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História The Blind Mountains - Remnants of Death


Escrita por: DuchessofHearts

Notas do Autor


Eu... realmente não sabia que título dar a esse capítulo. Maior parte das vezes é bem fácil de dar um título, mas dessa vez foi só... Brainfart. Talvez eu mude depois de pensar em um melhor, quem sabe.

Enfim, esse capítulo FRESQUINHO está aí para vocês, espero que gostem! Confesso que não está propriamente feliz e alegre como costumava ser em regresso (os capítulos depois de uma morte eram sempre de investigação e particularmente mais leves que os anteriores), mas espero que gostem mesmo assim.


Afinal, esse julgamento vai deixar marcas. Marcas de verdade.

(Possível OST do capítulo: Nier Automata: Faltering Prayer ~ Breeze. Não combina particularmente numa parte mais central do capítulo, mas deixa um bom clima para o resto)

Capítulo 12 - Remnants of Death


O julgamento tinha acabado, e com ele toda a energia que os alunos tinham até há alguns momentos. Embora ainda a meados da manhã, Kasumi estava já com dores de cabeça e só queria se jogar para uma cama e esquecer-se completamente de tudo o que acabara de acontecer.

Confusão, suspeitas e morte. Os colegas de classe se acusando uns aos outros, apontando dedos sem pensar duas vezes. Voltando o olhar para Katsune, a poetisa percebeu que ela estava ainda pior. Assim que chegaram à base da torre a geisha saiu sem dizer uma única palavra, andando lentamente e com a cabeça baixa após ter sido brutalmente acusada durante o julgamento. Yuyuko, Kai e Nori também saíram logo depois, mas nenhum deles parecia ser capaz de sorrir ou fazer piadas como sempre fizeram, limitando-se a se manter em silêncio até desaparecerem ao virar a esquina.

Os que sobraram não se moviam. Miyu encarava um ponto aleatório à sua frente com um olhar enevoado, os olhos ainda inchados do choro. Kaguya, por sua vez, ainda dava uma fungadela o outra, discretamente passando a mão por baixo dos óculos para limpar as lágrimas que insistiam em cair. Aimi não estava muito diferente, embora chorasse de forma mais visível agora que estavam num espaço aberto e ela podia se afastar um pouco mais.

Satoshi deixara-se cair com a bunda no chão, ficando sentado contra a parede de pedra da torre do relógio, o olhar saltando de um canto para o outro efusivamente, indicando a velocidade dos seus pensamentos naquele momento. Ideki estava de pé, encarando de forma absorta a vedação onde, momentos antes, viram um colega ser brutalmente assassinado. Nem o corpo de Hansel nem o corpo de Haruto estavam presentes, desaparecendo completamente sem deixar rastos. Tatsuya já não estava mais ali, e Kasumi não fazia ideia de quando é que ele tinha saído.

As únicas pessoas que conversavam, embora tão baixo que a albina só se apercebera quando voltara o seu olhar para eles, eram Aiko e Kyou. A garota tinha uma expressão triste, e o rapaz mantinha uma que aparentava mais irritada. Após alguns segundos que se formaram de um silêncio constrangedor, a salva-vidas apenas acenou afirmativamente.

- Então… adeus. – Soltou num tom melancólico. Kyou não lhe respondeu, pelo que voltou as costas e saiu sem mais uma palavra. Kasumi aproximou-se, mas o namorado simplesmente saiu caminhando na direção do seu chalé no mesmo segundo que ela ia tocá-lo no ombro, e uma sensação desagradável na sua barriga que nunca tinha sentido antes a impediu de o chamar.

Decidiu que também queria retornar ao seu próprio chalé. O seu estômago roncava com a necessidade de tomar o pequeno-almoço, mas a verdade era que ela naquele momento preferia estar sozinha a ter de lidar com um refeitório cheio de gente. Após ver que Aimi finalmente se acalmara, as suas lágrimas dando lugar a fungadelas ocasionais, aproximou-se da garota e informou-a dos seus planos. A contadora de histórias limitou-se a acenar afirmativamente de forma compreensiva.

