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História The Avengers: Elemental (Loki Laufeyson) - Capítulo 4 - Amanita


Escrita por: HTomlinson

Notas do Autor


Olá! Como vão? Espero que estejam bem! :D

O alerta de spoiler desse capítulo é de Thor - Mundo Sombrio (filme) e Loki - Onde Mora a Trapaça (livro).

Peço desculpas por todo e qualquer erro do capítulo e desejo uma ótima leitura! <3

Capítulo 5 - Capítulo 4 - Amanita


Fanfic / Fanfiction The Avengers: Elemental (Loki Laufeyson) - Capítulo 4 - Amanita

 

Asgard...

Dias depois...

 

Loki adentrou o grande salão, escoltado por oito guardas, não contabilizando os que estavam estrategicamente distribuídos pelo local. Suas mãos e pés estavam acorrentados e atados. Ridículo. Pensou, sem expressar nenhuma emoção em seu rosto. Manteve-se impassível enquanto caminhava a passos calmos até o trono, onde Odin o aguardava. Antes que pudesse chegar a ele, foi interceptado por Frigga.

 

— Loki — disse ela, parada a sua esquerda. Loki parou seus passos e virou-se parcialmente em sua direção.

 

— Olá, mãe — cumprimento com o início de um pequeno sorriso irônico nos cantos de seus lábios. — Ficou orgulhosa? — Arqueou as sobrancelhas sutilmente e Frigga entrelaçou as próprias mãos, o olhando séria.

 

— Por favor, não piore as coisas.

 

— Defina... "Pior" — rebateu, ainda em tom brando.

 

Já chega! — vociferou Odin, sua voz percorrendo todo o espaço. — Eu falarei com o prisioneiro sozinho. — Loki ergueu os olhos em direção a Odin, ainda recusando-se a demonstrar qualquer emoção ou sentimento. Por sua visão periférica viu sua mãe deixar o ambiente sem mais nenhuma palavra. A cena fez certa raiva ascender dentro de si. Era isso que ele achava que era ser rei? Gritar com sua própria rainha? Loki voltou a caminhar, aproximando-se mais do trono, até que parou. Batendo suas botas juntas, fazendo o som das correntes se evidenciar. Deu uma breve risada irônica em meio a um suspiro.

 

— Não entendo o porquê de toda essa comoção — disse Loki gesticulando com as mãos, indicando ao seu redor, após parar de rir.

 

— Você realmente não tem ciência da gravidade de seus crimes? — questionou Odin e um pequeno sorriso surgiu nos lábios de Loki. — Aonde quer que vá, há guerra, ruína e morte.

 

— Fui a Midgard para governar o povo da Terra como um deus benevolente. — Franziu levemente o cenho e aumento o sorriso irônico. — Como você.

 

— Nós não somos deuses — contrapôs Odin e Loki inclinou levemente a cabeça para o lado. Sua vontade era rir. Rir e dizer: fale por você mesmo. —  Nós nascemos, vivemos e morremos. Assim como os humanos. — O moreno assentiu antes de falar:

 

— Com uns cinco mil anos de vantagem. — Voltou a sorrir.

 

— Tudo isso porque o Loki deseja um trono. — O tom de voz do Pai de Todos não o agradara e ele desfez o sorriso.

 

— É meu direito de nascença! — rebateu, sua voz subindo alguns tons sem que pudesse controlar.

 

— Seu direito de nascença era ter morrido! — Bateu as mãos nos apoios laterais do trono, seu corpo se inclinado levemente para frente. Loki sentiu seu coração se acelerar. Trincou o maxilar e encarou o ancião com seriedade. Não reaja, não dê esse gosto a ele. — Quando ainda era criança. Jogado de uma rocha congelada — Odin continuou a falar e Loki sentiu seus olhos se umedecerem mais do que o aceitável. — Se eu não o tivesse trazido, você não estaria aqui agora para odiar-me...

 

— Se estou aqui para ser executado pelo machado, então, por misericórdia, use-o logo. — Seu tom soou como se ele implorasse. — Não que eu não goste de seus discursos, é que... — Olhou para baixo, teatralmente, fingindo pensar, antes de voltar a olhá-lo com uma expressão entediada. — Eu não gosto.

 

— Frigga é a única razão de você ainda estar vivo, e você nunca mais a verá — disse Odin e Loki entreabriu os lábios, não gostando do rumo de sua fala. — Você passará o resto de seus dias nas masmorras — ele decretou e Loki fechou os punhos com força em resposta, automaticamente sendo puxado para trás pelas correntes que os guardas seguravam. Era ultrajante, eles praticamente o estavam tratando como um animal. Não, pior do que isso. Loki piscou, incrédulo, dando passos para trás antes que se desequilibrasse. Ele não sabia do que seria capaz não fosse as malditas algemas mágicas que minavam sua magia.

 

— E quanto a Thor? Fará daquele energúmeno um rei enquanto eu apodreço acorrentado? — questionou, não conseguindo mascarar sua indignação.

 

— Thor deve empenhar-se para desfazer o dano que você causou. — Loki sentiu as mãos do guarda em seus ombros, puxando-a cada vez mais. A pouca resistência que ele mantinha se dissipou ao ouvir as próximas palavras daquele que um dia chamara de pai. — Ele trará ordem aos nove reinos e então, sim... Ele se tornará rei.

 

••••••

 

Queens, Nova Iorque...

 

Amina sentia que seu coração batia tão rápido que poderia saltar de seu peito a qualquer momento. Ouvindo um farfalhar de folhas e olhou ao redor, tentando captar de onde viera o barulho. Não teve muito sucesso, a luz do luar não estava muito exposta graças as árvores, o que dificultava sua visão. O mesmo barulho soou novamente, dessa vez mais perto e seguido do crocitar de um corvo. A garota respirou fundo e segurou a barra de seu vestido, voltando a correr floresta adentro. Ela podia quase que sentir as presenças, se aproximando, cercando-a. O sentimento era angustiante e desesperador. Era como se ela estivesse tentando fugir de algo que era, além de iminente, inevitável.

 

Seu próprio grito de agonia a despertou de seus pensamentos. Uma dor dilacerante foi rapidamente se espalhando por seu corpo, iniciando-se em sua perna direita. Amina olhou em direção a fonte da dor com os olhos cheios de lágrimas e soltou um gemido de dor e desespero ao ver a armadilha de urso presa a seu tornozelo e panturrilha. Sentiu a fraqueza e tremor se apoderarem de suas pernas e teve de se esforçar muito para se manter em pé, pois sabia que seria pior se mexesse qualquer parte de seu corpo.

 

Tentou enxugar o próprio rosto, mas não adiantou. A dor era tanta que ela não conseguia controlar ou conter as lágrimas. Inclinou-se em direção a infeliz armadilha de ferro e tentou abri-la, soltando outro grito ao sentir suas garras se afundarem ainda mais em sua carne. A essa altura a garota já estava ofegante e sua testa brilhava de suor.

