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História The Ascent. - Capítulo 11


Escrita por: zensponytail

Capítulo 12 - Capítulo 11


Eu acordei cedo no próximo dia, e perguntei a Lizbete se ela conhecia Caspian quando ela veio arrumar meu cabelo. Eu não teria nenhuma reunião com o Conselho hoje, então estava permitida a usar meus jeans e tênis.

–Caspian é um príncipe também, Sophia. De um reino cuja capital é uma ilha na Itália, porém o reino se estende por todo reino em volta do nosso. Eles são nossos aliados. Onde ouviu o nome dele?

Mordi meu lábio antes de responder. - Eu o conheci ontem. Ele vai me ajudar a praticar meu Poder.

Ela terminou de fazer uma trança complicada no meu cabelo, e começou a colocar umas florzinhas minúsculas nele. Olhei para as amplas janelas, o sol batia suavemente na copa das árvores da vista da minha janela. Me olhei no espelho quando ela terminou. Eu estava parecendo eu mesma pela primeira vez em um mês. A luz do sol fazia meu cabelo parecer mais vermelho, meus olhos no seu novo tom de verde elétrico brilhavam. Minhas sardas estavam mais claras, já que eu quase nunca tomava sol. Levantei-me e sorri agradecidamente para ela. Eu já estava em meus jeans e camiseta preta.

– Ele é realmente lindo como falam?

Eu parei de olhar o espelho de corpo inteiro da parede, tentando ver se meu novo jeans deixava minha bunda maior. Eu pensei sobre a pergunta um pouco antes de responder. - Ele é lindo, sim.

Ela sorriu. - Devia sair com ele, eu sei que os anciões ficariam muito felizes com isso.

Franzi o cenho.

–Achei que eles queriam que eu ficasse com Klaus.

–Klaus? Não, a aliança já está formada firmemente com a família Miusov. Mas com os Alighieri? Não há nada que nos una a eles a não ser palavras. Mas palavras são como o vento.

E com isso ela me deixou. Eu fui para o salão nobre, onde o café da manhã era servido. Todos os anciões estavam lá, assim como seus respectivos guardiões, todos comendo. Sentei-me ao lado de James, que olhava distraidamente uma janela. Ele não pareceu perceber que eu estava lá, então eu nem tentei conversar com ele. Uma vampira colocou uma tigela com cereal na minha frente, junto com um copo de achocolatado e bolo. O povo daqui sabia como me mimar.

Olhei em volta da mesa, Nicholas sorriu quando alguém entrou pela porta. Esse alguém era Caspian, que se sentou ao meu lado, sorrindo.

–Caspian, vejo que já conhece nossa bela Sophia. Linda, não é?

Senti minhas bochechas corarem, enquanto varias pessoas olhavam para mim.

–Sim, de fato ela é. Conhecemo-nos ontem, no subsolo.

Nicholas não podia estar mais satisfeito que Caspian e eu estivéssemos sentados lado a lado.

–Sophia, querida, sabia que Caspian aqui é o Príncipe de Andolovina?

–Não, senhor. - Fiz questão de esconder qualquer emoção da minha voz e de meu rosto. James havia parado de comer olhando para a janela, e agora encarava a mim e a Caspian. - Ninguém sentiu a necessidade de me avisar que haveria um membro da família real de outro reino hospedado em Hugin.

Nicholas nem ao menos pareceu ser abalado pela fúria contida em minha voz. Nem ao menos pareceu notar. Ninguém do conselho parecia ligar muito para nada que eu falava.

James parecia contente com minha raiva. Que bom que eu ainda consigo entretê-lo. Caspian estava me olhando pensativamente, e quando percebeu que eu estava o olhando de volta apenas sorriu, como se estivesse se desculpando. Lembrei-me como ele me disse que eu não tenho muito poder entre o Conselho mesmo sendo a herdeira do trono, apenas por ser mulher. Por um segundo eu cogitei a idéia de me casar, assim eles teriam que me ouvir, me acatar. A idéia logo foi esquecida, já que eu sou muito nova e não tenho a menor intenção de me casar a não ser por meus próprios motivos. Não que Caspian seja feio, ou chato - não pelo que eu pude perceber nele - mas eu nunca tive a intenção de casar com ninguém, apenas quando eu era criança.