- Sim, eu… eu também… preciso de estar sozinha. – Concordou. Com isso, as amigas separaram-se e Kasumi voltou para o seu chalé.

 

 

O chalé estava exatamente como Kasumi o havia abandonado antes de toda aquela confusão começar, o que só por si não era uma grande surpresa, mas também uma onda de conforto e quase nostalgia para a garota. A última vez que estivera ali dentro, ainda todos os seus colegas estavam vivos. Porventura estivessem brigando por comida, a situação em que estavam tendo criado diversas confusões entre os colegas de classe, mas pelo menos estavam todos vivos. Kasumi, nessa altura, já achava que nada podia piorar.

Agora, porém, tal pensamento parecia ridiculamente ingénuo. A garota não sentia vontade de entrar, os seus pés presos ao chão enquanto se segurava à porta aberta, como se entrar lá dentro fosse destruir o que sobrava da Kasumi inocente e que nunca presenciara a morte com a sua existência suja e corrompida.

- Ichihara? – Inquiriu uma voz atrás de si, fazendo-a dar um salto ao se voltar para trás. Ideki era quem estava lá ao fundo, junto aos canteiros de flores belamente adornados com uma baixa vedação pontiaguda, os braços cruzados sobre o corpo enquanto o olhar sempre frio a encarava numa expressão atenta. A garota não sentia vontade de lhe responder, voltando-lhe as costas e decidindo então entrar no chalé, mas o som de passos atrás de si a impediram. Voltou-se para trás novamente, dessa vez muito mais depressa, para descobrir o procurador muito mais próximo de si do que antes.

- Não nutro quaisquer desejos de discorrer sobre—

- Eu serei breve. – Interrompeu o rapaz, fazendo a fúria no âmago da albina começar a brotar. Não gostava nada de ser interrompida, e não tinha paciência para aquele tipo de coisas naquele dia. Essa sua virtude tinha sido toda completamente gasta mais cedo. – Eu só queria dizer uma coisa, mesmo.

Fez uma pausa, a qual foi acompanhada de um esforço muito grande da parte de Kasumi para não revirar os olhos. Em vez disso, limitou-se a arquear as sobrancelhas enquanto esperava.

- Desculpe. – Disse por fim, agarrando o chapéu preto na cabeça e puxando-o para a frente do rosto com vergonha. – As minhas ações foram… desculpe.

Sem dizer uma palavra, e deixando uma Kasumi boquiaberta, o garoto saiu a um passo tão rápido que quase corria, desaparecendo de vista antes que a garota pudesse processar o que tinha acabado de ouvir. Com a quantidade de coisas já na sua cabeça, a garota sequer se lembrou do seu dilema anterior por causa de Ideki e entrara na pequena casa sem grandes hesitações.

O silêncio e a escuridão tomou conta da sala quando Kasumi fechou a porta atrás de si, após o qual ficou a encarar o vazio por algum tempo. Inspirando fundo, a garota aproximou-se do balcão da cozinha, puxando um candeeiro até junto do mesmo e o ligando. A luz era definitivamente fraca demais para iluminar todo o cômodo, mas o suficiente clarear a superfície do balcão. Sentando-se, a garota foi até ao bolso da saia – o qual havia sido costurado especificamente para ela – retirando de lá um pequeno bloco de notas e uma caneta, objetos que sempre trouxera consigo.

Rodando a caneta entre os dedos, a garota encarou o teto por alguns segundos, taciturna. Havia tanta coisa sobre a qual ela queria escrever. Tanta coisa que ela queria dizer, tanta dor para expor. Baixou a caneta para começar, e observou a pequena gota escura a se formar antes de deslizá-la para formar a primeira letra do seu poema. Como sempre, a garota não chorava, as lágrimas tomando antes a forma de palavras no papel.

