História The Darkness of Sweetness - Hold on

Prólogo

   Eu podia senti-lo vindo lentamente até mim. Estava tão perto que eu podia sentir o perfume que seu corpo exalava. Seus lábios estavam a poucos centímetros dos meus. Eu não precisava, porque mesmo sem enxergá-lo, eu sabia que ele era perfeito. Mas senti uma vontade imensa de abrir os meus olhos.
E foi isso que eu fiz.
Ele não tinha rosto 

Capítulo 1
            Hold on

   Lynn já tinha o dia completamente planejado. Do inicio ao fim. Aquilo não passaria de mais um dia comum na escola. A única coisa de diferente é que ela estará em uma outra escola , e com pessoas novas. Nada demais, segundo ela, já que adaptar-se e fazer amizades nunca fora um problema. 
   Ela sentou na beirada da cama, olhando o rosto no espelho, imaginando como seria difícil esconder aquelas olheiras. Se arrependeu na hora por ter passado tantas hora em claro, planejando sua apresentação para a classe antes de dormir. Logo após realizar suas higienes e se vestir com uma calça jeans e uma blusa lilás com lacinhos, ela foi para cozinha.
—Olha quem acordou—Agatha disse, sorrindo—Ansiosa para o primeiro dia?
—Não—ela responde com indiferença.
   Realmente, ela não estava.
—Não?
   Lynn deu os ombros.
—E quais os seus planos para a escola?
   O sorriso de Lynn se abriu completamente.
—Simples! Vou fazer a melhor apresentação para a classe, achar minha galera, ser presidente do grêmio, tirar notas perfeitas, participar de clubes (para preencher o currículo da faculdade)...
—Lynn. Que tal ter 16 anos? Na sua idade eu só me preocupava com garotos.
   Ah, claro. Os Garotos. É claro que ela havia pensado neles. Mas que não pensaria?
—Você ficou vermelha!—Agatha gritou, ficando de joelhos na cadeira—Já está na hora dessa virgindade ir embora não acha?
—M-madrinhaa!
   Lynn ficou vermelha, sua madrinha realmente sabia como deixá-la desconfortável.
—Que foi? A minha foi embora com 15!
—Credo, ano passado eu ainda brincava de Barbie!
   Ao chegar na escola, Lynn encontrou o famoso cenário de um ensino médio. Pessoas andando pelos corredores, um ou outro casalzinho se "engolindo" nos cantos, e o familiar cheiro de desodorante e creme para acne. A única pessoa sozinha era um garoto alto com um cabelo vermelho mais do que artificial.
—Oi, eu sou a Lynn—ela estendeu a mão para o garoto, que a devorou de cima para baixo com os olhos.
—Oi.
   Ele ignorou o gesto.
—E-eu procuro alguém que me mostre a escola...
—Eu tenho cara de guia turístico por acaso?—falou, antes de se virar e se afastar.
—Castiel, sempre simpático.
   Lynn se virou abruptamente para ver quem  havia feito aquele comentário sarcástico. Ela deu de cara com uma garota de cabelos brancos. (Que diabos, todos nessa maldita escola tem o cabelo tingido por acaso?)
—Ah! À propósito, eu me chamo Rosalya! Seja bem-vinda, Lynn!
—Obri...
—OMG! Que blusa linda! Onde comprou? Adorei a cor, combinou com seu tom de pele, afinal, que pele linda! Você usa algum creme? Eu uso um de hortelã, é maravilhoso, eu comprei na loja ao lado da de roupas. Meu namorado trabalha lá, sabia? Não na loja do creme, na de roupas! O nome dele é Leigh, e ele é super gostoso! Mas estamos brigados, uma pena né? Pois é, ele queria me levar pra cama, mas eu ainda não estava pronta... Acho que magoei ele, mas ele precisa me respeitar sabe...
   Ela continuou a falar sobre o namorado, mas Lynn não prestou atenção. Ela estava tentando entender como que aquela garota conseguia falar tanto.
—Obrigada Rosalya—Lynn gritou, interrompendo a faladeira da garota, que sorriu envergonhada—E sinto muito pelo seu namorado—completou.
—Então, você parece meio perdida, Lynn.
