História The Blue Eyes - Quase a garota dos filmes

(Lottie)

Meu corpo ainda doía nesse momento de pós-festa do Taylor, apesar de já ter passado mais ou menos um dia, e a segunda-feira estava pisando em mim com força.

No domingo eu não podia me sentir mais adolescente por ter chego tarde, com a roupa toda torta e com uma leve ressaca. Drake me perguntou sobre absolutamente tudo, às vezes dando crises de "irmão mais velho" e às vezes ficando mais animado que eu mesma.

De verdade, eu havia gostado da festa, mas a única coisa que me vinha a cabeça ao pensar no sábado era Maddie.

Minha melhor amiga, a qual não estava falando comigo.

Bom, eu provavelmente não deveria mais chamá-la assim.

Quando cheguei no colégio hoje de manhã, ela estava pulando em Cameron e falando com absolutamente TODO MUNDO.

Madeline estava de volta, mas não como a minha amiga Maddie que era contra a hierarquia de popularidade dentro da escola e o favorecimento dos cérebros de ervilha dos jogadores de futebol, mas sim como mais uma das lacaias de Becky.

Passei ao lado do grupinho que ela estava e nossos olhares se cruzaram rapidamente, mas nenhuma palavra foi dita.

Desde que Maddie foi embora no começo do ano passado, muitas coisas mudaram e fomos parando de falar aos poucos. Minha saúde ainda não estava cem por cento e ela parou de ligar, então eu também não liguei para ela, mas eu não sabia que isso poderia mudar tanto as coisas.

O verão levou Maddie, levou um ano horrível e me renovou. Eu não sou a mesma Charlotte que eu era no ano passado. E não só por conta do cabelo roxa, eu estou, nem que minimamente, melhor e estou tentando ficar bem.

Polly ter ido para o reformatório deixou um buraco na nossa amizade, e, apesar de tentarmos nos manter bem, estava faltando um pedaço e isso talvez tenha contribuído para nos separarmos, mas Maddie e Becky? Ah, eu não vivi dezesseis anos para ver isso.

Meu ranço à parte, Madeline nunca gostou de Becky e ela e Polly sempre foram as que a confrontavam e falavam as coisas na cara para ela deixar de ser ridícula. É até besta, mas elas estarem juntas me faz sentir traída e como se tudo que ela falava fosse uma mentira.

Ah, Maddie...

-Terra chamando Charlotte?!

Dei um pulo ao ouvir a voz de Shawn, fazendo-o rir e se apoiar na parede perto de nós.

-Mendes! Que susto, garoto.- disse com a mão no coração e ele riu mais.

-Tudo bem?

-Sim, só por favor tente não me matar de novo.- disse e ele sorriu.

-Você não estava escutando, não é culpa minha.- justificou-se e eu rolei os olhos. -Enfim, você sabe que hoje é dia de anúncio...

-Sobre as provas semestrais.- dissemos juntos e rimos.

-Eu sei. Taylor já está lá?- perguntei.

-Sim, e ele pediu para vir te buscar.

-Ok, então só preciso deixar minha mochila no armário e já vou encontrar vocês.

-Alô, Lottie? Eu vou com você.- ele disse e eu ri.

-Você não precisa, mas tudo bem.- disse olhando uma última vez para Maddie antes de dar as costas e seguir para o meu armário com Shawn.

Hoje o diretor repassaria as normas das provas que aconteceriam na próxima semana, ou seja, a mesma coisa chata que já sabemos mas somos obrigados a escutar todo semestre. Pulando toda essa confusão da minha cabeça por causa da Madeline, eu estava entrando em desespero por conta das provas.

Os anúncios sempre acontecem no auditório e é para lá que estávamos indo, assim como grande parte dos alunos após a voz da secretária do diretor ecoar pelas caixas de som pela escola, o que acabou dificultando que chegássemos lá.

-Oi amores da minha vida!- Taylor exclamou assim que nos viu e eu sorri.

-Oi, Caniff!- disse sentando-me ao seu lado.

-Que mania é essa de chamar todo mundo pelo sobrenome?- Shawn perguntou e eu ri.

-Nada.

Carter também estava lá com Matthew, ambos sentados ao lado de Taylor e logo Aaron se juntou a nós.

