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História The Ascent. - Capítulo 25


Escrita por: zensponytail

Capítulo 26 - Capítulo 25


—Como você sabe quem é Anna? — ele exigiu, seu maxilar cerrado.  —O que foi que Caspian lhe contou?

Me afastei dele, não gostando do seu tom defensivo. E principalmente não gostando  de ele achar que Caspian é que havia me dito alguma coisa, ainda mais quando ele se manteve surpreendentemente calado sobre isso.

—Caspian não tem nada a ver com isso. — eu o encarei, o desafiando a me contrariar.— Eu descobri sozinha, e você acabou de dizer o nome dela em seu sonho. Eu sei o que aconteceu com ela, é por isso que você está agindo estranho ultimamente?

Ele grunhiu, se levantando após vestir suas calças, indo sentar na poltrona, seus braços cruzados sobre seu peito descoberto.

—Se já sabe quem ela é e o que aconteceu com ela, por quê a pergunta? — ele retrucou, seus olhos prateados encarando o céu visível através das janelas abertas. — Já faz muito tempo desde que isso aconteceu. E eu não estou agindo de nenhum modo diferente, se alguém está, é você. Você está diferente da garota que eu trouxe para cá.

Me levantei também, vestindo a camisola que eu havia planejado usar antes de ele chegar em meu quarto.  Me sentei novamente na beira da minha cama, o observando evitar meus olhos, sentindo uma fúria pela sua acusação começar a se formar dentro de mim.

—Fazem 18 anos, não é? Eu sei que Noah a pegou para tentar te fazer falar onde eu estava. — eu disse, o fazendo finalmente olhar para mim. — Não entendo o motivo de nunca ter me contado sobre isso. Eu te conto tudo, sempre.

—Sim, conta mesmo. Assim como me contou sobre se casar com Caspian, assim como me contou quando saiu escondida. — eu abri minha boca para dizer que esses eram exemplos ridículos, mas ele me parou com uma mão. — Eu tenho o direito de manter coisas para mim, assim como você faz. Você já sabe que ela era minha noiva, não vejo motivos para eu responder o que já sabe.

Me encolhi na cama, magoada pelo tom que ele estava usando comigo.

— O motivo é que estamos juntos, James. Você deveria ser honesto comigo. Ainda mais sobre algo que meu irmão fez para te machucar, por minha causa. — sacudi minha cabeça para ele, tentando lutar contra a onda de raiva que eu estava sentindo se aproximar. Eu não queria ficar brava, queria apenas conversar e entendê-lo melhor. — Você estava sonhando com ela, não é?

— Se eu estava ou não é irrelevante. Ela se foi, e não há nada que eu possa fazer para trazê-la de volta.  —ele me encarou, seu olhar frio me fazendo querer estremecer. Com o maxilar ainda trincado, perguntou entre os dentes. — Há algo mais que queira me  interrogar sobre?

Me levantei, furiosa com ele agir desse jeito comigo. E ainda não achava que estava agindo diferente! Esse era um James estranho para mim. Decidi então parar de lhe perguntar sobre Anna, sabendo que ele não iria me falar nada. Ao invés, me lembrei do que eu ouvi ele dizendo a Isabella, sobre Cas retribuir o favor e deixá-lo trancado em Seelie.

—Foi você que fez Caspian ser pego como prisioneiro em Seelie? Eu ouvi você dizendo isso para Isabella. Você tem ideia do que ele passou lá? Sei que vocês tem uma inimizade imbecil, mas não acha que isso foi um pouco demais?

Ele riu sem humor.

—Caspian sabia melhor do que confiar em mim e comer comida de fada, Tessa. Não foi minha culpa ele ser pego por sua própria estupidez. — ele me olhou então, seu olhar ainda duro. — Algo mais? Eu tenho um dia cheio amanhã, preciso ir descansar para uma reunião com Robert.

Eu não disse nada, o que ele deve ter levado como sinal de que a conversa havia acabado.. Ele se levantou, vestindo sua camiseta e indo em direção a porta. Eu queria puxá-lo de volta e exigir que ele me contasse a verdade. Perguntar sobre o motivo de ele ter me explicado errado como nosso laço de sangue funcionava. Mas ao invés disso, eu continuei sentada, olhando suas costas.

