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História The Family 2 - Together - 13. Flatline


Escrita por: FANFICTLOAD

Capítulo 14 - 13. Flatline


Fanfic / Fanfiction The Family 2 - Together - 13. Flatline

    

Notas iniciais: 

 

    Piedade desse jovem autora que entrega 30 mil palavras por capítulo em 1 semana, tendo vida e estudos de faculdade! Então comentem BASTANTE eu amo ler os comentários e as vezes até respondo alguns dando dicas em... 

 

     Mas deixa eu falar algo importante. Vocês vão ver que vai acontecer 2833 coisas nesse capítulo e tudo muito rápido e intenso, entendam e recebam isso de mente aberta, pq a autora aqui teve que enfiar centenas de acontecimentos nos capítulos do Jon para poder acontecer o que acontece no final desse aqui ( que inclusive é o último da história do Jon) por isso capítulos tao grande e cheio de coisas, mas já já isso normaliza, foi só pq realmente eu não tinha escapatória, mas prometo que as coisas vão acontecer mais "normais" de agora em diante, sem correria, sem fulano jurando lealdade em alguém com 24 horas que se conheceu kkkkk enfim vcs lendo vão entender! 

 

      A gente conversa melhor no final do capítulo ok? Bjs, boa leitura e COMENTEM MUITO! 

 

 

 

 

 

 

   Red Cherry Bieber, Point of  Views. 

 

                            10:02 p.m.

 

                   1 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

    

          Quando seu coração está machucado, seja pelo o que for, você as vezes vai para uma parte muito obscura de si mesmo, um lugar que ninguém quer de fato ir, mas não escolhemos isso, é algo totalmente involuntário.

 

     Nosso cérebro nos sabotam o tempo todo, sobre quem somos, sobre o que enxergamos do mundo, nos sentimos como se o mundo estivesse contra nós, jogando tudo de ruim que há no universo diante da gente, que ja sem forças, não sabe bem o que fazer e se esconde.

 

     Se esconder e fugir...

 

      Isso não é sinal de fraqueza, minha mãe me ensinou, que cada um lida com a dor, com a raiva, com a decepção, de um jeito diferente, eu não posso basear a minha forma de lidar com alguma coisa e a forma de outras pessoas lidarem. 

 

       E esse é o caso do Jon. 

 

     Desde que cheguei no Quebec eu sinto que ele está passando por algo difícil, a morte de Oliver com certeza era um grande fator para isso, o Jon não estava conseguindo lidar e nem superar como o resto, perder alguém que a gente ama muito sempre abre margem para aqueles sentimentos e partes obscuras de nós mesmo que desconhecemos, a dor e o luto podem ser mais forte e perigoso do que se imaginam. 

 

       Eu sei disso, desde o primeiro dia que vi o Jon, eu sentia que ele estava vulnerável, tentando se esconder em si mesmo o que estava lhe consumindo por sentir e eu queria ajudá-lo, eu estava dando o meu melhor para isso. 

 

       Mas eu não era a minha mãe, eu não era psicóloga, eu só estava sendo Red Cherry e talvez tudo que eu faça esteja errado, mas algo dentro de mim, não me deixa ficar parada sem ajudar. 

 

 

     Achar o Jon na festa parecia impossível, ninguém tinha o visto, e parecia que eu estava andando em círculos, eu sei que o Jon está mal, eu tenho certeza disso, por essa razão deixá-lo sozinho com raiva não era nem de longe minha opção. 

 

     Lion, Becca e Venus não entenderam nada quando eu disse que o Jon precisava de ajuda, eles nem devem ter percebido tudo que percebi nele, e as vezes é assim, muitas pessoas não notam os sinais de uma emoção instável, ou ignoram.

 

     Se sentir sozinho nunca é bom quando se está instável. 

 

     Parei no meio do corredor do andar de cima e eu não conhecia aquela casa, não conhecia ninguém para ser exata e já estava ficando irritada com aquilo, até que meu celular vibrou e era uma mensagem de Lion. 

 

      " Sory disse que ele pode está no telhado, eles já foram lá uma vez"

 

        Li a mensagem com atenção e respirei fundo antes de responder. 

 

       " e como chega até lá? A Sory poderia vir né? Falar com ele..."

 

        Mesmo eu não gostando tanto assim da Sory como pessoa, o Jon era apaixonado e completamente louco por ela e definitivamente já me disse que Sory era a melhor parte que ele tinha agora, acho que a presença dela vai ajudar. 

 

    " no final do corredor tem uma sala e nessa sala tem uma janela que da pro telhado."

 

     " e ela disse que tá feliz demais para tanto drama..."

 

     Tive que ler duas vezes a última mensagem para acreditar nisso, mas era óbvio, a Sory não se importava, não era nem questão de não entender o que o Jon estava sentindo, ela nem ao menos se preocupava com o fato de terem feito piada com o Oliver e o Jon ter socado a cara de alguém, ela não se importava com nada além dela mesmo. 

 

       Mas a Sory e toda a sua falta de consideração não eram meu foco e sim o Jon, eu não iria desistir de trazer o Jon feliz de volta e nem que para isso eu tivesse que grudar nele mais ainda. 

 

     Fui até a tal última porta do corredor e abri a mesma, vendo uma sala que parecia um escritório e a grande janela estava aberta, me aproximei, podendo ver Jon sentado do lado de fora no telhado. Dali parecia assustadoramente alto e ele estava na ponta com as pernas penduradas e encarando o nada. 

 

       Era péssimo ter medo de altura nessas horas. 

 

— Oi...— Murmurei, passando pela janela e tentando ignorar o meu medo. 

 

     Jon se virou me vendo e ele não se incomodou com isso, ele sabia que eu sempre vinha até ele quando sumia, eu odiava deixar o Jon sozinho e triste por muito tempo, era o que meu coração dizia ser o certo a se fazer. 

 

— Queria saber o que dizer...— Falei me sentando do lado dele e fechando os olhos de leve, me negando a olhar para baixo. — Mas acho que sinto muito não é nem de perto o suficiente! — Suspirei triste com aquilo. 

 

   Eu tinha certeza disso na verdade, nada do que eu fale agora vai diminuir a tristeza e a raiva do Jon pelo o que fizeram com ele, se eu estivesse no seu lugar eu estaria assim também, não era nem o mínimo aceitável uma pessoa fazer piada com a morte de alguém. 