 

— Maldição! — praguejou irada. Ela sempre detestou aquelas coisas, agora ela as odiava. Amina queria amaldiçoar quem quer que tivesse colocado aquilo ali. Se não queriam ursos perto de si, que não se metessem dentro da floresta que era o hábitat deles Era tão difícil assim? Quanto mais ela pensava, mais raiva ela sentia e mais quente seu corpo se tornava. Ouviu passos se aproximando e sua angústia aumentou ainda mais. Antes que pudesse tentar se soltar novamente, sentiu-se ser pega pelo seu tronco e começar a ser puxada e arrastada floresta adentro. A garota já não possuía mais forças para gritar e tão pouco reagir. A cada puxão ela sentia como se estivesse saindo do próprio corpo de tão entorpecida que a dor estava lhe deixando. Parou abruptamente, seu corpo caindo deitado no chão entre as folhas caídas das árvores. Ouviu o que parecia ser uma luta, mas não se sentia apta a tentar buscar com o olhar a origem dos sons. Sentiu a consciência lentamente deixar seu corpo, tendo apenas tempo de ouvir alguém lhe dizer: eu vou cuidar de você...

 

Amina abriu os olhos e respirou fundo, tentando acalmar seus batimentos cardíacos. Sentou-se na cama, afastando o cobertor para longe de seu corpo e passou as mãos no rosto. Ela estava encharcada de suor. Desceu da cama e caminhou cegamente para fora de seu quarto, em direção ao banheiro. Acendeu a luz e abriu a torneira, jogando água no próprio rosto. Sentia seu corpo quente e trêmulo. Olhou o próprio reflexo no espelho e suspirou ao ver seus olhos levemente arregalados e as maçãs de seu rosto com um tom de marrom avermelhado, assim como sua testa. Olhou para a perna direita coberta pela calça de seu pijama e suspirou novamente. Parecia tão real.

 

Saiu do banheiro e sentou-se no sofá, ligando a TV. Não prestou muita atenção no que passava, era de madrugada então era provavelmente algum filme antigo. Ouviu o ronronar de Mamba e inclinou o corpo para frente, abaixando-se, vendo-a parada embaixo da mesinha de centro.

 

— Vem cá — chamou, pegando-a no colo e deitando-se com ela. Assim que sua cabeça encostou na almofada, um cheiro repleto de frescor, uma mistura de terra úmida, menta e água fresca, adentrou suas narinas, fazendo com que ela imediatamente se lembrasse da origem do cheiro. Ou melhor, do dono dele.

 

Fazia alguns dias, três para melhor exatidão, que Loki havia partido. Bem, que havia sido levado. Eles não haviam trocado mais nenhuma palavra após ela dizer aos vingadores que o levassem embora, mas sua expressão facial deixava claro que ele não estava nada feliz com a decisão que ela tomara. Mas não tinha muito o que ela pudesse fazer, não é mesmo? Ele era um criminoso e mentiroso, tudo só foi se comprovando ainda mais quando ela teve de seguir com os vingadores...

 

Três dias atrás...

 

— Bem... Com tudo o que vimos aqui, receio que você terá que nos acompanhar também, senhorita... — O Capitão olhou em sua direção, em dúvida e expectativa. Amina encarou Loki desconfiada por mais alguns segundos antes de responder:

 

Oyénusi. — Voltou-se para Steve. — O meu sobrenome é Oyénusi. Mas pode me chamar apenas de Amina. — Deu um longo suspiro e cruzou os braços. — Para onde exatamente nós temos que ir?

 

Minutos depois todos estavam dentro do quinjet a caminho de Deus sabe-se lá onde. Natasha e Clint pilotavam, já Rogers, Loki e Thor estavam sentados à frente de Amina, todos os três a encarando. O primeiro era mais discreto e não esboçava quase nenhuma reação, já os asgardianos lhe olhavam com curiosidade e desconfiança e indiferença. Não era preciso dar nomes para saber quem estava olhando-a com cada sentimento. Por mais que Loki estivesse olhando diretamente para ela, ele a ignorava completamente. E por mais que Amina tentasse fazê-lo reagir ou responder seus pensamentos, ele permanecia impassível como se olhasse através dela e não para ela. Era frustrante.

 

— Então...Amina Oyénusi — disse Stark sentando-se ao seu lado e chamando sua atenção para si. — Qual é a sua?

 

Desculpe? — Virou-se para ele em dúvida.

 

— Está desculpada. — Tony sorriu e Amina ouviu Rogers soltar um suspiro. — Você é o que? Alienígena? Deusa perdida de algum outro reino, planeta ou sei lá o que? Bruxa? — A garota franziu o cenho automaticamente com a última menção e lançou um olhar rápido para Loki, esse por sua vez pareceu ter realmente olhado para ela por breves segundos, mas essa impressão logo passou e ele voltou para a indiferença. — De onde você é? Como e onde conheceu Loki? E qual a relação de vocês? — continuou o interrogatório e Amina piscou, confusa.

 

— Eu moro no Queens — respondeu e foi a vez de Tony suspirar. Ela não entendeu minha pergunta ou está se fazendo de sonsa. Visto que é chegada no irmão maluco do Thor, chuto a segunda opção. Pensou Stark e Amina estreitou os olhos, mas não disse nada. Algo dentro de si dizia que era melhor guardar para si mesma que conseguia ler pensamentos.

 

— Eu sou do Broklyn — comentou o capitão com casualidade. Amina deu um sorrisinho e assentiu. Ela só queria ir para seu apartamento, mas não conseguia ver como se livraria dessa situação. — Eu me voluntariei para uma experiência que tinha como foco criar super soldados.

 

— Ouvi falar. — Assentiu novamente.

 

— Foi assim que eu adquiri minhas... Habilidades — continuou a explicar e Amina conteve um suspiro. Por que ele não vai direto ao ponto? Loki por sua vez teria rido se não estivesse com raiva da garota e com um dispositivo em sua boca que o impedia de falar ou emitir qualquer outro sentimento parecido. — E você, como conseguiu as suas? — aí está.

 

Olha, eu não faço ideia. Se vocês tiverem como descobrir, por favor me contem. Foi o que ela teve vontade de dizer, mas ao invés disso:

 

— Eu sofro de amnésia, não me lembro de nada além dos últimos três anos. — Tony e Rogers trocaram olhares perante sua resposta. Os pensamentos de Tony deixavam claro que ele não acreditava muito nela, já Steve ficara intrigado. — Então nossa conversa vai ser bem infrutífera se o intuito dela é descobrir mais coisas sobre mim, visto que nem mesmo eu sei.

 

— Então você não sabe o que e quem é e nem de onde veio?

 

— Até onde eu sei...  Eu sou humana e daqui de Nova Iorque mesmo. — Deu de ombros e Tony deu risada, mas sem realmente achar muita graça.

