1. Spirit Fanfics >
  2. The Change- Fillie >
  3. Capítulo 08

História The Change- Fillie - Capítulo 08


Escrita por: MabelSousa

Notas do Autor


VOLTEI.

E sim a Lexi é uma cuzona intrometida e é exatamente assim que eu a imagino na vida real. 😩

Boa leitura ♥️

Capítulo 9 - Capítulo 08


Millie

Fechei bem meus olhos quando rompi o pequeno espaço que faltava para nossas bocas se encostarem. Finn inicialmente pareceu relutante com as mãos travadas ao lado do corpo e os lábios parados enquanto eu desesperadamente tentava beija-lo. Eu queria fazer isso, só que também não entendia a necessidade ardente que me tomou para que agisse daquela forma inesperada. Talvez fosse o calor do momento,a euforia por ter finalmente gravado aquele vídeo ou até mesmo a felicidade, porém na verdade eu sabia que era muito mais do que aquilo.

Finn mexia com alguma coisa em mim e desde a noite passada quando estivemos a um passo de nos beijar eu simplesmente não parava de pensar sobre isso. Eu tinha que fazê-lo para ter certeza de que seria tão bom quanto eu imaginava. Só que era bem melhor.

Depois de alguns segundos de insistência Finn pareceu relaxar o corpo e aceitou de vez o meu beijo suspirando sobre meus lábios, o que foi o convide de que eu precisava para aprofundar nossa conexão rolando minha língua para dentro da umidade de sua boca quente. Ele passou as mãos em volta das minhas costas me prendendo contra si mas ainda assim de forma contida sem ultrapassar muito dos limites.

O problema é que eu talvez quisesse ultrapassa-los e por isso mantive minhas mãos firmes em seus cabelos guiando-o para um beijo de tirar o fôlego o quanto eu podia. Arrastei meus dentes sobre seu lábio inferior sentindo a maciez do lugar e não me passou despercebido que Finn praticamente gemeu quando fiz aquilo. O som baixo em sua garganta me estimulou a continuar e eu fiz força sobre seu corpo afim de que ele se inclinasse mais sobre a cama. Seu óculos batendo contra minhas sobrancelhas, mas não me importei nenhum pouco. 

Eu tinha completa ciência de que parecia uma louca desesperada, mas não me importei em tomar as rédias da situação especialmente vendo que Finn não avançaria nenhum milímetro a mais sem minhas investidas. Como imaginei seu corpo cedeu ao meu e ele aos poucos foi se recostando na cama, suas mãos descendo até a base da minha coluna e a pressão exercida naquele ponto aumentou ainda mais meu desejo.

Eu queria beijar seu rosto, descer para seu pescoço, mas se eu o largasse temia que o encontro de nossos olhares pudessem nos afastar, por que mesmo sabendo que ele queria aquilo tanto quanto eu, tinha algo que Finn estava contendo dentro de si e ainda não era hora para pensar sobre aquilo.

Continuei comandando nosso beijo, sugando seus lábios, sua língua de forma lenta e quente mesmo que meus pulmões emplorassem por ar. Eu não ia parar de jeito nenhum. Meus órgãos estavam pegando fogo, minhas mãos ansiosas. 

Como uma brincadeira sem graça do destino escutei o toque do meu celular em algum lugar abafado e a vibração embaixo de mim me dizia que eu estava sobre ele. Tentei ignorar o barulho, ainda insaciada, porém Finn ficou tenso e senti que suas mãos começaram a querer se afastar para tatear sobre a cama.

Não tire suas mãos de mim. Não tire. Agora nao.

Comecei a fazer um mantra mental, amaldiçoando quem quer que estivesse ligando naquele momento, porém não funcionou e com um estalar de lábios Finn soltou minha boca.

-Acho.. acho melhor você atender. -Ele disse ainda por cima da minha boca com a respiração ofegante.

Abri os olhos encarando a escuridão dos seus olhos agora parecendo mais opacos por causa do beijo e me obriguei a sair de cima dele com um resmungo de protesto me sentindo frustrada. Peguei o celular que estava embaixo da minha perna por conta da nossa bagunça e fitei a tela vendo o nome de David brilhando nela.

Droga. Eu estava ferrada.

-É o David. -Falei começando a entrar em Pânico.

Aquela altura David com certeza já teria assistido o vídeo e estava pronto para arrancar minha cabeça. Finn se acomodou melhor na cama, porém não me encarou o que me deixou mil vezes mais atordoada. Seus lábios estavam vermelhos por conta do beijo e dos resquícios do meu batom e a visão só me fez querer mais daquilo. 

-Melhor atender logo, uma hora ou outra isso ia acontecer. -Ele disse se virando para voltar a fuçar no computador.

Uma hora isso ia acontecer

Não entendi muito bem se ele estava falando de David ligar ou que íamos parar de nos beijar em algum momento. Talvez fosse impressão minha, mas olhando a forma com que ele se distanciou, me fez pensar que estivesse arrependido de ter me beijado.

Levantei da cama ainda segurando o celular. Meu corpo ainda estava leve mas agora a sombra da estranheza atraia meus sentidos muito mais do que meu medo da reação de David. Não queria que Finn ficasse arrependido.

-Vou atender lá fora. -Falei baixo sem saber se ele ao menos se importaria com isso já que nem se quer me encarava.

Abri a porta e fiquei no corredor, pressionei o botão de aceitar a chamada.

-Eu espero que você tenha caído de cabeça e ficado louca de vez, ao invés de acreditar que fez isso por conta própria. -Foi a primeira coisa que ele disse, sua voz fria e distante como se já tivesse ensaiado tudo para me dizer.

-David, eu...