 

— Não precisa dizer nada. — Jon falou de forma monótona e sem expressar nada em seu rosto. — Eu já quebrei a cara daquele idiota. — Continuou do mesmo jeito, apenas olhando para frente e eu me limitava a olhar seu rosto e não olhar para baixo. 

 

— Pois é, dizem que ele deve ter quebrado o nariz. — Comentei e Jon negou de leve, e eu só queria que ele demostrasse raiva, tristeza, algum sentimento, mas não, ele estava engolindo tudo, e isso não fazia bem. 

 

      Minha mãe sempre dizia que engolir sentimentos era péssimo, esconder o que sentimos e que nos está agoniando poderia ser uma bomba relógio dentro de nós, uma hora tudo aquilo iria explodir e não seria nada bom. 

 

— Meu pai odeia violência. — Jon pontuou e olhou levemente para mim, antes de voltar a encarar o nada. — Desde pequeno eu fui ensinado a odiar também, todo mundo falava, o Justin, a Jessica, todos, falavam que a violência, bater nos outros, era uma forma errada de expressar raiva, machucar outras pessoas dessa forma não vai aliviar o que a gente está sentindo por dentro....— Ele respirou fundo concluindo. 

 

        Aquele discurso, acho que todo mundo da família já ouviu ele, eu um zilhão de vezes, sendo irmã do Jake esse discurso é quase um mantra lá em casa. 

 

      A minha família odeia violência, de qualquer forma ou jeito, mas a física é como se eles não suportassem nem falar sobre, desde pequenos ouvíamos sobre isso dessa forma: 

 

     "Nunca desconte a sua raiva em outra pessoa."

 

     "Não aja como se você fosse mais forte que alguém."

 

     "Machucar outra pessoa fisicamente não te faz melhor do que ela."

 

     "Nada justifica você achar que pode ferir alguém."

 

      Todos crescemos com isso, como uma coisa passada de geração para geração, e apesar do Jake cagar para todas essas palavra e ser extremamente violento, eu acreditava naquilo assim com Jon e todo o resto. 

 

      Violência não resolve nada, nunca resolveu. 

 

— Nesse caso você ta perdoado, não tinha uma reação melhor. — Mexi os ombros, sabendo que Jon fez a única coisa que surgiu na sua mente no momento de fúria, foi errado, mas não tanto assim. 

 

— Minha mãe diz sempre, que meu pai deve está orgulhoso de mim, que de onde estiver, ele espera o melhor de mim, para seguir em frente. — Falou parecendo mais triste a cada palavra. — Mas eu não consigo, não como as minhas irmãs, ou o resto da família, o Oliver era mais do que um pai, ele me ensinou a ser quem eu sou, e sem ele parece que eu não sou nada! — Confessou e eu respirei fundo não sabendo bem o que dizer sobre isso.

 

       A perda do Oliver era o que tinha afetado Jon, afetou todos, mas a ele muito mais, eles eram como um o espelho do outro, e isso parecia doer em Jon profundamente. 

 

    Eu sentia tanta falta do vovô Oliver, ele era uma pessoa tão incrível, cuidava de cada um de nós com o maior amor do mundo, perder ele foi horrível, saber que não estava aqui para dizer tchau, foi pior ainda, mas todos, inclusive a Pattie, tinham que seguir em frente por ele, Oliver odiaria ver a gente sofrer, e eu sei que Jon sabe disso, ele não quer ser o único fraco disso todo, a pessoa que não consegue da mais um passo como os outros, mas eu entendia bem, a ligação deles era enorme demais para um adeus. 

 

— Minha mãe sempre falava do vovô da seguinte forma, que ele era a pessoa mais incrível, sensata e compreensiva do mundo todo! E que ele sabia que podíamos da o nosso melhor, mesmo no nosso pior. — Olhei para Jon, que me lançou um olhar singelo. — Ele vai entender o que você está sentindo, sobre não conseguir seguir em frente, ele não vai parar de ter orgulho de você, muito pelo contrário, ele vai ter cada vez mais orgulho quando vê você achando formas de se manter firme! — Dei um meio sorriso e Jon assentiu, aceitando as minhas palavras. 

 

— No momento, a única coisa boa que eu sinto é o amor que eu tenho pela Sory, sem isso, eu não sei o que seria de mim. — Confessou e eu me senti muito tensa por o assunto ser a Sory. — Não faço ideia do que eu faria se perdesse ela. — Afirmou e tentei não demostrar o quanto aquilo era forte. 

 

         Ela não trata ele com essa mesma consideração, não que a Sory não ame o Jon, eu não posso dizer isso, não estou no coração dela, mas a Sory não enxerga o Jon e os sentimentos dele com clareza, ela fecha os olhos para tudo que ele está sentindo e gritando na frente dela e só foca no drama, para ela tudo isso não passa de um grande drama e obviamente não é, se sentir para baixo, instável emocionalmente e sem motivação para nada não é drama. 

 

     Sory não entende isso, muitas pessoas do mundo também não, não existe drama quando se envolve sentimentos negacionista, quando você se põem para baixo e não consegue sair de lá, o Jon não está nisso porque ele quer, ele só não consegue sair, é mais forte que ele, e tudo que Jon precisava era de apoio. 

 

    O Jon considerava a Sory e o que sentia por ela a coisa mais boa dentro de si no momento, e aposto tudo que ele queria ela aqui agora, o apoiando, o confortando, mas acho que Jon conhece a namorada dele e sabe que ela não viria, e mesmo assim ele a ama. 

 

       O amor é estranho demais, a gente as vezes não é capaz de entender, li em um livro uma vez, que o amor pode surgir na mais pequena flor ou no maior dos furacões, nunca da para saber. 

 

      Se a Sory ama o Jon, espero que ela veja a tempo o quanto ele se importa com ela, e como ela é importante para ele. 

 

— Minhas tias Hazel e Ashley me deram um presente no natal muito interessante, era um livro chamado A linha! — Comecei a contar sobre e Jon me olhou curioso. — Nele dizia, que na ponta do nosso dedo mindinho! — Mostrei meu dedo para ele. — Tem uma linha vermelha, é uma lenda japonesa que explica muito bem o por que das coisas, ela afirma que tudo o que acontece tem uma razão e que todas as pessoas que encontramos na vida aparecem por algum motivo. — Dei um meio sorriso para Jon. — Essa linha conecta o seu coração ao de outra pessoa, como um fio vital, uma conexão que você nunca entende... você não sabe explicar, o porque aquela pessoa mexe com você, impacta tanto na sua vida e nas decisões... Isso é porque você não escolhe o seu outro lado da linha, é o que tem ser...— Murmurei o final, sentindo um peso forte no peito ao falar tudo aquilo, como se me afetasse. 

