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História That's Life - Volta ás aulas


Escrita por: JoaninhaMalefica

Notas do Autor


Vorteiiiiiii. Essa é a parte um de (provavelmente) dois capítulos.

Só mais una coisita: a posteriori, tipo, pra quem não sabe, é um termo em latim normalmente utilizado no direito para posteriormente, depois e tals...

Capítulo 2 - Volta ás aulas


Fanfic / Fanfiction That's Life - Volta ás aulas

Mihael fora o primeiro a se levantar. Gostava de ser o primeiro a tomar banho pois assim obtinha certeza de que obteria tempo o suficiente para arrumar-se devidamente. Primeiramente, lavou seus finos e dourados cabelos lisos com xampu os enxaguando em seguida, logo depois aplicando o condicionador para tirá-lo somente após quinze minutos, os prendendo e desligando o humilde chuveiro. Utilizou o tempo da hidratação em seus fios para terminar de se lavar com seu próprio sabonete, - que era diferenciado dos demais pois não gostava daquela marca e não achava higiênico dividir um objeto tão pessoal com seus irmãos, Matt e Watari - aproveitando-se da espuma por este fornecido para depilar suas pernas e suas axilas, embora estes sequer estivessem com pelos grandes e/ou espessos em virtude da frequência com qual o fazia. Depois de retirar o condicionador de seus, agora hidratados, cabelos loiros, Mello desligou mais uma vez o chuveiro, saindo do box e optando por sua toalha ao invés de seu mais utilizado roupão. Após se enxugar com a mesma Mihael passou um hidratante corporal e desodorante com fragrância de chocolate, também fazendo suas sobrancelhas e por último, se vestindo com uma calça de couro fino de vários zíperes masculina, com uma simples camiseta preta cujo as mangas foram literalmente rasgadas por Beyond já que vestiria uma jaqueta por cima. Apesar de Mello ter se vingado com êxito da brincadeira de mal gosto, o garoto realmente gostara mais da blusa daquele jeito, então passara a usá-la cotidianamente.

 

O segundo a se levantar fora Nate, que sabendo do tempo que Mihael geralmente usufruía para se lavar, se pôs de pé minutos antes do maior sair do banheiro, este que o ignorou ao assim fazê-lo. Com a experiência dos oito anos que passara com seus irmãos, o jeito mais rápido para se aprontar para a escola era seguir o seguinte plano: Mello se levantava às 6 AM em ponto, disponibilizando o banheiro perto das 6:40 AM, com isto, Nate também se levantava neste horário e se locomovia para o local onde somente escovava os dentes para tomar café enquanto, em sua cama, Mail enrolava para se levantar também. Quando Matt chegava ao banheiro para tomar banho Near descia para a cozinha para tomar seu café da manhã, este que por Watari era preparado às 6:00 AM. Depois de terminar de comer, no mais tardar às 7:00 AM, Nate voltava para o andar de cima para tomar banho. Sempre seguira este esquema e no máximo fazia alguns ajustes se necessário, mas sempre fora sistemático.

— Bom dia... Ovelhinha. – Cumprimentou Matt sonolento pausadamente devido ao bocejo no meio da frase, acariciando gentilmente os cabelos albinos e levemente encaracolados de Near ao passar por este no corredor, em direção ao banheiro.

— Bom dia, Matt. – Respondeu quase que de maneira automática.

Ao lado direito do banheiro estavam respectivamente seu quarto, o de Mello e Matt sendo os únicos a dividirem o mesmo cômodo, e ao lado a divisão de parede na qual só estava um único quarto, o dele, e ao seu lado em outra parede o de Lawliet e por último o de Watari, onde ao lado se encontrava a escada e mais uma vez o banheiro, fechando o corredor retângular. Cinco quartos, seis portas, um banheiro, uma escada, um corredor e um grande tapete que o cobria quase por completo. Apenas isso.

Segundo seu cronograma Near deveria descer para o andar de baixo e tomar seu café da manhã, contudo algo lhe impedia. Estava agora no primeiro degrau da não tão grande escada fitando o quarto a sua frente, o quarto dele. Será que ele já havia voltado? Se sim, onde estava? Mesmo depois de tanto tempo Beyond ainda era um mistério quase indesvendável. Quase... Talvez um dia pudesse entende-lo por completo...

.

Lawliet não sabia ao certo se havia dormido, sempre tivera insônia. Sentou-se em sua cama lentamente, colocando suas pernas para fora da mesma para que seus pés magros e descalços pudessem entrar em contato com o frio chão de madeira recentemente varrido. Percorreu seus olhos opacos e indiferentes, quase cansados, por seu quarto até localizar seu relógio que deixara em cima de uma de suas poucas caixas de mudança. Na realidade, L não havia desfeito as mesmas para arrumar seus poucos pertences pessoais e somente faria isso aos poucos, só os retirando de seus recipientes de papelão e isopor quando necessário. “7:04 AM” constatou. Percorreu mais uma vez seus olhos por seu novo quarto parando-os em um ponto fixo qualquer, mergulhando-se em pensamentos. Beyond passara a noite fora e sequer sabia ele se o irmão já havia voltado.

Levantando-se de certo modo a contragosto, L vagou rapidamente pelo um tanto comprido e estreito corredor gostando da sensação que o tapete felpudo causava em seus dedos magros e ligeiramente longos. Embora não fosse de seu feitio, abriu a porta de seu quarto sem bater e acidentalmente ao encaminhar uma força desnecessária para tal tarefa chegando a conclusão que Beyond, na realidade, não dormia em decorrência da ausência do susto que o estrondo um tanto alto do pedaço de madeira chocondo-se com a parede deveria ocasionar. Provavelmente, ele ouvirá seus passos quando se aproximara do cômodo.