 

— Não é muito comum os nova-iorquinos soltarem fogo ou raios pelas mãos, mas tudo bem. — Balançou a mão displicentemente. — Vamos então voltar às perguntas mais importantes: como e onde você conheceu Loki e qual a sua relação com ele?

 

— O conheci durante o ataque. Eu trabalho na biblioteca de Manhattan e, como vocês devem ter ouvido falar, ela foi quase completamente destruída. Eu estava lá quando aconteceu. E você também, parando para pensar. — Apontou para Tony que franziu o cenho. — Enfim...  Segui seu conselho e saí de lá para encontrar um local seguro, que no caso costumava ser o meu apartamento. No meio do caminho eu, bem, ele bateu no meu carro e eu o ajudei, afinal, estávamos em meio a um ataque alienígena. Que tipo de pessoa eu seria se negasse ajuda?

 

Sensata? — disse Stark de forma retórica. — Quem ajudaria a pessoa que causou o caos a se safar?

 

— É que está, eu obviamente não sabia que tinha sido ele — rebateu e revirou os olhos. — De qualquer modo, com o passar dos dias nós estávamos nos tornando amigos. Ou foi o que eu pensei — murmurou e olhou para Loki novamente. Ele como o esperado permaneceu em silêncio, mentalmente e indiferente. Babaca. Pensou ela e voltou a atenção a Tony, o que a impediu de captar o olhar ferino que Loki lhe lançou diante da ofensa. — Mais alguma pergunta?

 

— Como é possível você não saber que ele era o culpado? Ou pelo menos saber que boa pessoa ele não é? Ele apareceu nos jornais — comentou Tony.

 

— Eu não sou muito ligada em notícias, para ser sincera. — Ela não mentira. Mas fizera questão de omitir o fato de que as aulas que estivera tendo com o trapaceiro havia feito ela ficar ainda mais dispersa em relação ao resto do mundo. Sua TV só foi ligada para assistirem filme e ela nunca foi muito fã de tecnologia. — Mais alguma pergunta? — repetiu o questionamento, torcendo para que dessa vez respondessem que não.

 

— Eu tenho uma, lady Amina. — Thor ergueu a mão, finalmente se pronunciando. Lady? Amina franziu o cenho, mas não comentou nada. Era a segunda vez que era chamada daquela forma em um único mês e a estranheza do termo não diminuía, muito pelo contrário. — Como fez aquilo?

 

— Defina, exatamente, o que seria "aquilo", por favor.

 

— Você sabe o que. — Movimentou as mãos no ar. — Raios e trovões e tudo mais. Acredito que você entenda o meu questionamento...

 

Deus do trovão. Sim, compreendo. — Assentiu e Thor sorriu. Apesar da aparência mais bruta e até rústica, ele era mais simpático do que o irmão mais novo, que tinha a aparência de um anjo, mas o temperamento e senso de humor de um demônio. Talvez Lúcifer fosse um nome mais adequado para ele. Loki dessa vez teve de se esforçar para não esboçar nenhuma reação diante dos pensamentos dela. — Aquilo também é novidade para mim. — Deu de ombros. — Posso ir para casa agora? — Tony olhou para Thor e Steve como se perguntasse o que eles achavam. Eles rapidamente e silenciosamente entraram em um consenso:

 

— Ainda não. — Foi o Capitão quem respondeu e Amina respirou fundo. Na altura em que estavam não tinha nem como ela tentar fugir, então ela não tinha muita escolha. — Você não parece estar sendo muito honesta conosco...

 

— E visto que há minutos você estava defendendo um mentiroso compulsivo, isso é muito suspeito — completou Tony. Amina olhou para os irmãos a sua frente.

 

— O que você acha? — ela perguntou para Thor que não havia se expressado ainda na esperança de ele estar do lado dela. Ele revezou olhares entre o próprio irmão e a mulher a sua frente.

 

— Não creio que ele tenha manipulado ela, não completamente — respondeu dirigindo-se a Tony e Steve. — No entanto...

 

— Podemos fazer ela passar por um detector de mentiras — disse Natasha da parte frontal da nave, em seu assento de piloto ao lado de Clint. Por um instante Amina quase se esquecera da presença deles, ambos estavam tão quietos. — Não funcionaria nele, mas nela sim.

 

— Eu não estou mentindo, mas vamos rebobinar um pouco a fita. — Franziu o cenho e se levantou. — Quem são vocês e que tipo de jurisdição legal possuem para primeiro, não me deixar ir embora, segundo, me encher de perguntas e terceiro, me obrigar a passar por um detector de mentiras? — questionou e todos se entreolharam, inclusive Romanoff e Barton.

 

— Nós somos os vingadores — respondeu Tony.

 

— E alguém aqui por acaso é da polícia? — perguntou e todos permaneceram em silêncio. — Foi o que eu pensei. Então a menos que queiram que eu abra uma queixa ou processo contra vocês, vocês vão me deixar ir embora. Eu posso sofrer de amnésia, mas conheço muito bem os meus direitos. O principal deles é o de ir e vir.

 

Ok. Vamos deixá-la ir embora. — Tony assentiu. — Precisamos levar nossa "encomenda" ao seu destino primeiro e então te deixamos em casa. A menos que queira saltar aqui e agora, de paraquedas. Ou sem ele. A escolha é sua. — Tanto Amina quanto Loki estreitaram os olhos em direção a Tony. Ela não disse mais nada e voltou a sentar-se em seu lugar. Passou o resto da viagem em silêncio, enquanto os três homens ao seu redor conversavam entre si, ela se concentrou em investigar mais sobre cada um deles através de suas mentes, o que fez com que ela descobrisse o que o Loki dissera que era verdade e o que era mentira. Rei por direito? Verdade. De Asgard? Nem tanto.

 

Dia atual...

 

— Vamos fazer um lanchinho, Mamba? — perguntou enquanto se levantava do sofá. — Sermos enganadas pelo deus da mentira pede por uma madrugada regada a guloseimas.

 

••••••

 

Masmorras, Asgard...

 

Loki estava começando a pensar que talvez fosse melhor que tivesse sido executado.

 

Em apenas uma semana de cárcere ele já estava morrendo de tédio e sentia-se cada vez mais ultrajado. Ao chegar a segunda semana ele estava à beira de um colapso. Sua cela era pequena demais e sua privacidade era praticamente nula, visto que duas das quatro paredes eram de energia e não de concreto. Ele sentia-se constantemente observado e vigiado, tanto pelos prisioneiros das outras celas quanto pelos guardas que eventualmente desciam até ali. A pior parte era o olhar de escárnio de alguns dos presos, pois muitos deles ele mesmo havia ajudado a colocar ali e agora ele se encontrava na mesma posição que eles. Era vergonhoso. E absurdo. Mesmo que ele estivesse ali embaixo com eles, ele jamais seria como eles. Melhor dizendo, eles jamais seriam como ele. Ele era superior em tantos aspectos que nem mesmo em seu pior momento seria plausível a comparação. Ele era um príncipe, um rei. Um deus.