 

- X -

 

A manhã passara rapidamente, mas a certa altura a solidão e a fome eram mais dolorosas que a sua vontade de escrever, pelo que na hora de almoço a garota decidiu finalmente sair do chalé. Não estava ninguém naquela rua, o que era um tanto agradável, mas sabia que o sossego logo desapareceria quando chegasse ao refeitório. Quando virou a esquina, porém, surpreendeu-se em ver, pela primeira vez, uma abertura por entre a vedação que rodeava aquela porção do campus, mostrando a estrada à frente que ela se lembrava vagamente de levar para lugares como a enfermaria e a biblioteca. Certamente iria para lá mais tarde.

Quando chegou ao refeitório, o cheiro agradável a comida lembrou-a do quão esfomeada ela realmente estava, e de como ela não comia nada decente há dias. Nem sequer se virou para o grupo que já comia nas mesas, dirigiu-se quase correndo para os vários pratos sobre uma mesa e começou a escolher entre as várias comidas no buffet, acabando por retirar um pouco de tudo. Num dia normal, ela evitaria encher tanto o prato, mas naquele em particular não tinha a mínima paciência para se preocupar com esses pormenores.

Logo encontrou Aimi comendo de forma silenciosa num canto da mesa, enquanto ouvia uma animada conversa de Aiko e Nori com uma expressão ausente. Quando a albina se aproximou, a garota lhe sorriu de forma amigável.

- Como se sente? – Inquiriu enquanto Kasumi se sentava, que meramente acenou afirmativamente em resposta para indicar que estava bem. Porém, era óbvio que certamente podia estar melhor, e não era a única.

As pessoas ali presentes pareciam todas um pouco ausentes. A conversa de Nori e Aiko, pelo que Kasumi conseguiu perceber com o pouco que conseguiu captar, era sobre situações ridículas que a salva-vidas já tivera de suportar no seu trabalho, mas a verdade era que os sorrisos e risos de ambos não se estendiam até aos olhos. Yuyuko e Kai riam animadamente enquanto jogavam pedaços de comida um para o outro, mas o seu entusiasmo e barulho era consideravelmente menor que o normal. Kaguya observava os dois numa expressão distante e Miyu remexia na sua omelete de forma distraída. Katsune já havia almoçado, mas estava na mesa mais afastada do grupo, pelo que Kasumi só se apercebeu da sua presença algum tempo depois de se ter sentado.

Outras pessoas não estavam presentes, como Hatsue, Tatsuya, Ideki e Satoshi, mas mais importante para a poetisa era a ausência de Kyou.

A garota começou a se perguntar se deveria ir ter com ele. Ainda não tinham falado desde o julgamento e ela sabia que o rapaz estaria particularmente afetado, talvez mais do que qualquer outra pessoa. Levou mecanicamente o garfo cheio de comida à boca, a ansiedade aumentando e lhe dando um aperto na garganta.

- …entendi. – Concluiu Aimi tristemente, relembrando a Kasumi que não havia respondido à sua pergunta. Estava tão preocupada com o seu namorado que se esquecera completamente do que Aimi dissera alguns segundos antes. Ia responder e pedir para que ela repetisse, mas a amiga tratou logo de mudar de assunto. – O Kyou já esteve aqui. Ele pegou num pouco de comida e foi embora de novo. Deve estar a comer no chalé dele.

Parecia que a garota lia mentes, embora houvesse uma vaga tonalidade ofendida nas suas palavras.

- O Kyou não quer que ninguém fale com ele. – Aiko interveio ao ouvir a conversa das duas – Eu tentei falar com ele hoje depois do julgamento e, sinceramente, acho que ele só não me mandou para certos lugares por educação.

- Sobre que tema discursavam? – Inquiriu Kasumi, interessada. Para sua surpresa, a salva-vidas respondeu com um baixar da cabeça.

- E-eu… Disse que s-se ele precisasse de ajuda, poderia contar com a turma… – Sussurrou num tom que Kasumi sentia dificuldade em decifrar. Não compreendia, sequer, o porquê da súbita atitude quase que envergonhada da outra. – Mas ele não gostou muito.

- Porquê? – Aimi expressara as dúvidas da albina naquele momento, as suas sobrancelhas se unindo ao mesmo tempo que comia, originando uma careta quase engraçada.