-Espere, me escute primeiro. -Ele me interrompeu. -Você entende os motivos pelos quais eu quis que você se distanciasse de tudo Millie? Será que você realmente compreendeu a magnitude negativa que o seu escândalo causou em sua carreira? Tudo o que eu fiz até agora foi para tentar consertar as coisas de forma que não lhe causassem tantos danos, e agora tudo foi jogado fora.

-Eu sei, mas...

-Ainda não terminei Millie. -David exalou uma grande quantidade de ar. -Voce agiu pelas minhas costas garota, fez absolutamente tudo o que eu disse para não fazer...

Foi a minha vez de interromper. Eu fiz o que achava certo e não era justo que David me criticasse tanto assim, além disso todos os meus nervos estavam inflamados pela situação com Finn, então não poderia ficar calada.

-Eu tinha que fazer aquilo, sei que você queria me proteger mas não é dessa forma que iria conseguir. Sinto muito que tenha te decepcionado Dave, mas não me arrependo do que fiz. -Por um milagre minha voz saiu firme.

David hesitou, depois o ouvi suspirar.

-Como eu ia dizendo, você fez tudo o que eu disse para não fazer e agora vendo as coisas por essa perspectiva percebi que esse tempo todo eu estava errado.

Aquilo me chocou, pressionei bem o telefone no ouvido com medo de não ter escutado direito.

-David, não entendo...

-Bem, você fez uma bagunça maior ainda querida. -Sua voz pareceu menos densa, soando até mais divertida. -Mas agora finalmente é uma bagunça boa. Suas palavras foram perfeitas e eu fiquei imensamente orgulhoso da sua atitude, embora ainda assim me sinta magoado por não ter conversado comigo antes.

Uau. Uau mesmo.

-Então eu não estou encrencada?

Ele riu

-Esta brincando? Você silenciou qualquer um que estivesse contra você querida, em menos de dez minutos eu já tive inúmeras ligações de programas querendo sua participação em entrevistas. Foi simplesmente genial. Eu estive forçando uma imagem que não era sua e agora as pessoas estão ansiosas para conhecer essa nova Millie.

Meu coração acelerou de alegria e também de surpresa. Nunca pensei que meu plano funcionaria, fiz o vídeo sem pensar direito nas consequências embora soubesse que poderiam ser ruins, mas droga, ouvir aquilo era muito bom.

-Ah, David, não sei o que dizer. Pensei que tivesse estragado tudo.

-Não querida. Você desviou o foco da polêmica para uma questão social muito importante que precisa ser discutida. -Sua voz era cheia de orgulho. -Pela primeira vez não me arrependi de ter deixado que seus amigos fossem te visitar, finalmente fizeram algo decente para você.

Franzi os lábios. David achava que meus amigos tinham me ajudado, mas ele não sabia a verdade, não sabia que eu descobri sobre Rose e de qualquer forma não era o melhor momento para comentar aquilo.

-Não David. Eles não tiveram nada a ver com isso. Foi o Finn que me ajudou a gravar.

David hesitou, parecendo chocado.

-Bem, eu estou surpreso. O Finn fez isso? Nossa, agora estou mesmo satisfeito de ter juntado vocês dois, afinal.

Eu também.

-Sim, devo muita coisa a ele. -Não contive um suspiro feliz, mas logo outra coisa me passou pela cabeça.

O que David diria se descobrisse que havíamos nos beijado?

-Vou ligar para ele agradecendo depois, eu achei que tinha transformado a vida do garoto em um inferno e devo também um pedido de desculpas. Claro que deveria fazer isso pessoalmente, mas não tenho tempo para ir buscá-la hoje, quem vai é o Samuel...

-Espera, como é? -O interrompi quando assimilei aquelas palavras.

-Sim, o Samuel vai buscá-la dentro de duas horas, melhor arrumar suas coisas e...

-David, Não.

Engoli em seco de repente desesperada. Não queria ir embora, simplesmente não podia fazer aquilo. Não hoje. Senti uma suave tontura e me segurei na parede.

-Como assim, não? Millie, já marquei algumas entrevistas e agora você não vai precisar mais se esconder, não faz mais sentido algum ficar aí. -Ele permanecia irredutível.

Em outro momento talvez eu tivesse ficado maravilhada em ouvir aquilo, mas naquele contexto ir embora significava que tudo ia acabar, Finn e eu, se é que existia alguma coisa, e se existia mal havia começado. Nao, eu não podia ir embora.

-Não me sinto pronta para voltar ainda. -Disfarcei um tremor em minha voz devido a falta de segurança.

David fez um barulho semelhante a de se sentar em uma poltrona e depois respondeu

-Eu acho que você está mais do que pronta. Achei que tivesse gravado o vídeo para poder voltar para casa. Vamos, aconteceu alguma coisa? Me conte.

Aconteceu. Estou sentindo coisas estranhas pelo seu sobrinho esquisito e você interrompeu nosso beijo e se eu for embora nunca vou conseguir me perdoar.

Eu devia ter falado aquilo, mas respirei fundo tentando protelar aquele assunto.

-Não aconteceu nada. Só acho que preciso de alguns dias a mais para pensar, isso tudo me pegou de surpresa.

David fez uma pausa, o que demonstrava que ele queria me entender. Ele tinha que me entender.

-Olha Millie, eu entendo. -Suspirou. -Consigo postergar seus compromissos para o início da semana, você pode ficar até segunda.

-Mas David hoje é quinta, são apenas três dias. -Protestei fazendo um cálculo mental em que todos os resultados me diziam que três dias não era tempo suficiente.

-Infelizmente é o máximo que consigo, querida. Vamos ter que lidar com isso de qualquer maneira. -Ele disse firme, demonstrando que eu não teria opção.