 

       Aquilo tudo que eu dizia ao Jon. girava na minha cabeça junto com tudo que eu me lembrava sobre aquele livro, eu havia me esquecido disso até agora, sobre essa história de linha e como funcionava. 

 

     No livro diz, que você está sempre destinado a alguma coisa em algum momento da sua vida e que seu outro lado da linha estará lá, para te ensinar muito mais sobre você mesmo, sobre o seu coração, sobre a vida, mesmo que não seja claro para você, o seu outro lado da linha vai ser aquela pessoa que vai lhe fazer vê sentimentos que nunca viu antes, amor absoluto a primeira vista, ódio absoluto a primeira vista, não importa como, no final tudo aquilo é explicado porque tem uma razão para acontecer. 

 

     O destino.

 

— Que legal. — Jon disse me dando um meio sorriso e eu continuei com meus pensamentos muito longes daquele momento. — Você acredita nisso? — Questionou e eu assenti lentamente. — Tá tudo bem? — Ele falou vendo o meu silêncio e eu estava perdida nos meus próprios pensamentos. 

 

— Sim...— Sussurrei antes de olhar para Jon, que me encarava de volta. — Eu só tô pensando, quem será meu outro lado da linha, a pessoa que é ligada a mim de alguma forma...— Pontuei, ainda pensando sobre isso e sentido um peso no peito que eu não conseguia descrever. 

 

— Eu sempre achei que o destino fosse um carma. — Jon mexeu os ombros de leve antes de olhar para frente novamente. — Você está destinado a uma coisa ou uma pessoa, por que? Qual critério? Seria por algo do passado? Outras vidas? Ou por exemplo, um assunto mal resolvido e que precisa ser resolvido...— Jon me olhou  analisando as minhas expressões e eu não sabia como reagir. 

 

      Destino, carma, amor, nada daquilo eu entendi muito bem, não sei se tem alguma dessas coisas na minha vida, eu só tenho 16 anos, se estou aprendendo algo sobre amar ou seguir um destino, é agora. 

 

    Mas o Jon estava certo, talvez o destino seja um carma, você está destinado a viver alguma coisa por conta da sua vida passada, ou por conta de algo que o universo quer que aconteça de qualquer jeito. 

 

     Algo que era para da certo antes e não deu, se o destino quiser ele vai fazer acontecer de novo, e de novo... até da certo. 

 

— Falar de amor me deixa nervosa. — Contei respirando fundo e Jon me olhou curioso com isso. — As vezes eu sinto que não amo o Lion, não dessa forma sabe... eu gosto dele, muito, mais do que posso falar, mas amor, eu não sei! Não faço ideia!— Olhei para Jon, sentindo que precisava dizer aquilo a alguém.

 

      Nem sei se estou apaixonada pelo Lion, ou se amo ele, ou se tudo isso só é uma atração forte entre nós, eu não sei, antes do Lion eu gostava de outros meninos, mas nada foi tão forte, então eu achava que estava apaixonada, porém agora, eu sinto que não é tão claro todos esses sentimentos para mim. 

 

     Eu estava muito confusa. 

 

— O amor é doido, quando você sentir você vai entender na hora. — Jon afirmou como um conselho. — Mas quer uma dica, de coração? — Assenti rapidamente necessitando muito disso. — Não cria barreiras, olha eu e a Sory, ela é toda imponente, popular, forte e eu não, somos opostos praticamente, então, o amor pode surgir na pessoa igual a você, do mesmo jeito que pode surgir em alguém totalmente diferente! Então não se prende a, aquele não pode ser porque ele é totalmente diferente de mim, não podemos ficar juntos, a gente tem que se odiar por que somos diferentes, pensamos diferentes, vivemos diferentes! — Ele me olhou sugestivo como se quisesse que eu entendesse bem o que ele estava dizendo. — O amor não escolhe por endereço, ou estilo de vida, ou sei lá... personalidade, pensa nisso. — Jogou para mim e eu queria sair correndo daquela conversa no momento que Jon me mandou pensar naquilo. 

 

        Se eu pensasse mais um pouco eu iria explodir, tinha certeza. 

 

— Vou pensar nisso. — Dei um sorriso tenso para Jon. — E você vai voltar para festa comigo, ou melhor, vai para casa comigo, eu já tô cansada dessa festa! — Afirmei sendo super sincera e tentando acabar o assunto sobre amor. 

 

       O que Jon falou faz sentido, tem muita semelhança com o lance da linha vermelha, mas eu não queria pensar, na verdade eu queria fugir daquilo tudo e das palavra do Jon, eu sei que ele estava certo, completamente, e que a gente tem que abrir o coração para o que ele quer, porque o coração sempre quer o que quer, nunca somos nós que escolhemos isso e os rumos que ele vai levar. 

 

     Então se meu coração quiser se apaixonar por alguém completamente oposta a mim ele vai, e isso me apavora, porque... 

 

      Existe uma diferença enorme, gigante, entre amar e ser amado, e eu nunca sofri por amor, mas nos livros parece ser horrível, então, eu não quero, eu prefiro decidir o meu destino, o meu coração, o que for mais confortável, o que não me machuque tanto. 

 

           Tem coisas, ou melhor pessoas, que a gente sabe que vai nos machucar, é como pular de um precipício sem corda. 

 

— É, quero ir para casa mesmo. — Jon concordou comigo e começamos a sair daquele telhado e eu havia passado tempo demais ali, levando em conta meu medo de altura. — Mas acho que você poderia ficar e aproveitar. — Ele me ajudou a entrar pela janela e eu o olhei com cara de tédio. 

 

— Aproveitar o que? — Perguntei realmente não sabendo o que tinha para aproveitar naquela festa. —  Eu não era nem para ter vindo! — Afirmei bem irritada com isso, eu literalmente sai de casa para me irritar essa noite.

 

— E por que veio? — Jon fez um olhar confuso em minha direção, antes de sairmos pela porta e ele foi na frente a abrindo para nós. 

 

— Porque eu fiz um acordo com o Harvey, pedi para ele vigiar o Jake, aí o idiota disse que só faria se eu viesse para a festa também! Ele me odeia...— Revirei os olhos me lembrado disso e ficando levemente mais irritada com a situação. 

 

      O Harvey me paga por me fazer de idiota, já que ele foi embora e eu continuo aqui, não foi esse o acordo. 