Eu mal reconheci minha voz quando eu falei novamente.

—Sinto muito que Noah tenha matado sua noiva para tentar chegar até a mim.

James parou, mão na maçaneta.

—Ele não a matou. — respondeu, me fazendo prender a respiração. — Ele a manteve prisioneira, e depois a transformou em um deles.

Ele saiu do quarto então, me deixando sozinha para lidar com meus pensamentos. Isso definitivamente não havia ido do jeito que eu esperava.

Eu esperava que me contasse sobre Anna, apenas. Não que agisse desse jeito, defensivo quase agressivo. Eu sabia que para ele deveria ser um assunto delicado, mas achei que comigo ele conseguiria falar disso.

A não ser que ele ainda não a tivesse esquecido.

Ponderei sobre essa ideia, tentando tomar conta dos meus próprios pensamentos. Eu não sentia ciúmes disso, percebi, nem magoa, raiva. Eu não sentia nada com essa possibilidade.

Nada era exatamente o contrário do que eu sentia quando pensava que James poderia ter sido minimamente responsável por Caspian ficar preso em Seelie.  Senti minha visão começar a ficar vermelha ao pensar nisso, então. Isso apenas se intensificou ao lembrar de ele me dizendo que eu havia mudado, como se fosse algo ruim.

Eu havia amadurecido, não evitava minhas próprias lutas. Não estava com tanto medo do meu futuro mais. E ele dizer que eu havia mudado, com aquele tom… havia mexido com algo dentro de mim, me magoando profundamente. James deveria saber como era bom eu ter mudado, como era bom eu estar tomando as rédeas da minha vida. Mas claramente, ele não achava uma coisa boa. Talvez, apenas talvez, ele preferisse a garota assustada que precisava dele para ser seu abajur e afastar os monstros.

Me deitei novamente, lutando com um sono que eu sabia que demoraria a chegar.

Depois do que pareceu uma quantia ridícula de horas, meu despertador soou, me acordando para ir treinar com Robert. Lizbete entrou no quarto enquanto eu estava lavando meu rosto no banheiro, deixando meu café da manhã na mesa de centro.

Depois de me vestir em minhas leggings pretas e camiseta, sentei e tomei meu café, esperando que ele fizesse efeito logo. Eu estava exausta, e sabia que ficaria mais ainda depois de treinar com Caspian também.

Fui até o centro de treinamento no subsolo pensando em como eu gostaria de ser um cachorro. Se eu fosse um cachorro, além de ser fofa a ponto de todos gostarem de mim, eu não teria que lidar com nada disso. Não teria que me preocupar com mentiras, nem com nenhuma noiva de ninguém.

Suspirei e me pus a procurar Robert, não o achando em lugar nenhum. Haviam apenas alguns guardiões aqui hoje, o que era estranho. Esse lugar sempre estava cheio deles. Me lembrei então que James havia falado que iria ter una reunião com Robert e me xinguei internamente por ter vindo aqui a toa.

Antes que eu pudesse perceber o caminho que eu estava seguindo, me vi em frente a porta do calabouço onde Saurion estava. Fazia tempo que eu não vinha aqui, por medo de usar meu poder novamente mais do que eu deveria. Tomando fôlego, entrei. Dois olhos verdes se viraram para mim, fazendo meu coração acelerar.  Eu havia esquecido que ele fazia isso agora.

Hesitantemente, fui mais para perto dele. Eu sabia que ele não conseguia se mover, e mesmo que se movesse não iria me fazer mal. Seus olhos me seguiram. Coloquei minha mão em sua cabeça, sentindo a dureza das escamas verdes. Suspirei e me sentei em frente a ele. Eu podia sentir a energia dele agitada dentro de seu corpo.

—Olá Saurion, me desculpe mas hoje não posso lhe ajudar a voltar a vida novamente. — eu comecei, me sentindo um pouco tonta por falar com algo que não podia me responder. — Vou ter que esperar mais um pouco, até a guerra. Se souberem de você agora irão tentar te machucar.

