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História The Darkness Of Dawn - Capítulo XII - Daryl


Escrita por: satangie

Notas do Autor


Oi, me desculpem MESMO pela demora, é que esse capítulo... é ENORME e eu o acho muito importante, então fui muito crítica com tudo de original que escrevi. Pra vocês terem uma ideia, o capítulo original tinha 13 páginas no Word, agora tem 16. Até pensei em dividí-lo em partes I e II, mas nah! E MUITO OBRIGADA PELOS 50 FAVORITOSSSSSSSSSSSSSSSSS!!!!!!!!!!!!!! VOCÊS SÃO DEMAIS!

Boa leitura!

Capítulo 12 - Capítulo XII - Daryl


Fanfic / Fanfiction The Darkness Of Dawn - Capítulo XII - Daryl

O jantar daquela noite foi o mais próximo de normal que eu já tive e não desde que toda aquela merda tinha começado, desde sempre. Minha família não se encaixava nos padrões de “normal”, na verdade, creio que nem nos de família mesmo.

Meu pai não era dos mais atenciosos. Seu negócio era ficar em frente à TV, fumar e beber até desmaiar na poltrona velha e imunda que era a única mobília da sala fora a própria TV e um cinzeiro. As surras dele eram equivalentes aos carinhos que os outros pais, os “normais” davam aos seus filhos. Meu irmão e eu apanhávamos por qualquer coisa. Principalmente quando a culpa não era nossa.

Merle era meu único irmão e mais velho. Não, ele não era um dos bons também, mas era melhor que o nosso pai e apesar de só me foder, eu andava com ele sempre que ele deixava. E o defendia também. Quando tudo começou, estávamos juntos. Encontramos mais algumas pessoas e nos ajudamos, ficamos com eles. Foi lá que conheci Carol, Glenn, Carl e outros que já não estavam mais ali.

Carol tinha tido uma filha, Sophia com o marido babaca, Ed. No começo, eu não sabia o que acontecia com elas, mas Ed batia na mulher e abusava da filha. Ninguém lamentou muito quando ele foi comido por errantes, eu não lamentei nem um pouco. Aquele merecia morrer. Um tempo depois, quando tivemos que abandonar nosso acampamento, Sophia se perdeu. A maioria não tinha esperanças de reencontrá-la, mas eu tinha. Todos os dias eu a procurava na floresta ao redor da fazenda de Hershel, pai de Beth. Quando a descobrimos no celeiro, morta, um deles... Eu só queria que Carol não tivesse visto aquilo. Mas ela superou, mais rápido que eu até e ficou forte. Não era mais a mulher que se escondia.

Após o discurso de Abraham, Carol se levantou e saiu porta a fora, ninguém pareceu notar além de mim e Clara. Senti que deveria segui-la e o fiz junto com minha besta segundos depois. Encontrei-a do outro lado, na estrada onde tínhamos passado mais cedo quando fomos buscar água sozinhos e também onde tínhamos encontrado um carro ainda com gasolina no tanque. Esperei que ela fechasse o porta malas antes de perguntar logo atrás dela:

- O que está fazendo?

Ela se virou com o olhar assustado que se tornou calmo, mas ao mesmo tempo perdido ao encontrar o meu.

- Eu não sei... – murmurou ela.

No segundo seguinte, o ar se encheu com o barulho cada vez mais alto de um motor se aproximando. Abaixamo-nos a tempo de ver, sem sermos vistos, o carro dono do motor passar a toda ao nosso lado. A cruz branca. O carro tinha uma maldita cruz branca no vidro traseiro. Senti meu estômago gelar.

- O que você tá fazendo?! – gritou Carol depois que quebrei um dos faróis com a besta.

- Eles estão com a Beth! – devolvi quebrando outro – Vamos! Entra aí!

 

******

 

Não tínhamos sido notados, estava tudo bem, mas eu queria que eles chegassem logo onde quer que tivessem que chegar. Eu queria achar Beth.