   Ela estava perdida. E se perder não estava na sua programação do dia.
—Você pode me ajudar?—ela perguntou.
—Eu estou ocupada agora. Mas fala lá com o Nath, ele vai te salvar!
—Quem?
—Ele fica no grêmio!—gritou por cima dos ombros, já afastada.
–Nath... Mas isso não seria um nome feminino? Como o apelido de Nathalia?
   Havia vários alunos no corredor, mas ninguém respondeu. Quem responderia uma pergunta dessa? ela pensou. E quem ela era para julgar o nome que os pais do garoto escolheram?
   A sala do grêmio não foi difícil de achar. Ela estava prestes a entrar quando algo a jogou para o chão, junto com pilhas de papéis.
—Mas que merda! Eu sinto muito...
   Um garoto loiro de olhos dourados estendeu a mão para ela. Ela o acharia extremamente atraente se ela não estivesse caída no chão, e se ele não estivesse usando aquela roupa cafona. Quem usa camisa social e gravata para vir a escola? Pelo menos o cabelo dele não aparentava ser tingido.
—Tudo bem—ela disse, aceitando a ajuda—Estou procurando o Na...
—...thaniel? Sou eu. Muito prazer, Lynn.
—C-como você sabe meu nome?
—Sou presidente do Grêmio Estudantil. 
—Huum... E como dever de presidente você precisa decorar o nome de todos os alunos?—ela perguntou, apertando a mão dele.
—O quê? Minha memória não é tão boa assim! Está escrito no crachá, na sua camiseta.
   Lynn olhou para baixo, notando a presença do acessório. Ela não lembrava dele, um pequeno crachá, com seu nome, data de nascimento e ALUNO (a) NOVO (a), em negrito.
—Ah, sim, claro. Uma ótima ideia para diferenciar os alunos.
—Você gostou? Foi minha ideia. Sei como um aluno pode ficar perdido no primeiro dia, então é bom que os outros saibam que a pessoa acabou de chegar.
—Sim, sim. Você não deve ter tido boas experiências como novato né? Quero dizer, pra te fazer pensar nessa ideia...—Lynn se sentiu aliviada por encontrar alguém que a entendesse.
—Na verdade, não.
—Ahn...
—Venha—ele disse, pegando no braço dela—Vou te mostrar a escola.
   Ele a levou na biblioteca, no ginásio, no clube de jardinagem, nas salas do andar de baixo, nas salas do segundo andar... A escola não era tão grande quanto a sua antiga, mas era o bastante para que ela se perdesse, caso não decorasse todos os lugares. Em seguida eles fora ao pátio. O mesmo garoto de antes, o de cabelo vermelho, estava sentado debaixo de uma árvore, com um violão em seu colo. Ele deve ter percebido que Lynn o encarava indiscretamente, pois retribuiu o olhar. Um sorrisinho de lado brotou na sua boca. 
—Nathaniel, você viu o meu bloco de notas? Eu o perdi novamente...
—Sério?—perguntou Lynn desviando a atenção para o estranho que brotou do lado dela—Qual a afeição dessa escola com tinta de cabelo?
—D-desculpe-me?
   Ela estava enganada, essas pessoas não eram normais. Nem suas roupas. O estranho tinha um cabelo branco, com as pontas tingidas de preto (realmente, muita tinta para uma escola só), usava roupas extravagantes, que lembrava da época vitoriana. Lynn sabia disso por ter decorado uma parte da aula de história da Camila Poodle—uma professora que ela apelidou carinhosamente de poodle, por causa de seu cabelo pra cima e de sua voz irritante.
—Lynn, esse é o Lysandre—interferiu Nathaniel—Lysandre, essa é a novata.
—É um prazer te conhecer, Lynn.
   Apesar da aparência exótica, Lysandre possuía a voz mais bonita que ela já havia ouvido. Era suave, mas ao mesmo tempo rígida.
  —O prazer é todo meu.
   O garoto assentiu, pediu licença, e voltou a sua busca. Lynn olhou para o pátio mas ele não estava mais lá. Talvez ele tenha ido comprar mais tinta pra cabelo.
                                                             