Aqueles olhos sábios apenas me encararam, de algum modo compreensivos. Eu então contei sobre tudo que estava acontecendo comigo. O contei sobre James.

Ao falar em James lembrei de ele dizendo que eu havia mudado, com escárnio.

Segurei meu colar em minha mão, o apertando. Eu sabia que havia mudado. Eu me senti mudada desde que a Rainha Seelie tirou uma de minhas memórias. Talvez, pensei, ela tivesse alterado algo essencial em mim. Ou talvez fosse apenas as circunstâncias que eu me encontrava que havia me forçado a mudar, a me adaptar para sobreviver no meio de todos aqui. Talvez eu já tivesse mudado antes, assim como James, e apenas percebemos isso depois de ficarmos separados algum tempo.

Depois de desabafar com meu dragão quase comatoso, me senti um pouco mais leve. Mas a vontade de usar meu poder nele ainda continuava. Parecia errado o deixar assim, sem poder se mexer porém com consciência.

Me levantei, sabendo que se ficasse ali um pouco mais eu acabaria usando meu poder nele. Sai de lá antes que isso pudesse acontecer.

Olhei para o grande relógio na parede da sala de treinamento antes de sair de lá. Eu havia ficado lá em baixo a manhã inteira praticamente, já que era quase a hora do almoço. Subi os andares, ponderando sobre perguntar para Caspian o que eu queria saber logo, mesmo eu já tendo decidido antes que eu não o perguntaria nada sobre James.  

Segui o resto do caminho me sentindo patética por estar me preocupando por coisas tão idiotas quando estávamos prestes a ter uma guerra. Ou pelo menos eu achava que estávamos, já que ninguém sabia exatamente quando minha visão iria acontecer.

Estava quase chegando ao meu quarto quando fui interceptada por Isabelle, que saiu de dentro do seu quarto exatamente no momento que eu virava em seu corredor. Ela me olhou sorrindo, seus olhos prateados brilhando.

—Sophia, achei mesmo que estaria aqui. Eu queria convidá-la para almoçar comigo, longe de todos aqueles urubus. — seu olhar absorveu minha cara de cansada então. —Você está bem?

Eu sorri, assentindo com a cabeça.

—Estou bem, apenas não dormi muito bem esta noite. Eu adoraria almoçar com você.

Ela me olhou um pouco preocupada, porém sorriu mesmo assim.  

—Eu senti que você concordaria, então já pedi para trazerem a comida para cá. Entre, ela já deve chegar, e eu estou faminta.

Eu a segui para dentro do quarto, onde ela sentou numa mesa em sua sacada, igual a minha que eu nunca usava. Sentei na cadeira em frente a ela, desejando ter me vestido com algo um pouco mais elegante que leggings e tênis. Ela estava usando uma camiseta vermelha e jeans, mas mesmo assim continuava parecendo elegante. O vermelho contrastava com seu cabelo escuro, ressaltando o leve bronzeado em sua pele.

—Sabia que eu estava com fome por causa do seu Poder? —eu perguntei.

Ela assentiu com a cabeça, um sorriso entretido em seu rosto.

—Eu acordei pensando em falar com você, então achei que você precisava conversar. — ela se inclinou um pouco sobre a mesa, me encarando seriamente. — Você não parece muito bem, Sophia. Há algo te incomodando? É James?

A encarei, boquiaberta.

—Caspian te contou sobre James e eu?

Ela rolou os olhos.

—Eu sou a irmã mais velha dele, ele me conta tudo com um pouco de persuasão da minha parte. — ela sorriu novamente, abertamente. —Não faça essa cara, ele não fez por mal. Ele queria apenas desabafar com alguém. E eu não estou te julgando, eu não esperava que você não tivesse suas distrações, ainda mais com um casamento arranjado.

—James não é uma distração, Isabella. — eu disse, odiando esse termo. James nunca foi isso para mim. A olhei, e vendo sua expressão tão aberta, acolhedora, decidi confiar nela e me abrir.  —Eu apenas estou confusa. Você acha que é possível uma pessoa mudar completamente em uma semana e meia?

