilhosa, mas obrigada’’ falo baixinho.

Seus cílios compridos piscam pra mim enquanto um sorriso humilde e lindo aparece em seu rosto. Rapidamente me inclino e deixo um beijinho rápido em sua bochecha. Sorrio para ela novamente sem dizer mais uma palavra e pego meu jantar. É um daqueles raros momentos na vida que eu agradeço a deus pelo acaso de nossa posição no sofá, que me permite comer meu jantar e manter minha mão em sua coxa. Ela gargalha de mim que praticamente devoro o prato inteiro em meu colo.

- ‘’Desculpe,’’ sorrio um pouco, minha boca cheia de espaguete. ‘’Eu não comi em dias e isso está delicioso.’’

- ‘’Você é fofa’’ Camila suspira e coloca seu próprio prato vazio de volta na mesinha e de forma simples descansa a cabeça em meu ombro.

Nós duas assistimos ao resto do filme, meu coração batendo graciosamente e profundamente dentro do peito enquanto o calor da sua pele envolve meu ombro e envia arrepios para meu coração e minha alma. Nós duas rimos com as cenas que supostamente deveriam ser assustadoras e para os igualmente péssimos efeitos especiais, mas logo Camila fica na defensiva e me informa que nos anos 60 essas cenas deveriam ser super aterrorizantes. Nós duas acabamos rindo até das coisas mais ridículas e eu sinto como se um peso gigante tivesse sido tirado de mim, não sei nem mesmo se estou rindo porque estou achando as cenas engraçadas ou se estou rindo dela achando as coisas engraçadas, tudo que sei é que meus músculos do estômago estão começando a doer e isso é maravilhoso.

Bocejo me sentindo feliz e cansada uma vez que o filme acaba, a cabeça dela ainda em meu ombro então eu viro minha cabeça e passo meu nariz por seu cabelo. Inalo o cheiro de seu shampoo e suspiro forte enquanto murmuro ‘’Obrigada’’.

Ela se senta direito se afastando de mim e sorri preguiçosamente em resposta; ela parece tão relaxada quanto eu estou me sentindo.

- ‘’Hmmm... você quer dançar?’’ ela pergunta timidamente, colocando algumas mechas castanhas atrás das orelhas que parecem avermelhadas de vergonha mesmo na luz baixa.

Pisco os olhos pra ela.

- ‘’D-dançar?’’

Olho ao redor da sala esperando achar uma explicação onde não existe. ‘’Não tem nenhuma música’’ digo estranhamente.

Ela ri como se estivesse esperando que eu dissesse isso. ‘’Não agora boba, eu vou colocar uma música legal e nós podemos danças lentamente?’’ ela pergunta,

Engulo em seco e sinto minhas bochechas corando. ‘’E-eu não acho que dancei lentamente desde que Brad me levou ao baile’’ gaguejo dando uma risada seca.

- ‘’Lauren’’ ela faz um biquinho mas franze a testa pra mim, ‘’você está dizendo não pra mim?’’ ela pergunta com um brilho nos olhos, como se já soubesse que eu não consigo dizer a porra de um não pra ela.

Só a encaro sem palavras.

Ela dá um sorrisinho pra mim antes de se levantar e andar em direção ao pequeno dock de Ipod perto da TV. 

PLAY ALL IN MY HEAD - TORI KELLY 

Ela coloca uma música com um toque de violão crescente, transformando-se numa melodia lenta e aconchegante.

Ela vem em minha direção e segura minha mão gentilmente, me levantando do sofá. Meu coração volta a bater forte porque ela está segurando minha mão de novo, mas as batidas parecem tão profundas e lentas, quase como o ritmo da música.

I see you with her

And it crushes me inside

Guess I should stop

Thinking about you all the time

Maybe this is what I needed

Maybe this is a sign, maybe

I’ve been blind to reality

Baby, tell me

Fico parada vergonhosamente olhando pra ela sem saber o que fazer com minhas mãos, ‘’Hmm...’’ hesito, e ela só ri gentilmente. Ela segura minha mão e coloca meu braço ao redor de sua cintura, descansando minha mão em suas costas. Ela segura minha outra mão apertadamente no ar e só começa a balançar comigo para os lados um pouquinho.

