História The Bluelight - I am with you

ANJO POV.

Taekwoon estava nervoso na sala de cirurgia, o que não era comum, não para ele. Sua energia estava pesada, e seus pensamentos estavam longe. Suas mãos estavam tremendo enquanto ele tocava os objetos, eu podia sentir na pele sua inquietação.

Eu estava concentrado, tentando equilibrar sua energia, quando a voz baixa da mente de Taekwoon, ecoou em meus pensamentos, ele estava falando comigo. Por favor, pediu ele, me ajude.

Levei alguns segundos para processar o que havia acabado de acontecer, pela primeira vez nessa vida, Taekwoon havia me notado de fato, estava pedindo ajuda, chamando por mim.

Aproximei-me dele, parando ao seu lado, sentindo sua áurea tocando a minha; levei minha mão com cuidado até a mão de Taekwoon que segurava um objeto, segurei firme seu pulso e o conduzi. Sabendo todas as suas habilidades, o ajudei a terminar a cirurgia com cautela e calma, sentindo ele relaxar, sentindo seu pulso desacelerar.

Assim que a cirurgia terminou, ele saiu apressado, e eu o acompanhei como sempre fazia, indo de sua sala ao vestiário e então para o estacionamento, onde estava o seu carro.

Ele entrou no automóvel, e pegou a pequena caixa onde havia guardado minha pena; segurou-a entre as mãos e então sua voz ecoou dentro de mim mais uma vez. Obrigado, disse ele, sorrindo. Senti meu ser tremeluzir ao ouvir sua voz tão diretamente pela segunda vez em um dia; isso fez com que a pena dentro da caixa brilhasse também, fazendo-me querer gritar para ele com palavras audíveis, que eu estava aqui, que sempre estaria, que sempre o ajudaria.

*

Taekwoon chegou em casa perturbado, mas algo nele havia mudado, eu podia sentir, assim como todos os seus sentimentos. Nós anjos sentimos cada emoção que nosso protegido sente: medo, raiva, tristeza, e ficamos agitados quando eles também estão. Mas nossa capacidade de controle é maior, precisa ser, afinal somos designados a ajuda-los em qualquer circunstância, principalmente se formos notados.

Entrei no apartamento com Taekwoon e me posicionei no lugar no qual sempre ficava, perto da janela. Ele não fez o que costuma fazer sempre que chega em casa; ele simplesmente deitou-se no sofá, com as mãos atrás da cabeça, respirando fundo várias vezes.

Anjos podem ouvir os pensamentos de seus protegidos, se desejarem, mas sempre tomei cuidado, nunca ouvindo demais, pois conheço Taekwoon, e há certas coisas que ele gosta de guardar para si mesmo, então ficar em sua cabeça o tempo todo parece invasão de privacidade. Mas hoje ele esta tão diferente, e minha curiosidade falou mais alto, então permiti a mim mesmo ouvir o que ele estava pensando.

“Eu só posso estar ficando louco. Ou esse anjo realmente existe? Se sim, ele me persegue o tempo todo?” Taekwoon estava se perguntando; eu sorri, querendo dizer a ele que sim, eu existo. Não te persigo, mas estou sempre ao seu lado.

“Será que ele me vê no banheiro?” Questionou a mente de Taekwoon.

Eu não pude conter a risada, revirando os olhos. Ele sabe tão pouco, queria poder explicar a ele e responde-lo:

Não Taekwoon, não o vejo no banheiro.

Taekwoon levantou-se rapidamente, chamando a minha atenção e então disse em voz alta:

“Ok, isso pode parecer loucura, e eu sinto que estou ficando louco, mas preciso sair da dúvida”

Esperei, observando-o enquanto ele caminhava de um lado para o outro no meio da sala.

“Quero saber se você, anjo, existe mesmo, e se está aqui agora” disse Taekwoon, olhando ao seu redor.

Concordei com a cabeça, mesmo sabendo que ele não poderia ver.

“Ok, então, hmm, se você estiver aqui, me dê um sinal” Taekwoon pareceu pensar em algo por alguns segundos, analisando o cômodo, e então continuou, “ali, aquele sino de vento, se você estiver aqui, faça ele balançar” pediu ele.

Me virei para encarar o objeto, um sino de vento decorado com pétalas, parecendo uma cachoeira, pendurado perto da porta da varanda.

Hesitei, com receio de que ele se assustasse com o barulho que o sino iria fazer, mesmo que fosse um som suave. Então devagar, me aproximei do objeto e o toquei, balançando cautelosamente, apenas alguns segundos e então parei.

Me virei para olhar Taekwoon, que estava ofegante e pálido, causando a ambos uma sensação ruim. Quis me aproximar dele, mas então sua voz, baixa e fraca, ecoou pela sala.

“Balance uma vez para não, e duas vezes para sim” pediu Taekwoon, e eu assenti novamente.

Ele respirou fundo antes de verbalizar a pergunta.

“Você me salvou dos últimos incidentes, não é? O elevador, o carro e me ajudou na cirurgia?” Indagou Taekwoon.

Toquei o sino de vento duas vezes, com alguns segundos entre um toque e outro. Taekwoon estremeceu.

“A luz azul, a pena, é você?” Perguntou ele.

Novamente, toquei o sino duas vezes.

Então quer dizer que sempre esteve comigo, disse Taekwoon em pensamento, e eu repeti os dois toques no sino, respondendo sua pergunta silenciosa.

Taekwoon sentou-se na poltrona próxima a janela, dobrando as pernas e apoiando o queixo nos joelhos, correndo os dedos pelos cabelos, confuso e emocionado ao mesmo tempo. Esperei, observando-o enquanto ele tentava desfazer os nós em sua mente, querendo mais do que nunca poder abraça-lo.

“Dona Lena disse que eu posso pedir para que não se intrometa em minha vida, que não altere as coisas, como me salvar da morte. Não sei o que pensar sobre isso, é muita coisa; mas se eu pedir, que não me salve novamente, você me ouviria?” Perguntou Taekwoon.

Dessa vez não hesitei em tocar o sino. Um único toque.

Não Taekwoon, eu não seria capaz de deixar algo ou alguém feri-lo, isso não vai acontecer enquanto eu estiver aqui.