~ Lucas Olioti ~
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Lucas - Eu não quero ir... - Diz, olhando para o móvel de madeira à sua frente.
Olioti - Eles querem te ver, Lucas...
Lucas - Mas eu não quero ver eles! Minha vontade não interfere em nada? É inútil? Vou ser forçado a vê-los, é isso? - O tom de voz usado por ele agora é totalmente diferente do tom suave e doce de segundos atrás, agora parece amargurada, mas ao mesmo tempo chorosa, como se ele estivesse segurando as lágrimas.
Olioti - Claro que não... Ninguém irá obrigá-lo a nada. Mas você tem que entender que isso é muito importante pra eles e deveria ser pra você também! Lucas, finalmente você vai ter a chance de voltar para sua família, sua verdadeira família! - Ouço uma risada rápida, baixa e sem graça vindo dele.
Lucas - Não ligo se é importante pra eles, pra mim não é. E eles não são meus pais, não sou obrigado a me importar, afinal, eles não se importaram comigo na hora de me abandonar - Consigo ouvir que sua voz está trêmula, mas ele suspira e muda a direção do olhar para outro lado, como se quisesse mostrar que isso não o abalava.
Mas, sim, com certeza abalava.
Lucas - Não vou voltar pra eles, meu pai virá me buscar, eu sei disso, e na primeira oportunidade eu vou com ele. Ele é minha família. - Diz seco.
Olioti - Eles não abandonaram você... - Repito, ouvindo-o suspirar pesadamente, ainda sem olhar pra mim.
Lucas - Abandonaram, sim! Meu pai me disse! - Fala firme - É a palavra dele contra a sua, não tente me convencer o contrário, porque nada o que você disser vai apagar o que ele me disse durante esses anos.
Olioti - Quanto vale a palavra dele? A palavra de um sequestrador e manipulador de crianças? - Digo sem pensar.
O garoto à minha frente arruma a postura e, finalmente, olha pra mim. Seus olhos brilhavam mais por conta das lágrimas que ele insistia em acumular; seu lábio inferior preso fortemente entre os dentes brancos; suas bochechas ainda um pouco coradas por causa do constrangimento de mais cedo - o abraço - e cheias de ar, demonstrando sua raiva.
Lucas - Nunca mais fale assim dele. Nunca mais use essas palavras pra descrever a única pessoa que se importa comigo, a única pessoa que cuidou de mim quando eu precisei. Nunca mais ouse dizer isso sobre a única pessoa que eu amo. - Diz pausadamente, agora com a voz seca.
Fico em silêncio olhando para seus olhos avermelhados, que persistem em segurar as lágrimas firmemente.
O silêncio domina o quarto como minutos atrás, só que diferente de antes o Lucas me olha e eu retribuo o olhar, vendo seu peito subir e descer com sua respiração acelerada.
Realmente não pensei direito em minhas palavras, acabei sendo rude demais, afinal ele conviveu todos os anos com esse monstro, mas o considera um pai. E também, ele está sensível com tudo, está frágil e assustado.
Olioti - Tudo bem... Eu não queria te magoar... Me desculpe. - Digo e o vejo apenas suspirar, sem dizer nenhuma palavra.
Continuo mais uns segundos o olhando, mas o mesmo continua parado, então me levanto, indo em direção à saída da sala.
Assim que chego na porta ouço um suspiro aliviado e olho pra trás, o vendo com os olhos fechados e escondendo o rosto com as mãos quase completamente cobertas pelo sweater longo.
Saio pela porta antes que eu acabe voltando e indo abraçá-lo.
Sr.Otto - Onde está ele? - Pergunta, assim que fecho a porta e me aproximo, se levantando juntamente à esposa, ao mesmo tempo, um segurando a mão do outro e me olhando de forma esperançosa.
Sra.Carmem - Cadê meu filho? - Diz, assim que não o vê comigo, apertando a mão do mais velho.
Olioti - Preciso que tenham calma e paciência... - Suspiro e eles me olham preocupados - Podem se sentar? - Os dois se sentam e me olham, tentando entender o motivo do loiro não estar aqui - Ele quis ficar na sala. - Tento falar da maneira mais leve que encontro.
Sra.Carmem - Tudo bem, podemos ir até lá, não tem problemas... - O homem ao seu lado afirma, concordando com ela.
Olioti - Não é exatamente isso que quero dizer... É que... bem, ele não quer falar com ninguém no momento. - Digo tão baixo que penso que eles não conseguiram me ouvir, mas vejo a loira começar a chorar, enquanto o marido vai abraçá-la, também com lágrimas nos olhos.
Sra.Carmem - Meu filho... Meu fi'lho... - Fala, sendo interrompida por um soluço que escapa de sua garganta.
Sr.Otto - Calma, amor... Conseguiremos nosso filho de volta... Eu te prometo... - Diz, apertando mais forte a mulher em seus braços e carinhando seus cabelos.
Olioti - Me desculpem, eu vou continuar tentando. Ele só está confuso e assustado, tudo está acontecendo muito depressa.
Sr.Otto - Tem certeza que não podemos vê-lo? Nem que seja só por alguns segundos...! - Vejo a mulher levantando a cabeça e me olhando, esperando minha resposta.
Sra.Carmem - Po'r fav'or? - Suspiro, tentando me decidir.
(...) »»»
Abro a porta, vendo o garoto loiro se afastando da mesma, de costas pra nós. Ele pára e continua virado, agora de cabeça baixa e mexendo no seu sweater.
Sra.Carmem - Como ele está grande... - Diz com o tom de voz baixo, enquanto as lágrimas continuavam a passear em seu rosto.
Sr.Otto - Meu garotinho... - Abraça a esposa de lado, também com lágrimas nas bochechas.
Ando até ele, o fazendo ficar mais nervoso. Assim que chego perto o suficiente, ponho uma das mãos em seu ombro, vendo-o estremecer.
Olioti - Lucas...? - Ouço um suspiro aliviado vindo do mesmo.
O loiro se vira totalmente constrangido, de cabeça baixa. Logo ele se põe a me olhar e eu consigo ver que suas bochechas estão novamente avermelhadas e ele mordendo fraco o lábio.
Sorri ao perceber que ele havia sido pego tentando ouvir por trás da porta a conversa. Ele continua olhando pra cima - no caso, pra mim - e eu pude ver o quão fofo ele fica quando está envergonhado.
Conseguimos ouvir um choro baixo, provavelmente vindo da senhora Carmem, e isso faz com que ele olhe na direção do som, desviando o olhar de mim. Por algum motivo desconhecido por mim, continuo o olhando.
Ele fica tão paralisado que seus olhos ficam vidrados no casal, totalmente assustado, ainda mais quando a mulher disse "Meu filho"....
Ele segura meu braço forte, mas não tem força o suficiente pra fazer o local doer, e se encolhe, se colocando atrás de mim.
Lucas - O qu'e eles estão fa'zendo a'qui?! - Diz gaguejando, ainda segurando meu braço.
Olioti - Eles queriam muito te ver...
Lucas - Pronto, já vi'ram! Agora man'da eles irem emb'ora... - Uma de suas mãos, que estava apoiada em minhas costas, tremia, enquanto a outra apertava cada vez mais meu braço.
Olioti - Só fale com eles, sim? - Digo, tentando acalmá-lo.
Lucas - P'or fav'or, Lucas... Manda eles saí'rem... - Ignora o que eu disse.
Olioti - Não faça isso... Por que não pode falar com eles?
Lucas - Eu est'ou com med'o....
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