 

Fechou o livro que tinha em mãos e levantou-se da cadeira, encaminhando-se para a cama. Era essa a sua rotina, da cama para a cadeira, da cadeira para a cama e vez ou outra sentava-se no chão, apenas para variar. Suas refeições eram, obviamente, servidas ali e ali ele tinha de comer, sozinho. Odin sabia exatamente como puni-lo. Mesmo que tivesse passado sua vida sendo recluso, no começo por imposição e depois por escolha, a sensação de solidão nunca seria algo ao qual ele se habituaria. Do contrário do que sua máscara demonstrava, Loki era muito sociável. Ele sempre gostara de falar, o problema era que poucos estavam dispostos a ouvi-lo e isso, com o tempo, fez com que ele simplesmente desistisse de tentar. Seus interesses e assuntos não eram os mesmos dos outros.

 

Quem escolheria ele, tendo o poderoso príncipe Thor como opção? Thor era forte, altivo, informal, um pouco sem juízo e o deus do trovão, portador do Mjölnir. Não bastasse isso, era só olharem para seus cabelos e pele dourados e beijados pelo sol, seus olhos azuis de cachorrinho e seu sorriso irritantemente idiota que estava feita a escolha. Ele não tinha chances.

 

Loki era apenas Loki. O deus da mentira e da trapaça. O feiticeiro, o não confiável. Sempre metido com a cara entre os livros, nunca aclamado como o campeão de batalhas. E não era por falta de potencial. Ele podia não ser tão forte e musculoso como Thor, mas o que lhe faltava em força bruta ele compensava em conhecimento, astúcia, estratégia. E magia. Mas isso, é claro, não era muito valorizado graças ao Pai de Todos. Era irônico Odin não incentivar e não gostar de magia, mas ter se casado com uma bruxa. E para seu desespero o seu filho caçula também tinha esse dom. Não fosse sua descoberta de ser um gigante de gelo, Loki diria que Odin não gostava dele puramente por aversão a magia, que era basicamente tudo aquilo que o representava. Ele preferia mil vezes a alcunha de feiticeiro à de mentiroso. Ele não era mentiroso.

 

Ou ao menos não costumava ser.

 

Ele não saberia dizer em que momento aquilo acontecera, a aquisição daquele título. Em sua infância ele gostava de pregar peças, isso ele não poderia negar e por isso ser chamado de trapaceiro era viável, em sua maioria com Thor e com os servos. Mas isso era apenas o seu jeito de, de alguma forma, ser, por breves momentos, o centro das atenções. Ele não fazia por maldade e, de fato, as peças que ele pregava eram inofensivas. Trocar o vinho por vinagre de maçã, transformar-se em insetos e animais para assustar as criadas, esconder objetos e pertences alheios apenas para vê-los procurarem incessantemente. Talvez uma de suas brincadeiras menos inofensivas tenha sido da vez em que se transformou em cobra e então, após voltar a sua forma real, esfaqueou Thor.

 

Mas não é como ele não fosse se recuperar rapidamente e no mesmo dia. Além do mais, Loki fizera aquilo como uma forma de passar uma lição ao irmão mais velho, ele estava cansado de Thor sempre zombar e provocar dizendo como Loki não conseguia vencê-lo em uma luta. Ele realmente não conseguia, pois, como já dito, força bruta não era a sua especialidade. Porém, Thor jamais aceitara um duelo de espadas com ele, pois essa sim era a sua especialidade e ele bem sabia disso e não estava disposto a perder. Então na primeira oportunidade que teve, Loki não pensou duas vezes antes de cravar sua adaga no próprio irmão. O arrependimento só viera quando Frigga descobrira e o colocara de castigo. O castigo nem era a pior parte, o que Loki detestava era decepcionar a própria mãe. Ele já se sentia como uma grande decepção para Odin e todo o reino, e aquilo para ele era até tolerável. Mas com Frigga não, ser uma decepção para ela seria simplesmente inaceitável.

 

Ele amava sua mãe mais do que amava a si mesmo ou a qualquer outra coisa ou ser vivo. Ela era a melhor pessoa que conhecia, sempre bondosa, carinhosa, alegre, compreensiva. Uma das poucas pessoas que realmente o compreendia e gostava de si. Loki diria que a única, mas isso não seria justo com Amora, não era porque seus caminhos haviam se desviado que seu carinho um pelo outro havia desaparecido, ela era uma boa amiga.

 

E teria sido até mais do que isso, mas aparentemente não era para ser.

 

O pensamento estranhamente o fizera se recordar de Theo Bell, com suas adoráveis sardas e lábios macios. Ele também era uma boa pessoa. Meio irritante às vezes, mas uma boa pessoa. Talvez fosse uma característica de midgardianos, serem irritantes. Lembrou-se então de Amina. Curioso. Pensou passando o dedo indicador pela própria boca. Como sua mente fizera essa rápida viagem entre figuras? O que Amora, Theo e Amina tinham em comum? Eles eram de épocas diferentes e lugares diferentes. Mas algo fazia sua mente juntá-los em uma mesma categoria. Por quê?

 

Theo e, aparentemente, Amina eram de Midgard, mas Amora era de Nornheim. Amora e, aparentemente, Amina eram ambas bruxas e tinha a mesma inicial e quantidade de letras em seus nomes, mas Theo não. Seria algo na aparência? Perguntou a si mesmo. Amora tinha longos cabelos loiros como ouro, lisos, com algumas ondas e olhos verdes e selvagens, sua pele era pálida como o luar. Theo tinha cabelos ruivos, laranja como a própria fruta ou até mesmo mais, como brasas, em um curto e verdadeiro emaranhado de cachos rebeldes e olhos castanhos que transmitiam calmaria, mas ao mesmo tempo curiosidade e avidez, sua pele era de um curioso tom rosado, como se estivesse continuamente corado. Já Amina tinha cabelos pretos como uma noite estrelada, dependendo da perspectiva do olhar era possível ver o reflexo da luz neles, como se fossem estrelas, tinha um tamanho mediano, não passava muito além de seus ombros e caiam em volumosos cachos, seus olhos eram, assim como de Theo, castanhos, mas mais escuros e ardentes como o sol, como se tivessem a mesma capacidade que ele de queimar, assim como sua pele em um marrom quente que parecia tanto atrair como repelir sua própria pele fria.

 

Não, definitivamente não é a aparência. Os três eram inegavelmente atraentes, mas nada parecidos.

 

Loki os colocaria lado a lado para compará-los se pudesse, mas infelizmente isso não era possível. Não tinha ideia do paradeiro de Amora e tampouco se lembrava da última vez que a vira, Theo há muito falecera e Amina provavelmente não queria vê-lo nem mesmo pintado de ouro. Bufou com o próprio pensamento e abriu o livro novamente. Era melhor que lesse, não tinha por que ficar pensando em nenhum dos três. Ele muito provavelmente nunca mais veria nenhum deles. Ou assim ele pensava.