Nossa comida chegou então, a fazendo esperar os empregados irem embora para me responder. Ela deu um gole em sua taça de vinho, pensativa.

—Sim. Essa é a beleza da vida, não é? Estamos sempre mudando, a cada minuto. Uma pessoa pode mudar completamente em um dia, quem dirá uma semana. — ela respondeu.

Suspirei, dando um gole em minha própria taça. E lhe contei o que havia acontecido, o que James havia falado. O fato de eu não sentir nada sobre Anna ainda estar viva, ou sobre eu achar que ele não gostava da nova eu.

—Se James esperava que você continuasse a mesma depois de tudo que passou nos últimos quatro meses, ele estava se iludindo e não é sua culpa. — ela mastigou um pouco sua comida, enquanto eu remexia com a minha, não me sentindo com fome. —Você não mudou para algo ruim, Sophia. Está crescendo, por dentro e por fora. Não se deixe diminuir de novo.

Sorri para ela, grata.

—Obrigada, Bella. Mas ainda não entendo o motivo de ele ter ficado tão bravo com eu saber sobre Anna.

Ela deu de ombros, olhando para a vista da sacada.

—Pode ter passado anos, mas para ele deve ser pior, sabendo que ela virou uma Giovanni, e provavelmente não é mais ela. Um grande amor não é fácil de esquecer, afinal de contas. — ela pareceu ponderar se devia me dizer mais ou não. — Ele ficou um caos depois que ela morreu, tentou recuperá-la de todo o jeito. Tiveram que o forçar a parar sua busca, então papai o mandou ficar um tempo em Andolovina, para ver se ele conseguia voltar a ser como era  antes. Mas bem, não há como saber tudo, só quem tem essa capacidade é o Suriel.

Senti meu cenho se franzir com o nome estranho que eu provavelmente deveria saber.

—Suriel?

Ela assoprou uma mecha de seu cabelo para longe de seu rosto, parecendo um tanto quanto feroz.

—Eu me esqueço o quanto eles negligenciaram sua educação desde que chegou aqui. Suriel é um ser sobrenatural, ele mora nas florestas, ele é como uma bola de cristal ambulante, tem a resposta para todas as perguntas. Dizem que para pegar ele é preciso ser muito esperto, já que ele é conhecido por matar quem tenta.

Ela continuou a mastigar sua comida então, deixando o que ela havia me dito afundar em minha mente.

Apoiei meu rosto em minha mão, olhando para meu colo. Um grande amor não é fácil de esquecer. E o deles parecia ser exatamente isso. Senti um leve aperto no peito, me fazendo suspirar.

— Ele deve estar pensando nela, com Noah e os ataques, isso deve estar fazendo ele lembrar de tudo. — eu disse, ganhando um aceno de cabeça dela. Ela mordeu seu lábio, parecendo querer dizer alguma coisa. —Pode ser franca comigo, Bella. Pode dizer qualquer coisa, não precisa se preocupar. Eu estou lhe falando essas coisas pois quero seu conselho, não tenha medo de dá-lo.

Ela me olhou aliviada.

—Sophia, as pessoas mudam. E quando isso acontece, o que antes era certo para elas pode mudar também. — ela esticou sua mão e apertou a minha levemente. —Eu digo isso por experiência própria: não há nada errado em mudar. O que é errado é continuar com algo que não contribui para a sua mudança. Você agora mais do que nunca precisa de apoio, não que te condenem pelas suas ações.

Apertei sua mão de volta, indicando que eu iria guardar esse conselho. Ela estava certa, eu sabia. Mas eu havia passado quatro meses amando James, mesmo que tenha sido complicado desde sempre.

—Obrigada, eu precisava de alguém que me ouvisse sem julgar. Linne nunca gostou de James, e Caspian… bem, você já sabe. — sorri sinceramente para ela. —Mas chega de falar de mim. O que está achando de Munin?

Ela se esticou na cadeira, um sorriso preguiçoso em seus lábios.