- Ele, bem… – A garota tamborilou com os dedos na mesa, indecisa, e fora Nori (que estivera escutando a conversa há já algum tempo) que interrompera.

- Acho que não vale muito a pena forçarmos muito esse assunto. – Afirmou num tom jovial. – Já vimos que não foi uma conversa agradável, então podemos só deixá-la para trás, não concordam?

Kasumi ia reclamar, mas Aiko apenas acenou afirmativamente, baixando escondendo a cara com a mão por uns momentos, antes de esfregá-la avidamente e se levantar.

- Bom, agora que já comi, vou dormir um pouco ao meu quarto. – Afirmou, com um sorriso. – Estou… cansada, depois de tudo hoje. Obrigada, Nori.

A garota afastou-se a passos largos, com o albino a segui-la com o olhar e a acenar até que ela desaparecesse pela porta. Seguidamente, baixou e voltou a sua direção para Aimi e Kasumi, que o encaravam de uma forma muito pouco agradada.

- …desculpem. – Disse, franzindo o sobrolho levemente, desconfortável – Eu não sei o que é que o Kyou disse para ela, mas ela passou a manhã toda comentando como a gente tinha falhado como turma, e falhado como pessoas… Ela claramente está se culpando pelo que aconteceu.

O rapaz levou uma mão ao coração como que para provar o quão sério estava, sorrindo de uma forma triste.

- Eu finalmente consegui que ela se acalmasse um pouco, por isso não queria que ela pensasse sobre essa conversa novamente. Desculpem novamente. – O rapaz suspirou, pegando no prato que Aiko abandonara na sua mesa. – Vou levar esse prato para a cozinha para lavar. Oh, e eu sei que é difícil, mas… tentem sorrir. Se todos nos esforçarmos para manter uma energia positiva, com certeza superaremos esse obstáculo.

Assim que ele se afastou, Yuyuko ocupou o seu lugar, a sua cabeleira ruiva brilhando com a luz artificial do refeitório. O seu olhar escarlate rodou os pratos e as duas garotas, sorrindo alegremente. Não era preciso se esforçar muito para imaginar o que é que ela queria propor.

- Girls, girls! – Começou ela, inclinando-se sobre a mesa dramaticamente e sussurrando para as duas, o seu olhar atento olhando em volta. Kasumi apercebeu-se que, por algum motivo, Kai não estava com os fones nos ouvidos e sim com os dedos, enquanto fechava os olhos e murmurava “não vou ouvir nada” para si mesmo várias vezes seguidas. – Eu tive a best ideia de sempre! Sabem, esse clima está tão, sei lá, sad, e não temos a Alexa para tocar despacito...

Pausou por uns momentos, como se esperasse alguma revelação súbita para provar que estava errada. Pareceu desiludida por nada ter acontecido.

- Então eu decidi, como a representante de turma…!

- A representante de turma não é a tua pessoa.

- …unofficial class rep, eu decidi que estava na hora de fazer alguma coisa. E que melhor coisa para fazer do que uma GIGA PARTY! – Aquela última palavra foi dita com um berro tão alto que, se a ideia era evitar que Kai a escutasse, falhou redondamente. Aimi e Kasumi foram obrigadas a recuar na sua cadeira, surpresas após ter se aproximado para ouvir os sussurros da amiga. Quando ela fez sinal para que se aproximassem novamente, ambas fizeram-no mais cautelosamente do que da primeira vez, prontas para se afastar na próxima elevação de voz. – Uma girls sleepover! Eu pensei em convidar os boys, mas a verdade é que somos todas strong, independent women, não é mesmo?

O seu olhar expectante na direção de Kai era o suficiente para que ambas percebessem que ela não convidara os garotos especificamente para satisfazer a sua fantasia de eles as espiando no meio da noite. Melhor dizendo, a fantasia de puni-los por espiá-las a meio da noite.

- Eu não creio que…

- Estarei esperando por vocês! – Interrompeu a garota, as orbes avermelhadas brilhando com entusiasmo – Próxima terça à noite, no chalé da Kasumi, rays of sunshine!