- Eram só você e Beth depois da prisão? – perguntou Carol rompendo o silêncio.

- Sim – respondi sem olhá-la.

- Você a salvou?

- Não... Ela se salvou.

- E Clara? Quando a encontraram?

- Pouco tempo depois.

- Sozinha?

- De acordo com ela há bastante tempo.

- E ela? Você a salvou?

Eu realmente não estaria aqui se não fosse por você, Daryl. Eu estava bem e sozinha praticamente desde o começo dessa merda.

- Não sei.

- Como se perderam de Beth?

- Fomos encurralados numa casa e ela saiu primeiro... Quando conseguimos escapar, não a vimos em lugar nenhum. Só um carro com uma cruz branca no vidro traseiro...

Silêncio.

- A gasolina está acabando.

- Podemos resolver isso. Faça-os sair da estrada – disse ela apontando com o queixo para os faróis metros adiante.

- Não, por enquanto estamos bem.

- Se estiverem com ela vão nos dizer onde.

- E se eles não dizerem voltamos a estaca zero. Estamos com a vantagem... Vamos observá-los. Se forem um grupo, veremos o que podem fazer e então faremos o necessário para resgatá-la.

Chegamos ao centro de Atlanta. A grande pista a nossa frente estava imunda, mas livre de carros, a contrária lotada. O carro entrou em uma das primeiras ruas no final da pista à esquerda e parou no cruzamento com a próxima. Parei bem no início da primeira rua. Mas nada aconteceu. Nada.

- Que porra eles estão esperando? – indaguei socando o volante impaciente.

Os faróis piscaram e apagaram. Prendi a respiração. Eles tinham nos notado? Encostei-me no banco apreensivo. A porta do passageiro foi aberta.

- É um policial? – perguntei baixo apertando os olhos.

Carol puxou uma arma da cintura sem dizer nada. Mas eles não tinham nos visto. Tivemos a certeza quando o homem desapareceu na esquina do cruzamento e respiramos aliviados.

De repente, um errante mostrou a cara feia do lado de Carol e começou a bater na janela. O homem voltou. Já estava com um pé dentro do carro quando olhou para a esquerda. Para nós. O errante tinha nos delatado. Mas segundos depois, ele entrou no carro. Tentei dar a partida algumas vezes depois que eles sumiram na esquina, mas nada.

- Merda! Acabou a gasolina...

O barulho devia ter atraído mais errantes. Estava escuro, mas dava pra ouvir os passos arrastados e os grunhidos cada vez mais perto.

- Precisamos sair daqui. Achar um lugar pra ficar até amanhecer – falei enquanto buscava a besta no banco de trás.

- Conheço um lugar há alguns quarteirões... – disse Carol – Podemos ir pra lá, é seguro.

 

******

 

Chegamos ao tal lugar, um prédio de mais ou menos três andares cerca de dez minutos depois. A porta da frente estava trancada por correntes e cadeados, então tentamos a dos fundos que por sorte, estava trancada apenas por chave. Não foi difícil arromba-la.

Ao entrarmos, Carol tomou a frente como se soubesse para onde ir. Subimos um andar e paramos ao fim do corredor de frente para uma grande sala dividida em cubículos. Ela entrou no primeiro à direita acendendo um abajur em cima de uma cômoda. Havia um beliche ao lado e uma cadeira próxima à janela.

- Você costumava trabalhar aqui ou algo assim? – perguntei parado na porta.

- Algo assim – murmurou ela livrando-se da mochila e arma que carregava no canto próximo a janela.

Imitei-a largando a besta entre o beliche e a cômoda.

- Que lugar é esse?

- Um abrigo temporário – respondeu ela com o olhar atento a janela.

Cocei o queixo. Notei um livro sobre a cômoda e o girei para conseguir ler o título mais próximo da luz do abajur. “Tratando vítimas de abuso infantil”.

- Vocês vieram aqui? – perguntei voltando o livro ao seu lugar original.