-Esta bem, então. -Afirmei com relutancia, aliás não teria por que insistir com David.

-Tenho uns telefonemas para fazer agora, preciso desligar. Se mudar de ideia quanto a voltar para casa me avise, tudo bem?

Não tinha a menor possibilidade de ir embora antes dos três dias, eu sabia, mesmo assim confirmei.

-Sim, eu aviso. Tchau Dave.

Em seguida ele desligou a ligação.

Fechei os olhos tentando ao máximo relaxar a tensão que tomara minha mente e meu coração. Estava tudo bem, eu deveria querer ir embora, mesmo assim eu estava presa naquele lugar e só me restavam três dias para que eu colocasse a cabeça no lugar e tomasse uma decisão sobre meus sentimentos.

 Um frio na barriga me tomou quando pensei novamente sobre os três dias. Mesmo que naquele curto espaço de tempo eu conseguisse entrar em consenso com meus sentimentos, do que adiantaria? Era inevitável que eu fosse embora, Finn iria também e as chances de nos reencontrarmos novamente eram mínimas, para não dizer impossível. Entrei em Pânico novamente e estava começando a odiar minha falta de controle. Eu não era assim, me envolvia com as pessoas sempre sabendo que seria algo passageiro e agora estava angustiada com a imaginação de me afastar de um cara que eu conhecia a apenas algumas semanas.

Tentei afastar aquele pensamento e entrei de novo no quarto não querendo disperdisar meus poucos momentos. Eu daria conta da situação, não era o fim do mundo.

Finn ainda estava sentado na cama com o laptop no colo, ele parecia distraído ou pelo menos queria que eu pensasse isso apesar de haver um pequeno vinco de preocupação em sua testa. Eu não disse nada no entanto, não queria perturba-lo com minhas próprias dúvidas muito menos dizer o que tinha acabado de conversar com David, mas tampouco queria sair dali e ficar sozinha.

Fui andando vagarosamente e me sentei ao seu lado na cabeceira da cama.  Notei que ele havia preferido ignorar minha presença até aquele momento, o que eu não entendia muito bem, mas assim que me acomodei Finn se mexeu, passando o computador para o lado e se afastando de repente.

-Então... Estamos ferrados? -Ele perguntou sem me encarar, seus dedos nervosos batucando sobre o tecido de sua calça jeans.

-Não. Acho que não.

Respondi apenas isso, não querendo entrar no assunto, porém Finn insistiu.

-Pela sua expressão vejo que não foi uma conversa fácil.

Eu desviei o olhar fixando meus olhos em algum ponto da parede vazia do quarto. Não queria mentir sobre o teor da minha conversa com David, então respondi:

-Ele me apoiou, disse que fiz a coisa certa.

Finn virou a cabeça surpreso.

-Jura? Ele pirou ou algo do tipo? -Havia um resquício de nervosismo em seu tom, talvez por estar curioso e eu estar protelando a conversa.

-Não. Só assumiu que errou ao tentar me esconder aqui.

Finn levantou uma sobrancelha.

-Bem, isso é verdade, mas tem algo mais, não tem? Se está tudo bem...

-Ele disse que vou poder ir para casa. -Disparei antes que pudesse conter minha boca.

Ele iria descobrir, de qualquer forma.

Finn pestanejou e se afastou ainda mais de mim indo para a outra ponta da cama. Por alguma razão aquela distância era insuportável.

-Isso é bom, muito bom. -Ele disse, mas na verdade seu tom não era satisfeito. -Alguem vem buca-la aqui?

Comecei a enrolar um dedo no outro me sentindo idiota por admitir que pedi mais dias.

-Vou ficar até segunda, pedi a David que me deixasse. -Assumi sem levantar a cabeça.

Finn hesitou, mesmo sem encara-lo podia pressentir que haviam engrenagens girando em sua mente digerindo a informação.

-Você não precisava fazer isso, quer dizer, acabou, não tem mais que se esconder.

Apesar de não parecer contente seu tom também soou aliviado, o que era confuso já que eu não conseguia discernir se ele gostou ou não de eu ficar por mais dias.

-Eu sei que não preciso e não pedi por que quero me esconder. Eu só quero... Ficar. -Falei com um tom baixo, sendo difícil dizer aquilo quando eu sabia que não fazia sentido.

Porém Finn pareceu entender minha intenção por trás daquelas palavras e o que vi em seu rosto fez com que eu me sentisse ainda mais idiota.

Ele levantou da cama, começando a andar de um lado para o outro enquanto as mãos passavam pelos cabelos.

-Millie, olha... -Ele fez uma pausa, parando de andar para me encarar. Seu rosto estava vermelho e meu coração acelerou. -Isso... Nós... Não tem como dar certo. -Usou as mãos para apontar de mim para ele.

Eu tinha tentado atrasar aquela conversa pelo medo de ouvir exatamente aquilo e ainda que tivesse esperado um tempo eu não estava preparada, minha única saída era fingir que não me magoou para não parecer tão afetada.

-Eu não sei do que você está falando. -Respondi cruzando as pernas como se estivesse apenas desconfortável na cama.

Porém o desconforto não passou. Se tornava pior a cada segundo. Finn colocou as duas mãos sobre a grade da ponta da cama se inclinando para frente.

-Por favor, sejamos sinceros um com o outro. Não deveria ter acontecido nada entre nós e agora você está desistindo de voltar para casa por minha causa.

-Por que não? Achei que estivessemos bem aqui. -Minha voz saltou para fora, indo bem mais alto do que eu gostaria.

Finn cerrou os lábios.

-Sim, estava tudo bem, até que você me beijou. -Praticamente sussurrou a última palavra.