 

— Não acho que o Harvey te odeia não. — Jon falou de forma simples e definida.

 

— O que? — Praticamente parei de andar quando ouviu isso e Jon parou também para me olhar.

 

— Se ele te odiasse ele não ia nem querer está no mesmo lugar que você, e ele disse para voce vir. — Falou como se fosse bastante óbvio. — Se ele te odiasse tanto assim, ele faria um acordo que manter-se você longe dele, não? — Me olhou, como se eu pudesse responder isso e eu não faço ideia do que responder. 

 

     Jon estava viajando, eu sabia o porque o Harvey fazia aquelas coisas, ele tinha o fodido dom de querer me irritar o tempo todo, ele viu que eu não vinha na festa e então quis que eu estivesse aqui apenas para me irritar e ir contra ao que eu queria de verdade. 

 

 — Óbvio que ele me odeia, Harvey faz isso de propósito para me irritar! — Neguei várias vezes, levemente indignada por Jon não encarar aquilo como eu. — Aliás eu não quero falar do Harvey, tipo nunca, só de ouvir o nome dele me da nos nervos! — Falei irritada, Jon me olhou analisando a forma como falei e apenas assentiu mostrando que entendeu. 

 

— Foi você que falou dele primeiro...— Disse em tom baixo só pra me avisar, se virou para continuar andando e eu nem ao menos respondi, apenas o segui. 

 

    Até porque Jon estava certo nessa parte. 

 

 

 

 

 

  Jupiter Parker, Point of  Views. 

 

                            09:50 p.m.

 

                   1 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

 

 

            O Harvey e a Pink se beijando me deu vontade de vomitar, mas pior do que isso, me trouxe uma sentimento horrível por dentro. 

 

        Estava além da raiva, tinha ultrapassado isso, estava pensando no meu peito como se tivessem colocado uma maldita pedra em cima de mim. 

 

  Eu sabia que isso estava estranho, essa aproximação toda deles, essa amizade do nada, óbvio que tinha um interesse no fundo disso, e eu queria vomitar, eu queria gritar de ódio, mas ao mesmo tempo eu queria sumir. 

 

     Sabia que tudo era brincadeira, a forma como ele falava comigo, ainda bem que não cai naquilo tudo, eu era mais esperta, o Harvey estava jogando, brincando e achando que eu seria bobinha de cair, eu não caí.

 

    Eu não caí...

 

       Odeio sentir coisas que não sei explicar, a minha vida toda eu tive dois tipos de sentimentos dentro de mim: ódio e da para te suportar. Nunca nenhum desses me deixou com essa sensação estranha, era como se eu de fato fosse vomitar enquanto aquela cena se repetia na minha cabeça várias vezes. 

 

          Por que eu estava tão irritada? 

 

        Não sei lidar com isso, era novo para caralho e eu queria que sumisse, eu não queria sentir tanta raiva do Harvey porque ele beijou uma garota, eu não queria sentir nojo dele e da Pink por conta de um beijo, a Jupiter de meses atrás estaria rindo daquilo e achando ridículo o papelão no meio da festa, mas a Jupiter de hoje sente como se tivesse sido apunhalada pelas costas. 

 

      Eu estava furiosa por sentir aquilo, por ter visto aquele beijo, por a Pink ser uma vadia, por o Harvey ser um babaca do caralho e por eu está furiosa. 

 

       Acho que eu iria explodir se encarrasse aquilo por muito tempo, eu iria surtar, eu iria quebrar tudo igual foi no banheiro antes, e não era como se fosse direcionado a mim, ele não pensou em mim, nem sei se de verdade um dia pensou. 

 

         O Harvey me paga por me fazer sentir tudo isso que não sei explicar. 

 

  — Finalmente te achei...— Troy se sentou do meu lado na espreguiçadeira mais afastada da piscina, enquanto eu encarava os jovens na água ligando nada se era noite. — Você sumiu depois do banheiro... achei que iríamos conversar sobre aquilo tudo que você disse. — Ele falou, e eu ignorei. 

 

      Não estava com cabeça nem paciência para o Troy, e seja lá o que ele queira comigo, a única coisa que tinha na minha cabeça era o Harvey, Harvey, Harvey e o beijo do Harvey com a Pink. 

 

— Não quer falar sobre seu ataque de fúria? Você sempre reage assim quando lhe ofendem ou sente medo? — Questionou curioso e eu mexi os olhos na direção dele, lhe lançando o pior olhar que eu tinha, e não escondendo nenhum pouco todo o ódio que eu carrego em mim. 

 

      Só essa noite eu fui humilhada duas vezes, então eu não estava conseguindo mais nem fingir ser uma garota normal, inofensiva, da paz, que não tinha vontade de machucar ninguém, eu estava cansada demais para manter aquele personagem, o meu lado ruim estava gritando para sair com tudo aquilo, e Troy estava no meu ouvido nesse instante, quase como um demônio, e eu não iria conseguir fingir.

 

— A Sory não me da medo, ela que deveria ter medo de mim, aquela vadia não sabe o que está enfrentando. — Sibilei de forma cruel, deixando transparecer tudo que há de pior dentro de mim e Troy me olhou com cautela como se analisasse tudo isso. — Você sabe o que dizem sobre Jupiter? No planta, todos os dias são nublados e as tempestades, além de enormes, podem durar séculos! A atmosfera de Jupiter é composta de um gás tóxico que engole tudo e destrói... é preciso 121 terras para chegar ao tamanho dele! — Falava tudo com calma, praticamente soletrando cada uma das palavras. — Eu sou Jupiter, não vai ser uma vadia de colegial que vai me assustar, eu engulo ela e sufoco, fácil assim! — Pontuei de forma cruel e era a minha maior vontade, sufocar a vaca da Sory. 

 

      Troy ainda me encarava, como se estivesse surpreso comigo, mas ao mesmo tempo estivesse gostando de ver essa minha face do mal, eu não costumo mostra isso porque eu tenho certeza que vão me chamar de maluca, pessoas que aceitam que tem um lado cruel e perverso são vista como criminoso, psicopatas e sei lá mais o que, pelo mundo, mas ninguém para pensar na razão.

 

     Em um mundo que existe guerras, desigualdade, doenças e poder, uma pessoa cruel nada mais é do que uma pessoa que sabe viver o mundo como ele, as regras de todos sobre bondade ser o correto nunca é seguida, eles finge que as seguem, o mundo é uma grande hipocrisia cheia de falsos moralistas que querem seguir o certo para serem aceitos. 