— Que horas chegou? – Perguntou de modo impassível facilmente ocultando a leve irritação e preocupação que estava sentindo. Para L esta era uma banalidade extremamente corriqueira e quase sempre o fazia de modo involuntário e automático.

— Umas quatro da manhã. – Sua cama estava de frente para a porta com alguns potes de geleia em baixo do móvel - três para ser exato - que evidenciavam seu lanche noturno, e B estava de costas para Lawliet que notava que, assim como ele, suas coisas ainda estavam encaixotadas e ao seu ver continuariam assim. Era um avanço, na realidade não esperava que Beyond fosse o responder.

— Onde estava? – Esta sim era uma pergunta cujo estava incrédulo do recebimento de uma resposta.

Inconscientemente provando sua tese, Beyond se pôs a rir. Uma risada sádica e perversa a qual era capaz de fazer qualquer pessoa em sã consciência que ouvisse-a estremecer de medo ou pensar duas vezes antes de passar mais um segundo sequer no mesmo cômodo que ele.

Lawliet era indubitavelmente são, todavia ele certamente nunca teve o privilégio de ser qualquer pessoa.

— Ficou preocupado comigo, Lawly? – Falou cinicamente em uma falsa ingenuidade, lentamente torcendo seu tronco para olha-lo chocando suas orbes carmim com as negras de Lawliet. B esboçava um sorriso insano no rosto e seus olhos rubros só o deixavam ainda mais intenso e ferino.

— Não com você. – Disse sincero ao vê-lo se levantar da cama para encara-lo a uma quantidade considerável de distância, alargando ainda mais seu sorriso perverso e agora sarcástico.

— Ah, Lawly... – Suspirou, embora incomum se tratando dele, calmamente e piscando gentilmente. – Assim você me magoa... – Sussurrou tombando sua cabeça  para o lado direito excêntrica e desatinadamente, sorrindo com os lábios fechados em uma curva linha quase de modo sincero. Talvez aquilo fosse o mais assustador de tudo.

Lawliet ainda continuava imparcial parente ele. Não só fazia questão de não fraquejar em sua frente como por mais que aquilo pudesse lhe aterrorizar, mesmo que levemente, ele já estava acostumado... B sempre fora daquele jeito. Percebendo que o menor não insistiria, Beyond se retirou do quarto tranquilamente, acariciando os desgrenhados fios de L tão negros quanto os seus ao passar por ele e assustando-o mais pelo toque repentino, já que fora um ato afetuoso, ao fazê-lo. O Birthday mais novo virou-se impotente limitando-se a observa-lo caminhar pelo um tanto estreito corredor, parando na frente da porta do banheiro.

B transferiu rápidos e fortes socos na mesma, gritando, embora o chuveiro não estivesse mais ligado e não houvesse necessidade para tal:— Mail! Saí daí! Não é só você que tem banho pra tomar!

Provavelmente Matt ainda tomava banho...

Após cerca de dois ou três segundos Matt mostrou sua cabeça por um vão da porta semiaberta de seu quarto, um pouco receoso e desconfiado mas principalmente surpreso com um pequeno resquício de medo em seus olhos. — Que que eu fiz? – Indagou indignado e um tanto chateado.

Não, não era Matt. Se o ruivo já havia saído do banheiro, só restara...

— Near? – Perguntou Beyond surpreso ao abaixar seus olhos para Nate, que rapidamente abriu a porta do cômodo. Talvez Lawliet estivesse delirando, mas pôde jurar ver nem que escassamente um pequeno rubor tomar parcialmente conta das bochechas de B. Mas claro, esta poderia ser somente sua hiperativa imaginação.

— Onde estava? – Nate perguntou indiferente, embora seus olhos não aparentassem toda esta imparcialidade. Oh, não... River estava verdadeiramente furioso por ter mais uma vez se preocupado com ele em vão. Sempre o fazia... Beyond sempre saía sem avisar onde iria, quando ou se chegaria e muito menos o que faria, e ele sempre se preocupava. Estava farto.

— Exato, onde estava? – Mihael se juntou ao interrogatório abrindo agora por completo a porta de seu quarto, apoiando seu cotovelo flexionado no ombro de Matt, embora este fosse maior que ele.

— Mello... – Advertiu quase inaudível, somente para que o “amigo” ouvisse. Conhecendo Mihael como conhecia, aquilo certamente não acabaria bem...

— Ora, deixe de ser hipócrita! – Devolveu-lhe enraivecido. – Você vive fazendo isso!

— Seu cú! Eu nunca passo a noite fora! – Deixou de se apoiar em Matt iniciando somente como ele podia, uma discussão.

— Eu voltei, não voltei!? – Beyond avançou alguns passos a frente, contudo ainda mantinha uma distância considerável de Mello. Sua respiração ficara descompassada e suas mãos passaram a tremer nervosas e ansiosas. Birthday estava furioso. Sempre tivera problemas de autocontrole...

Nate ainda na porta do banheiro deu um passo a frente, motivado a acalma-lo, mas fora impedido por Lawliet de se aproximar mais, este que segurou seu ombro gentilmente, embora impondo certa força de modo tenso e receoso. Não era um conflito do qual L deixaria que Nate participasse... O Birthday mais novo observava de longe, também angustiado e implicitamente nervoso.