—Aqui é bem calmo comparado a em casa. Você vera o que quero dizer quando visitar Andolovina. — seu sorriso virou carinhoso, seus olhos perdidos em pensamentos. — Nossa terra é muito mais… agressiva. As pessoas não tem medo de serem elas mesmas, bem, longe do meu paí. Acho que você iria gostar de lá

—Eu tenho certeza que sim. — eu disse, então bocejei, me lembrando que havia dormido muito pouco esta noite. —Seu irmão irá me matar por estar cansada e não poder matar plantas com tanta energia.

Ela levantou una sobrancelha delicada para mim.

—É mais provável que ele lhe dê uma bronca por não ter dormido antes. Que é o que eu sugiro que faça, antes que caia de exaustão. — ela se levantou, estendendo sua mão para mim. —Vá descansar um pouco, eu o aviso que você vai treinar mais tarde hoje.

Eu balancei minha cabeça para ela, sorrindo. A abracei, grata por ter mais uma amiga aqui no castelo. Linne era a melhor pessoa do mundo, mas ela não era uma vampira. Não conseguia me entender completamente.

—Você é um anjo, Bella. Até mais.

Eu fui para meu quarto então, e quando eu deitei em minha cama não pude evitar pensar na criatura da qual Isabella falou. Suriel, que de acordo com ela, sabia a resposta para qualquer pergunta. Fechei meus olhos, sorrindo. Parecia perfeito para mim.

((Caspian))

Abri a porta, esperando encontrar Sophia, porém encontrando minha irmã no lugar, sorrindo para mim angelicalmente. Quem não a conhecesse não saberia que ela era, na verdade, um demônio em forma de vampiro.

—Estou ocupado, vá embora. — eu disse, voltando para meu livro no sofá.

Ela se jogou do meu lado, me fazendo ter que sentar. A olhei feio.

—E Sophia ainda disse que você era gentil, acho que ela se confundiu. Tsc, Cas.

Rolei os olhos, apesar de gostar de saber que Sophia achava que eu era gentil.

—Eu sou gentil, apenas com quem merece. Agora, xô, ela vai chegar a qualquer momento e vai se assustar com seu comportamento primitivo.

Ela estalou a língua novamente para mim, pegando o livro de minhas mãos.

—Ela não vai vir agora, está descansando pois estava exausta. — ela fez uma careta. — Ela não dormiu bem, estava se preocupando a noite inteira.

Cruzei meus braços, olhando minha irmã folhear meu

—E você sabe disso como? — indaguei, tomando o livro de sua mão novamente.

Ela começou a xeretar em minha sala, olhando minha estante de livros e fazendo caretas para os títulos.

—Almoçamos juntas. Ela estava precisando de conselhos, e eu sou a melhor conselheira que ela poderia ter. — ela disse sorrindo metidamente.

Franzi meu cenho ao pensar que Sophia havia ido a minha irmã, que ela tinha acabado de conhecer, ao invés de vir até mim.

—Conselhos sobre o quê? Você não disse nada a ela, não é?

Ela rolou os olhos dramaticamente, indo até a cozinha, pegando uma maçã da geladeira e a mordendo.

—Não contei nenhuma história constrangedora sobre você. Ainda. E o que ela me contou cabe apenas a ela te contar ou não. Mas uma coisa posso te dizer, ela é tão poderosa quanto você. Apenas sentando do lado dela podemos perceber isso. Mas ela tem medo disso, ainda. Ela tem medo de se tornar algo a temer. Se ela quiser ganhar essa guerra, precisa superar isso.

Passei a mão pelo meu rosto, eu já sabia disso. Ela estava melhor em aceitar seu poder e influência, mas ainda tinha um longo caminho pela frente. E se Bella estava dizendo essas coisas, era verdade. Eu confiava em Isabella e seu poder sempre, e sua intuição nunca esteve errada.

—Eu estou fazendo meu melhor para ajudá-la nisso. — eu disse, me levantando e indo ate a cozinha, junto a ela. — Mas ela tem medo de decepcionar os outros. Acho que nós dois entendemos como é isso, não é?

Ela sorriu, esticando uma mão para apertar meu ombro.

—Sim, mas ela não tem nosso pai para forçá-la a ser o que ele quer. Ela pode ser o que quiser, basta se permitir. Assim como você Cas. Quer mesmo continuar com esse noivado?