Me levantei da mesa, e como era de costume, todos se levantaram e fizeram uma pequena reverencia já que eu sou -supostamente - a governante deste reino. Sem olhar para trás, ou para qualquer um deles, eu sai de lá. Assim que eu já estava distante do salão por alguns corredores encostei-me à parede, sem fôlego. Se eu fosse homem aposto que todos me ouviriam. Novamente tive vontade de conhecer meu pai, quem todos diziam ser o melhor governante.

Ouvi passos atrás de mim, e minha pele formigou levemente. Sem nem olhar eu soube que era James, nosso laço ainda agindo mesmo com toda a frieza que ele me tratava.

–Não estou com a mínima vontade de brigar com você James. - Minha voz estava cansada, um pouco triste. Eu estava assim também, então isso explicava.

–Não vim para discutir, apenas para ver como você estava.

–E desde quando você liga para isso? Ah, certo. Minhas emoções estão te incomodando pelo laço e você veio me mandar parar de sentir qualquer coisa para que você possa voltar a me ignorar novamente.

Ele deu um suspiro cansado e passou sua mão pelos cabelos. Desencostei-me da parede e comecei a caminhar para longe dele. Não que isso tenha o impedido de me seguir.

–Eu não estava te ignorando, apenas não gosto de Klaus. E ele sempre parece estar em volta de você.

A voz dele estava um pouco zangada, ótimo.

–Então eu devo ficar sozinha nesse lugar onde eu não conheço quase ninguém, apenas por que você não gosta dele? Fala sério James.

Ele não respondeu nada, apenas continuou me seguindo. Assim que cheguei às portas da biblioteca, ele as abriu para mim, mas mesmo assim eu não olhei em seu rosto. Eu estava brava com ele, e ia tratá-lo com o próprio remédio. A biblioteca - de longe meu lugar preferido aqui - era enorme, colunas de estantes se alinhavam no cômodo gigante, subindo até o teto que poderia facilmente ter mais de dez metros de altura. Eu segui para o corredor em que o livro que eu queria possivelmente estava. James, percebendo para onde estávamos indo, levantou uma sobrancelha para mim.

–Cansou dos seus romances de dona de casa?

Vasculhei a prateleira que estava ao meu alcance, olhando para os títulos, sem achar nada muito promissor. -Claro que não, mas eu preciso saber de uma coisa antes de me encontrar com o Caspian hoje. Não quero que ele me faça fazer uma coisa que eu não sei o que é.

Seu cenho franziu um pouco, mas ele se manteve quieto. Acho que ele lembrou que eu sou livre para falar com quem eu quiser. Mesmo sabendo que ele ia me dar uma reprimenda, eu queria que ele demonstrasse que não queria que eu ficasse na companhia de outro cara. Deus sabe que eu odeio quando eu vejo ele saindo com uma mulher de seu quarto, como isso me magoa. Queria saber se ele sentiria a mesma coisa. Me forcei a esquecer dele por um momento, e foquei nos livros.

Meus olhos pararam em um livro de capa preta, Poderes Antigos. Eu o tirei, e olhei o sumário. Bingo. Havia um capitulo exatamente do que eu queria.

Senti James se movendo para olhar o que eu estava lendo por cima do meu ombro.

–Qual o motivo de querer aprender sobre a arte dos mortos, Sophia?

–Necromancia, aqui diz, é o poder de evocar os poderes das almas que há muito tempo passaram deste mundo para outro. Almas deixam uma aura de poder para trás, e quem possui este dom pode chamar este poder e utilizá-los a sua vontade. - Levantei meus olhos para ele, que me olhava como se eu fosse um bicho estranho. -James, não se parece com exatamente o que eu fiz no meu sonho?

–Sophia, um necromante não nasce há mais de um milênio.

–Caspian me disse ontem que na minha família era comum ter este dom, que alguns podiam ressuscitar pessoas, curar doentes. Não vejo o que mais meu poder pode ser a não ser isto. Tudo bate perfeitamente.

Necromancia pode ser passado pelo sangue, e geralmente o é. Nos tempos antigos, os curandeiros eram muitas vezes necromante, que evocavam o Poder para curar os enfermos. Não é incomum este poder pular gerações, já que isto pode matar seu usuário assim como pode salvar outra pessoa. Necromantes apenas são poderosos, pois tem uma aura de poder muito forte, e muitos morrem tentando ressuscitar alguém. A aura do Necromante é extremamente delicada, e se o Poder for muito usado, é normal que leve seu dono a loucura. A aura dos mortos toma um pouco de sua saúde em troca do poder, pois nada pode ser usado sem uma troca justa.