— Não sei porquê! Estamos muito melhores sem você! – Respondeu-lhe no mesmo tom, frisando o “muito” e o “sem”.

Agora Mihael Keehl havia passado dos limites. Quando Beyond avançara em Mello, agora com real intenção de feri-lo, Matt puxou seu braço para trás de modo que obrigasse o loiro a recuar um ou dois passos, assim abrindo espaço para que ele se pusesse a sua frente se colocando entre os dois. B parou a sua frente, à centímetros de seu rosto, encarando Mail de cima devido a não tão agravada diferença de altura. As orbes carmim se chocaram com as esmeraldas incomumente circunspectas e levemente zangadas; ambas as respirações profundas e alteradas. Nenhum dos dois se moveu por segundos mais comparados a horas devido a tensão que de tão espessa poderia ser facilmente cortada com uma faca.

Matt amava seus irmãos, cada um deles de um modo especial, mas Mello era diferente. Daria sua vida por ele e sequer pensaria sobre isso antes de assim fazê-lo. Nem que tivesse de apanhar de B, já que obviamente em um conflito físico e violento com o maior ele certamente perderia, mas não deixaria que ele o machucasse. Aliás, se Lawliet, Near ou Watari que estivessem em seu lugar, Matt também o faria de bom grado. Na verdade, se até mesmo Beyond necessitasse desse tipo de sacrifício Mail o faria. A questão não era exatamente sobre quem tivesse de proteger e sim do por quê assim o faria. Eles eram sua família, uma das melhores coisas que já haviam acontecido com ele era irrefutavelmente tê-los conhecido.

— Crianças, está tudo bem?

A aflição e angústia foram tão intensas que os garotos sequer notaram os passos apressados de Watari ao subir a escada.

— Beyond? – Perguntou o amável idoso receosamente, entendendo o contexto no qual se encontravam.

— Está. – Respondeu ao senhor de modo ríspido, ainda levemente alterado, encarando Matt por mais uma fração de segundo, voltando calma e tranquilamente ao seu quarto sem direcionar a atenção a ninguém.

Um silêncio incômodo se instalou no corredor até que Watari o quebrou:— Lawliet, já são 7:15 AM. Por que ainda não tomou banho?

[…]

Por ser este o primeiro dia de aula, Watari insistiu em levá-los de carro, até mesmo porque este seria o último passeio na tão amada e querida mini van. Estavam passando por dificuldades financeiras e teriam que vender o automóvel para alugar e futuramente comprar um carro com um preço mais acessível. Se mudaram especificamente para aquela casa tanto por seu valor como por sua localidade que era perto da escola, também poupado gasolina. Mas o caminho com cerca de quatro minutos e meio fora, especificamente na opinião de Near, um inferno. Matt cantava trechos de músicas irritantes o tempo inteiro, fazia perguntas de dois em dois segundos e brincava de jogos idiotas. Certo momento ele simplesmente gritou: “inseto!” e socou o braço de L. Claro, Watari que dirigia o carro quase o bateu quando Mail passou a gritar histericamente com os socos que levou de volta, obviamente não sendo de Lawliet e sim de B. Este era justamente um dos motivos para nunca irem para o mesmo lugar juntos. Prende-los num cubículo por mais de cinco minutos poderia ser letal, tanto para eles quanto para os seres vivos e os bens materiais próximos.

Ao finalmente chegarem na tão odiada nova escola Mello insistiu para serem deixados alguns metros longe desta, afirmando que seria extremamente vergonhoso serem deixados na porta do prédio por seu “avô”.

— Quanta frescura, Mihael... – Resmungou Matt mordiscando seu típico palito de dente. – Agora a gente vai ter que andar. – Disse desanimado.

— Concordo. – Compactuou Lawliet. Se andava por muito tempo - praticamente nada - suas sedentárias pernas doíam fadigadas tal qual estavam a fazer agora.

— Eu não quero ser visto numa mini van, isso é crime?

— Crime não, agora frescura...

— Cala a boca, Matt.

Mail sempre o deixava ganhar as discussões. Quer dizer, não que não se achasse capaz de argumentar com ele, mas dificilmente Mello errava e se esta improvável ocasião desse por ocorrer ele não admitiria para ninguém nem que sua vida dependesse disto, mas mais importante, gostava de irrita-lo iniciando briguinhas e discussões inúteis e irrelevantes por simplesmente amar vê-lo zangado. Era um de seus passatempos favoritos...

— É aqui. – Pronunciou-se Near pela primeira vez até o momento ao chegarem na frente da escola.

"Beetwood City College" dizia na grande fachada da escola. Diversos alunos já entravam na mesma e alguns deles ainda esperavam o sinal tocar na grama verde do colégio, embaixo das árvores ou simplesmente tagarelavam nas escadas do grande prédio. Lawliet passou a se sentir desconfortável ao avistar tantas pessoas em um só lugar, Near se sentiu intrigado já que nenhum dos adolescentes lá pareciam ter a sua idade, Mello e Beyond ficaram aparentemente indiferentes e Matt permanecia alegre e comumente sereno.

— Ainda dá tempo de voltar... – Disse Beyond amargo.

— Concordo... – Fora a vez de Near compactuar com ele, também fazendo com que L pensasse seriamente na possibilidade.

— Vamos logo! – Mihael quem tivera a iniciativa de adentrar a escola, sendo seguido pelos demais.