 

     Eu era certa, eu era quieta, eu tinha medo de falar e não ser bem aceita, eu era uma criança que desde pequena tinha que ser boa, era a solução, mas aí eu vi que mesmo sendo boazinha, o mundo pisou em mim, então se eu for ruim, cruel, perversa e fria, eu que vou pisar em todo mundo. 

 

      É a lei do mais forte, ao invés de me causarem o mal e eu ter que engolir para ser boa e aceita, eu prefiro causar o que há de pior, eu já não sou aceita mesmo. 

 

— Estou surpreso com você.  — Troy falou por fim. —   Achei que você estava falando aquelas coisas do banheiro da boca para fora, mas não, você realmente é... diferente. — Me deu um meio sorriso malicioso, que foi crescendo aos poucos e eu o olhei de cima a baixo. 

 

— Eu sofri muito na vida para ser boazinha com quem entra no meu caminho de uma forma errada, a vida me fez assim. — Mexi os ombros. — Quando criança eu fui humilhada por toda a minha família, desde os 7 anos eu aprendi que ser boa não me fazia ser amada, e que minha família ia amar quem eles quisessem a pessoa sendo boa ou não, era na base do favoritismo  e eu não era a favorita, então ser boazinha virou algo que me remete a humilhação, e eu jurei a mim mesma que nunca mais iria ser humilhada na minha vida! E eu não vou ser, eu não tenho medo algum de acabar com a vida de qualquer pessoa que quiser me humilhar, eu não me importo com ninguém que não seja eu mesma! — Confessei tudo e Troy me olhava admirado com a força das minhas palavras e ser ruim parecia até bom vendo a forma como ele me olhava. — E você? Ou acha que não sei que você é diferente também. — Falei o analisando profundamente. — O que te fez ser o que é? — Questionei muito curiosa, porque é a pergunta que me faço desde que esse garoto surgiu no meu caminho. 

 

     Troy não era um cara do bem, ele estava longe de ser, o olhar de satisfação que ele me lançava agora que sabe que eu não sou uma garota boazinha, só deixava mais claro o que eu já havia notado, Troy é um cara estranho, de caráter muito duvidoso e talvez até perigoso, ele passava a sensação de que poderia causar uma bagunça enorme na vida de alguém. 

 

      E eu ainda queria saber o que diabos ele quer comigo para me seguir tanto. 

 

— Vem comigo e eu te conto. — Se levantou e eu o olhei seriamente, não gostando muito dessa ideia. — Você se abriu para mim de verdade, quero fazer o mesmo! — Me estendeu sua mão e eu a olhei . — Quer saber ou não? — Jogou como se fosse uma decisão necessária e eu peguei sua mão levantando, mas logo a soltando. 

 

       Não, eu não confio nele, não é porque mostrei meu pior lado que eu confiava em Troy, eu estava em alerta com esse garoto desde que o vi pela primeira vez, tem algo nele que beira a loucura, vai além de ser mal encarado, usar preto e ser cheio de tatuagens, o Harvey é assim, mas o Troy.... Ele me passava algo perigoso demais, porem eu não tinha medo, nada me assustava, muito menos ele. 

 

     Comecei a seguir Troy para dentro da casa, passando pelas pessoas que dançavam sem parar e bebiam ainda mais e aquilo tudo me revirava o estômago novamente, me lembrava Harvey e Pink e a cena na sala. 

 

     Não sei onde aqueles dois estão agora, mas levando em conta a minha raiva eu prefiro não vê-los na minha frente hoje. 

 

    Subimos a escadas para o segundo andar e Troy parecia conhecer aquela casa melhor do que eu, com certeza já deve ter ido a festas ali diversas vezes, o que era mais estranho ainda, Troy não parecia ser amigo daquele povo, o que o levava as festas? 

 

       Cada atitude do Troy era uma incógnita para mim, ele era uma mistura macabra de mistério e segredos e eu queria descobrir tudo, acho que a raiva que eu estava sentindo de Sory, Harvey e Pink naquele momento, me fez deixar de lado a noção sobre meus atos, está curiosa sobre um cara que me passa a sensação de perigo eminente não estava nos meus planos. 

 

     Se eu era uma pessoa ruim nas minhas atitudes e ele também, poderia ser uma grande oportunidade ver alguém como eu, assim tão de perto. 

 

     Sou movida a curiosidade, o que posso fazer?

 

     Troy entrou dentro de um quarto e abriu espaço para eu passar e assim eu fiz, o vendo fechar a porta, o que me fez lhe lançar um olhar sério. Eu não tinha medo, mas também não era boba de não ficar super alerta em reação à ele. 

 

— Relaxa é só pra evitar o barulho, eu fico aqui e você aí! — Apontou para o outro lado do quarto, indo e ficando bastante longe de mim, como se fosse uma zona segura para eu me sentir confortável. 

 

— Então...— Fiz um gesto na direção dele, para que começasse a falar e cruzei os braços esperando por isso. — Me fala sobre você! — Mandei e ele forçou um sorriso. 

 

— Minha vida desde criança não foi fácil, eu nem tive tempo de ser bom, vi coisas demais, coisas cruéis, ser frio e calculista era a minha única opção para sobreviver! — Começou a contar e as palavras dele me chamaram a atenção. — Assim como você, Jupiter, ser bom não era opção para mim, mas no meu caso, tinha haver com herança. — Disse sugestivo. — É a lei do mais forte, eu tinha que ser o mais forte, por dentro e por fora! Já viu a minha irmã, ela só pensa em dinheiro, coisas de luxo, aproveitar a vida em festas, eu não, a minha parte é a prática, para a minha irmã se vestir com milhões em roupas, alguém tem que trabalhar! — Se encostou na parede cruzando os braços sobre seu corpo. 

 

      Eu bem havia notado a diferença entre Destiny e Troy, além de serem fisicamente diferentes, os irmãos não eram nada parecido em jeitos, a Destiny passa uma vibe patricinha milionária, e Troy a de um garoto problema decidido no que quer e no que tem que fazer. Dava para ver que Troy tinha um foco, tudo nele era estranhamente frio, ruim e permitido, ele não parecia precisar se esconder de todos, talvez na escola para os professores, mas não para todos. 

 

         O que me faz querer saber mais ainda o que ele quer comigo.

 

— Por que você se aproximou de mim? — Questionei indo direto ao ponto. — Você não fazia ideia que eu tinha um lado ruim, então por que? — Troy me olhou de cima a baixo e ele fazia isso o tempo todo, literalmente como se estivesse olhando um quadro no museu. 