- Aguarda aí um instante! Porquê no meu casebre e não no que te pertence?

- Bom… O meu está cheio de acessórios de party, não ia ter muito espaço para o meus planos, entende. Além disso, it’s free real estate!

- Porém…!

- Há algum problema, Kasumi? Você tem alguns… secrets no seu chalé que queira esconder? – A garota aproximou-se tanto que as testas das duas quase se tocavam. Kasumi, desconfortável, inspirou fundo, afastou-se um pouco e fechou os olhos, derrotada.

- Não. De facto, a elaboração de um festim não tem quaisquer repercussões negativas para a minha pessoa.

- That’s my pretty bomber head! – Com mais um berro, a garota voltou para Kai, tentando assustá-lo ao basicamente se jogar para cima dele e quase o derrubar da sua cadeira, e os dois voltaram para uma louca conversa sobre o que parecia ser amendoins.

Tentando não pensar muito no novo problema com que tinha de lidar, Kasumi voltou a comer com Aimi. Mantiveram-se em silêncio, e mesmo após Nori voltar, o garoto acabou por ficar falando com Yuyuko e Kai em vez de com elas, que praticamente respondiam com meros monossílabos sempre que o garoto tentava lhes dirigir a palavra. Não que isso fosse propriamente raro – era a atitude mais comum das duas garotas, pelo que o rapaz não ficou sequer incomodado.

Depois de terminar, Kasumi levantou-se e mordeu o lábio inferior, subitamente se arrependendo de ter comido tanto.  Tinha decidido, algures naquele tempo, que ia visitar Kyou, mas novamente a sensação desagradável de mau presságio lhe atingia como um soco no estômago. Aimi perguntou qualquer coisa sobre se ela estava bem, ao qual a garota respondeu vagamente que tinha de sair para tratar de um assunto sozinha. Acenando de uma forma incerta, a amiga deixou-se ficar a ouvir as loucuras do trio de Kai, Yuyuko e Nori, embora não parecesse prestar muita atenção, rindo consideravelmente mais tarde que os outros após cada piada.

Ao sair do refeitório, a albina surpreendeu-se ao encontrar Tatsuya, Satoshi e Katsune. Para além de um grupo improvável, o que realmente a apanhou desprevenida fora antes o que faziam: após claramente terem estado a cavar um pouco entre os canteiros de flores que adornavam a casa central do refeitório, os três agora colocavam enormes pedras nos respetivos buracos. Quando finalmente terminaram (tarefa que Kasumi, agora curiosa, parara para observar), era legível umas palavras esculpidas de forma irregular e amadora nas pedras.

 

Em memória de

Riku Oiji, Rebel

 

Em memória de

Haruto Yoshida, Lucky Student

 

A compreensão do que aquilo se tratava foi como uma dolorosa facada no coração de Kasumi, que engoliu em seco, repelindo os sentimentos de tristeza que voltavam pela milésima vez naquele dia para afligi-la. Tatsuya, que estava claramente transpirado e sujo, as mãos vermelhas indicando que tinha sido ele mesmo a esculpir aquelas palavras, apercebeu-se finalmente da sua presença, seguido dos outros dois.

- O que você quer, Kasumi? – Reclamou Satoshi, num tom ríspido e exageradamente defensivo – Veio zoar da gente, é isso?

- …não. Jamais ousaria. – Sussurrou a garota em resposta com sinceridade – Eu… meramente me encontrei desprevenida para tal ação.

- Confesso… que também me surpreendi. – Soltou Katsune timidamente – Quando eu saí do almoço, eles estavam os dois carregando essas pedras enormes…

- E-eu só…! Bem, eu achei que…! – Tatsuya começou a ficar vermelho, o tom parecendo agora frustrado. – Não é digno! Nada digno! Digno! Morrer assim e não receber nem um funeral… você viu também, não foi? Os corpos só desapareceram, como se nunca tivessem existido. É imperdoável, imperdoável, imperdoável!