Foram a caminho da diretoria ou secretaria passando pelos longos e extensos corredores repletos de armários e adolescentes com a finalidade de pegar os horários, senhas dos armários e os livros didáticos junto com qualquer outra informação cujo julgassem necessária. O piso era de madeira maciça e estava recentemente encerado, as paredes eram brancas e aparentemente há pouco tempo pintadas e este era o mesmo padrão para o prédio inteiro. A única pessoa que sabia onde ficava a secretaria era Beyond já que ele fora o único a entrar com Watari na escola para fazerem as matrículas. No caminho Near passou a notar, não que isto o afligisse, aliás muito pelo contrário, não lhe diminuía ou lhe acrescentava em nada, mas eram nítidos os olhares que lhes julgavam, muito provavelmente, pela aparência e os cochichos e risadinhas que deles ocasionavam.

Para Nate River, eles sempre seriam as peças que sobram...

Em toda e qualquer escola que frequentavam fora assim... Pessoas diferentes, escolas, talvez até cidades novas, mas a ignorância sempre fora e sempre seria a mesma... Como um peso, um parasita indesejável que não se pode abandonar e sim somente com ele se conviver e coexistir na esperança de deixá-lo mais leve e suportável. Um incômodo de fato, todavia um incômodo tolerável... Pois na vida o diferente é sinônimo de anormal, e o que é irregular, o que não é habitual, o que simplesmente não se enquadra, que foge ou se afasta das normas e dos padrões pela própria sociedade impostos e regidos são as indesejáveis peças que no quebra-cabeça não se encaixam...

Aquelas que no final, são descartáveis...

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Beyond caminhou tranquilamente com as mãos nos bolsos de seu moletom negro tentando ao máximo não se desconcentrar ou se perder enquanto os demais tentavam memorizar os corredores que pareciam exatamente iguais. Era a maior escola que já frequentaram... Um tanto aliviado por reconhecer aquele lugar em específico, B adentrou em uma sala sem porta com uma placa de metal escrito “secretaria” em cima, esta que levava a um estreito e não tão longo corredor que terminava em uma sala com quatro portas: “diretor”, “vice-diretor”, “coordenação” e “sala dos professores” escritos em preto nas vidraças das portas de madeira, e uma espécie de secretária ao lado de fora das mesmas. A mulher era morena de cabelos curtos na altura de seu maxilar, um pouco acima do peso e aparentemente de estatura baixa, com brincos grandes de argola e maquiagem leve com exceção de seu batom extremamente vermelho. Ela digitava no computador a sua frente muito rapidamente sequer olhando para o teclado ao fazê-lo até que sua atenção fora roubada por um garoto que saíra da sala dos professores.

— Dona, Dona, Dona, Dona... – Disse o desconhecido chamando a atenção da mulher até outrora concentrada. O garoto era branco de cabelos negros e olhos castanhos escuros; extremamente alto com cerca de 2 metros de altura. Ele se apoiou na guarita com a mão direita enquanto a esquerda ficava em sua cintura. – Tá bonitona, em? – Seu rosto estava perigosamente perto da mulher.

— Aí, que isso. – Respondeu-lhe “Dona” ajeitando seus cabelos de forma acanhada.

— Isso tudo é pra mim, é? Ou é pro professor de ginástica? – Talvez fosse apenas impressão, mas o garoto parecia cantar a secretária que correspondia rindo tímida de seu comentário malicioso.

Ela tinha por volta de uns trinta e poucos anos, talvez menos e o maior era um adolescente e muito provavelmente estudava no colégio, mas ambos pareciam conversar alegremente e talvez até de modo pervertido, ignorando por completo a presença deles na sala. Beyond odiava ser ignorado... Quando iria protestar sua atenção foi dirigida desta vez a sala correspondente a coordenação. Um garoto alto de óculos de armação preta e de cabelos na altura de seus ombros largos tão negros quanto os seus fechara a porta atrás de si com uma das mãos enquanto a outra segurava uma prancheta. Assim como B ele parecia ter saído de um filme em preto e branco. O rapaz passara a fita-los friamente enquanto andava, sendo realmente intimidador até que o garoto que até então dava em cima da secretária esticou sua longa perna direita o fazendo tropeçar propositalmente. Beyond se intrigou com o ato.

— Opa, hehehe! Escorregou aí Mikami? – Zombou do garoto fazendo Dona rir, não que Matt não tivesse se segurado para também não fazê-lo.

— Idiota... – “Mikami” bufou irritado, ajeitando os óculos que caíram para a fina cana de seu nariz. Ele também percebeu que derrubara a prancheta que carregava com sigo a qual deslizara pelo chão, muito provavelmente pelo polimento recente, até os pés de Lawliet.

Em sua opinião não fizera nada mais que sua obrigação ao abaixar para pegá-la, estendendo-a ao que pôde perceber “Mikami”. Todavia, assim como mais cedo não pôde distinguir se Beyond havia se envergonhado ou se fora apenas sua fértil imaginação, Lawliet pôde jurar sentir resquícios de repulsa, talvez até mesmo de ódio, nos olhos tão escuramente castanhos que pareciam negros do garoto quando estes recaíram sobre ele ao analisá-lo. Não se surpreendera, afinal não era atípico estranharem ou se enojarem com sua aparência anômala e no mínimo peculiar. Mikami pegou a mesma e soltou um simples e indiferente “obrigado” como se não respeitasse o que esta palavra deveria significar. Sempre tivera pressentimentos e, embora não acreditasse verdadeiramente na veracidade destes, L ficaria suspeitoso ao se tratar dele.