Ok. Eu havia insistido no beijo, eu havia insinuado e começado, porém não fiz nada sozinha, aquela acusação era injusta.

-Ah, chega, foi só um beijo. O que tem demais? -Abanei com a mão fingindo pouco caso. Eu não precisava demonstrar mais do que isso.

Finn me olhou como se eu tivesse duas cabeças.

-Foi só um beijo e agora você não quer voltar para casa. -Ele disse com a voz carregada de incredulidade. Seu corpo se moveu e ele ficou de costas outra vez. -Diga a verdade, você está sentindo algo por mim?

Finn se manteve de costas, o que foi um alívio já que eu pude ficar chocada sem que ele me encarasse, pois não esperava aquela pergunta. Percebi que havia ficado tempo de mais presa no estupor e então respondi.

-Não.

Finn relaxou os ombros e soltou uma lufada de ar. Seu nítido alívio me deixou paralisada. Por que ele  tinha tanto medo que eu gostasse dele? Se não me correspondesse seria um problema meu, não seria?

-Então ligue para o David e peça para ir embora. -Ele se virou outra vez, seu tom mais contido mas sua expressão aparentava que era difícil me pedir aquilo.

Eu estava cada vez mais confusa e definitivamente precisava de respostas.

-Serio, por que se preocupa tanto com isso? Se eu gostar ou não de você qual a diferença?

Ele deu um passo para trás sendo pego desprevenido por minhas perguntas.

-Não me... -Fez uma pausa como se quisesse reformular sua resposta. -Olha, você não pode gostar de mim. Só isso. -Disse mais sério.

Era mais uma resposta evasiva, poderiam haver mil motivos para aquilo, porém eu sabia que ele não explicaria. Suspirei cansada de ter aquela conversa e magoada também por ter sido ingênua de acreditar em algum momento que ele também poderia sentir algo por mim.

-Então não precisa ficar tão preocupado com isso. Já disse que não gosto de você, nesse sentido. Queria te beijar e fiz isso, não vai mais acontecer.

Cada palavra escapou da minha boca com um gosto amargo, como se minha mente as rejeitasse, porém eu não ia fazer papel de idiota. De qualquer forma eu teria que conviver com aquele fato: havia algo que ele não queria me contar, portanto eu teria que descobrir sozinha.

Finn afirmou com a cabeça. Depois enfiou as mãos nos bolsos

-Ok, me desculpe por isso.

-Tudo bem. -Assenti com indiferença. -Vamos passar mais três dias aqui, será que poderíamos pelo menos... Ser amigos? -Falei me levantando da cama.

Eu não ia insistir, ele não queria nada comigo  eu teria que aceitar isso de vez, talvez fosse melhor assim.

Finn acenou com a cabeça, mas seus olhos permaneceram abaixados encarando o chão. Cada vez que eu achava que estava começando a entende-lo eu me perdia ainda mais.

-Vou descer, ajudar a Rose a fazer o almoço.

Rumei para a porta e escutei o barulho rouco de sua garganta quando pigarreou.

-Voces são amigas agora? Assim, de repente? -Ele perguntou antes que eu saísse.

-Sim, só precisávamos conversar para nos entender. Sabe Finn, as vezes uma simples conversa é capaz de resolver muita coisa. -Eu falei deixando no ar minhas palavras e simplesmente sai sem esperar uma resposta.

--

Finn.

2 anos antes.

-Filho, você tem certeza de que precisa fazer essa viagem? -Minha mãe me perguntou pela terceira vez seguida enquanto me ajudava a preparar minha mala.

Geralmente ela não se preocupava comigo ao ponto de me impedir de fazer qualquer coisa, porém naquela viagem específica minha mãe se mostrava relutante. Era como se ela soubesse inconscientemente o que eu estava indo fazer, mas era impossível que soubesse.

-Sim, mãe. Tenho certeza. Vão ser algumas semanas, o acampamento é seguro e vou ficar com o pessoal da faculdade o tempo todo.

Eu me odiava por mentir daquele jeito. De fato havia uma viagem da faculdade, porém não era para lá que eu estava indo. Me senti culpado por usar aquela desculpa, mas não podia contar a ela que ia sair em busca de encontrar Susan. Já faziam três anos que não a via e eu precisava tentar, aquela era a oportunidade perfeita.

-Esta bem filho. Tenha cuidado. -Ela se aproximou de mim e me abraçou com cuidado, como se prevesse nossa despedida.

Eu não queria que fosse uma, mas sabia que no momento em que encontrasse Susan eu não poderia mais voltar para casa. Minha mãe nunca aceitaria que eu amasse uma mulher casada e dezesseis anos mais velha do que eu, uma mulher que fora sua melhor amiga a qual havia me apaixonado quando tinha apenas quatorze anos.

Beijei seu rosto durante um bom tempo, capturando sua fragrância de tulipas doce que lhe era característico. Eu a amava demais, porém tinha que decidir minha vida.

Cheguei do outro lado da cidade de Cobourg, Ontário, onde eu passei grande parte dos dias, seguindo a única pista que possuía sobre Susan, era lá que ficava uma base do exército e onde possivelmente Marvin estava trabalhando. Fora isso, não havia nenhuma evidência de que eles haviam se mudado. Vaguei praticamente por todos os bairros próximos a base tentando reconhece-la por de trás das janelas das casas. Dormia em hotéis baratos de beira de estrada e quando o dinheiro ficou escasso passei as noites intermináveis dentro do carro com alguns salgadinhos e uma garrafa de vodka.

Não encontrei nada. Nem mesmo perguntando nas escolas e nas faculdades. Susan era professora e a menos que tivesse parado de trabalhar a única resposta para a pergunta era que ela realmente não estava pela cidade.