Pode ser só impressão, mas vi que ele ficou me encarando por algum tempo antes do diretor chegar e começar a falar.

Ele basicamente disse que essa semana seria mais leve e a escola estaria totalmente aberta (de manhã e a tarde para o estudo, que as provas começariam na segunda-feira e terminariam na sexta-feira, como todos já sabem), além de passar as instruções do que trazer, fazer e usar nessa ocasião.

Além disso, ele falou sobre o pós-provas, no qual aconteceria o acampamento que Drake está me obrigando a ir enquanto ele vai a Nova Iorque, e também o último jogo de futebol antes dos feriados de fim de ano. A melhor parte é que depois de uma semana e meia após isso tudo, as férias do final do ano chegariam.

-Eles podiam nos dispensar depois dessa babadeira de ovo.- Taylor disse cruzando os braços quando o diretor terminou de falar.

-Podiam, mas não vão.- Aaron respondeu e Taylor revirou os olhos.

-Você acha que eu não sei, demo?- perguntou e Aaron riu de sua irritação.

Os dois ficaram "trocando farpas" enquanto andávamos até a saída da quadra e, logo, Carter e Matt saíram.

O resto de nós andou até o corredor da nossa sala e parou lá até o sinal para a segunda aula tocar. Nesse meio tempo, Taylor e Shawn falavam sobre alguma coisa quando vi Pink passando sozinha com as mãos nos bolsos da jaqueta e um óculos de sol rosa em formato de coração. Logo em seguida, Maddie e Becky passaram lado a lado conversando e rindo.

Eu sinceramente não entendo essa briga doida que elas tiveram.

-Nem eu.- Aaron disse e eu pulei de susto, virando minha cabeça na direção dele imediatamente de olhos arregalados.

-Seu maluco!

Ele gargalhou.

-Não acredito que acertei o pensamento!- disse ainda rindo e eu segurei o riso passando as mãos nas têmporas.

Rolei os olhos e o riso dele cessou.

-Desculpa.- pediu ainda com um sorrisinho no rosto. -Enfim, no que estava pensando?

-Acho que você sabe.- brinquei.

-Becky e Pink ou Becky e Maddie?- perguntou e eu arqueei uma sobrancelha.

-Ambos, mas não vem ao caso.

-Eu não acredito também, e olha que eu conheço as duas minimamente.- disse colocando as mãos no bolso do moletom.

-Hum.- murmurei sem muito ânimo e o sinal me salvou de ter que contar algum pedacinho da minha vida para Aaron.

(...)

-Taylor.- chamei-o e o mesmo me olhou com cara de bunda e sono.

Estávamos no final da terceira aula, que era de literatura, e, por algum motivo desconhecido, Taylor odeia literatura (ou sente muito sono nas aulas).

-O quê?- perguntou apoiando o queixo na mão.

-O botão da sua jaqueta ficou marcado na sua testa.- disse segurando o riso e ele arregalou os olhos, pegando o celular e abrindo na câmera frontal. Eu estava segurando para não gargalhar.

Ele olhou para sua própria testa por alguns segundos vendo a marca do botão bem no meio até o sinal tocar e eu poder gargalhar em paz. Taylor havia dormido em cima da manga de sua jaqueta e, consequentemente, em cima do botão, deixando uma marca vermelha no meio da sua testa.

-Puta que pariu, que droga é essa?- perguntou e eu coloquei a mão na barriga ao sentí-la doer de tanto rir.

-Você fez o meu dia ficar dez vezes melhor.- disse ainda rindo e ele bufou, guardando o celular no bolso e se levantando.

-Vamos sair daqui logo.

Me levantei também e fomos em direção do refeitório, comigo rindo o caminho inteiro e Taylor com cara de bunda.

Quando chegamos ao refeitório, Taylor cismou que eu tinha que ir comer e foi quase me arrastando até a fila.

-Eu vou jogar a comida fora.- ameacei assim que ele me colocou na frente dele no lugar que havia acabado de furar com seus amigos. -Melhor! Vou jogar a comida em você.

-Não vai não, aliás, eu nunca te vi comer uma balinha aqui na escola então hoje é o dia.

-Por que você sempre me obriga a fazer o que eu não quero?- perguntei ficando os pés no chão só de birra e ele revirou os olhos.