— Vocês devem ser alunos novos. – Concluiu o japonês. Nunca os vira antes e, embora não conhecesse praticamente ninguém daquele colégio, nunca se esquecia de um rosto. Definitivamente nunca tinha os visto.

— Ah, isso mesmo!... – Afirmou Matt animado pronto para se apresentar, afinal adorava conhecer pessoas novas...

Entretanto, antes mesmo que o garoto tivesse tempo para tal, Mikami lhe interrompeu descortês:— Sou Mikami Teru, vice-presidente do Grêmio Estudantil. – Não se importou em lhes dirigir a atenção, ainda fazendo anotações em sua prancheta. Beyond somente não lhe interrompeu com um “não perguntamos” pois sabia que Lawliet e Near, talvez até mesmo Matt o reprovariam, assim como Mihael que só se manteve calado graças ao seu beliscão em seu braço direito. Se Beyond não podia falar, ele também não iria... – É minha função encaminhá-los para suas salas de aula, fornecer seus horários, números e senhas dos armários. – Já havia decorado esta fala há muito tempo e a proferia quase que mecanicamente. – O restante é com o comitê de boas-vind...

— Eu mesmo! – Interrompeu animado o outro garoto aparentemente intrometido, empurrando o japonês e se colocando entre eles e Mikami de modo grosseiro e estabanado.

— Não, não é! – Lhe cortou de volta o encarando já enraivecido, o empurrando para retomar seu lugar. Ryuk podia ser bons centímetros maior que ele (aliás, era difícil ver alguém de estatura sequer próxima da dele), mas Mikami era tão fisicamente forte quanto ele. – Você foi expulso do comitê... – Corrigiu, se voltando totalmente para ele assim deixando os demais garotos ali de lado.

— Por uma injustiça! – Exclamou indignado, mas antes que o japonês pudesse replicar, fora a vez de Mihael os interromper fingindo uma tosse exagerada. Não estavam ali plantados para ver o casalzinho brigando...

Ao entender, Mikami retomou a palavra passando a ignorar (como habitualmente) o maior. — Como eu ia dizendo, a posteriori o comitê de boas-vindas do qual o Ryuk definitivamente não faz parte, – Salientou ignorando um baixo “cuzão” vindo por parte do maior. – irá cuidar do restante.

— Tudo bem, Mi-ka-mi... – Frisou seu nome o dizendo pausadamente de modo dramático, passando a se retirar do local. – Mas gravem o que eu digo! – Exclamou agora andando de costas enquanto os encarava fixamente. – Vão se arrepender profundamente de terem entrado nessa pocilga!

Ele parecia um lunático, concluiu Mail, se bem que o pensamento de seus irmãos e o de Mello partiam do mesmo preceito...

— Não o levem a sério, Ryuk tem transtornos mentais. – Dirigiu rapidamente seus olhos para seu caro relógio averiguando a hora. Estavam atrasados, constatou iniciando uma caminhada para fora da secretaria. – Por favor, queiram me acompanhar. – Disse sem lhes dirigir qualquer tipo de atenção, concluiu L. Ele disse “por favor” sem cortesia ou gentileza assim como disse “obrigado” sem qualquer tipo gratidão, simplesmente ignorando o significado destas palavras e o sentimento que elas deveriam carregar, salientou levemente aborrecido, levando seu polegar a boca e caminhando ao lado de seus irmãos atrás do japonês. Definitivamente ele era um perfil desconfiável...

[…]

7:00 AM, cerca de 2km de distância dali, Light acordou sem qualquer ânimo. Seu material já estava devidamente arrumando desde o dia anterior, então tudo o que tinha de fazer era tomar banho, escovar os dentes e ir. Simples. Dissera isso a si mesmo como espécie de incentivo, se levantando da cama e vestindo suas simples e azuis pantufas, se dirigindo ao banheiro onde lavou seu rosto para despertar o sono ainda presente. Yagami apoiou as palmas das mãos na pia de mármore branco para encarar seu cansado, talvez até mesmo triste e solitário, reflexo. Era mais um ano letivo que se iniciava... Mais dois semestres de matérias que todos sempre julgam ser necessárias para a formação de todos os alunos como indivíduos produtivos para a sociedade que em sua maioria, não serão sequer utilizadas... Para Light, seriam mais cerca de 230 dias rodeado das pessoas mais fúteis, ignorantes e ridiculamente idiotas que ele já teve o desprazer de conviver. E ele não obtinha escapatória. Ele era Light Yagami, o filho perfeito, o aluno perfeito, um completa e totalmente perfeito membro da sociedade que um dia traria inúmeros e incontáveis feitos em prol do bem estar cívico da comunidade e, indubitavelmente um dia, do mundo. Nunca, jamais, em hipótese alguma teria qualquer, mesmo que mínimo e quase inexistente, defeito, faria, para o resto de sua vida, parte de uma família impecável e viveria em seu completo, justo, exímio e primoroso mundinho perfeito. Ele, Light Yagami, sempre fora e ao ser ver sempre seria isso. Perfeitamente perfeito.

Após tomar banho e escovar seus dentes, Light se vestiu com uma camiseta básica branca já que usaria um agasalho de moletom preto sem estampa por cima, com uma calça jeans azul marinho devido ao clima gélido que fazia lá fora. Em seguida, descendo rapidamente as escadas pois seu quarto ficava no andar superior, se despediu de sua mãe e de sua irmã mais nova, - já que seu pai já havia saído de casa - passando pela cozinha e retirando duas maçãs da fruteira da bancada da mesma. Saiu de casa e fechou a porta atrás de si com uma das maçãs na boca, percorrendo os ladrilhos de cimento de seu jardim e passando para a calçada, afinal sempre fora a pé para a escola...