Me perguntava onde diabos ela tinha se enfiado e por que havia se comprometido tanto com a promessa de não me procurar a ponto de nunca ter ido atrás de mim de verdade, nem mesmo mandado um sinal de vida. É claro que ela não faria isso. David foi bem duro em relação a sua ameaça e onde quer que Susan estivesse eu sabia que jamais iria encontrá-la. Pelo menos não sem ajuda, e no caso a única pessoa que poderia me ajudar era ela mesma.

Voltei para casa num final de semana chuvoso. Minha mãe logo reconheceu que eu não estava nada bem para quem tinha ido a uma viagem de faculdade, mas foi delicada o suficiente para não comentar nada sobre minha perda de peso, ou sobre as feridas que eu carregava no rosto, tudo isso por ter sido vítima de uma tentativa de assalto quando tentaram roubar minha picape.

Porém nenhuma dessas coisas me incomodava mais do que o fato de que eu não havia conseguido, de que eu fracassara. No verão seguinte eu já tinha tudo pronto para me mudar para um apartamento e morar sozinho, geralmente é o que se faz quando se atinge a maior idade saindo da casa dos pais. Mas antes do processo terminar desisti, sabendo que se um dia Susan voltasse, só poderia me encontrar se eu estivesse na casa dos meus pais, então fiquei.

Embora nunca tenha me curado. Nunca tenha esquecido. Susan era uma parte de mim e mesmo que demorasse uma vida inteira, um dia nos reencontrariamos.

--

Dias atuais.

Desci para almoçar depois de um longo tempo após Millie ter me deixado no quarto. Eu comi a comida que as duas haviam preparado, porém sozinho ao notar que elas estavam na parte de fora da casa conversando sobre algo que não dava para ouvir. Era estranho que de repente Rose e Millie estivessem de dando bem, mas não fui atrás de descobrir o por que, aproveitando o tempo que estavam fora para ficar sozinho.

Eu sempre havia gostado de ficar assim. A melhor forma de esconder seus sentimentos é ficando afastado das pessoas e eu, embora não quisesse admitir tinha muitos e agora depois de tudo que havia acontecido estava mais perturbado do que nunca.

Foi uma surpresa que Millie não quisesse ir embora e tenha insistido para ficar por mais três dias na casa. Eu fiquei contente com isso, porém o medo sobrepujou esse sentimento logo que percebi os motivos que a levaram a tomar essa decisão. Millie tinha me beijado e eu não era idiota ao ponto de não perceber que ela esperava algo mais de mim. Algo que eu não poderia dar, nem se eu quisesse.

Três dias e tudo isso iria acabar. Três malditos dias.

Eu poderia ir embora antes disso, talvez o fazendo Millie se convencesse de também ir para casa, porém eu não conseguia ir enfrente, algo me puxava a ficar ali mesmo que minha cabeça estivesse o tempo todo tentando afastar-me. Era ela. Sempre fora ela. E isso era um enorme problema.

Voltei para o quarto e me deitei ao lado do computador, deixando a página do YouTube carregada e revi o vídeo que havíamos gravado umas quinhentas vezes até o ponto de decorar cada frase que Millie havia dito. Em nenhuma delas deixei de me arrepiar com a forma firme e determinada com que aquela garota falava, como se estivesse dando uma bronca no mundo, como se quisesse muda-lo.

Millie era o conjunto perfeito. Como se todas as qualidades possíveis de se por em uma única pessoa tivessem sido escolhidas a dedo para ela, o que era um pensamento muito irracional, mas verdadeiro. Ninguém tinha o direito de ser tão perfeita, bonita, talentosa, inteligente, engraçada, destemida e ainda assim sensível.

Rolei pela página depois que revi o vídeo e me fixei nos comentários. A maioria deles eram positivos com palavras de apoio e orgulho, alguns deles nem tanto, haviam pessoas que diziam que ela estava tentando aparecer e outros piores ainda sobre seu corpo exposto nas fotos.

Aquilo sempre me incomodava, mesmo num vídeo falando exatamente sobre o assunto, ainda existiam pessoas com aquele tipo de pensamento. Loguei na minha própria conta e mudei meu nome de usuário para um nome qualquer, depois fui até o vídeo e fiz um comentário. Assim que escrevi me arrependi, porém o deixei lá, mesmo que Millie visse, o que era pouco provavel, ela nunca saberia que era eu.

Em algum momento consegui dormir. O fone de ouvido em looping ainda transmitindo o vídeo para mim e não me importei que estivesse machucando minhas orelhas. Quando acordei de novo o computador tinha descarregado e uma dor persistente de cabeça pulsava ao redor da minha têmpora. Olhei para a janela vendo que era tarde, talvez muito e levantei da cama.

Vi que a luz do quarto de Millie estava apagada e por isso constatei que ela ainda não havia ido dormir. Ao terminar de descer as escadas ouvi o som de alguma música que reverberava da parte de fora da casa e Rose entrou no momento em que eu estava prestes a sair. Ela parou ao me ver, seus cabelos estavam molhados e ela estava coberta por um roupão grande.

-Hum, oi. -Me saudou com um sorriso tímido. -Você não desceu lá de cima, achei que estivesse doente.

Eu me sentia doente.

-Não. Só estava cansado. -Respondi massageando a parte de trás do meu pescoço que estava dolorido. -A Millie está lá fora?

Rose juntou os lábios em uma linha fina e balançou a cabeça.

-Sim, passamos a noite na piscina mas ela não quer entrar ainda.

Novamente fiquei com vontade de perguntar como elas haviam se entendido, porém o fato de Millie estar lá fora sozinha era mais importante.

-E... Ela está bem? -Perguntei tentando manter um tom casual.

Rose sorriu.