Mostrei o texto para James, que ficou terrivelmente quieto depois. Se eu fosse realmente uma necromante, eu estava em perigo toda vez que usasse meu poder. A não ser que eu treinasse. E eu precisava, pois eu já havia decidido usar meu poder na guerra. Eu não iria deixar o povo inocente de Munin morrer nas mãos dos Giovannis. Os olhos de gelo de James me encaravam, como se eu fosse um experimento cientifico.

–Se você for realmente isto, e tudo realmente indica que você é, vão querer te usar na guerra. Tess, você tem a capacidade de matar um exercito apenas com seu Poder.

–E de acordo com o livro, isto pode custar minha vida. Escuta, eu quero ajudar na guerra, se a guerra realmente acontecer, eu só não quero ser morta fazendo isso. Não quero que me usem como uma arma.

Estávamos numa parte afastada da biblioteca, mas mesmo assim eu mantinha minha voz baixa. Não havia mais ninguém aqui além de nós dois, pelo que eu podia perceber. Fechei o livro e o abracei contra meu peito, encarando meus sapatos. James não tinha escolha sobre ser usado como uma arma na guerra ou não. Ele era um soldado. Se a guerra acontecesse, e algo me dizia que ela iria acontecer em pouco tempo, James não teria escolha a não ser lutar com seus companheiros. Ele podia morrer lá, e eu estava aqui, com esse poder de matar milhares de pessoas com a força da minha mente, mas me recusando a servir como arma. É muito egoísta de minha parte fazer isso?

–Eu não vou deixá-los, Tess. Você é minha...protegida. Assim que assumir a sua posição no Conselho, ninguém poderá forçá-la a fazer nada.

Eu sacudi a cabeça. - James, mesmo quando eu virar a governante de Munin eles vão mandar em mim. Você viu o jeito que Nicholas praticamente me jogou para cima de Caspian. Eles querem me tirar daqui, querem que eu case com ele. Se eu me casar com Caspian, nosso reino seria gigantesco. Eles querem isso, e duvido que se eu casar com ele eu comande alguma coisa. Eles são machistas, nunca aceitariam uma mulher dando-lhes ordens.

Parecia estranho isso acontecer em pleno século 21, mas era a verdade aqui. Os Anciôes eram extremamente machistas, suas mentes pararam em seu tempo. James uma vez me falou que meu pai e minha mãe reinavam lado a lado, que um completava as falhas do outro, mas eu não podia ver isso acontecendo. Talvez as coisas fossem diferentes naquela época, meu pai sendo um homem podia ter forçado sua opinião sobre o Conselho. Mas isso era terrivelmente impossível de acontecer agora. Talvez um casamento não seja tão ruim assim, com Caspian do meu lado eu tenho certeza de que eles seriam forçados a me ouvir. Andolovina é gigante, suas terras se estendendo até nossas fronteiras, e sua população maior ainda. Juntos nós seriamos invencíveis. Mas se eu me casasse, o crédito nunca ficaria para mim, nada que eu fizesse seria considerado tão importante quanto se fosse Caspian que desse a ideia.

James permaneceu em silêncio. Segui para fora da biblioteca, o livro ainda em minha mão. Acho que ele sabia exatamente em que eu estava pensando. Ele quase sempre sabe. Eu segui para a torre que eu agora considerava minha, já que quase sempre ia lá para fugir das pessoas do castelo. James me seguia ainda quieto, cenho levemente franzido como se estivesse pensando muito sobre algo.

Eu vinha tanto aqui que eu comecei a deixar um cobertor grosso e almofadas junto com uma lanterna no chão. Sentei em cima de uma das almofadas, o muro em minhas costas me protegendo da maior parte do vento frio do fim do inverno, mas mesmo assim eu sentia frio. Me enfiei debaixo do cobertor, e James se sentou ao meu lado, eu o cobri com a coberta arrancando um sorriso dele que logo desapareceu.

– Você devia, você sabe. Casar-se com ele, quero dizer.

–Não, não devia.

Então eu alcancei a mão dele debaixo da coberta, entrelaçando nossos dedos. Minha cabeça encontrou o ombro dele, meu nariz indo para seu pescoço, respirando o cheiro que eu tanto amava. Sua mão apertou a minha, e de algum jeito seus lábios encontraram os meus me fazendo quase pular de surpresa. O afastei empurrando minha mão suavemente em seu peito. Nossos beijos me confundiam demais e eu já tinha muita coisa na minha cabeça.