Eu me referia a ela e Sophia.

- Nós não ficamos...

Engoli em seco.

- Eu fico com a de cima – disse ela alguns minutos depois – A de baixo é mais a sua cara – riu.

O lençol era rosa. Sorri tirando meu colete e o dobrei jogando-o no canto.

- Vá dormir. Eu fico com o primeiro turno

- Está tudo bem fechado – falei me virando para olhá-la.

- Eu sei – devolveu ela puxando a cadeira para frente da janela.

- Então estamos bem, ué.

- Eu fico com o primeiro turno... – insistiu já sentada de pernas e braços cruzados – Não me importo.

- Como quiser – respondi baixo.

Sentei-me na cama. Eu não estava com sono. Talvez cansado, mas mesmo assim... Encarei minhas botas por um bom tempo pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo. Eu queria encontrar Beth. Levá-la sã e salva de volta para a irmã, para o cunhado e todos os outros para que ela pudesse se gabar do quanto eu estava errado quando afirmei, uma noite antes de encontrarmos Clara, que ela, nós, jamais veríamos qualquer um deles novamente. Também queria ver Clara e pedir desculpas. Por tudo. Isso se ela não tivesse partido. Ela não falava, mas eu sabia o quanto ela se sentia perdida, eu via mesmo nos sorrisos que ela me lançava quando me percebia. E mesmo assim, egoistamente, eu torcia para que ela continuasse lá onde a deixei.

- Você disse que podemos recomeçar... – murmurou Carol de repente.

- Disse.

- Você recomeçou?

- Estou tentando... – falei encarando-a.

Silêncio.

- No que está pensando? – perguntei por fim.

- Acho que não podemos mais salvar as pessoas – respondeu ela olhando para o chão.

- Então por que está aqui?

- Estou tentando...

Nos encaramos por alguns segundos até ela se levantar e vir até a cama, deitando-se, com as pernas para fora ao meu lado.

- Quando estávamos lá fora, perto da igreja... – comecei – E se eu não tivesse aparecido? – perguntei olhando-a.

- Ainda não sei...

Resolvi não insistir. Respirei fundo me deitando com um dos braços atrás da cabeça e as pernas para fora também, mas no momento seguinte, ouvimos um barulho alto vindo de perto. Pulei da cama agarrando a besta e saí para o corredor. Ela veio logo atrás armada de rifle e lanterna. Ao voltarmos pelo corredor e virarmos à esquerda, encontramos o motivo do barulho. Um errante preso em uma das salas. As portas eram foscas, de vidro e enquanto mãos e braços se batiam ali dava pra ver o cabelo longo acompanhar. Era uma mulher. Baixei a besta. Mais um apareceu arranhando o vidro, mas era pequeno, o grunhido baixo, infantil, uma criança... uma garota.

Carol passou por mim com a mão esticada para a porta, mas segurei seu braço há tempo e a encarei. Ela estava muito branca e sua boca não era mais do que uma linha fina e dura.

- Você não precisa – murmurei olhando-a de perto.

Seu olhar, novamente parecia completamente perdido. Ela insistiu com a outra mão.

- Você não precisa – repeti segurando-a com mais força e me colocando em frente à porta.

Uma lágrima escorreu por sua bochecha e antes que eu pudesse levantar a mão para secá-la, ela se afastou bruscamente me dando as costas e desapareceu no corredor.

Não voltei para o cubículo onde estávamos. Esperei o dia amanhecer ali mesmo, sentado. Entrei na sala quando os primeiros raios cortaram o vidro desenhando formas estranhas na parede por conta do relevo. As flechas entraram facilmente na cabeça de ambas. Enrolei-as em lençóis antes de leva-las para fora, para o pátio interno do prédio. O pouco álcool que consegui achar deu conta. O fogo já tinha quase acabado quando Carol apareceu e parou ao meu lado.

- Obrigada – murmurou me olhando rapidamente.

Balancei a cabeça em sinal positivo e voltei para dentro do prédio.