— Light! – Ouvira Ryuk chamá-lo e sentiu o mesmo contornar seu pescoço com seu braço, apoiando-o em seus ombros. – A quanto tempo, não? – Perguntou sarcástico, habitualmente rindo em seguida da própria “piada”.

Yagami suspirou cansado, porém acostumado com o jeito idiota do amigo. — Nos vimos ontem... – Disse mais para si mesmo em um tom baixo e desanimado.

— Nossa... Tá animadasso, em? – Zombou rindo um tanto forçadamente pela aflição que aos poucos lhe dominava. Não que a desmotivação do japonês fosse algo incomum e inusitado, pelo contrário, mas era exatamente isto que o incomodava. Estava começando a se preocupar seriamente com Light.

Yagami continuou a caminhar em silêncio ao seu lado deixando Ryuk incomumente desconfortável. — Essa maçã é pra mim, Lightizinho? – Tentava quase de modo desesperado puxar assunto com ele, mas a cada dia esta se tornava uma mais árdua e difícil tarefa. É claro, também estava com fome e seu alimento favorito era justamente a fruta, logo, a probabilidade que Light estivesse com duas – já que comia uma delas – para não dividir uma delas com ele era quase nula.

O japonês não lhe respondeu ou sequer lhe dirigiu o olhar, sempre fitando as árvores alaranjadas e quase completamente desnudas, os amontoados de folhas secas que se encontravam nos quintais e jardins das casas esteticamente belas da vizinhança, ou até mesmo o céu parcialmente nublado devido ao clima tipicamente gélido que fazia no outono a frente. O barulho dos passos que seus pés calçados faziam ao se chocarem com os ladrilhos de cimento acinzentado da calçada ao andar e o som de sua mastigação executada por seu maxilar conforme seus dentes trituravam e dilaceravam a fruta transformando-a em uma massa pastosa ao reagir quimicamente com sua saliva que pareciam quase ensurdecedores ao ecoarem pelo calmo e quieto bairro tencionavam exageradamente o momento em questão. Light lhe estendeu a maçã sem lhe dirigir a atenção, permanecendo no tão angustiante silêncio acabando por fazê-lo desistir de insistir em sua rotineira apatia. Talvez simplesmente devesse deixá-lo em paz...

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Como o de costume, chegaram faltando dez minutos para bater o sinal. Ryuk fora cumprimentar seus vários - mais para inúmeros - conhecidos, enquanto Light fora cercado por seus “amigos” já anteriormente citados e de suas perguntas idiotas e intrometidas. Ocultando sua frustração e antipatia para com eles, Yagami os respondeu gentil e rasamente, mesmo porque não era diferente daquilo que queriam ouvir. Para Light aquilo era um fato. Nenhum deles nunca se importou... No fundo, todos sempre faziam o mesmo joguinho de imitação, sempre ocultando aquilo que possuíam de pior e evidenciando exageradamente somente aquelas qualidades que realmente queriam que todos vissem. Todos eles são seletivos para decidir para quem se mostram e revelam-se e até que ponto estas pessoas devem os conhecer. No fundo, ninguém é 100% real ou verdadeiro...

Quando o sinal tocara Yagami fora aliviado para sua nova sala. Lá ao menos obtinha paz... Se sentou no mesmo lugar de sempre - a primeira carteira da fileira do meio - cercado pelas mesmas pessoas do ano passado com os mesmos professores. Aquele circulo vicioso que se repetira desde sempre. A primeira aula seria matemática e apostava com sua vida que quem daria tal matéria seria Slaviansk assim como no ano anterior... Não. Havia algo diferente. Sentiu algo diferente. Um arrepio percorreu seu corpo, intensificando-se em sua nuca e gradativamente se amenizando ao alastrar-se para suas pernas. O que era? Virou seu rosto para a esquerda instintivamente, percebendo o causador do sentimento na sala de aula. Um garoto novo... Ele era de altura mediana, quase baixa, talvez 1,65cm à 1,70cm estipulou Light. Era complicado analisá-lo por sua posição... Um tanto estranha: o garoto se sentava em cima de seus pés! Na cadeira! Sua pele era extremamente pálida, seu porte físico era magro, mas realmente magro e ele tinha olhos grandes e absurdamente... Negros? Com olheiras profundas abaixo destes e os cabelos mais negros e desgrenhados que já havia visto. Light ao notar que ele também mordiscava o polegar passou a se indagar se aquela escola “aceitava” deficientes. Nunca havia os visto...

Quanto tempo ficara o encarando? Seja lá quanto tempo fora, ele o percebeu. O desconhecido o olhou de soslaio exatamente no momento em que o professor Slaviansk adentrou o local com o seu típico “Bom dia, turma!”. Nunca imaginou o japonês que pensaria algo assim, mas ficara realmente agradecido com o mesmo por roubar a atenção do projeto de panda que até agora era destinada a ele. O professor de matemática fez a mesma explicação de sempre, dizendo seu nome, fazendo piadas sem graça e por fim dando a mesma prova que ele insistia em denominar de “avaliadora de desempenho” que não passava de questões e exercícios pertinentes aos anos passados que não só estipulavam e mensuravam quanto lhes foi ensinado ao longo dos anos como determinava as duplas e trios em futuros trabalhos a pedido da coordenação em decorrência ao grande aumento do bullying no colégio. Aparentemente, a diretoria achou que quanto mais trabalhos em grupos, mais amizades iriam surgir e assim talvez as estatísticas de violência entre alunos e o próprio clima entre eles melhoraria. Se deu certo? Para Light a resposta era definitivamente não.