-Ah, sim, eu diria que sim. -Maneou a cabeça para a estante onde havia a tv e as garrafas de bebida de David. -Ela está aproveitando bastante.

Aquilo queria dizer que Millie estava bêbada. Pigarreei para limpar a garganta.

-Esta meio tarde, acho melhor falar para ela entrar.

Rose deu de ombros.

-Não. Ela teve um dia complicado, você sabe, deixa ela se divertir um pouco, sabe-se lá quando vai poder fazer isso de novo, não é?

Pela forma como Rose falou eu soube que Millie tinha contado tudo para ela. A pele do meu rosto esquentou com o constragimento e eu desviei o olhar.

Ela suspirou esperando uma resposta e então arrumou os cabelos para trás.

-Eu estou indo dormir. Se eu fosse você iria até lá. -Rose se aproximou e colocou uma mão sobre meu ombro. -Finn, eu gosto de você.

Eu congelei, então seu toque sensível passou a pesar uma tonelada sobre meu ombro. Eu realmente não estava preparado para ouvir aquilo.

-Rose... Quer dizer... -Gaguejei e Rose balançou a cabeça.

-Esta tudo bem. -Garantiu sorrindo. -Nao podemos escolher de quem gostamos e eu sei que você gosta de outra pessoa.

Merda aquela conversa estava ficando cada vez pior. Comecei a pensar se em algum momento tinha comentado sobre Susan com Rose, mas era óbvio que não tinha. Passei a mão pela testa subitamente suada, um pânico começando a se formar dentro de mim.

-Pois é. Não escolhemos. -Confirmei me afastando.

Rose sorriu como se eu fosse muito ingênuo, depois começou a andar de costas para dentro da sala ainda me olhando.

-Você sabe que eu estou falando da Millie, não é? -Ela disse e piscou o olho. -Deixa de ser medroso e vai até lá. Boa noite.

E então ela se virou e sumiu dentro do corredor.

Suspirei quase aliviado, mas o que Rose me disse continuou pairando na minha mente. Achei que esse tempo todo ela estivesse falando sobre Susan quando na verdade era sobre Millie. O que também não fazia sentido. Eu não gostava de Millie. Não mesmo.

Balancei a cabeça para confirmar meu pensamento e decidi chegar até na porta. Eu não iria até lá, apenas queria me certificar de que ela estivesse bem, aliás, não queria que acontecesse o mesmo da última vez.

Quando cheguei na varanda encontrei-a perto da beira da piscina. Millie estava de Costas, distraída, usando um biquíni vermelho e segurava em uma das mãos uma taça com um líquido transparente cheio de pedras de gelo. Cruzei os braços e apenas observei, uma música com batida animada começou a tocar na pequena caixa de som no chão e de repente ela começou a dançar.

Eu sou a Miss "Sonho Americano" desde os 17 anos...Não importa se eu estou em cena....Ou fugindo para as Filipinas...Eles ainda vão colocar fotos do meu traseiro na revista...Você quer um pedaço de mim? Você quer um pedaço de mim?

Dizia a letra que ela cantava animadamente agitando os braços para cima sem deixar que a bebida caísse, seus gritos se tornando mais estridentes quando ecoava a parte "você quer um pedaço de mim?" E ela cantava para ninguém, quer dizer, ninguém além de mim que estava vendo tudo.

Ela estava se conectando com os versos, como se a música tivesse realmente tivesse sido feita para ela e apesar da letra ser um pouco crítica ela simplesmente estava leve, seus quadris se movendo no ritmo das batidas.

Eu sou a Miss "Você quer um pedaço de mim? "....Tentando me deixar puta da vida...Bem, entra na fila com os paparazzi...Que ficam me irritando...esperando que eu arrume uma confusão... E me levar  ao tribunal...Agora, tem certeza que você quer um pedaço de mim?

Depois disso ela inclinou o copo para cima e bebeu o conteúdo todo de uma vez em apenas um gole. Em seguida mirou sua própria imagem refletida na água e começou a rir. Eu não me contive e fui tomado pela risada acabando rindo junto com ela. Não sei se fiz isso alto demais ou se ela apenas sentiu minha presença pois quando olhei novamente ela estava parada olhando na minha direção apertando o copo vazio.

-O que é tão engraçado? -Perguntou com a voz alta por cima da música.

Ela parecia um pouco irritada com isso, eu não a culpei por que de repente me dei conta de que eu estava ali olhando sem ter sido convidado e bem, isso realmente era estranho.

Me convenci a andar e saltei a grade da varanda para chegar mais perto do jardim.

-Nada demais. Você também estava rindo. -Respondi sorrindo para diminuir a tensão.

Ela ainda ficou parada me fitando e então depois deu de ombros.

-É uma música boba. -Comentou indo até a caixa de som para abaixar o volume.

Percebi que ela estava constrangida e isso me incomodou

-Achei a música divertida. -Soltei. -É assim que você se sente?

Millie pareceu surpresa com minha pergunta e então mordeu o lábio.

-Como a música ou como a Britney?

Eu dei de ombros. Nem fazia ideia que a música era da Britney.

-As duas, talvez.

Millie sorriu e então se abaixou na grama para encher o copo novamente com gelo e tequila.

-Acho que ainda não cheguei no nível da Britney em relação a polêmicas, mas sim, a música representa bem como eu me sinto.

Ela mexeu o líquido na taça com experiência, depois levantou novamente. Seus cabelos estavam ainda mais dourados na luz da lua e me contive para não encarar seu corpo coberto apenas pelas pequenas peças vermelhas.

Estava começando a ficar com calor.

-Então atrizes famosas não vivem as mil maravilhas, pelo visto. -Comentei.

Millie deu uma risadinha que fez seus olhos quase se fecharem.