–James, Caspian disse que sabia que havia algo entre nós assim que nos viu. É melhor não arriscar, não quero que você deixe de ser meu guardião.

–Eu não gosto do Caspian.

Eu soquei levemente o braço dele, não podendo não sorrir. - Você não gosta de ninguém.

Levantou uma sobrancelha para mim.

–Eu gosto de você.

Desviei meus olhos. Ele não havia falado brincando.

–Bem, é claro. Eu sou maravilhosa.

Ele sacudiu a cabeça e riu. Aninhei-me nele, folheando o livro, lendo tudo que podia me ajudar a entender o que eu sou. James passou um braço em volta do meu ombro, lendo junto comigo.

–James, quando será o ritual da sua oficialização como meu Guardião? - Eu perguntei de repente. Eu havia me lembrado de algo que ele me disse uma vez, sobre como era impossível desfazer o laço depois de fazer o ritual. Se o laço era impossível, então ele ser tirado do posto de meu guardião também era impossível.

–Acho que daqui a um mês.

Olhei para o horizonte. O sol estava começando sua lenta descida por entre as montanhas. Tirei o cobertor de cima de minhas pernas e marquei o livro com a primeira coisa que eu achei, uma flor que havia caído do meu cabelo. Me virei para James que havia se levantado também,o sol batendo em seu rosto fazendo seus olhos ficarem laranjas, como se pequenas chamas estivessem lá dentro.

–Tenho que ir ver Caspian. Que tal ir comigo?

Ele olhou para seu relógio. - Não dá, Robert quer que façamos uma reunião. Algo sobre sua aposentadoria.

–Vai contar a eles sobre meu poder?

–Não, sei que você não quer isso. - Ele esticou seu braço e pegou minha mão. Ficamos assim por um momento, então ele olhou novamente seu relógio e partiu.

Eu desci até meu quarto e larguei meu livro na cama. Tentei não pensar em James, mas isso meio que é impossível. Há dois meses eu me sentia uma lunática, a garota que quase morreu, teve seus pais (que agora eu sei que eram tios) mortos na sua frente por um vampiro com quem ela tinha se enroscado antes. Então ele apareceu e botou minha vida nos trilhos novamente, não apenas salvando minha vida, mas também me mostrando o que estavam escondendo de mim. Ele me salvou mais do que apenas de um jeito, ele me salvou também quando me contou que eu não estava louca afinal de contas. Tenho certeza que eu não teria aguentado viver achando que foi tudo coisa da minha imaginação.

Enquanto eu descia as escadas que encaracolavam até o chão, lembrei-me de Jordan, de como eu achava que gostava dele. Isso é tão estranho que eu quase ri. Jordan passou a ser meu melhor amigo novamente no tempo que ele passou em Munin. Assim que cheguei ao jardim traseiro, segui direto por algumas árvores até encontrar o velho carvalho, no topo da beirada do precipício. Caspian estava lá, ainda com aquela capa preta. Quando virou para mim notei que estava fumando, já que ele logo apagou o cigarro. Ele parecia cansado, não mais cheio de energia como hoje no café da manhã.

Ele me encarou um pouco, e eu deixei. A luz do quase inexistente sol batia na minha pele, a aquecendo um pouco. Apenas quando eu tirei uma mecha do meu cabelo, que estava começando a se desmanchar, do meu rosto foi quando ele disse alguma coisa.

–Soube que estamos noivos.

Eu havia começado a destrançar meu cabelo. Eu apenas o encarei, sem palavras por alguns segundos. - Não é verdade, eu te conheci ontem.

–Bem, parece que os Anciões e meu pai fizeram um acordo. - Havia amargura na voz dele. Acho que ele não gosta muito de seu pai. - E eu achei que ele tivesse me mandado apenas para ser bom.

Eu me sentei, completamente estática.

–Tem certeza de que não é apenas fofoca?

Deu de ombros. - Geralmente as fofocas aqui sempre estão certas.

Isso era verdade. Os empregados fofocavam muito, e muitos deles ficavam o tempo todo com algum dos anciões, assim como Lizbete me cercava a toda hora.

–Que merda.

–Bem, eu certamente não quero me casar com você também.

–Eu não quis dizer desse jeito.

Ele apenas deu de ombros e acendeu outro cigarro. Eu comecei a cavoucar o chão de terra firme e logo senti a energia passando por meu corpo. Caspian estava me observando curiosamente.

–Seu poder não é tão diferente do meu, para falar a verdade. Ambos mexemos com auras, energia. Eu posso influenciar pessoas, por assim dizer.