- Não se preocupe, Tatsuya. – Respondeu-lhe a geisha num tom tranquilizador. – Eu… eu também concordo. Especialmente depois de tudo o que aconteceu… não devemos esquecê-los…

A voz da garota esmoreceu-se nas últimas palavras. Parecia que queria dizer mais, mas faltavam-lhe as forças para tal.

- Se me consentes a audácia, porém – Começou Kasumi, um tanto curiosa – Porque motivo incluis a lápide de Haruto? Creio que…

Arrependeu-se prontamente da pergunta que fez ao ver os olhos de Tatsuya se encherem de lágrimas. O rapaz deu um pontapé num dos canteiros, as flores coloridas nele presente estremecendo com a violência.

- E-eu… E-eu não…! – Começou, levando a manga da camisa aos olhos para limpar as lágrimas antes que escorressem pela face – Eu não consigo… não consigo… odiá-lo…!

Soluçou ruidosamente, incapaz de conter o choro.

- Ele era… meu melhor amigo…! Ele fez uma coisa desprezível, nojenta, repugnante, mas…! E-ele… E-ele…! Eu não quero, não deveria, mas tenho saudades dele! – A sua face molhada voltou-se para a pedra com o nome de Haruto, o rapaz se abraçando a si mesmo de forma triste – Ele era bobo, totalmente idiota, mas… Ele nunca me julgou… Ele foi a primeira pessoa que alguma vez se interessou pelo que eu fazia! Porquê? Porquê que ele fez uma coisa dessas? T-talvez a culpa seja…

O rapaz calou-se, como que perdendo a energia para continuar a falar, limitando-se a chorar para si mesmo durante um tempo. Katsune também chorava no seu cantinho silenciosamente. Satoshi apenas encarava os recém criados túmulos com uma expressão neutra, e Kasumi deu por si a perguntar-se novamente o que é que ele estaria ali a fazer.

- Perdoa-me pelas minhas palavras. – Tal foi a única coisa que Kasumi conseguiu proferir após alguns minutos. O alquimista abanou negativamente a cabeça, murmurando algo como “não importa”, e voltaram a cair no silêncio. Percebendo que não haveria mais conversa e provavelmente seria indelicado interromper aquele momento, a poetisa afastou-se com cuidado. 

Sentia-se abalada, e os seus desejos naquele momento eram de voltar a esconder-se no refúgio do seu chalé. Olhando em volta pelo acampamento, notou que embora o sol brilhasse no alto e o lugar continuasse tão estonteante e vívido quanto antes, parecia bem diferente a seus olhos, como que um filtro cinzento estivesse à sua frente que a impedisse de ver a verdadeira cor e beleza de onde estava. Quando deu por si, já se encontrava à frente do chalé de Kyou, e mais uma vez aquela sensação de ansiedade tomou conta de si mesma.

Bateu à porta, porém não obteve resposta. Após bater mais duas ou três vezes, ia finalmente desistir até que subitamente a mesma foi aberta. O seu namorado suspirou quando a viu, passando a mão na cara como se estivesse exausto. Perguntou-se se ele estivera, por ventura, tentando dormir e ela o tivesse acordado.

- E-eu… Kyou… – Para alguém cujo talento se baseava em exprimir seus sentimentos, Kasumi era surpreendentemente terrível com palavras num confronto cara a cara. Assim sendo, decidiu não as usar. Logo a garota se agarrou ao parkourista, apertando-o num abraço forte. As mãos dele envolveram-na de volta, e os dois ficaram naquele estado durante um bom tempo.

Após se libertarem, porém, Kyou não disse nada. Kasumi esperava que ele fosse dizer algumas palavras, nem que fosse um “pode entrar”, mas ele limitou-se a encará-la, pensativo. Franzindo os lábios desconfortavelmente, a garota decidiu que seria ela a quebrar o silêncio, para variar.