-É, acho que não, mas não tenho do que reclamar, existem partes muito boas também.

Ela caminhou rindo até se sentar sobre a cadeira de sol.

Eu queria ter algo a dizer para que não ficassemos em silêncio novamente então falei a primeira coisa que me veio a cabeça.

-O vídeo bombou. Já está com mais de oito milhões de views.

Ela levantou a cabeça surpresa, porém sua expressão estava mais para apavorada do que qualquer coisa. Ela pegou o celular que descansava na grama ao mesmo tempo que virou mais bebida para dentro. Algo no vídeo a estava  perturbando e eu não sabia o que era, já que pelo que ela mesmo havia comentado, David tinha aceitado muito bem aquilo. Saí de onde estava e caminhei até ela, parando para me sentar na cadeira ao seu lado.

-O que foi? Está tudo bem? -Perguntei com cautela.

Millie ainda estava com o olhar fixo no celular, parando apenas para entornar mais tequila. Ok. Estava estranho.

-Millie, você não acha melhor ir com calma?

Experimentei aproximar minha mão para tentar pegar sua taça, mas ela se afastou antes que eu pudesse faze-lo.

-Estou bem. Você não precisa fingir que se importa comigo. Volta lá para dentro, me deixe beber sozinha.

Apesar da grosseria seu rosto estava branco como se tivesse se assutado e suas palavras certamente não condiziam com que estava se passando em sua mente. Talvez fosse o choque de realidade chegando, ou talvez... Fosse minha culpa. Me lembrei da forma com que falei com ela mais cedo depois que nos beijamos, como praticamente exigi que ela não gostasse de mim. Claro que era culpa minha.

Aquilo fez minha cabeça doer ainda mais com o peso da culpa, eu queria protegê-la de mim e acabei deixando-a assustada e provavelmente se sentindo rejeitada. Fiquei um bom tempo em silêncio absorvendo todas as informações, depois reparei que a garrafa pela metade de tequila e o saco de gelo estavam próximos ao meus pés. Levantei o braço na direção de Millie.

-Me dê o copo. -Pedi.

Ela juntou as sobrancelhas e encarou a sua taça nas mãos. Talvez Millie fosse acostumada com pessoas sempre lhe dizendo o que fazer, mas eu não seria essa pessoa, ela pareceu perceber e então me passou a taça ainda que relutantemente.

Enfiei a mão dentro do saco capturando duas pedras quadradas de gelo e enchi o copo até a borda com tequila. Fazia tempo que não bebia, exceto pela única cerveja que tomei durante o jogo. O jogo. Minha mente projetou as imagens daquela noite na minha mente e a única coisa que conseguia ver era Millie beijando Louis, bem ali, onde eu estava sentado agora.

Minha garganta apertou com o nó se formando dentro dela, pois nem mesmo me lembrar do nosso beijo me fazia esquecer do que eu havia visto.

Segurei o copo cheio nas mãos e o entornei de uma vez enchendo as bochechas até o ponto de vazar um filete de tequila pelos cantos da boca. Quando engoli, o fogo se instalou dentro de mim, queimando tudo por completo passando por todas as minhas veias em direção ao coração.

Millie estava olhando, sem dizer nada apenas mortificada com que estava vendo. Eu enchi o copo de novo, ainda insatisfeito e ela limpou a garganta ao meu lado.

-Finn, o que está fazendo? -Ela perguntou baixinho, como se não me entendesse.

Eu também não entendia e seria melhor estar bêbado demais para não tentar descobrir. Assim as coisas funcionam melhor.

Não respondi e tomei mais um copo cheio, dessa vez não queimou tanto quanto da última e meu cérebro chacoalhou quando voltei a abaixar a cabeça, meus óculos escorregando até a ponta do nariz.

Millie suspirou e então sua mão foi até a minha e ela tirou o copo gentilmente dos meus dedos, o deixando de lado. Depois se arrastou até ficar de frente para mim. Eu permanecia com a cabeça abaixada, incapaz de tirar os olhos do chão por que não podia encara-la. Ela colocou as duas mãos nos meus joelhos e faíscas atingiram meu corpo.

Era ridículo pensar aquilo, mas minha cabeça quase bêbada imaginou a combustão acontecendo dentro de mim no instante em que ela me tocou.

-Você não precisa fazer isso. -Millie disse depois de um tempo em silêncio. Seus dedos giravam sobre meus joelhos.

Eu não sabia a que ela se referia exatamente por isso não respondi. Em seguida uma de suas mãos subiram e ela segurou na ponta do meu queixo até que tivesse minha cabeça erguida.

Eu permaneci com os olhos fechados no entanto. Minha consciência estava começando a oscilar por ter bebido muito e rapidamente, mas ainda estava ciente de que ela estava me encarando com aqueles faróis dourados.

Senti um de seus dedos irem até meu nariz e ela empurrou os óculos de volta para o local habitual e o polegar se arrastou por minha bochecha por longos segundos.

Me beije. Me beije. Me beije.

Meu cérebro estúpido começou a repetir aquele pedido mas eu era incapaz de pronunciar as palavras então apenas esperei, mas ela rompeu nossa conexão e um vento frio soprou quando percebi que Millie tinha levantado da cadeira. Permaneci com os olhos fechados até que ouvi que ela aumentou o volume do som para uma outra música tocar, mais calma e suave dessa vez em seguida pulou na piscina.

Abri os olhos recobrando a consciência das imagens na minha frente e a vi dando uma volta por dentro da água, seu corpo indo de acordo com o movimento da mesma.