–E como você faz isso?

Ele me deu um sorriso metido.

E então eu senti. Era como se o ar mudasse ao meu redor, se tornasse mais pesado. Eu podia ver algo ondulando em volta dele, como uma estrada num dia quente de verão. Ele estava tentando forçar sua vontade sobre mim. E não estava funcionando muito bem. Sua testa começou a franzir. Dei um passo involuntário para frente. Eu queria tocá-lo. Queria passar minha mão por aquele cabelo escuro.

Tão logo eu queria fazer isso percebi que era ele. Deus, até parece que eu ia querer passar a mão no cabelo dele, nem no meu eu passo. Concentrei-me na energia que flutuava ao nosso redor. Era fácil, para falar a verdade. Eu só pensei nela voltando para ele e pronto.

Ele sorriu verdadeiramente agora. Um sorriso que iluminou todo o rosto dele. O efeito era deslumbrante.

–Você é boa. Entendeu como que faz?

–É fácil, pra falar a verdade.

Ele levantou uma mão em um sinal de espere e saiu dali por alguns segundos. Eu olhava o sol se pondo no horizonte, faltava apenas uma fina faixa dele para sumir completamente. Nas árvores, pequenas luzes começavam a acender como que por mágica. O efeito era deslumbrante. Quando Caspian voltou, eu não dei muita atenção a ele.

–Aqui, vamos ver se você já consegue. - ele me estendeu algo, e eu demorei algum tempo para perceber o que era.

–Caspian! O que foi que você fez!

Eu peguei a águia da mão dele. Ela estava morta, seu pescoço quebrado. O idiota do Caspian havia matado um animal indefeso.

–Alcance-a e a traga de volta. Você consegue, é só fazer o inverso do que fez comigo. Alcance a energia em volta dela e coloque nela.

Eu sentia lagrimas quentes de fúria em meus olhos, mas fiz o que ele mandou. Havia sim uma aura em volta dela. Quente, inquieta. Fechei os olhos, me concentrando. Quando eu os abri novamente, a aura era visível. Tinha um tom avermelhado. Imaginei-a voltando para dentro do corpo da águia, seu pescoço se regenerando, seu coração batendo novamente.

E ela voltou à vida. Olhou-me por um momento, com aqueles olhinhos inteligentes. Levantou a cabeça, como se estivesse com medo de ainda estar com o pescoço quebrado. Então ela levantou vôo, mas não sem me olhar. Voou até uma arvore, e de lá ficou nos observando.

Eu caí de bunda no chão, ofegante. Eu consegui. Olhei para Caspian, que olhava a ave com certa diversão.

–Eu sabia! - ele disse orgulhosamente. - Você é muito boa, águias são o símbolo do meu reino sabia? Meu pai vai adorar o simbolismo disso.

–Seu imbecil, se eu não conseguisse ela iria morrer!

Ele deu de ombros despreocupadamente.

–Ela já estava morta quando você a pegou, não ia mudar muita coisa.

–Eu vou te matar. - murmurei ainda furiosa.

–Contanto que me traga de volta depois, pode matar. - Ele olhou para seu relógio e me estendeu a mão. - Venha, está na hora do jantar.

Eu aceitei a mão dele, e senti um leve formigamento. Não como quando eu tocava James, é claro. Era como se nossas auras estivessem se tocando.

Assim que chegamos ao salão, Nicholas estava cochichando com outros na mesa. Ele me olhou e sorriu, como se eu fosse sua pessoa favorita no mundo.

–Sophia, você tem visita.

As portas se abriram atrás de mim e de Caspian. Estávamos tão perto que meu ombro raspava na manga do casaco dele. Eu me virei e fui atingida pelo furacão Carolinne.

–AI MEUDEUS EU SENTI TANTA SAUDADE!

Ele estava me agarrando, seu abraço de urso ao meu redor. Ela tinha o mesmo cheiro, de baunilha. Eu a abracei fortemente e vi James encostado na parede, sorrindo. Sorri de volta.

–Linne, eu preciso respirar, sabia?

– Sério? Que chatice, achei que não precisasse, isso ia aumentar muito mais sua nota em educação física.

Eu ri, e Caspian se sentou. Nós estávamos paradas no meio do salão, todos nos encarando. Me virei para Nicholas, que parecia satisfeito consigo mesmo.

–Foi sua idéia?

–Sim, uma muito boa, não acha?