 

******

 

- Aquele carro estava indo para o centro, então vamos subir num dos prédios, um bem alto pra conseguir uma boa vista de tudo e conseguir encontra-los – falei jogando a besta nas costas.

Carol remexia em sua mochila sem me olhar, mas mexeu a cabeça em sinal positivo. Coloquei meu colete, além de um bloco grande de folhas amarelas que eu tinha encontrado por ali dentro da bolsa que eu vinha carregando antes de pô-la no ombro.

- Podemos ir em silêncio nos escondendo pelos prédios, mas cedo ou tarde vamos atraí-los – disse ela colocando a mochila nas costas.

Não respondi. Ela pegou o rifle de cima da cama e saiu para o corredor. Segui-a segundos depois sem dizer nada.

Quanto mais nos aproximávamos do centro, mais as ruas estavam sujas e com carros parados até por cima das calçadas. Paramos ao lado de um dos prédios bem na esquina ao ouvir alguns gemidos. Espiei para ver quantos eram, uma dúzia mais ou menos e vi também um prédio alto o bastante, do outro lado da rua. Para chegar até ele teríamos que passar pelos errantes. Ou não.

- Ok, há um bom mais a frente e não teremos que passar pelos errantes. Esse prédio é ligado ao outro, podemos ir por dentro – falei voltando meu olhar para Carol – Só precisamos de uma distração para conseguirmos entrar na garagem...

Busquei o bloco dentro da bolsa e meu isqueiro num dos bolsos da calça. As folhas pegaram fogo fácil, joguei o bloco em chamas para o outro lado da rua e poucos segundos depois, todos os errantes estavam concentrados em volta, distraídos o bastante para não nos notar correndo para a garagem.

Alcançamos a ligação entre os prédios tempo depois. Uma ponte coberta. Haviam sacos de dormir e barracas com errantes dentro bloqueando a passagem. Eles se debatiam, esticavam os braços em nossa direção e arranhavam a lona inutilmente. Suspirei puxando a faca da bainha presa a minha calça.

- Às vezes não sei mais o que pensar... – falei depois de alcançar o último saco de dormir.

Deixamos os das barracas lá. A corrente que trancava a porta do outro lado estava frouxa e dava pra passar forçando-a um pouco. Carol passou primeiro, facilmente, já eu tive um pouco de dificuldade.

- Foi bom não termos tomado café da manhã – brinquei me levantando já do outro lado.

Carol balançou a cabeça rindo. Seguimos pelo corredor escuro até darmos de frente para uma escada, subimos até o próximo andar e último. Um grande corredor vazio se estendia até uma porta de madeira escura.

Assoviei ao entrar na sala intocada pela bizarrice lá de fora. A mobília era chique, combinava com as paredes, as cortinas, o tapete e o chão. Além dos quadros pelas paredes e plantas nos cantos. As janelas iam do teto até o chão e davam uma boa vista de todo o centro. Bombardeado no início daquela coisa. Os prédios eram os únicos sobreviventes, mas mesmo assim com ferimentos. Rachaduras enormes, janelas totalmente detonadas e fuligem cobrindo-os quase completamente. Cenário digno de uma daquelas superproduções cinematográficas clichês sobre o fim do mundo.

- Como chegamos a esse ponto? – lamentou Carol com uma das mãos no vidro.

- Apenas chegamos – murmurei de volta.

- Ainda não me perguntou o que aconteceu – atentou ela depois de alguns minutos – Depois que encontrei o Tyreese e as meninas.

- Eu sei o que aconteceu... Elas não estão aqui – devolvi colocando a besta nas costas.

- Foi pior que isso...

Olhei para ela.

- O motivo pelo qual falei que podemos recomeçar é porque precisamos... – falei desviando o olhar de volta a janela.

Havia algo lá longe numa ponte.

- Está vendo alguma coisa?

- Não sei. Me passe o rifle – pedi.