Por que eu não disse nada, afinal? Ela estava bem aqui e eu a afastei, como sempre faço. Era o certo, mas quem se importa com o que é certo ou não? Estava tendo uma crise de pensamentos quando Millie submergiu da água e começou a falar, ainda de costas para mim:

"Eu acho você incrível, doce e inteligente. Seu sorriso é a coisa mais linda que já vi em toda minha vida e posso jurar que as estrelas do céu são menos brilhantes do que seus olhos. Você me inspira, me faz enxergar o mundo de uma forma melhor e me traz alegria quando dentro de mim não sobrou mais nada. Millie, não importa o que digam, você é perfeita. "

Eu tremi ao escuta-la recitando o comentário que eu havia feito em seu vídeo ha algumas horas atrás. Não tinha como saber que era eu. Eram milhões de comentários e ainda assim ela estava lá, jogando na minha cara que tinha inclusive decorado minhas palavras bregas.

-Foi você, não foi? -Ela perguntou quando se virou para mim outra vez.

A água batia no comprimento de seu busto acentuado e seus cabelos estavam lambidos para trás da cabeça, porém o que reparei foi que seus olhos estavam marejados. Eu poderia negar, mas ela sabia e não adiantaria fazer isso.

-Sim. -Respondi mais baixo do que eu gostaria.

Ela se aproximou da borda da piscina e seus olhos buscaram os meus. Ela estava séria, mas seu nariz continuava um pouco vermelho por que era muito nítido que ela estava segurando o choro. Engoli em seco tentando descobrir alguma forma se melhorar aquilo. Eu havia feito bobagem? Por que minhas palavras ridículas a afetaram tanto?

-Venha aqui. Entre na água. -Ela disse, me dispersando dos pensamentos.

Eu levantei quase automaticamente ainda com medo de que ela chorasse. Em movimentos trôpegos tirei os óculos, a camisa que usava e os sapatos e Millie se afastou da beirada quando me aproximei. Pulei dentro da água gelada afundando minha cabeça também, quando submergi estávamos um de frente para o outro, a água formando ondas ao nosso redor.

Millie mordeu o lábio e abaixou a cabeça, seu peito subindo e descendo com uma respiração acelerada.

-Ninguem nunca falou de mim assim. -Ela começou com a voz mais fraca que me partiu ao meio. -Aí você vai e faz isso bem depois de praticamente dizer que não posso gostar de você e que quer que eu vá embora daqui, e eu não entendo o por que que eu insisto já que eu não consigo ser sua amiga.

Ela disse tudo sem pausas, como se estivesse vomitando tudo o que estava pensando nas últimas horas.

A culpa foi ainda pior ao ouvir aquilo.

-Me desculpe por isso. -Era a única coisa que eu podia dizer.

Porém era óbvio que não era o que ela queria ouvir e Millie se afastou puxando a água para trás como se fosse impossível respirar ou pensar perto de mim. Mais distante dela, pude perceber a letra da música que estava tocando.

Por favor, envolva seus braços embreagados ao meu redor...E vou deixar você me chamar de sua essa noite..Porque ficar  despedaçada é tudo que eu preciso...E se você me der o que eu quero...Vou te dar o que você gosta

Meus músculos ficaram tensos e ainda sob o efeito da bebida e também da música comecei a dar alguns passos vagarosos para frente em sua direção. Minha visão estava borrada pela falta do óculos e eu precisava me aproximar para ter visão melhor de seu rosto. Só por isso. 

Por favor, me diga que eu sou a única...Ou minta, e diga que sim ao menos esta noite...Tenho uma nova cura para a solidão... E se você me der o que eu quero...Então, vou te dar o que você gosta.

Millie continuou se arrastando pela água até suas costas baterem na outra borda da piscina. Seus lábios tremiam e sua respiração era cada vez mais difícil enquanto eu ainda andava. Não sabia o que deveria saber, mas simplesmente não conseguia mais ficar distante.

Quando você desliga as luzes...Eu vejo estrelas nos meus olhos...isso é amor?...Talvez algum dia...Então, não ligue as luzes... E eu vou te dar o que você gosta.

A encurralei contra a parede quando enfim a alcancei. Millie permanecia me encarando, ao passo que a melodia embalava nossas respirações quase na mesma frequência. Coloquei ambas as mãos ao lado de sua cabeça sustentando o peso morto do meu corpo na extremidade da piscina e nossos olhos se encontraram.

O fogo que senti ao beber não se comparava com o que eu estava sentido naquele momento com a simples visão de sua beleza radiante diante dos meus olhos. Era tão improvável que eu estivesse gostando dela, tão errado e tão efêmero que começou a se tornar verdade dentro de mim. Eu poderia fazer aquilo, não poderia? Poderia tê-la por três dias que fossem e depois me afogaria de novo em solidão que já era o que eu estava acostumado a fazer.

Emoções não são tão difíceis de pegar emprestado...Quando “amor” é uma palavra que você nunca aprendeu...E em uma sala repleta de garrafas vazias.. Se você não me der o que eu quero...Então, você terá o que merece.

Inclinei minha cabeça para baixo e inalei seu cheiro, Millie estremeceu sob mim e um barulhinho baixo ecoou rouco de sua garganta. De repente suas mãos estavam em meus ombros e sua boca estava na minha.

Nos prendi contra a parede aceitando o beijo de bom grado e ela passou os braços ao redor do meu pescoço se içando do chão para ficar da minha altura. Seus dedos cavaram na minha pele conforme nossas bocas se devoravam com urgência. 

Não. Aquilo não ia acabar tão cedo.


Notas Finais


Eu sempre paro nas melhores partes né?? Jjkkmbkkk
Vou tentar postar a continuação logo amanhã.

Musiquinhas do cap:

https://youtu.be/oGQ-h7Yq1QU

https://youtu.be/AHABfZ63laM

Até breve ♥️


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...