Me forcei a sorrir para ele, mas algo na minha mente alertava sobre isso ser uma distração. Ele não dava nada sem algo em troca. Olhei para Caspian, que deu de ombros, sorrindo para mim.

–Obrigada, senhor.

Comemos, e eu arrastei Carolinne depois disso para meu quarto com James no nosso encalço. James parecia contente de me ver sorrindo tanto.

Assim que fechei a porta atrás de mim, Carolinne se sentou na minha cama e James na poltrona ao lado dela, um tornozelo sobre um joelho.

–E ai, me conta tudo.

Me sentei no chão, meio caminho entre os dois.

–Certo. Aparentemente eu sou uma necromante e hoje eu ressuscitei uma águia.

–Você o que? - James disse, sobrancelhas levantadas.

Eu contei o que havia acontecido, mas deixei a parte sobre eu estar supostamente quase noiva de Caspian.

–Isso foi muito perigoso Tessa.

–Não causou mal algum, James. E eu estou bem, certo?

Carolinne nos observava, um sorriso se espalhando por seu rosto. Eu sabia que ela ia falar algo, então apenas sacudi a cabeça. James me olhava, e eu sorri para ele. Ele tinha que se preocupar menos comigo. Ele suspirou e olhou o relógio.

–Tenho que ir. Vejo-te mais tarde?

Eu assenti com a cabeça e o olhei indo embora; Caroline escorregou da cama, direto para o chão ao meu lado.

–Okaaaaaaay, agora fala o que você tem que me falar que ele não podia saber.

Eu a encarei, minha boca formando um sorriso involuntário.

–Como você... Ah, esquece. Sim, estamos juntos. Ou pelo menos o mais perto de juntos que iremos ficar. - Eu sorri bobamente. Então me lembrei que eu iria ter que me casar com Caspian. Isso tirou o sorriso da minha boca rapidamente. - Só tem um problema.

Ela arqueou uma sobrancelha bem feita. - O cara é bonito, alto, moreno e gosta de você. O que possivelmente poderia estar errado?

–Eu estou noiva. Possivelmente. Não foi anunciado ainda, e James não sabe. Nem eu sei, para falar a verdade. Isso é apenas um meio do conselho me tirar de perto deles, me enviar para longe onde eu não posso assumir minha posição de Primeira Cadeira.

Era bom tê-la ali comigo. Eu podia contar tudo para ela, e assim que eu despejei tudo que estava se passando me senti melhor.

–Você não pode deixar de assumir sua posição, Soph. Não importa o que eles façam, você não pode. Eu já conversei com o povo do seu reino, eles querem, precisam de você. E agora, com o seu poder... Você pode salvar a todos.

Se apenas as coisas fossem tão fáceis assim.

–Line, eu te amo, mas você não entende muito bem. Eu não tenho escolha. Elas nunca irão me ouvir.

Ela me encarou. E não era uma simples encarada, era uma cheia de determinação. E de sabedoria. Toda a minha vida eu vinha pensando nela como minha amiga divertida e boba. Talvez eu devesse rever meus conceitos sobre ela. Ela era sábia, forte, agüentou torturas para me manter sã. Ela era mais corajosa do que eu, me escondendo aqui nessas muralhas.

–Sophia Tereza Dragomir. Você é a ultima de sua linhagem, você é uma necromante. Você pode ressuscitar coisas tão facilmente quanto matá-las. Nenhum deles é mais forte que você, não há como não acatarem suas ordens. Você está com medo de eles acatarem, não é? Está com medo de ter um reino inteiro em suas mãos e fazer cagada. Eu te conheço muito bem.

Eu estava olhando minhas mãos. Ela tinha toda a razão, eu estava com medo de estragar tudo. O governo estava tão bem... Não havia necessidade de me ter como Primeira Cadeira. Mas havia sim. James havia me dito que Nicholas era antiquado, achava que nada tinha que mudar. Achava que a guerra não ia acontecer.

Mas ela ia. Mas do que nunca eu sabia disso. Eu sentia isso. Por um segundo a idéia de concordar com Pyotr me pareceu insana. Mas eu sabia que ele provavelmente é o único que sobreviveria a uma guerra.

Olhei Linne nos olhos.

–Tem razão. Não que eu queria me casar com Caspian, pelo amor de Deus. Mas se é disso que eu preciso para firmar minha posição no conselho... Tenho certeza de que James vai entender.

Só que eu não tinha. Eu conhecia James, o cabeça dura. Ele ficaria furioso.

Ainda bem que eu não estou noiva ainda.



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