História Thank You »» Cockles a.u «« - Um

Jensen despertou, porém só conseguiu abrir um de seus olhos, o outro não abria de jeito nenhum. Primeiro sentiu as dores e com elas, as lembranças. Chutes nas costelas e nas pernas, pauladas descomunais nos braços, que protegiam a cabeça... Céus, ele sentia dores insuportáveis em seus braços e pernas. Queria voltar a dormir. Estava tendo um sonho bom, onde tinha uma casa grande e mesa farta. Agora sentia fome, sede e dores no corpo inteiro. Respirou fundo e o ar entrou rasgando em seus pulmões. Tossiu.

De imediato veio até ele uma mulher com uma blusa azul bebê coberta por um jaleco branco. Sua pele branca contrastava com seus cabelos extremamente negros, que emoldurava seu rosto redondo. Ela parecia uma daquelas bonecas antigas. Depois de analisá-la, os olhos de Dean foram direto para seu crachá. "Enfermeira Miner", dizia. Estava no Saint Luke's Hospital, em um daqueles quartos que jamais teria condições de pagar. Teria que sair correndo dali assim que melhorasse. E ir para outra cidade. Não sabia como, mas sempre conseguia. Estava próximo demais do Texas do que gostaria. Tentaria novamente ter uma vida com o... merda, o dinheiro!

Além de agredirem e xingarem ele, ainda haviam tirado-lhe a única muda de roupa que tinha naquele mês, incluindo sua cueca, onde estavam os trocados que havia juntado para comprar um par de sapatos novos e uma camisa decente para quem sabe se vestir dignamente para uma entrevista de emprego. Não que com isso eles tivessem levado sua dignidade, Jensen sabia que já não a tinha a algum tempo.

-Devagar. Está com sede?

Jensen balançou a cabeça confirmando. A enfermeira então apertou alguns botões de um controle remoto que tinha em suas mãos e ele pôde sentir suas costas se elevando pouco a pouco. Até macas eram computadorizadas agora?

Com mãos que aparentavam ter uma enorme delicadeza, ela pegou um copo que já estava cheio e levou até a boca do rapaz, que sentiu ainda gosto de sangue quando engoliu a água que a estranha lhe dera. Não era porque ela era enfermeira que deixava de ser uma estranha. Jensen pouco se lembrava da última vez que foi ao médico sem ser para fazer exames detectores de DSTs. Não que não se cuidasse, pois jamais havia feito um só programa desprotegido, mas era muito desconfiado dessas coisas, e além do mais era uma exigência do Jimmy que todos os seus "filhos" fizessem esse tipo de exame com uma certa frequência. Mas Jensen também não confiava nem um pouco em ética médica. Uma vez Jimmy nem precisou pagar por seus exames, pois o médico aceitou o loiro como pagamento. O velho até que fodia bem para sua idade, mas nunca mais ele confiou em médico nenhum.

-Você teve sorte que eu estava aqui quando acordou. Na verdade, me parece que você está em uma maré de sorte.

Ah, se ela soubesse de toda a sua história, não ousaria abrir a boca só uma vez para dizer que Jensen teve sorte alguma vez na vida. Sofreu golpe atrás de golpe, e não tinha mais ninguém na vida além de si mesmo. E aos poucos estava se perdendo.

-Está sentindo dor? -a enfermeira perguntou, deixando transparecer que aquela era a milésima vez em que perguntava aquilo no dia.

-Em todo o corpo.

-Ok. Logo avisarei ao seu médico e trarei seus remédios. Agora trate de descansar.

O rosto de Jensen começou a coçar e quando fez menção de levantar o braço direito para coçar, sentiu que estava imobilizado. Percebeu o peso de gesso em sua perna. Xingou baixinho.

-O que aconteceu?

-Perna quebrada e braço torcido, rosto inchado e despido. Quase perdeu um dente.

-Como vim parar aqui?

-Collins te trouxe.

-Que Collins?