Ninguém havia me perguntado isso ainda, eu percebi. Obviamente não nosso pai, nem Rhys ou Azriel. Nem mesmo Sophia, que só havia presumido que eu, assim como ela, não iria querer.

—Sim. Se vai ajudar em tudo isso, sim. — dei de ombros então, me soltando de seu toque. — Ela merece a chance de lutar.

Isabella suspirou, concordando com a cabeça. Ela entenderia Sophia fazendo de tudo para lutar, já que ela mesma já havia feito isso. Havia lutado contra meu pai, contra os desejos dele. E sim, havia sofrido por isso. Mas mesmo depois de tudo que passou, continuava sorrindo.

Seus olhos claros varreram a cabana novamente, pousando na porta do meu quarto. Minha reação foi demorada demais, fazendo seus movimentos ganharem. Ela correu até a porta, a abrindo com um sorriso perverso estampado em seu rosto.

Um sorriso que sumiu enquanto ela olhava todos os quadros que eu havia pintado, entrando no quarto, os observando mais de perto.  Ela foi para o primeiro, o de Sophia banhada em sua aura dourada.

—Você está pintando novamente. — ela disse quietamente, sua voz carinhosa. Ela tracejou as sardas de Sophia no quadro com a ponta de seus dedos. —Você não me disse.

Passei a mão pelos meus cabelos, sabendo que ela não iria sair desse assunto. Ela não deixaria passar o fato de que a ultima vez que eu havia pintado foi há mais de 50 anos, antes de Seelie.

—Não é nada demais. Eu comecei a pouco tempo. — dei de ombros. —Obviamente não sou tão bom quanto antes.

Ela olhou os outros quadros, sentando-se em minha cama ao meu lado.

—A maioria é a Sophia, não é? —ela disse, casualmente olhando suas unhas. Seu cenho se franziu levemente. — Ela parece aquele quadro antigo que você pintou, lembra?

Eu lhe dei um olhar significativo.

—Ela é bonita, e as cores dela são bonitas de pintar. Não, — eu a avisei quando ela me levantou uma sobrancelha cética. — não há nada mais que isso.

Ela sacudiu a cabeça, olhando para o teto.

—Você devia dizer para ela que Anna é a sodalis  de James. Aliás, enquanto você estiver nesse assunto, deveria dizer que você e James são…

—Eu não vou dizer nada sobre James para ela. — eu a interrompi. — E sugiro que você faça o mesmo.  Eu já sei como ela se sente sobre ele, não preciso que isso seja repetido.

Ela estalou a língua.

—É obvio que ela se sente assim sobre ele, qualquer um com um laço de sangue vai se sentir próximo da outra pessoa.

Eu lhe dei uma olhada indicando que não iria mais falar sobre aquilo.

Ela deu de ombros, voltando para minha sala. Eu sabia que alguém deveria dizer para Sophia sobre Anna ser a sodalis  de James. O par dele, a alma gêmea. Eram poucos os vampiros que tinham um, e era um laço para a vida toda.  

O olhar de Isabella disparou para a janela, um calafrio percorrendo seu corpo.

—Rhys está vindo para cá. — Me informou, olhando seu reflexo na tv e arrumando seu cabelo.

Como sempre, ela estava certa. Assim que as batidas ecoaram na porta, ela foi a abrir. Rhysand a apenas a olhou quando ela sorriu para ele,  batendo os cílios sedutoramente. Reprimi uma careta.

—Está com algo nos seus olhos? — ele disse abruptamente, a fazendo o olhar com desprezo. Ele se virou para mim então, me dando um olhar de pura inocência. —Acho que sua irmã está com defeito, talvez você ainda consiga a trocar.

Eu a olhei tristemente, balançando a cabeça

—Infelizmente ninguém a quer de volta, acho que vamos ter que com ela assim mesmo. —  olhei novamente para Rhys então. — Descobriu alguma coisa?

Rhys se sentou, parecendo um tanto quanto cansado. Eu me senti culpado por tê-lo feito trabalhar quando ele havia acabado de chegar.

