História Terra sem anjos - Anjo da guarda

 Em um dia de verão como qualquer outro, a chuva começou a cair pesada. Uma chuva forte, sem vento, que desceu em silêncio e ao bater no solo se fez presente para todos. Sem nenhum aviso prévio ela apenas veio para a surpresa de todos. Só se podia ouvir o bater da chuva no chão, ecoando por cada rua, adentrando as casas e acordando a todos que iam as suas janelas para ver a tão bela chuva cair.

 Era 4 horas da madrugada, mas, ainda assim, os moradores se deram ao trabalho de sair para ver o milagre acontecer. A chuva vinha pesada e trazia um sentimento triste, mas, ainda assim, era um momento de alegria. Os adultos aproveitavam para encher baldes e mais baldes, as crianças brincavam, e corriam ao redor das poças que se formavam na rua. Todos estavam felizes, por mais que fosse uma chuva triste.

 As cidades estavam em alegria, finalmente a tão esperada chuva havia chegado, teriam água o suficiente para um bom tempo sem depender dos países vizinhos. Já ia fazer 11 anos desde a última chuva que caiu, todos estavam em um momento de muita felicidade.

 Eles que sofreram por tanto tempo, vivendo sem direitos, tendo que obedecer tudo que os países vizinhos falavam, para poder obter um pouco da água necessária pra a sobrevivência deles, impostos tão altos que faziam seus esforços desaparecerem como o nada, famílias que foram perdidas, famílias que ainda passam pelo sufoco. Depois de tanto tempo, os céus olhou para eles e entregou o milagre em forma da tão desejada esperança para eles, a chuva.

 O medo que a população teve ao ver o céu abrindo foi enorme, pensar que poderiam passar mais anos sem uma chuva, seria assustador. Mas eles só podiam esperar e torcer, para os céus lembrar deles mais uma vez..

Poucos dias antes da chuva..

 “Eu vi meus pais morrerem, meus irmãos e até meu cachorrinho. Minha mãe sempre foi muito bondosa comigo, meu pai também, eles tentaram proteger a mim e a meus irmãos desde o início, quando nasci não só minha família mas todo o país também passava por dificuldade. Foi um momento complicado, mas, ainda assim, me aceitaram. Não entendia muito bem disso, mas os países vizinhos estavam dificultando mais ainda nossas vidas. Meu pai sempre voltava do trabalho muito tarde e cheio de ferimentos. Ele foi o primeiro a morrer. Contando comigo, minha mãe teve que cuidar de 3 filhos sozinha. Aos poucos meus irmãos foram morrendo de fome e sede. Minha mãe dedicou seus últimos minutos a mim. Só sobrou a mim e meu cachorrinho. Sempre tentando me alegrar. Ouvia os vizinhos falarem que não acreditavam mais em Deus, que rezar não adiantava mais, eu nunca me apeguei a essas coisas, mas acreditei que era melhor ter fé em algo do que perder as esperanças. Eu era muito nova, não podia fazer muito, mas não queria ter o pensamento de que morreria apenas reclamando e pondo a culpa em outros sem ter feito nada. Se rezar podia ajudar eu não sabia, mas queria pelo menos poder dizer depois que tentei. Com o tempo passei a imaginar se todos nós temos anjos protetores, se nossos passos são sempre protegidos por alguém, se nossas escolhas são vigiadas para o nosso bem, mas nunca cheguei na resposta. Seria incrível se eu pudesse ser alguém influenciável que pudesse trazer o sorriso no rosto de todos novamente, queria poder ver minha mãe sorrir pela última vez. Aos meus 7 anos de idade eu morri, sentada na porta da nossa antiga casa, sozinha, eu fechei meus olhos e apaguei. Eu queria tanto ser de ajuda.. Deus… me deixe protegê-los...”

Em meio a tanto caos, no mesmo dia que a terra perdeu mais uma criança, o céu ganhou um novo anjo da guarda. E com toda sua força fez sorrisos florescerem novamente.

A benção caiu sobre a terra em forma de chuva, e cairá novamente, sempre que precisarem. Pois um novo anjo foi designado para eles.