Apontei a mira para o lugar. Era o que eu pensava. Cruzes brancas pintadas nas janelas de trás de uma van.

- Bem ali – falei devolvendo o rifle a ela e apontando com o dedo encostado no vidro.

- Parece que está ali há um tempo...

- Pode ter algum tipo de pista.

- Vamos nos abastecer.

Ela colocou o rifle no ombro e buscou um cantil na mochila. Encheu-o no bebedouro que até então eu não havia notado num dos cantos mais afastado da sala.

- O que foi? – perguntou ela parando ao meu lado.

- Aposto que um rico babaca pagou muita grana nisso – respondi apontando para o maior quadro da sala, ao lado da janela – Parece que um cachorro sentou aqui no começo e saiu arrastando a bunda até lá no final.

- Você acha? Eu meio que gostei...

- Pare – ri pegando o cantil de suas mãos.

- Estou falando sério... – retrucou ela enquanto eu dava um gole – Você não me conhece.

- Continue se enganando – falei devolvendo-lhe o cantil.

 

******

 

Segurei a porta para que Carol passasse como anteriormente. Estranhei ela não ter retribuído segurando para mim também e com o pé, forcei um dos lados me espremendo.

- Daryl, não...

Olhei para cima confuso e vi um garoto segurando o rifle dela apontado para sua cabeça. Ela estava ajoelhada bem ao meu lado.

- Levantem! – ordenou ele – Mãos para cima, os dois.

Nos levantamos, Carol levantou as mãos também, mas eu não.

- Coloque a besta no chão.

Ele não devia ter mais do que 17 anos. Seu cabelo e pele eram escuros. Os olhos ágeis, mas ao mesmo tempo medrosos.

- Você é corajoso... – murmurei sem mover um músculo.

- Não quero machuca-los, mas preciso das armas! – gritou ele – Então, por favor... largue a besta no chão – continuou baixo.

Joguei a besta no chão a minha frente e então, ele se abaixou, hesitante, com o rifle ainda apontado para nós e a pegou.

- Sinto muito por isso – ousou dizer enquanto puxava uma faca das costas – Vocês parecem durões... Vão ficar bem.

Ele rasgou duas barracas e mancou até a outra porta. Peguei minha faca antes que o primeiro errante desse a cara e a enfiei no lado de sua cabeça. Um tiro passou raspando por mim e atingiu o segundo. Carol tentava mirar no garoto agora. Bati em seu braço fazendo-a errar. Ela me olhou brava e correu. Suspirei e corri atrás dela.

- Estamos no meio de uma cidade e ele roubou nossas armas! – queixou-se ela enquanto eu tentava mais uma porta.

O garoto tinha bloqueado a do estacionamento com um pedaço de ferro.

- Vamos achar outras – falei enfiando a ponta da faca na fechadura.

- Achou que eu ia mata-lo? – perguntou atrás de mim – Eu estava mirando na perna dele. Poderia tê-lo matado?... Talvez, mas ele roubou nossas armas.

- Ele é só um maldito garoto, Carol.

- Sem armas podemos morrer. A Beth poderia morrer. Você... Não quero que você morra. Não quero que ninguém morra... Não posso ficar parada enquanto isso acontece...

Bufei. A porra da fechadura não abria. Chutei a porta e joguei a bolsa no chão.

- Foi por isso que fui embora! Eu precisava estar em outro lugar...

- Mas não está em outro lugar agora, está aqui! – retruquei me virando – Tentando.

Voltei-me para a porta novamente.

- Você mudou e eu também... Não sei se acredito mais, mas se existe Inferno, tentarei adiar minha ida para lá o quanto puder.

A fechadura cedeu. Olhei para Carol por alguns segundos sem dizer nada. Agarrei a bolsa do chão e entrei.

 

******

 

Demorou, mas conseguimos chegar até a van. A parte frontal dela pendia para fora da ponte. Abri as portas onde as cruzes estavam pintadas. Quem quer que fossem, deviam tê-la usado como ambulância devido a maca deixada ali.