—Nicholas teve uma reunião com alguns membros do conselho, mas não discutiram nada demais. — senti meus ombros relaxarem com alívio, sabendo que pelo menos eles não estavam armando nada contra Sophia ainda. — James teve uma reunião com o Capitão Robert, eles discutiram sobre James não ter achado nada na expedição dele.

Senti meu cenho franzir. James não ter achado nada quando demorou tanto tempo para voltar era algo estranho, ainda mais com a reputação de “melhor guardião” de Munin.

—Como assim ele não achou nada? Nenhuma pista? — eu perguntei, sentando no parapeito da janela. — Isso é incomum. O que eles disseram?

—James disse que acha que eles podem estar trabalhando com as fadas, o que iria explicar as pegadas que sumiam.

Algo em minha mente apitou com a menção das pegadas, mas eu não consegui saber o quê. Deixei isso de lado, na pilha de coisas para pensar depois.

— Há algum sinal de que eles irão atacar o castelo em breve?

Rhys sacudiu a cabeça novamente.

—Não, mas eu já avisei meus informantes para me avisar ao mínimo sinal de ameaça.

Eu assenti para ele, indicando que eu não quéria saber de mais nada. Olhei para a floresta, pensando na visão de Sophia. Se pudéssemos ao menos saber a data de quando a guerra começaria, poderíamos estar mais preparados.

Isabella limpou a garganta, chamando minha atenção. Ela parecia séria, diferente de alguns minutos atrás.

—Problema lhe aguarda. — ela disse enigmaticamente.

Rolei meus ombros, conseguindo lhe dar um dos meus famosos sorrisos arrogantes.

—Bella, querida, é obvio que problema me aguarda. Não notou com quem eu vou me casar?

Como se estivesse esperando sua deixa, uma batida conhecida ecoou através da porta.  Isabella me deu um olhar felino.

—Vai mostrar a ela sua coleção psicopata de retratos dela? Aposto que ela iria ficar encantada.

Mostrei os dentes para minha irmã, lhe lançando um olhar antes de abrir a porta, a mandando se comportar. Rhys sacudiu a cabeça para ela e pegou meu livro, fazendo uma careta para o título. Sinceramente, esses dois…

Sophia me encarou irritada, entrando na cabana sem ao menos esperar eu convidá-la. Fiz um barulho de reprovação para as maneiras dela, ganhando um rolar de olhos.

—Não faça essa cara para mim, você entra no meu quarto sem se anunciar. — ela parou então, dando um sorriso bem mais educado para Bella e Rhys. —Espero não estar interrompendo vocês.

—Na verdade, você chegou a tempo de ver Caspian arrancando a cabeça de Isabella. Isso é algo que você não iria querer perder. — Rhys disse, fazendo Isabella lhe dar uma cotovelada.

Ela riu, indo até o livro que Rhys havia largado no braço do sofá. Ela o pegou, inspecionando a capa com um  sorriso em seu rosto. Seus olhos verdes encontraram o meu.

—O final irá te destruir, se prepare. — ela disse, o colocando um tanto quanto carinhosamente na estante. Ela se virou para os dois folgados em meu sofá novamente. —Vocês vão ver Caspian me fazendo torturar plantas rebeldes hoje?

Isabella se levantou, se espreguiçando. —Rhys e eu temos que ir na cidade cuidar de alguns negócios.

Rhys a deu uma olhada incrédula.

—Eu não vou te acompanhar enquanto você compra coisas que nunca irá usar, não depois da última vez. — ele disse, mas mesmo assim se levantou e a seguiu até a porta.

Ela bufou. —Você adorou meu desfile especial para você, não negue seu…

Sophia olhou para a porta, as vozes da discussão deles se dissipando. Ela se virou para mim, uma sobrancelha levantada.

—Os dois são…?

Eu dei de ombros.

—Que eu saiba não, mas Isabella ainda tenta. Talvez ela apenas goste de perturbar ele. — quando vi sua expressão logo emendei. — Eu sugiro que não se meta entre os dois, Sophia querida. Rhysand sabe lidar com ela.

Ela me olhou com desdém, indo sentar no sofá. Enquanto ela observava distraído a floresta pela janela, pude a olhar melhor.