 

•••••

 

 

Queens, Nova Iorque....

 

Amina respirou fundo enquanto olhava fixamente para frente, mas sem realmente enxergar algo. A sirene estridente do caminhão de bombeiros ainda soava, mas para seus ouvidos pareciam um som distante, abafado. Ela estava em choque, quase em estado catatônico. Eu fiz isso. Pensou e sentiu uma lágrima solitária e silenciosa escorrer de seu olho direito. Viu por sua visão periférica um dos bombeiros se aproximar, mas não ergueu o olhar de imediato, continuou olhando para o asfalto sob seus pés.

 

— Senhorita? — ele a chamou e ela, com muito esforço, ergueu o olhar até ele. — Você está bem?

 

— Alguém se feriu? — murmurou e institivamente apertou o abraço ao redor de Mamba que, por ainda estar assustada, se encontrava quieta e encolhida em seu colo.

 

— Não, estão todos bem — a tranquilizou e ela automaticamente suspirou em alívio. Ela não se perdoaria se alguém tivesse se ferido. Ou morrido. Um arrepiou percorreu sua espinha com a possibilidade. — Receio não poder dizer o mesmo sobre o seu apartamento. O que as chamas não conseguiram consumir, infelizmente a água provavelmente danificou — disse com pesar e ela se limitou a assentir. Não estava com estabilidade mental ou emocional o suficiente para pensar em perdas e danos materiais. Seu maior e mais precioso bem, estava deitado em seus braços. — Foi muita sorte, praticamente um milagre, a senhorita estar bem e viva. Mas ainda bem que está. — Sua voz transparecia tanta sinceridade e alívio que Amina conseguiu esboçar ao menos um sorriso, mesmo que relativamente triste. Seria sorte mesmo? Talvez tivesse sido melhor se ela simplesmente tivesse... — A senhorita tem algum lugar em que possa ficar? Alguém para quem eu possa ligar? — A voz do homem interrompeu seus pensamentos sombrios e ela entreabriu os lábios, sem saber muito bem o que responder. Não que tivesse muito o que pensar, ela não tinha realmente alguém. Por mais extrema que fosse a situação, de jeito nenhum ela ligaria para sua chefe àquela hora da noite. Provavelmente teria de passar a noite em um hotel e depois se preocuparia com todo o prejuízo.

 

— Eu...

 

— Amina. — Ouviu seu nome e ao seguir o som da voz, surpreendeu-se ao dar de cara com Steve Rogers. O bombeiro automaticamente ajeitou a própria postura. — Eu cuido dela... — Parou brevemente e leu o nome em seu uniforme. — Tate.

 

— Pode me chamar apenas de Ryan, Capitão Rogers. — Pigarreou. — É uma honra conhecê-lo. — Ambos trocaram mais algumas palavras, mas em algum momento o cérebro da garota simplesmente se desligou dos dois homens parados em pé a sua frente e voltou ao seu estado catatônico. Até Steve sentar-se ao seu lado após colocar a própria jaqueta em seus ombros.

 

— Olá, Capitão — murmurou, olhando para os próprios pés. — Eu devo perguntar como?

 

— Stark — disse e passou a mão pela nuca, ao que ela ergueu os olhos em sua direção.  — Ele colocou algumas de suas tralhas tecnológicas em seu apartamento quando te deixamos aqui dias atrás. Não me orgulho disso, mas serviu para algo. Eu estava mais perto, então vim assim que ele me avisou.

 

— Bem que nos últimos dias eu me sentia...  Observada. Da próxima vez seguirei meus instintos e sexto sentido.  — Steve deu um sorriso com o comentário, mas em seguida franziu o cenho.

 

— Quer conversar sobre o que houve?

 

— Se você não se importa, sinceramente, não. — Ele apenas assentiu com a resposta dela e se levantou, lhe estendendo a mão. Ela revezou um olhar desconfiado entre sua mão e seu rosto, mas por fim aceitou.

 

— Vem, vou tirar você daqui antes que fique doente. Sua roupa não está muito apropriada para a temperatura. — Indicou com a cabeça o pijama que ela usava, uma calça de moletom e uma camiseta de algodão. Estava tão entorpecida que nem sentiria frio até esse comentário vindo dele.

 

— Obrigada pela jaqueta, a propósito. — Lembrou-se de agradecer enquanto ajeitava a mesma em seus ombros. — Para onde você vai me levar?

 

— Temos duas opções, o meu apartamento ou o Tony pode... — Ela automaticamente fez careta com a menção do nome e Steve deu uma risadinha. — Meu apartamento, então.

 

Após pegar alguns poucos itens sobreviventes de dentro de seu apartamento e uma viagem curta e silenciosa de taxi, chegaram rapidamente à residência dele. Por fora o prédio lembrava bastante seu próprio prédio e isso de certa forma a confortou. O seguiu escada acima e então porta adentro. Parou meio deslocada ainda perto da porta o observando acender as luzes e colocar sua bolsa sob o sofá.

 

— Por que você não toma um banho? Enquanto isso eu te preparo um chá, café ou chocolate quente. — Amina assentiu e lentamente colocou Mamba ao lado de sua bolsa no sofá, pegou uma das três mudas de roupa que conseguira levar e encaminhou-se para o banheiro. Embaixo da água permitiu-se finalmente desabar em lágrimas ao ser atingida pelos últimos acontecimentos.

 

A vida de Amina havia, oficialmente, se tornando um pesadelo lúcido nos últimos dias. A piora havia sido gradativa, mas seu estado de negação fez com que ela só notasse quando já não tinha mais nenhum controle sob a situação ou um meio de tentar contornar, controlar ou remediar. Primeiro foram seus pesadelos, que ficavam a cada noite mais realistas e longos, tendo vezes em que ela até mesmo precisava lutar para acordar como se caso não o fizesse ficaria presa dentro deles. E então começaram as sutis manifestações como mudanças de temperatura repentinas e objetos movendo-se sozinhos, em uma única semana ela precisara chamar um encanador duas vezes, primeiro pela torneira da cozinha e depois pela do banheiro, pois ela havia conseguido estourar ambas sem nem mesmo tocá-las. Ela tentou pensar que era só azar, mas ela sabia que era algo mais, assim como quando todas as suas janelas se quebraram meses atrás. Mesmo com tudo isso, Amina seguiu ignorando os indícios e prelúdios da catástrofe. Afinal, era só uma mudança de temperatura e algumas coisas quebrando dentro de casa, o que mais isso poderia ser senão azar?