                                                                                                 ************

—Bom, esse é o seu horário—Nathaniel entregou a ela uma folha—Sua próxima aula é a de geografia, na sala a sua esquerda. Eu me despeço de você agora, Lynn. Boa sorte.
—Obrigada Nathaniel.
   Lynn seguiu até a sala. A professora já se encontrava lá dentro. Ela fez um sinal para que Lynn entrasse. Ela avistou alguns rostos conhecidos, como o de Lysandre, o de Rosalya (que acenou para ela), e o do garoto de cabelos vermelhos.
—Bom turma, essa a Lynn Darcy. Ela acabou de chegar, então nada de gracinhas.
—Uma pena, ela é bem "comestível"—gritou um garoto que ela não identificou.
   A professora revirou os olhos.
—Bom,—ela continuou—está na hora da nossa...
   Todos os alunos começaram a bater os pés no chão.
—ENTREVISTA!!!!!!!—todos gritaram.
   Entrevista???? Então toda a apresentação que ela havia preparado seria descartada?
—Então Lynn, vai funcionar da seguinte maneira: eu escolho um aluno para te fazer uma pergunta e você responde. Ok?
—Ok.
—Vamos lá. Deixe-me ver... Você!—ela apontou para um garota ruiva.
—Oi Lynn! Meu nome é Iris, e eu gostaria de saber se você só mudou de escola ou veio de outra cidade.
   Lynn sorriu para a garota.
—Bom, eu nasci aqui, onde eu vivi até os meus 14 anos. Meu pai precisou ir para Porto-Rico a trabalho, então eu fui também. Mas agora ele saiu com minha mãe para uma segunda lua-de-mel, então vim pra cá, para morar com minha madrinha.
—Porto-Rico? Minha abuela também é de lá!—a garota exclamou.
   A professora apontou para um menino de cabelos azuis. (Mais tinta? Não é possível...)
—Olá Lynn!!! Eu sou o Alexy, e adorei a sua cor de cabelo! É natural?
   Mas é só um castanho sem graça, ela pensou.
—Obrigada! É natural sim! Eu não sabia que fazia parte das regras da escola vir de cabelo tingido.
   Toda a turma riu, incluindo o Alexy.
—É bom ter mais alguém com senso de humor!—ele disse.
—Oi. Eu sou o Castiel—falou o garoto de cabelos vermelhos, que tanto a intrigava—E eu queria saber se você é solteira.
   Foram ouvidos murmúrios por toda sala.
   As bochechas de Lynn esquentaram.
—Sim, eu sou solteira.
   A aula foi passando enquanto Lynn respondia as perguntas. Ela estava se divertido bastante, e os alunos também. Quando se deu conta, o sinal já havia batido. Ela foi caminhando em direção ao pátio. Por parte porque queria ficar ao ar livre, e por outra... Porque ela queria ver o Castiel.
   Ele estava lá, apoiado em uma árvore. Com a cabeça jogada para trás. Ela continuou a observá-lo, mas logo percebeu: ele não estava sozinho. Havia uma garota ajoelhada na frente dele, com o cabelo loiro em seu rosto. Ela levantou as mãos, pressionado as coxas dele.
—A-ambre... Pare.
  Lynn sentiu que deveria sair, mas ficou.
—Você gosta disso. Você sabe que gosta.
   A voz dela tentava soar sexy, parecia estar desesperada pelo garoto, que a rejeitava. Lynn notou os dedos da garota mexendo no zíper da calça dele. Era tão inconveniente, já que eles estavam no pátio de uma escola.
   Castiel levantou os olhos. Ele a viu.
   E então algo estranho aconteceu. Pela primeira vez desde que Lynn havia chegado na escola, ele demonstrou algum tipo de emoção.