Every little glance my way

Everytime you wanted to hang

You seemed so interested

Could you tell me?

Was it real, or was it all in my head?

Was it real, or was it all in my head?

Solto sua mão porque de alguma forma eu não me sinto perto o bastante dela, então eu encosto minha cabeça contra seu ombro e enrolo meus dois braços ao redor do seu abraço aquecido. Ela responde gentilmente descansando suas duas mãos em meus quadris e nós duas continuamos balançando lentamente.

She’s so pretty

You two look so great

Time for me to move on now

It was probably just a silly crush, anyway

But I just can’t help but think

That we, we could’ve had something

Have I really been blind to reality?

Baby, tell me

Suspiro e sorrio contentemente contra ela, queria rir porque eu tenho certeza que só ficar abraçadas e balançando sem sair do lugar não qualifica uma dança mas ela não parece se importar nenhum pouco.

Every little glance my way

Everytime you wanted to hang

You seemed so interested

Could you tell me?

Was it real, or was it all in my head?

Was it real, or was it all in my head?

É o mais maravilhoso, amoroso abraço que eu acho que eu já experimentei, tudo em mim está aquecido e arrepiado. Eu a abraço ainda mais apertado, sentindo seus seios pressionarem contra os meus. Sinto seus pulmões expandindo e relaxando com cada respirada sua, sinto suas costas arqueando, sinto o calor do seu corpo se misturando com o meu, sinto sua respiração viajando pelo lado do meu pescoço. Sinto-me extasiada e feliz, cansada, mas com meus sentidos estranhamente despertos. Sinto como se nesse movimento de balanço eu pudesse cair no sono em seus braços e seria o melhor sono que eu já tive na vida.

Was it real or was it fake?

Was it all a mistake?

Boy I just gotta know

Was it all in my head, all in my head?

Did you ever feel the same?

Was my mind just playing games?

Boy I just gotta know

Was it all in my head, all in my head?

Depois que a música termina ela se afasta suavemente e me olha com um sorriso igualmente feliz e sereno. Ela me abraça de volta e mesmo a música tendo terminado, continua me balançando e eu sinto sua garganta vibrando enquanto ela murmura o ritmo ao invés disso. Sorrio e pisco os olhos lentamente, descansando a cabeça em seu ombro novamente.

- ‘’Eu soube desde o momento que te conheci Lauren,’’ ela suspira gentilmente em meu cabelo, causando arrepios crescentes em minha nuca.

- ‘’Soube o que?’’ murmuro de volta e fecho meus olhos; eu honestamente poderia cair no sono agora.

- ‘’Que você não era só mais um dos meus pacientes’’ sorrio para sua fala, sorrindo suavemente contra a pele de seu pescoço só murmurando em resposta para que ela saiba que eu entendi. Subitamente sinto vontade de conta-la coisas também, apesar de não ter muita certeza do que é mas todas as vezes que ela fala comigo ou me toca ela tem esse efeito estranho em mim que me faz querer compartilhar meus mais profundos medos pra ela. Ela é tipo aquela porção Veritaserum do Harry Potter, o que me assusta e me impressiona ao mesmo tempo.

- ‘’Eu estou com medo de tudo isso... você...’’ suspiro suavemente, meus olhos ainda fechados. ‘’Eu sinto como se estivesse com medo do quão feliz você me deixa porque eu não estou acostumada com isso. Eu acho que eu só estava me contentando com Brad... talvez fosse costume... mas com você... você é boa demais pra ser verdade e eu tenho medo porque coisas boas geralmente não acontecem comigo.’’

- ‘’Bem, elas acontecem comigo’’ ela suspira de volta e eu consigo ouvir o sorriso em sua voz.

Me seguro nela ainda mais apertadamente, sentindo seus batimentos cardíacos contra os meus e contra a palma da minha mão em suas costas.

- ‘’Seu coração está batendo muito rápido’’ sorrio.