 

Até que essa noite chegou. Fazia duas semanas que ela havia passado na biblioteca para pegar algumas coisas para que pudesse adiantar seu trabalho de casa enquanto não podia retornar ao modo presencial, então seu dia estava sendo preenchido, finalmente, com algo útil. Ao cair da noite, ela estava tão cansada que não tardara para dormir. Saiu do banheiro dentro de seu pijama e deitou-se em sua cama. A sensação que tivera foi a de fechar os olhos e então abri-los logo em seguida. Não era nada agradável e ela cogitou voltar a dormir até perceber que ela não tinha acordado, não de seu sonho pelo menos.

 

Olhou ao redor e franziu o cenho, confusa. Estava na floresta, mais uma vez. Não saberia dizer se era a mesma das últimas vezes ou se aquele sonho era uma continuação de algum outro que tivera. Moveu-se tentando andar e então notou que estava amarrada a uma árvore, seus pés estavam amarrados um ao outro e seus braços também, mas para trás de seu corpo. Uma grossa corda estava enrolada ao redor de seu tronco, mantendo-a encostada e presa a árvore. Sentiu seu coração acelerar e um sentimento ruim apoderar de si, algo entre desespero e medo. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas com certeza não era algo bom. Ninguém a amarraria a uma árvore com boas intenções. Sentiu a própria boca seca e se deu conta que tinha uma mordaça entre seus lábios. Nada bom.

 

Remexeu-se para tentar afrouxar os nós, mas não estava obtendo nenhum resultado além da corda rustica causar arranhões por seu corpo onde quer que roçasse. A pele de seus tornozelos e pulsos já ardiam pelo excesso de fricção. Ouviu então um farfalhar de folhas e ergueu o olhar tentando ver de onde vinha. Sua posição fixa a impedia de ver que o barulho vinha de algum lugar atrás de si, mas não demorou muito para que a figura aparecesse a sua frente. Era um homem caucasiano alto, de feições brutas, mas não chegava a ser feio. Seu cabelo era castanho escuro, quase chocolate, e batia em seu queixo. Mesmo com a extensa cicatriz que ia desde a sua têmpora esquerda, passando por sua sobrancelha e face, até seu queixo. Seu olho esquerdo era cego, tinha uma tonalidade esbranquiçada. Ela não se sentira intimidada por sua aparência, como se já estivesse acostumada com ela. Ele se aproximou dela e deu um sorriso maldoso e malicioso ao captar seu olhar sobre si.

 

— Eu espero que você saiba que não é nada pessoal, Mina. — Sua voz era grave e combinava perfeitamente com sua aparência. Seu tom era de deboche. E ela sentiu a si mesma resmungar algo incompreensível pelo pano em sua boca, mas não soube o que era. O sentimento que tomara conta de si era raiva, então provavelmente não era algo agradável o que ela tentava dizer a ele. — O que disse? Ah, sim. Perdoe-me, eu me esqueci disto — disse com falso pesar e abaixou o tecido de sua boca. Amina umedeceu os próprios lábios e antes que notasse, havia cuspido no homem a sua frente. A reação automática dele foi xingá-la e desferir um tapa forte em seu rosto, logo em seguida limpando o próprio rosto na manga da camisa que vestia. O tapa fora forte o suficiente para sua cabeça virar para o lado e um gosto metálico surgir em sua boca. Amina passou a língua no canto de sua boca, limpando o sangue que surgira ali e sorriu, observando a raiva do homem a sua frente. — Você está sorrindo? Vamos ver até quando esse seu sorriso vai durar, bruxa.

 

— Eu não tenho medo de você e tampouco ser chamada de bruxa me ofende. Sei o que sou e me orgulho disso. Mas tenho certeza de que você não pode dizer o mesmo — rebateu num tom calmo e isso pareceu ter aumentado a raiva dele, o que a divertiu de certa forma. — De fato, é você quem deveria ter medo de mim.

 

— Ah, é mesmo? — Arqueou as sobrancelhas e ela suspirou antes de responder:

 

— Sim, pois você vai morrer por isso. — Apesar do tom calmo de sua voz, a ira e ódio eram mais do que nítidos. O homem deu um passo para trás inconscientemente ao ver seus olhos brilharem e um trovão soar no céu, sendo seguido de um relâmpago. Ela sorriu com sua reação. — E sabe qual é a melhor parte? É que sou eu quem vai ter o prazer de te matar.

 

— Damien, já lhe disse para não falar com ela. As palavras de uma bruxa são venenosas e perigosas. Principalmente as dela. — O sorriso de Amina aumentou e ela lançou um olhar de relance ao outro homem que se juntara a eles. Ele era mais velho do que o outro e tinham certas semelhanças como o formato do nariz e os olhos verdes. Conrad.

 

— Desculpe-me, pai — ele respondeu, encolhendo-se e voltando a colocar a mordaça na garota. Era evidente quem era o alfa ali. Eu com certeza vou adorar ver vocês dois morrerem. Pensou voltando a olhá-lo. — Sai da minha cabeça, criatura diabólica!

 

— Já chega! — brandiu o pai. — Vá buscar os outros, quero acabar logo com isso. — Seu filho rapidamente obedeceu, afastando-se e os deixando a sós. — Esses são os seus últimos momentos de vida e você os desperdiça tentando enfeitiçar meu outro filho? É essa então a sua real natureza? — É tão difícil assim para você crer que eu não fiz absolutamente nenhum tipo de feitiço para seu filho gostar de mim? Não é esse o tipo de magia que eu pratico. Foi o que ela respondeu por pensamentos, por não poder falar. Ele não respondeu nada, apenas retirou de seu bolso a tiara que ela costumava usar. Amina estreitou os olhos em sua direção. — Tem algum comentário para fazer sobre ela? Ou como a conseguiu? — Foi a vez dela de ficar em silêncio. Como guardiã ela sentia as intenções de cada ser vivo em relação a pedra, caso as intenções não fossem boas, algo dentro de si a impedia de dizer qualquer coisa por questão de segurança. Ela não conseguiria dizer nada nem se quisesse.

 

Alguns minutos se passaram até que um grupo de seis homens se juntasse a eles, incluindo Darien. Ela sentiu um aperto no coração ao vê-lo ser arrastado e empurrado pelo próprio irmão com as mãos amarradas, seus cabelos pretos caindo sob seus olhos verdes e ele sentira o mesmo ao vê-la amarrada a árvore com a barra de seu vestido suja e os pés descalços. Me desculpe, Mina. Por favor, me perdoe, meu amor. Ele implorava em pensamentos e ela sentiu os próprios olhos se encherem de lágrimas, mas esforçou-se ao máximo para não as deixar cair. Está tudo bem. A culpa não é sua. Tentou reconfortá-lo, mas ele, diferente dela, não conseguira controlar as próprias lágrimas e deixara algumas escorrerem por seu rosto.

 

— Amanita Oyénusi, você foi acusada de bruxaria e condenada a execução. Quais serão suas últimas palavras? — Conrad perguntou e indicou para que um dos homens retirassem a mordaça dela. Amina olhou para Darien e suspirou.