Cada um dos alunos recebeu a prova e em seguida vieram suas três regras simples:

1° a prova deve conter respostas definitivas a caneta ou estas serão anuladas;

2° qualquer resposta, seja dissertativa ou de alternativa, deve conter no mínimo uma conta ou explicação de como aquele resultado foi adquirido senão estas valerão a metade de sua respectiva nota;

3° conversar com seus demais colegas leva a anulação completa da prova.

Depois das duas aulas seguidas de matemática que utilizaram para o término da prova, seguiram para uma de geografia e por fim o intervalo. Nestas três aulas Light pôde perceber três coisas um tanto intrigantes: a primeira e digna de uma relevância maior que as demais era que o então desconhecido havia acabado a prova antes dele! Yagami rapidamente descartou a possibilidade do garoto ter realmente as respondido. Não deveria esperar muito dele... A segunda fora que além do panda, havia outro garoto por Light desconhecido na sala. Não o notara mais cedo por este estar na última carteira do lado da parede, literalmente no canto mais afastado da sala. Deveriam ser irmãos ou até mesmo gêmeos devido as semelhanças. O garoto também possuía cabelos negros, mas um tanto mais arrumados e uma pele igualmente pálida. As diferenças entre eles eram as retinas estranhamente vermelhas do outro, olheiras menos profundas e altura e porte físico que do garoto mais afastado era maior e de mais peso; 1,80cm aproximadamente. A terceira e menos curiosa era que, aparentemente, Ryuk o conhecia ou assim tentava.

[…]

A sala de Lawliet e de Beyond eram, por ironia do destino, as mesmas, a de Near era literalmente no outro lado da escola, quase que em outro prédio devido a separação do ensino médio e do ensino fundamental e por Mail ter entrado atrasado na escola estava no mesmo ano que Mihael - o primeiro ano do ensino médio - e em sua opinião, por (muita) sorte, havia caído na mesma sala que ele. Na verdade, nunca tivera um ano sequer que tivesse estudado em uma sala diferente da sua.

Após combinarem de se encontrarem no refeitório (cujo Matt não fazia a menor ideia de como encontrar) ambos adentraram em sua nova sala. Em seu raciocínio, devido a suas roupas e aparência digamos... Diferentes, Mihael atrairia a atenção de todos, esta que normalmente não era o que se pode chamar de boa. O ditado “falem bem, falem mal, mas falem de mim” não era exatamente o que lhe descrevia. De fato, Mihael Keehl gostava imensamente de ser importante e conhecido, sempre lutando para criar e manter uma certa reputação, todavia para ele era simplesmente inadmissível que alguém sequer tentasse a denegrir e difamar. Não... Conhecendo Mihael Keehl como Matt conhecia, ele sabia que cedo ou tarde (muito provavelmente cedo) ele armaria um barraco. E aquilo por mais trivial que pudesse ser, era realmente importante... Não deveriam se meter em encrenca. Esta era sua última chance, precisavam que desse certo... Tudo o que pudera fazer era rezar e torcer para que todos (inclusive ele mesmo) obedecessem...

No recinto, alguns alunos estavam em pé e em contra partida outros se encontravam sentados, mas em sua maioria, todos falavam em demasiado, mas claro que haviam exceções... Também haviam dois calouros assim como eles que se mostravam tímidos e cerca de três que estavam simplesmente dormindo, pelo que Matt pudera ver.

Uma normal e típica sala de aula...

Mihael sempre tomava as decisões por ambos e Matt normalmente somente as condescendia de bom grado, então era ele quem sempre saia na frente e consequentemente quem decidia seus lugares, estas que eram tipicamente as últimas carteiras da fileira.

Apesar de terem os horários Mail não fez questão de olha-los e se chateou ao descobrir qual seria esta. “A maioria já me conhece, mas sou o professor Steverson, de matemática”. Se apresentou o velho (que na verdade tinha seus 48 anos) careca, arrancando um suspiro desanimado do ruivo.

Enquanto se agonizava de preguiça, Matt pôde ouvir cochilos e risadinhas, obviamente maldosas, de garotos próximos. “Vai começar...” pensou revirando os olhos ao suspirar cansado.

— Aí. – Cochichou um garoto para, é claro, Mihael. – Você é homem ou mulher? – O maldito mal terminara a frese e já conseguiu ouvir as risadas baixas que acompanham a piada idiota.

Mello, por incrível que pareça, o ignorou, copiando o texto que pelo professor era passado na lousa negra.

— Eu falei com você! – Sussurrou raivosamente um tanto mais alto, chutando de leve uma das pernas traseiras de sua cadeira.

— Silêncio... – Repreendeu o professor sem se virar para a classe. Mail já previa o que aconteceria...

Era um garoto de altura mediana para alta, por volta de 1,75cm, olhos castanhos escuros e cabelos da mesma cor levemente encaracolados, semelhantes aos de Nate. Matt que estava ao lado do loiro podia ver melhor seu rosto do que Mello, que se sentava a sua frente. Ele era um tanto assustador julgou o ruivo. Fora as características básicas, eles tinha “olhos de maníaco” que acompanhavam seu sorriso rasgado por uma cicatriz no lado direito de seu rosto, um pouco abaixo de seu nariz e se alastrando até o fim do queixo, rasgando ambos os lábios finos e pálidos.