 

— Você foi colocada na minha frente, como um presente, e olhando para você. — Continuou me encarando daquele mesmo jeito estranho. — Você é linda, cabelos pretos lisos e médios, pele branca, olhos castanhos, altura padrão, corpo incrível...— Ele falava de uma forma extremamente analítica e aquilo era muito bizarro, mas deixei que continua-se. — Fiquei encantado, e também não suporto a minha irmã e as amigas dela, e elas maltrataram você, achei que poderia te proteger...

 

— E agora descobriu que eu sei me proteger sozinha! — O interrompi para afirmar aquilo com força.  — Você não tem cara de quem sai por aí protegendo meninas indefesas! — Joguei a verdade que eu sentia a olhar para Troy e ele riu de leve vendo que não daria para me enganar.

 

— É, você me pegou, eu não faço, mas não menti sobre me sentir encantado com você! — Afirmou querendo passar aquilo como verdade para mim. — Jupiter, você não é como as outras garotas, sua beleza é rara e única, já vi muitas garotas e mulheres, mas do seu tipo quase nunca! — Falou com um sorriso malicioso nos lábios. 

 

     A forma como ele diz essas coisas, eram muito estranhas, dava para ver o brilho nos olhos de Troy e a forma fascinada que ele usava as palavras. Ele é um cara estranho, disso eu não tenho dúvidas, ia além de ser frio e calculista como eu, ele estava em uma zona nova que eu nunca havia conhecido antes, ele è sádico, perverso e estranho. 

 

     Eu não era para esta ali dando ouvidos a Troy, mas queria saber mesmo mais sobre ele, e agora que sei um pouco, apesar de ter certeza que ele não me contou tudo, nem menos me contou a verdade sobre porque ele veio atrás de mim, eu me sentia um pouco mais interessada. 

 

      Era como se eu tivesse achado alguém como eu, com certeza em um nível diferente e com características a mais, porém eu e Troy tínhamos algo em comum, a frieza, a falta de medo, a certeza de que o bem não é a melhor opção para as seguir, e a gente aprendeu os dois desde pequenos. 

 

     São semelhanças curiosas, eu poderia jurar que ele era a minha alma gêmea do mal, mas não estava fisicamente atraída por Troy, apesar de ele ser gatinho e bem sombrio, eu so sentia uma curiosidade extrema nele, ainda queria saber de verdade o que Troy quer comigo. 

 

     E eu iria arrancar isso dele de alguma forma. 

 

— Então... só me achou bonita. — Dei um meio sorriso, começando a da passos lentos na direção dele e Troy mordeu os lábios lentamente assentindo. — E aí resolveu se aproximar para... tipo me conquistar e algo assim, por isso fingiu ser bonzinho? — Perguntei, continuando a me aproximar dele e parei a menos de um passo a sua frente. 

 

      Troy sorriu largamente para mim, como se eu tivesse dizendo as coisas certas e eu mantinha o sorriso de canto, quando o olhei de cima a baixo três vezes e parei em um ponto que chamou a minha atenção, mas logo voltei a encarar seus olhos. 

 

— Mas agora você sabe que não precisa fingir, né...— Dei o único passo que faltava para quebrar toda a distância entre nós e encostei meu corpo no dele, colocando minha mão sobre seu peito. — Agora podemos ser 100% verdadeiros sobre quem somos de verdade um para o outro, não é? — Sibilei em voz baixa, levando o meu rosto para bem próximo do seu e desci minhas mãos lentamente do seu peito para a sua barriga e seguindo o caminho. — Eu não ligo se você é mal, Troy...— Sussurrei com minha boca muito próxima a sua e ele estava extremamente focado em mim. — Sabe o porque eu não ligo? 

 

— Não... — Troy negou levemente em sussurro, encarando meus lábios como se quisesse atacar eles e eu dei um sorriso um pouco maior.

 

— Porque eu sou muito pior. — Exclamei forte, muito séria e dei três passos rápidos para trás, apontando aquilo que estava nas minhas mãos na direção da testa dele. — Ou me fala o que você quer comigo de verdade, ou você vai conhecer a Jupiter que ningiem conheceu! — Avisei segurando firme aquela arma e Troy levou sua mão rapidamente da cintura, notando que eu havia pegado aquilo dele. — Eu passei a minha vida fingindo ser uma garota boa e confiável, eu sei montar esse personagem muito bem! — Sorri largamente feliz por ele nem ao menos ter notado que me aproximei porque vi que ele tinha uma arma. 

 

     Quando Troy relaxou levemente na parede e falava sobre mim, ele deixou essa coisinha aparecer e eu não era burra de deixar a chance passar, acho que Troy apenas me acha uma garota amargurada e imatura, e agora eu vou mostrar para ele que estou muito além disso. 

 

     Se Troy quiser mexer comigo ele tem que aprender as regras do meu jogo. 

 

— Você não sabe mexer nessa porra. — Troy rosnou furioso entre dentes e agora sim ele estava sendo ele. — Me devolve agora antes que alguém se machuque! — Mandou como uma ordem urgente e eu o olhei com tédio antes de revirar os olhos. 

 

— Você acha que eu não sei usar? — Questionei ainda apontando a arma para ele. — Ok, que eu nunca peguei em uma na vida, mas já vi filmes, é só mirar, segurar o gatilho...— Pontuei, antes de da um sorriso brincalhão para o Troy. — Eu desenho desde criança, tenho firmeza nas mãos! — Contei como uma curiosidade importante e ri vendo o olhar de puro ódio que Troy me lançou. 

 

     Poxa, o nosso amor mal começou e já vai terminar? 

 

— Você não tem noção de como quem tá mexendo garota! — Exclamou complemente furioso e ele parecia um psicopata assim, seus olhos azuis mudaram para um tom sombrio e apavorante. — Eu não sou a porra de um garotinho com raiva da vida, eu sou mil vezes pior do que um dia você sonhou ser!  — Sibilou de uma forma cruel e ameaçadora, o que me fez assentir, porque disso eu já suspeitava mesmo. 

 

     Eu queria só saber uma novidade ou sei lá. 

 

— Você que está pensando pequeno querido, eu posso até ser uma adolescente amargurada pela vida, mas não tenho medo nenhum de usar isso aqui! — Exclamei o olhando como se tudo que ele tivesse acabado de dizer não valesse de nada. — O que quero saber, é o que de fato você quer comigo, Troy? — Questionei novamente, com mais calma e esperando uma resposta mais sincera. 