- Ok, vamos fazer isso – falei esfregando as mãos.

- Não, está instável e eu sou mais leve.

Minha resposta foi me virar de costas para a van, tomar impulso e sentar na beirada. Carol balançou a cabeça em sinal negativo. Me levantei e fui para frente, para o banco do motorista. Examinava um mapa quando Carol apareceu de pé ao meu lado.

- Alguma coisa? – perguntou ela abrindo o porta luvas.

Tínhamos atraído à atenção de um grupo grande de errantes.

- Tem mais vindo... – disse ela olhando como eu pela janela do passageiro.

- É, já vi.

Me levantei e agarrei a maca. Havia algo escrito atrás.

- HGM... HGM pode ser um hospital? – perguntei olhando-a.

- Grady Memorial, talvez... – respondeu pegando a arma – Nós precisamos ir.

- Grady Memorial, cruzes brancas... Pode ser onde eles estão!

Tarde demais. Os errantes já estavam ali. Carol atirou nos três mais próximos, joguei a maca em cima do restante e fechei as portas. Estávamos cercados.

- Tem algo que possamos usar?

- Nada – respondi olhando ao redor.

A van oscilava cada vez mais enquanto os errantes se amontoavam em torno dela. De repente, me lembrei dos prédios destruídos atrás de nós e de como eles pareciam saídos de um filme clichê sobre o fim do mundo e tudo o mais. Corri para o banco do motorista e coloquei o cinto.

- Vamos, sente e coloque o cinto, Carol!

Ela obedeceu com o olhar assustado. Outra coisa clichê sobre filmes eram acidentes e quedas de carro de pontes onde os mocinhos sempre sobreviviam, certo?

A van estava quase lá. Já dava pra ver o que nos aguardava lá embaixo quer sobrevivêssemos ou não. Botei ambas as mãos no painel respirando fundo. Carol colocou uma das suas sobre a minha e apertou.

- Segure-se – pedi olhando-a.

Escorregamos da ponte e atingimos o chão estrondosamente. Abri os olhos. Minha cabeça doía, mas eu estava bem. Olhei para o lado e, apesar de parecer prestes a mijar nas calças, se é que já não o tinha feito, ela também estava bem.

- Estamos bem, estamos bem, estamos bem... – murmurava ela com os olhos arregalados.

Bam! Um errante caiu rachando o vidro a nossa frente. E vários outros em seguida. O sangue escuro escorria parecendo imitar a chuva embaçando todas as janelas.

Quando tudo ficou quieto, abrimos as portas e descemos da van. O cenário era outro digno de cinema. Os restos dos errantes se espalhavam por todos os lados e alguns ainda esticavam os braços em nossa direção gemendo. Carol estava tonta. Segurei-a pela cintura e seguimos pelos trilhos para frente, para o centro.

 

******

 

Paramos cerca de uma hora depois entre dois prédios pequenos atraídos por um caminhão aparentemente em bom estado parado ali. Deixei Carol sentada no batente de um dos prédios e fui revista-lo.

- Tem combustível! – falei voltando – Como você está?

- Já estive pior... – disse ela puxando a gola da camiseta para o lado onde a pele pálida estava se tornado escura.

- Porra, foi burrice!

- Ganhamos um bom tempo... – riu fracamente.

- Mesmo assim... – falei buscando o cantil em sua mochila – Toma...

Mas ela recusou afastando minha mão.

- Prove – insisti colocando o cantil em suas mãos.

Ela deu um gole.

- Estamos só a três quarteirões do Grady – disse alguns minutos depois.

- Vamos achar um lugar aqui perto para observar...

- Acha que vamos descobrir o que queremos só observando? – perguntou num tom quase repreensivo.

- É por onde começaremos... Vamos.