— Aí, vagabunda! Além de traveco é surda!? – Disse relativamente alto, atraindo a atenção dos demais alunos que se viraram para o conflito curiosos. O desconhecido voltou a lhe chutar a cadeira, agora realmente forte, fazendo com que Mihael prendesse para frente. – Ouviu, vadia!?

— O que está acontecendo? – Perguntou Steverson um tanto tarde demais.

O lápis que utilizava para (tentar) fazer o exercício que até então seu novo professor passava na lousa negra se partiu em sua mão rasgando levemente sua pele, todavia estivesse possesso e colérico demais para notar. Mihael soltara o já quebrado lápis e segurara seu caderno, fincando suas unhas um tanto compridas no mesmo furiosamente, e em um gesto de pura raiva e descontrole o levantou ao mesmo tempo que girou seu troco para lhe arrebentar a cara com o objeto. Só houveram dois altos estrondos consecutivos: um provocado pelo choque do caderno com o rosto do garoto atrás de si e o outro barulho provocado pela queda de seu corpo da cadeira que até então estava sentado em cima para o chão de madeira recentemente encerada.

— Vai se foder!

Um ótimo primeiro dia, ironizou Mail massageando sua testa.

[…]

Nate um pouco frustrado fora a sua sala após se despedir de seus irmãos e combinar um ponto de encontro no fim das três aulas, esta que era, literalmente, do outro lado da escola e se sentou no único lugar vago ignorando os típicos olhares que pareciam sempre lhe perseguirem. A aula de história se passou calma e vagarosamente. Sempre gostou desta matéria em questão, mas aquele professor conseguiu a façanha de torna-la chata e vagarosa. Somente em seu final, quase que em seu término, esta realmente lhe rendeu algo.

— Aí albino, – Uma garota lhe chamou. – Duvido que você tenha outra escolha, mas... – Parou em busca de palavras. – Já deve saber que vamos ter artes... – Near permaneceu em silêncio assentindo, deixando-a prosseguir. – A velha sempre pede "desenhos em dupla". – Disse fazendo uma voz irritante e enjoada. – E sei lá, quer fazer comigo? – Prosseguiu indiferente dando de ombros.

Ela era uma menina magra de cabelos negros com pequenas mexas rosas e verdes fluorescentes com outras poucas azuis marinhos curtos um pouco acima de seus ombros, com dois pequenos coques de cada lado da parte superior de sua cabeça que prendiam uma parte deles. Seus olhos eram castanhos, seu rosto era fino e sua pele era clara. A desconhecida tinha por volta de 1,60cm de altura, talvez pouco menos, basicamente de seu tamanho comparou Nate. Outra característica marcante seriam os dois band-aids em seu rosto: um rosa bebê na cana de seu nariz e outro verde fluorescente em sua bochecha. Ela verdadeiramente se destacava na multidão.

Como de costume, Near indagou indiferente, embora já tivesse teses a respeito da pendente resposta:— Por que duvida?

Não sabia ele se ficara exatamente surpreso com isso, mas a garota lhe respondia ao mesmo modo. — Porque você é esquisito...

— Então por que quer se sentar com alguém “esquisito”? – Admirara sua sinceridade, mas duvidava de sua coerência.

— Porque você é esquisito, mas é um esquisito bom. – Realmente duvidava de sua lógica.

— O que seria um “esquisito bom”?

— Uma pessoa que é esquisita por não ligar pro que os outros pensam.

Nate pôde entender o que ela queria dizer. A garota provavelmente havia se identificado com sua peculiaridade e tentado se aproximar. Ela se referia a “esquisito bom” a alguém que fazia, pensava ou dizia algo que não era considerado certo ou normal para a atual sociedade. Near se encaixava neste tal adjetivo por provavelmente ela criado. River concluiu que a desconhecida era inteligente, claro, inteligência esta que se diferia da sua, mas de fato inteligente.

— Meu nome é Alanna, só pra você saber...

— Near.

— Near? Seu nome também é esquisito. – Zombou convencida e arrogante. Por algum motivo desconhecido ela lhe lembrava Mihael. – Eu gosto... – Bom, parcialmente. Mihael Keehl nunca lhe diria algo tão amigável. – Pode me chamar do que você quiser, Near. – Enfatizou seu nome. – Até de melhor amiga. Não que façamos jus ao nome, mas duvido que você tenha outros amigos, então... – Deu de ombros mais uma vez. Embora seu timbre fosse de desleixo e indiferença ela lhe exibiu um sorriso verdadeiramente sincero, talvez melhor... Amigável.

 

 

 

 

Nate estranhou tal aproximação. Pessoas não costumavam ser gentis ou amigáveis para/com ele, entretanto se sentiu minimamente feliz. Ela era totalmente irritante, mas algo nela lhe fazia sentir algo que se diferenciava de indiferença. Não, não era como se realmente gostasse dela ou que cogitasse ter um amigo verdadeiro fora Beyond ou seus irmãos, mas era diferente e estranhamente bom pensar que alguém havia se interessado em cultivar uma amizade ao seu lado.


Notas Finais


Não esqueçam de comentar, galeris... Eu não mordo, muito pelo contrário, sou muito bonzinho (quer dizer, tem gente pior)...


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