-Porque você é besta e deixa as melhores coisas passarem assim.- fez um gesto com as mãos demonstrando uma bolha estourando e me deu um empurrão, fazendo-me bater no garoto da frente.

-Meu Deus! Desculpa.- pedi e ele virou, mostrando ser Nash.

Ótimo. Taylor me fez passar vergonha justo na frente do bonitinho.

-Não foi nada.- disse sorrindo e virou para frente de novo.

-Seu idiota!- sussurrei para Taylor, dando um tapa no braço dele.

-Anda, anda!- me ignorou com um sorrisinho maldoso no rosto e eu fiz uma careta.

Olhei para frente afim de ignorar Taylor e dei de cara com as costas de Nash.

Deve ser algum problema do meu cérebro ou esquisitice mesmo, mas eu acho costas tão atraentes, ainda mais as largas como as dele. Fora a sua altura que não é pouca e aqueles olhos.

Ah, aqueles olhos incríveis.

-Lottie.- Taylor chamou-me e eu encarei o buraco da fila na minha frente, dando dois passos apressados.

Taylor e eu sentamos na minha mesa de sempre porque eu disse que sentar com seus amigos era demais.

Depois, Taylor foi fazer um social na mesa dos amigos dele e eu fui até meu armário trocar os livros.

Como todos os últimos dias da minha vida, a flor azul e um pedaço de papel com as bordas cortadas torto que revelavam o mínimo esforço para fazer algo legal, estavam me esperando nas mãos do garoto do primeiro ano no intervalo e eu decidi somente abrir o papel quando eu chegasse em casa.

Olhei no relógio do meu celular e faltavam alguns minutos para o intervalo acabar, então fui até o banheiro molhar o rosto para tentar me manter acordada na aula de física que, assim como literatura era um problema para Taylor, física era um para mim.

Entrei no banheiro e parei em frente a pia, olhando meu reflexo e ajeitando meu moletom no corpo, logo prendendo meu cabelo com um elástico que estava no meu pulso e molhando apenas as pontas dos dedos com a água fria da torneira.

No segundo que abri meus olhos após secar meu rosto com o papel, vi Maddie sair de uma das cabines.

Ela me encarou e foi até a pia mais distante de mim para lavar as mãos, e após fazê-lo, me deu as costas e foi em direção a saída.

-Madeline!- disse indignada e a mesma parou na porta sem olhar para trás, mas logo saiu, me deixando sozinha no banheiro.

(...)

As últimas três aulas foram tranquilas e passaram tão rápido que nem percebi a transição de uma para a outra, ainda mais por estar ocupada divagando pelo passado tentando achar algum motivo para Maddie não estar falando comigo.

Fui para casa e Drake não estava, como o usual, mas ele havia deixado um prato na geladeira com um bilhete em um palito espetado em cima. Ele havia escrito "seu almoço, maninha" mas tenho certeza que queria dizer "come se não eu te cato".

Coloquei a flor em um copo com água e minha mochila na cadeira. Depois tirei o plástico filme e o bilhete para colocar o prato no micro-ondas, assim, e sentei na bancada e puxei o papel da minha bolsa.

"Por mais que eu tente, é impossível entender como sua beleza pode ser tão encantadora.

@bluhng3"

Reli o bilhete umas duas vezes até o micro-ondas apitar e eu ser obrigada a levantar para pegar meu prato.

Me sentei na bancada com o meu celular ao lado do prato e fiquei pensando no que pensar sobre isso e a verdade é que nunca sei o que pensar quando leio esses bilhetes. E o que eu deveria pensar? Alguém está fazendo um garoto do primeiro ano do ensino médio me dar flores e bilhetes todos os dias apenas para me fazer respondê-lo no twitter, o que é meio fofo. Mas, por outro lado, esse alguém não quer que eu saiba quem ele é, e isso é ridículo e estranho.

Entrei na DM do twitter e fiquei encarando minha conversa com esse garoto, pensando se eu deveria ser a garota burra do filme que desbloqueia o amor da sua vida por trás de um celular, mas decidi não fazê-lo porque eu não serei essa garota hoje.

Além do mais, as provas estavam chegando e eu definitivamente deveria estar preocupada em estudar igual uma cavala em vez de ficar num garoto que pode nem sequer existir.