Entramos num prédio duas quadras depois onde, segundo Carol, dava para ver bem o tal Grady. Encontramos apenas um deles caído no chão da entrada do último andar. Não conseguia se mexer devido a um ferimento nas costas que provavelmente tinha sido grave o bastante para lhe tirar o movimento das pernas. Um facão estava próximo a uma de suas mãos. Peguei-o e parti sua cabeça ao meio. Pisei numa sacola logo atrás de mim quando me endireitei. Haviam salgadinhos dentro.

- É ali – disse Carol parada ao lado de uma das janelas.

Joguei o facão no batente da janela antes de levantar o olhar e dar de cara com o único prédio à frente, imaculadamente branco e tão grande que tomava conta de um quarteirão inteiro.

- Beleza – pigarreei puxando um pacote da sacola e estendendo para ela.

Mas o prédio parecia morto. Não tínhamos visto absolutamente nada ainda e algumas horas já deviam ter se passado. Amassei mais um pacote vazio e joguei-o para trás olhando para Carol que acabara de terminar seu primeiro pacote.

- Você disse que eu mudei...

- É.

- Como eu era? – perguntei colocando um dos braços na altura da cabeça contra o vidro me apoiando.

- Parecia uma criança – respondeu ela sorrindo – Agora é um homem.

Senti meu rosto esquentar um pouco e olhei para baixo.

- E você? – perguntei minutos depois.

Ela encarou as próprias mãos.

- Sophia e eu ficamos naquele abrigo por um dia e meio... antes de eu voltar correndo para o Ed. Apanhei. A vida continuou... e fiquei rezando pra que acontecesse algo, mas eu, eu não fiz nada. Nada... – ela olhou para mim por alguns segundos antes de desviar para fora – A pessoa que eu era, com ele, foi incendiada e eu estou feliz com isso, digo, não feliz, mas... E na prisão, tive que ser quem eu sempre achei que deveria ser... E então ela foi incendiada também... Agora tudo só... me consome.

- Ei – chamei –, não somos cinzas – falei olhando firmemente em seus olhos.

Nos assustamos com um barulho repentino vindo do corredor. Peguei o facão e minha bolsa, Carol pegou suas mochila também e veio atrás de mim. Gemidos de aparentemente um errante vinham do final do corredor.

- Eu cuido dele – murmurei levantando a lâmina.

Mas o errante estava preso pelo pescoço, as mãos tentavam agarrar o ar e os dentes batiam sem parar.

- É uma das suas?!

- É – respondi partindo a cabeça do maldito.

Retirei a flecha de seu pescoço.

Alguns tiros soaram a nossa esquerda. Seguimos para lá em passos rápidos, Carol à frente. Um errante surgido do nada caiu por cima dela derrubando-a. Vi o garoto que roubara nossas armas correndo e entrando em uma das salas. Enfiei metade do facão na parte de trás da cabeça do errante e o empurrei com o pé.

- Estou bem... – arfou Carol se levantando – Era ele, corra!

Encontrei o garoto ainda na sala tentando afastar uma estante que bloqueava o caminho para a próxima sala. Me lancei contra ele e caímos no chão. A estante balançou e veio para cima de nós, mas consegui rolar para o lado a tempo. Ele não. A estante era pesada demais pra ele conseguir mover sozinho normalmente imagine com ela caída em cima dele, então. Um errante esticava um dos braços ameaçando passar pelo vão da porta ainda bloqueada parcialmente pela estante. Era questão de tempo até ele se esgueirar talvez arrancando metade da pele para conseguir passar. O garoto gemia tentando levantar a estante. Peguei minha besta e o rifle de Carol que ele tinha deixado gentilmente longe da estante.

- Por favor... Eu tinha que me proteger! Você tem que entender... – gritou ele com os olhos indo rapidamente de mim para o errante.

- Por que nos seguiu?! – gritei em seu rosto.

- Achei que estavam me seguindo!

Carol tocou meu ombro e eu lhe entreguei o rifle.

- Mentiroso – cuspi.

Notei um maço de cigarros ao lado de sua cabeça e me abaixei para pegar. Ainda tinha um.