 

— Eu quero que saiba que eu te amo, não te culpo e peço desculpas pela maneira como tudo isso vai terminar essa noite — murmurou ainda olhando para ele e sentiu uma lágrima escapar. Piscou os olhos rapidamente e desviou o olhar para Conrad. — Você vai se arrepender disso, guarde minhas palavras, pois elas serão uma das últimas coisas que você ouvirá — disse e sorriu. Conrad olhou para Damien e assentiu. Seu filho mais velho pegou a tocha que estava ficada no chão e se aproximou de Amina.

 

— Eu faço questão de te deixar sem a mordaça, quero ter o prazer de ouvi-la gritar agonizando em dor enquanto queima em seu caminho para o inferno, concubina de satã — ele disse em um tom baixo para que só ela pudesse ouvir e Amina não pôde se controlar, soltando uma breve risada. Ele era patético. Chega a dar pena. Pensou consigo mesma e o observou levar a tocha até o monte de folhas secas abaixo de seus pés. Levou menos de um minuto para que o fogo se espalhasse. Fuja daqui. Disse ela a Darien antes de sentir as chamas encontrarem o próprio corpo.  Um grito estridente rompeu de sua garganta e Damien levou as próprias mãos as orelhas e se afastou dela. Quanto mais as chamas subiam por seu corpo e entravam em contato com sua pele, mais ela gritava. Seu grito era extremamente alto e forte e chegava a causar dor aos ouvidos de quem os ouvia. Uma forte ventania começara, seguida de relâmpagos e raios cortando o céu.

 

— Protejam-se todos! — A voz de Conrad soara quase inaudível perante o som dos gritos da garota e os trovões que soavam no céu acima de suas cabeças. O homem dera um passo em falso para trás, caindo no chão ao quase ser atingido por um raio. Ele arregalou os olhos a ver um de seus amigos de longa data ser atingido por um raio e começar a pegar fogo. Jesus Cristo. Pensou e olhou a sua volta em busca de seus filhos, avistara apenas Damien, Darien havia desaparecido. Seu filho mais velho aproximou-se e lhe ofereceu a mão, ajudando-o a se levantar. O mais alto dos trovões foi ouvido e eles observaram pasmos um raio acertar a árvore que Amina estava amarrada, fazendo-a partir ao meio. E aquilo era o menos pavoroso.

 

O mais assustador era que a garota parara de gritar e os encarava com um sorriso nos lábios. Com o seu corpo ainda em chamas. Ela soltou-se da árvore ao que a corda que a prendia terminara de queimar e sorriu ainda mais ao vê-los de olhos arregalados, a encarando sem conseguir se mover. Os olhos dela se iluminaram como relâmpagos e ela ergueu as mãos para o céu, sendo atingida por raios em ambas as mãos. A essa altura, quem ainda não havia sido atingido a olhava estagnado em pavor. Amina abriu as mãos e foi como se isso lhe desse impulso ou a puxasse para cima, fazendo com que seu corpo se erguesse do chão e ficasse suspenso no ar, como se voasse. Ela estava flutuando. 

 

— Eu disse que vocês iriam morrer e se arrepender por isso — disse, sua voz soando alta e clara, como se tivesse a mesma força da tempestade que ela causava no céu. Com um último olhar ela abaixou as mãos, cedendo o corpo e atingindo o chão com as palmas abertas sob a grama, trazendo todos os raios com o movimento e lançando-os por todo o solo. Eles se espalharam e irradiaram, atingindo as árvores e todos os homens ali presentes.

 

E então tudo ficou momentaneamente quieto. Os trovões haviam cessado, e as chamas em seu corpo haviam se apagado. Os corpos no chão se encontravam carbonizados e sem vida. Amina levantou-se e caminhou até onde ela lembrava de ter visto Conrad por último. Esticou a mão até o chão, encontrando sua pedra solta de sua coroa que havia se estilhaçado. A garota soltou um suspiro e passou os dedos pelo objeto, tentando tirar a fuligem. Ergueu o olhar ao ouvir um gemido baixo e abafado e olhou a sua volta, confusa. É impossível que algum deles tenha sobrevivido. Pensou. E ela estava certa. Outro pensamento então lhe ocorreu:

 

Darien.

 

— Darien?! — gritou seu nome, correndo em direção de onde ele havia partido quando ela pedira. Não precisou correr por muito tempo para encontrá-lo caído no chão, encostado a uma árvore e com um galho imenso lhe atravessando o peito. — Não, não, não, não, não... — murmurou ajoelhando-se ao seu lado, já sentindo lágrimas escorrerem de seus olhos. Desamarrou suas mãos e o puxou para seus braços. — A-aguente firme, eu vou resolver isso. Mantenha-se acordado, p-por favor. — As palavras saíram de forma tremula de seus lábios enquanto abria a própria mão, revelando sua pedra.

 

— A-ami... — Sua fala fora interrompida por tosses e sangue surgiu de sua boca, aumentando o desespero dela.

 

— Shh, fique quieto, por favor. Eu vou fazer a dor passar. — Fechou os olhos, colocando as mãos em seu ferimento.

 

— Amina. — Conseguiu chamá-la, colocando as mãos sob a dela. — Está...  Está tudo bem...  Não está doen-ndo — murmurou e ela mesma soltou um gemido de dor, balançando a cabeça negativamente.

 

— Não, não. Isso é tudo culpa minha — disse em meio ao choro e sentiu-o passar a mão por seu rosto, em uma carícia. — Darien, por favor, não me deixe. Você disse que voltaria comigo...

 

— Não é sua culpa, Mina — sussurrou, deixando algumas lágrimas escorrerem ao ver a dor gritante nos olhos dela. Passou o polegar por sua bochecha e ela fechou os olhos momentaneamente com o toque. — Nunca se esqueça que eu te amo, Amanita.

 

— Eu te amo — sussurrou de volta, passando a mão por seu cabelo. Ele deu um sorriso antes de lentamente fechar os olhos. Amina sentiu a vida dele se esvair aos poucos de seu corpo, até que seu coração parou e ele ficou inerte. Amina depositou um beijo em seus lábios e o abraçou forte em seus braços, fechando os olhos. Um grito de dor e agonia retumbou por toda a floresta enquanto chamas se espalhavam sendo emitidas de seu corpo. Ela não sabia quantas mais pessoas ela aguentaria perder.

 

E foi então quando Amina abriu os olhos, encontrando sua cama em chamas, assim como quase todo o seu quarto. Dali para frente foi tudo tão no automático.