- Conta-me sobre as tuas aflições, Kyou. – Disse finalmente, de uma forma assertiva. O rapaz suspirou, voltou as costas e entrou pelo chalé. Kasumi seguiu a passos curtos, parando pouco depois da entrada. O rapaz não se afastara muito, chegando antes ao balcão da cozinha e apoiando-se no mesmo com as mãos, a cabeça caída. O som de uma gota a cair chamou atenção de Kasumi para um pequeno balde com água esverdeada no meio da sala, relembrando à mesma o que acontecera no julgamento. Como, por mais do que uma vez, Kyou fora acusado de ter matado o seu melhor amigo.

Mais importante do que isso, como a própria Kasumi, a certa altura, acreditara nisso.

Fora como se subitamente tivesse feito um clique no seu cérebro, a garota subitamente se voltando de uma forma quase desesperada para o namorado. Estivera tão chocada, tão horrorizada com o que acontecera no final daquele julgamento, com a revelação macabra de Haruto e a execução mais macabra ainda, que se esquecera completamente desse detalhe. Um detalhe que, certamente, ela nunca poderia esquecer. Estava pronta para trazer o assunto ao de cima, mas Kyou fora mais rápido.

- Porquê, Kasumi? – Começou, sem se mover da sua posição – Porquê que você não acreditou em mim?

As palavras escaparam-se da sua boca no exato segundo em que ele perguntara sobre isso. Com muito esforço, a sua voz finalmente foi capaz de sair.

- E-eu… perdoa-me… – Começou, o coração saltando um batimento quando o rapaz se voltou para a garota e a encarou nos olhos – E-eu… encontrava-me desnorteada…

- Ainda assim, você não quis ouvir o que eu tinha para dizer. – Comentou Kyou friamente – E foi preciso a Aimi aparecer para você finalmente perceber que eu estava inocente.

Cada palavra era como se a garota fosse socada três vezes. As lágrimas começaram a surgir no seu rosto. Não se lembrava ao certo da última vez que tal acontecera.

- Sim, é verdade. Eu pensei… eu pensei em matar alguém, para te salvar. Durante uns momentos de loucura, essa ideia me passou pela cabeça, e foi isso que o filho da puta do Ideki ouviu. – Comentou – Mas eu nunca… NUNCA faria uma coisa dessas. Matar alguém, para mim, é imperdoável. E você deveria me conhecer bem o suficiente para saber disso!

A garota acenou afirmativamente, fungando baixinho. Sentia-se humilhada, envergonhada com as suas próprias atitudes. O rapaz, porém, apenas a encarava com a expressão fria que tinha desde o início. Voltou as costas novamente.

- Acho que preciso de um tempo, Kasumi. – Afirmou por fim. A garota ergueu o olhar, quase que aterrorizada. Por um lado, já esperava que aquilo acontecesse com o rumo que a conversa estava a ter, mas ainda assim desejava o contrário.

- Pretendes findar o… nosso namoro? – A sua voz estava tão baixa e sem energia que soava mais como um sussurro. O rapaz suspirou pesadamente.

- Eu não consigo… não consigo me dar com pessoas que não acreditam em mim. Muito menos…

- M-mas eu…! Não repisarei tal caminho! Eu crerei em ti na íntegra, a partir deste instante—!

- Kasumi. – Interrompeu Kyou. A sua voz também tremia. – Acho que está na hora de você sair.

Encarou-o por alguns momentos, como se esperasse que ele se voltasse e dissesse alguma coisa em contrário, que mudasse de ideias subitamente, mas tal não aconteceu. O garoto continuou de costas para ela, esperando. Acenando afirmativamente, a garota saiu da sala para a rua e fechou a porta.

Com as lágrimas no rosto, começou a correr para o chalé, onde se trancou e não saiu mais naquele dia.


Notas Finais


Por favor, votem nos próximos personagens para FTE! Dessa vez serão três, enviados para mim em privado (não nos comentários, por favor!). Eu sou capaz de fazer novamente dois capítulos de FTE, porque acho que a gente precisa. Além disso, eu muito provavelmente vou intercalar os capítulos de FTE com as personagens que vocês escolheram e... outras coisas.

Persos que já tiveram: Tatsuya, Haruto, Kaguya, Hansel, Nori e Katsune.

Até ao próximo, mores!


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