- ‘’É, desculpe’’ ela sorri suavemente, ‘’ele se transforma em uma metralhadora perto de você.’’

Gargalho de suas graças mas Camila se afasta de mim e seu rosto corado e olhos cansados estão me olhando afetuosamente. ‘’Tem algo te preocupando Lauren?’’ ela pergunta baixinho.

Engulo em seco e me pergunto como ela soube. Sinto-me boba por querer admitir isso mas recentemente venho me sentindo culpada sobre a coisa mais estúpida da terra e eu só sinto vontade de tirar isso do peito.

- ‘’Me desculpe por não cantar pra você,’’ digo com a voz tremida. ‘’Eu fico nervosa e...’’ paro, sem saber como me explicar, ‘’Veja, músicas nunca significaram muito pra mim, elas são divertidas de ouvir e dançar mas é só isso, mas então Normani cantou aquela música no bar naquela noite e eu olhei pra você e eu só...’’ deixo no ar novamente sentindo o ar sair inteiramente dos meus pulmões. ‘’Eu me senti sem ar’’ exalo, ‘’Eu acho que o que eu estou tentando dizer é que as músicas significam algo quando eu estou contigo.’’

Camila só me encara, sua boca aberta em surpresa até que ela se inclina e pressiona seus lábios contra os meus. Meu coração para e eu me sinto flutuando um pouco, mas ela se afasta rápido demais, e eu volto a respirar.

- ‘’Você não precisa se explicar ou pedir desculpas por algo tão bobo’’ ela pisca o olho pra mim. ‘’Se e quando você estiver pronta pra cantar, eu estarei aqui pra ouvir.’’

Aceno sentindo alivio me lavar, me sinto estúpida por me preocupar por nada.

- ‘’Nós deveríamos ir pra cama, temos que acordar cedo amanhã.’’

Ela segura minha mão e novamente o ato faz coisas loucas com meu corpo enquanto ela me leva até o quarto. Depois de escovar os dentes subo na cama sem pensar em mudar a roupa que já estou vestindo e a assisto enquanto ela tira os jeans e fica só de calcinha. Engulo seco pela visão da pele bronzeada e macia de sua bunda mas ela logo se vira e sobe na cama ao meu lado.

Eu nunca fui uma pessoa muito pegajosa, eu nunca fui assim com Brad mas eu estou quase com medo de ficar longe demais dela agora, então eu me encolho ao seu lado assim que sua cabeça cai no travesseiro. Eu nem mesmo sei se eu serei capaz de dormir com ela ao meu lado assim já que meu coração está batendo freneticamente em meu peito, e eu acho que essa será a primeira vez que eu vou realmente aproveitar uma noite de sono mal dormida. A respiração de Camila vai aos poucos se suavizando e eu assisto seu rosto enquanto ela lambe os próprios lábios como um filhotinho fofo se preparando para dormir.

- ‘’Camila,’’ suspiro colocando uma palma no seu braço por debaixo dos lençóis, ‘’Eu só queria te perguntar uma coisa antes de você dormir.’’

Estou nervosa pra caralho de novo.

- ‘’Hmmm’’ ela sorri preguiçosamente para o teto, seus olhos ainda bem fechados.

- ‘’Você quer sair num encontro comigo?’’ pergunto timidamente.

Assisto enquanto uma mudança repentina de sua expressão se torna visível em seu rosto mas ela continua sorrindo e não se preocupando em abrir os olhos, ela só murmura e acena rapidamente, ‘’boa noite Lauren’’ ela murmura antes de rolar na cama.

Sinto meu coração pular na minha garganta e eu quase quero rir em alivio porque isso foi muito mais fácil do que eu esperava. Eu não estava esperando que ela dissesse não mas eu também não tenho muita certeza do que eu estava esperando.

- ‘’Boa noite Camz’’ murmuro de volta enquanto minha cabeça afunda ainda mais contra o travesseiro.

Ainda não me sinto como se estivesse em casa, mas uma grande parte de mim sabe que enquanto estiver com ela, sempre terei um lugar pra chamar de casa.