 

Ela passou água por seu rosto, na esperança de fazer as lágrimas pararem de cair. Para ela o mais estranho de tudo era que o que a deixava triste e aterrorizada não era seu quarto estar em chamas, chamas essas causadas por ela mesma. Não seu medo e tristeza era pelo que acontecera em seu sonho. Medo do que ela fora capaz no sonho e tristeza pelo sentimento incontrolável e dolorido de perda. Ela nunca sentira isso em toda a sua vida, não nos últimos três anos que se lembrava pelo menos. De certo que era por ela não se lembrar de já ter perdido alguém. Mas o sentimento era tão intenso e genuíno que tudo o que ela conseguia fazer era chorar enquanto aquela dor e angústia não passavam. Ela queria gritar, mas depois de seu sonho tinha medo até mesmo disso. Tinha medo de tudo, tudo o que ela era ou não capaz, tudo o que ela fazia ou não, sentia ou não. Ela estava com medo de si mesma. Muito medo. Apavorada.

 

Steve pegou as duas canecas de cima da bancada e franziu o cenho olhando para fora da janela de sua cozinha para a chuva torrencial que começara a cair há alguns minutos. Não estava previsto chuva para aquela noite. Estranho. Pensou caminhando para a sala enquanto Amina saíra do banheiro quase que em sincronia a ele. Os olhos dela estavam vermelhos, sinal de que havia chorado, mas Steve decidira por não dizer nada. Não queria forçá-la a nada, ela já havia passado por muita coisa naquela noite. Tony havia mencionado com ele o que ocorrera ou ao menos a ideia que ele tinha do que ocorrera. Segundo a tecnologia de Stark, o fogo começara na garota durante o sono e se espalhara por seu quarto. Mas ela e sua roupa estavam intactas. Aquilo o deixava extremamente intrigado.

 

— Aqui. Eu fiz chocolate quente, eu espero que você goste — disse, lhe estendendo a caneca que ela prontamente aceitou, murmurando um obrigada em um tom baixíssimo. Ficaram em silêncio enquanto bebiam, Amina fazendo carinho na gata que se aconchegara em seu colo e Rogers olhando para a chuva que ia aos poucos diminuindo. Revezou um olhar entre a garota e a janela e franziu o cenho. Será? Pensou e voltou a olhá-la, sendo pego no flagra. Ele suavizou a expressão e pigarreou, indicando a gata. — Como se chama?

 

— Mamba — murmurou e sorriu olhando para sua companhia diária. — Kill Bill foi o primeiro filme que eu assisti depois que acordei com amnésia, fiquei levemente obcecada com ele e daí veio o nome quando a adotei. Bem, quando ela me adotou. Ela já morava no apartamento quando eu me mudei para lá. — Sorriu novamente com a lembrança e voltou a olhar para Steve. — Você é uma boa pessoa, Capitão Rogers.

 

— Por que você diz isso? — perguntou curioso e surpreso com o comentário repentino. — E, por favor, me chame de Steve.

 

— Eu apenas sinto isso, sabe? Eu não te conheço, mas estranhamente eu me sinto à vontade com você, Steve — explicou e ele sorriu em resposta.

 

— Obrigado. Dizem que eu sou um bom ouvinte, se quiser conversar — sugeriu, dando um gole em sua bebida.

 

— Eu acho que preciso digerir tudo primeiro antes de pensar em falar sobre o assunto. Mas vou me lembrar disso, prometo.

 

— Justo.

 

Voltaram a ficar em silêncio enquanto esvaziavam suas canecas e, após muita insistência de Amina, Steve foi deitar-se em seu quarto e ela ficou com o sofá. Ela não tinha planos de dormir de qualquer forma. E com esse pensamento foi até a cozinha e preparou um café para si mesma. Ficaria acordada a todo custo, um apartamento incendiado era o suficiente para sua conta. Em algum momento de sua noite em claro, seus pensamentos viajaram até certo asgardiano mal-humorado. Perante tudo o que acontecera, ela só queria tê-lo por perto para ajudá-la a entender e controlar o que quer que estivesse acontecendo com ela naquele momento. Steve poderia ser bom ouvinte e ter um bom coração, mas ele não chegaria nem perto de entender a confusão que estava se passando na mente e no coração da garota, em sua opinião o único capaz seria o moreno de olhos verdes.

 

E era por isso que ela estava decidida: iria se encontrar com Loki.

 

•••••

 

Torre Stark, Nova Iorque...

Dia seguinte...

 

— Deixa eu ver se entendi... — disse Tony, fazendo uma pausa dramática. Steve revirou os olhos e Natasha sorriu, revezando o olhar entre eles. — Você quer que eu te ajude a se encontrar com um deus egocêntrico porque na sua humilde opinião o único capaz de te ajudar é ele?

 

— Bem, em suma, é isso. — Amina assentiu e Tony deu uma risadinha, bebendo o conteúdo de seu copo. Essa garota é maluca, só pode. Ele pensou enquanto a observava, ainda bebendo o estranho líquido vermelho em seu copo. Ela tinha medo de saber o que diabos era aquilo.

 

— Eu não estou me sentindo muito propenso a colaborar porque, primeiro, eu não gosto daquele maluco. Segundo: eu não confio em você e...

 

 

— Terceiro, você não é conhecido por facilmente cooperar — ela o interrompeu, completando sua frase, e ele franziu o cenho. — Eu já sei de tudo isso, Sr. Stark. Eu devo ter me esquecido de mencionar em nosso último encontro, mas eu consigo ler mentes.

 

— Agora mesmo que eu não confio em você. — Sorriu e depositou o próprio copo na mesinha a sua frente. — Porém, gostei dessa sua ousadia e cara de pau. Então eu, como consultor da S.H.I.E.L.D., vou te fazer uma proposta. — Lançou um rápido olhar para Natasha que assentiu, como se o incentivasse.

 

— Estou ouvindo — disse Amina, desconfiada. Estranhamente Stark estava pensando em uma letra de uma música do Guns N’s Roses. Ele parecia estar tentando esconder seus pensamentos dela. Talvez não tivesse sido uma boa ideia contar a ele sobre sua telepatia. Apesar de que ele acabaria por descobrir. Não dizendo que o Capitão América é fofoqueiro, mas ela tinha certeza de que hora ou outra ele mencionaria isso. A própria Natasha não pareceu surpresa quando ela revelará há um minuto, sinal de que com ela ele já havia comentado. E por Amina tudo bem, depois da noite passada ela não estava mais tão preocupada com quem sabia ou não de suas habilidades.

 

— Eu te arranjo um encontro com o seu amado deus da mentira e em troca você vai passar por uma avaliação da S.H.I.E.L.D.

 

— Avaliação? Que tipo de avaliação? E para que?

 

— Quantas perguntas, esqueirinho. — Sorriu e Steve passou as mãos no rosto. Que timing horrível, Stark. Pensou Steve. Por Deus. A garota havia acidentalmente incendiado o próprio apartamento na noite anterior. Não que ele não soubesse disso. Talvez tivesse sido proposital, o humor de Tony era péssimo na opinião de Steve. — Avalição para uma possível admissão na Iniciativa Vingadores.


Notas Finais


Espero que tenham gostado! ;D

Digam-me o que estão achando.

Até o próximo capítulo, prometo que não vai demorar muito, pois ele já esta beeem adiantado.


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