 

       Eu estava brincando com o perigo, com certeza, dava para ver, mas eu nunca tinha medo de nada, se uma pessoa era pior do que eu, obviamente eu poderia aprender a ser pior do que ela, não havia um limite para mim, era uma constante evolução.

 

— Eu não menti, foi você que chamou a minha atenção, sua beleza, só isso! Sou homem, não posso evitar de olhar e me sentir atraído por garotas. — Exclamou ainda bastante furioso e dizendo tudo olhando fixamente para mim. — Se eu quisesse te machucar não faria isso na escola ou aqui! — Falou como se fosse uma porra óbvia e de fato era. — Eu já disse que vi o quanto diferente você era, por isso me atrai! 

 

      Troy pode mesmo está falando a verdade agora, ou mentindo para me ver tirar ele da mira da arma, sei lá, mas vou da um voto de confiança, quando eu me aproximei dele agorinha ele ficou bem rendido, então talvez, só talvez mesmo, ele não esteja mentindo sobre o interesse em mim.

 

— Tá, vou acreditar em você. — Afirmei antes de o olhar com cautela. — Mas quero que me conte uma coisa. — Pedi antes de da um leve sorriso. — Você já usou essa arma para... machucar alguém? — Perguntei curiosa demais e Troy continuou me encarando fixamente. — Vamos lá, estamos sendo sinceros um com o outro agora...— Pisquei os olhos na direção dele e Troy bufou muito irritado com tudo aquilo. 

 

      Eu só precisava de uma resposta. 

 

— Só quando necessário. — Ele disse, me fazendo aumentar o sorriso quase não cabendo no meu rosto m. — Agora para de graça e me devolve essa porra! — Falou ainda autoritário, basicamente de saco cheio daquela situação e deve realmente ser frustrante para um homem armado vê que uma garotinha enganou ele. 

 

— Espero que não seja necessário usar comigo então...— Mexi os ombros abaixando a arma, mas ainda a segurando firme, pois queria dizer uma coisa a mais. — Existe uma zona para mim Troy, eu posso causar o inferno na vida da pessoa, acabar com tudo, mas se eu matar ela, eu me torno uma criminosa, e eu não sou uma, mas...— Olhei para a arma na minha mão, vendo os detalhes dela. — A uma parte da lei do mundo, uma parte obscura e é lá que eu fico! — Dei dois passos na direção dele. — Se chama legítima defesa, quando você mata alguém que tentou te matar ou te machucar, te enquadram em legítima defesa, não é crime, você não é preso, nem fixado, as pessoas não vão te olhar torto na rua, você vive como um cidadão de bem, mesmo tendo matado uma pessoa! — Dei mais um passo ficando novamente com nossos corpos colados. — É doido pensar nisso né? Tem uma parte da lei, que nos permite matar... — Peguei a mão de Troy e coloquei a arma nela, a soltando de vez. — E eu só vou matar alguém se for em legítima defesa! — Usei um tom mais sério para afirmar isso. 

 

        Não era brincadeira, aquilo que falei era sério, eu não seria presa por matar alguém, eu não sou burra ao ponto de tentar a sorte de passar anos na cadeia por matar uma pessoa, eu querendo acabar com a vida dela e acabaria com a minha, não, nem pensar, para mim funciona assim, se a pessoa tentar me matar ou me machucar fisicamente, aí eu tenho o direito de matá-la, isso não quer dizer que eu não tenha a provocado a tentar me machucar, o importante é se ela tentar. 

 

— Você é doente...— Troy murmurou me empurrando para o lado e saindo de perto de mim. — Realmente achei que você fosse mais ingênua, e eu poderia te matar pela ousadia de apontar uma arma para mim! — Se virou para me olhar e eu assenti sabendo disso muito bem, mas continuava sem medo algum. 

 

— Mas você não vai. — Tirei essa conclusão pelo fato dele nem ao menos ter apontado aquela maldita arma para mim. — Não vai porque, antes era a minha beleza que te atraia, agora o que te atrai é que somos parecidos, na sua cabeça, passa a ideia de que eu sou diferente das outras e me matar, seria perder isso. — Constatei o que encarei naquele quarto durante os últimos minutos. — Eu confesso para você que, hoje foi um dia que mostrou para mim que não da para gostar de qualquer pessoa, mesmo que ela pareça ruim como eu, ainda não é o suficiente... já você, Troy, você é como eu, é estranhamente bom conhecer você! — Eu estava sendo a porra mais sincera naquele momento. 

 

     Não era um jogo mais, ao contrário de outros por aí, Troy e eu eram 100% compatíveis, nem que fosse impossível eu gostar dele, naquele momento era a melhor opção para mim. 

 

— Sabe qual a porra da sua sorte? — Troy se aproximou de mim a passos largos, levando com delicadeza a sua mão a lateral do meu rosto o segurando. — É que eu amo o perigo, e você é perigosa...— Ele não parecia irritado tanto quanto estava antes, o que me fez sorri de leve. — Vamos recomeçar, mas não agora, a gente se encontra amanhã às 7 na porta do colégio. — Acariciou o meu rosto com cuidado. — Lá a gente começa do zero, se conhece de novo como se fosse a primeira vez, e esquece essa porra toda de hoje, combinado? — Me olhou sugestivo e eu assenti concordando. — A gente se vê, Jupiter...— Tirou a sua mão do meu rosto e pegou a minha mão, beijando a mesma suavemente antes de soltá-la e sair. 

 

      Troy passou pela porta e me deixou sozinha no quarto, o que me fez começar a ri sem parar, achando tudo aquilo incrivelmente engraçado.  

 

    Quem diria, nesse fim de mundo no meio do Quebec eu ia encontrar um criminoso, ou seja lá o que Troy faça com aquela arma. 

 

    Alguém que não tem medo de matar, de machucar os outros e ser preso, e esse alguém que parece tão encantado por mim, que eu acabei de apontar uma arma e ele ainda assim me quer, o que mais eu conseguiria dele se eu tentasse de fato? 

 

    Talvez tudo que eu preciso para sobreviver nessa cidade, um nível novo que nunca fui antes e nem preciso ir, Troy poderia fazer isso por mim. 

 

     Que sorte a minha...

 

    É como ganhar na loteria. 

 

 

 

 

   Harvey Butler, Point of  Views. 

 

                            10:15 p.m.