Ela parecia exausta, suas olheiras roxas sob seus olhos. Sua regata preta a fazendo parecer mais pálida ainda. Seu colar cintilou quando ela se moveu suavemente, seus olhos inquisidores em mim agora.

—Você parece exausta. —eu disse finalmente.

Ela desviou o olhar, começando a tracejar as linhas da costura do sofá. Seu cabelo caiu em.seu rosto, o escondendo de mim quando ela finalmente se dignou a me responder.

—Eu não dormi muito bem. — ela disse, e depois, hesitantemente, continuou, —James e eu tivemos um briga. De novo.

Me sentei na cadeira no balcão da cozinha, a observando de longe. Tentei não pensar nela com James, sabendo que era a melhor coisa.

—Sobre o que brigaram? Sobre você estar se metendo com fadas?

Ela suspirou, sua mão indo para a esmeralda em seu pescoço, como se estivesse procurando conforto.  Ela parecia tão pequena, com seu olhar de mágoa. Lutei contra a vontade de ir até ela e passar a mão pelo seu cabelo, oferecendo o conforto que ela parecia querer.  Seus olhos encontraram os meus novamente.

—Ele ficou furioso quando mencionei Anna. Eu nunca o havia visto daquele jeito, não o reconheci. —Ela sacudiu a cabeça. — Eu sei que ela era a noiva dele, mas já fazem o quê, mais de 15 anos?

Assenti. Quando seus país foram atacados Sophia tinha 3 anos e já estava escondida com seus tios.

—A conexão que eles tinham… não era alfo fácil de se quebrar. — eu disse, então dei um suspiro profundo tomando a decisão de contar para ela, já que claramente James não iria fazer isso. — Anna era a sodalis dele.

Seu cenho se franziu.

—Isso parece nome de margarina.

Eu lhe dei uma encarada para indicar que seu humor não era bem apreciado no memento.

—Sodalis, companheira em latim. Poucos de nós somos agraciados com essa dádiva. É a mesma coisa que achar sua alma gêmea, seu igual em todos os sentidos. Uma vez que acha é para a vida toda, por isso um faz qualquer coisa pelo outro.

Ela olhou para o chão, um olhar de pira fúria passando pelo seu rosto. Ela fechou os olhos, escondendo seu turbilhão de pensamentos de mim. Sua mão apertou novamente o colar.

—James era quem devia me ter dito isso. Ele devia ter me dito muito antes, antes de nós…. — ela sacudiu a cabeça com força. Abriu os olhos então, os focando em mim. — É verdade que foi culpa dele você ter ficado preso em Seelie?

Foi minha vez de desviar os olhos. Lutei contra as memórias que queriam ressurgir em minha gente.

—Eu devia saber melhor do que confiar em James. — eu notei o olhar feroz em seu rosto então, e me aproximo dela. — Você está bem?

—Eu estou confusa. O James que eu conheço, que eu me apaixonei, não faria algo assim. — ela riu sem humor então. — Acho que eu nunca o conheci muito bem, não é?  Ele mesmo admitiu isso.

Ela foi até a janela, onde tomou uma respiração profunda. Seus braços se enrolaram nela mesma. Eu queria falar algo mais, lhe dar algum conforto, mas eu não sabia como.

—O que vai fazer agora? —eu perguntei, notando que a árvore que ela estava encarando havia começado a perder a vida, ficando cada vez mais acinzentada.

Ela me respondeu quando a árvore virou poeira, a energia sugada a fazendo parecer muito mais descansada.

Ela sorriu sobre o ombro, indo para a porta. A ferocidade ainda estava ali, misturado com determinação.

—Encontrar respostas. — ela disse, abrindo a porta. — Eu sei exatamente onde procurar.

Ela saiu antes que eu pudesse pedir para ela por favor não fazer nada estúpido. Mesmo depois de algum tempo a sensação de que algo iria dar errado não saiu do meu estômago.

Toquei a pedra em meu pescoço, sentindo a vibração de seu poder mais forte.

Problema lhe aguarda.

Só dessa vez torci para a intuição de Isabella estar errada.



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