- Qual é, cara! Por favor!... Por favor!!!

- Nah... eu já te ajudei uma vez – falei colocando o cigarro entre os lábios – Não vai acontecer de novo – busquei o isqueiro num dos bolsos da calça e o acendi – Divirta-se com seu amigo.

- Não, não, não! Por favor! Por favor! Por favor!!!

Dei as costas para ele.

- Daryl, não! – gritou Carol me segurando.

- Quase morreu por causa dele! – gritei de volta.

- Mas não morri!

Horas atrás ela afirmou que poderia tê-lo matado e agora, de repente, ela queria ajuda-lo?

- Nah... – neguei me soltando – Deixe-o aí.

Eu já estava na metade do corredor.

- Daryl!

- Por favor, desculpe! Por favor! Me ajude!!!

O errante tinha passado e caído por cima da estante. Merda. Levantei a besta e atirei acertando a flecha no topo da cabeça dele quando o mesmo já estava prestes a mastigar o pescoço do garoto.

- Obrigada, obrigada, obrigada... – repetia ele como um papagaio enquanto segurávamos a estante.

Ele se levantou num salto e correu para a janela.

- Você está bem? – perguntei para Carol tocando seu braço.

- Ainda estou aqui – respondeu sorrindo.

- Eu preciso ir, eu preciso... Eles virão, devem ter ouvido os tiros. Se me encontrarem... – murmurava ele parecendo assustado.

- Quem? – questionei olhando-o.

- As pessoas do hospital – respondeu se afastando da janela.

- Ei, espera!  – pedi agarrando-o quando ele tentou passar por mim – Tem uma garota loira lá? Você viu uma garota loira?!

- A Beth?... Vocês conhecem ela? Ela me ajudou a sair, mas continua lá!

Eu sabia.

- Eles estão vindo – disse Carol da janela.

- Precisamos ir, agora! – gritou ele correndo para o corredor.

Descemos até o saguão do prédio guiados por ele. Não tinha ninguém lá, ainda.

- Tem um porão no prédio vizinho. Está limpo. Ficaremos seguros lá – disse ele apontando para a porta que não estava longe agora, mas ele continuava mancando e acabou caindo feio.

- Continue, Carol, eu ajudo ele!... – falei me abaixando ao lado do garoto e colocando um de seus braços em meus ombros – Vamos, levante!

Quando Carol alcançou a porta, o tempo pareceu acelerar. Carro. Carol. Batida. E então o tempo parou. Minha cabeça zunia. Meus passos pareciam arrastados. Minha voz não saia...

- Não...não...não! Espere!

A voz do garoto parecia distante e diferente de mim, ele parecia ágil, eu não conseguia me soltar de seus braços que apertavam meu peito.

- Eles podem ajuda-la! – disse ele – São os únicos que podem!... Eles tem medicamentos e médico...

Dois policiais desceram do carro carregando uma maca. Senti o garoto me puxar para detrás de uma coluna. Fechei os olhos por um momento e quando os abri Carol e os policiais tinham sumido.

- Se você for até lá, terá que mata-los, assim eles não a ajudarão, é isso que quer? – perguntou o garoto olhando para mim.

O tempo parecia ter voltado ao normal. Respirei fundo e assisti com o coração na garganta o carro dando ré e partindo muito provavelmente para o Grady Memorial com Carol.

- Nós podemos resgatá-la. E a Beth também.

- O que a gente tem que fazer? – perguntei finalmente conseguindo afastar suas mãos de mim.

- Muita coisa... Eles tem armas... e pessoas.

- Nós também temos.


Notas Finais


Vou ser sincera. Não faço a mínima ideia de quando vou atualizar aqui. Minha semana de provas, trabalhos e tudo o mais tá aí e ;;;;;;; mas espero que vocês não desistam da minha Clarinha!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! E já sabem, né? Críticas e elogios são sempre bem vindos! Amo ler o que vocês pensam sobre o que escrevo!!!!!!!!!!!!!


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