 

                   1 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

 

 — Oh! Vai com calma, deixa um pouco para mim! — Pink reclamou, pegando a garrafa de bebida da minha mão quando eu já havia virado quase por completo. — Para quem não queria beber até que você tá indo muito bem! — Exclamou parecendo surpresa e eu me apoiei no balcão sentindo meu sangue esquentar junto com meu corpo e não era por causa do álcool. 

 

— Aquela cobrinha não estava mentindo. — Murmurei só para mim, enquanto encarava fixo o nada e só conseguia lembrar do que vi a menos de 1 minuto atrás. 

 

— O que? — Pink questionou não conseguindo ouvir o que falei por contada da música e não era da conta dela. 

 

      O assunto era entre eu e uma cobra traiçoeira. 

 

       A Jupiter realmente tinha um amigo, ou seja lá que porra aquele cara que subiu com ela fosse, eles pareciam se conhecer e eu não levei a sério quando ela me disse de manhã que tinha feito um maldito amigo. 

 

     Aquela garota não é amiga nem dela mesma. 

 

      Era uma porra ridícula demais, ela nem conhecia aquele cara, na verdade eu nunca tinha visto ele na vida e aposto que ela também não até hoje cedo, e já estava lá, grudada nele indo para não sei aonde. 

 

      O pior de tudo é que eu sei bem que a Jupiter não é ingênua nem inofensiva, eu não posso ir até lá e falar que estou querendo proteger ela de possíveis babacas filhos da puta, sendo que ela mesma é uma grande filha da puta. 

 

     E isso me deixava com raiva, muita raiva, eu queria quebrar a cara de alguém, não importava quem.

 

— Você tá irritado com o que? — Pink perguntou curiosa se sentando no balcão e eu a olhei de canto. — Quando você bebe fica irritado, é isso? — Me deu um sorriso provocativo e eu a olhei de cima a baixo algumas vezes. 

 

— Não, eu fico violento. — Falei a verdade e ela riu, acho que para mostrar que não se importava, mas acho que ela não entendeu bem o que eu quis dizer. 

 

— Você pode ser violento comigo se você quiser... — Ela se inclinou para falar isso perto do meu ouvindo e eu neguei levemente. — Pode ser o que você tiver vontade, Harvey. — Me olhou de um jeito extremamente provocativo e eu me virei a encarando mais de perto. 

 

— Eu to irritado, sabe com o que? — Olhei nos olhos dela, que esperava eu falar. — Uma cobrinha não precisa tanto de mim para cuidar dela quando eu achei que precisava, e a outra situação que não sai da minha cabeça me confunde pra caralho, porque diz uma coisa mas quando eu olho eu vejo outra... então que porra eu faço? — Dei uma risada vendo o quanto tudo aquilo era ridículo e Pink me olhava sem entender nada. — Eu vou comprar a maior briga da história me metendo no meio disso? Ou eu posso mandar as duas situações se foderem, e ficar onde eu deveria está, confortável, algo mais haver comigo, entendeu? — Dei um meio sorriso para Pink, que desceu do balcão e acho que ela só entendeu o final de tudo que eu disse.

 

    Foda-se, ela estava bebada e eu também. 

 

— Já disse o quanto é bom não ser sua tia? — Pink botou seus braços em volta do meu pescoço e eu assentiu levemente. — Nem Parker, nem Bieber.... Que sorte a minha. — E ela estava jogando todo o seu charme para mim, era muito além de brincadeira. 

 

      E para ser sincero, eu não queria mais só brincar, porque a Pink era gostosa pra caralho, além de linda demais, eu seria um idiota se não tivesse nada com ela hoje, e eu não era um, eu poderia está muito confuso com as porras em volta da minha vida, mas eu não ia perder aquilo tudo que estava na minha frente por causa dessa besteira toda. 

 

    A Pink me queria e eu queria ela, era o que precisava, então eu não tinha que me concentrar mais em nada, não nessa noite. 

 

— Acho que já podemos ir embora, eu e você, essa festa já deu. — Sugeri e ela concordou no mesmo instante com isso, parecendo animada com a minha ideia. 

 

 

 

 

 

        Red Cherry Bieber, Point of  Views. 

 

                            10:24 p.m.

 

                   1 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

 

 

            Eu olhava em volta à procura do meu irmão, enquanto sentia que poderia socar a cara de alguém e eu nem era de violência, mas havia praticado defesa pessoal a uns anos atrás a pedido da minha mãe, então sim eu poderia socar a cara de alguém. 

 

      E esse alguém seria Harvey Butler se ele aparecesse na minha frente. 

 

      Não acredito que o desgravado foi embora e não teve nem a cara de pau de vir falar isso pessoalmente para mim, ele foi até Venus e disse, falou para dizer a mim exatamente essas palavras: 

 

      "Avisa a princesa que eu não sou do reino dela, então eu faço o que quiser."

 

     Vai se foder idiota! Eu nunca quis ele no meu reino, na verdade nem na minha vida, mas infelizmente ele está, não posso fazer nada para mudar e a única coisa que ele poderia ser util para mim era me ajudar com o Jake, já que meu irmão adora o babaca Harvey. 

 

      Mas obviamente ele tinha que ser filho da puta até nisso, como eu odiava aquele garoto de um jeito que chegava a queimar dentro de mim como se eu pegasse fogo. 

 

— Eles devem ter ido transar, para saírem da festa assim tão rápido e o jeito que se beijaram lá na sala... — Becca comentou e eu lhe lancei um olhar tão furioso que ela parou de andar assustada com isso. — O que foi? Falei algo errado? — Perguntou acuada e eu balancei a cabeça para não pensar nisso e não deixar ela pilhada com isso. 

 

— Eu só tô preocupada com Jake! — Falei suavizando o olhar e olhando em volta de novo. — Nem a Venus com a Joanna ou o Lion mandaram nenhuma mensagem...— Virei meus olhos para o meu celular pela milésima vez. 

 

       Venus, Joanna e Lion estavam procurando Jake também, eu só queria ir embora para casa, Jon já havia ido, e eu só não iria sair dali sem meu irmão e os outros que faltavam, não podia fazer isso mesmo que eu só quisesse sumir daquela festa o quanto antes. 

 

— Quem a gente procurando mesmo, além do Jake? — Becca perguntou também olhando em volta e ela estava sendo uma amiga incrível em ajudar a gente essa noite toda e ela literalmente me conheceu hoje. 

 

     Sei reconhecer quando uma pessoa é amiga de verdade e a Becca era, ela estava lá na festa passando por todas as situações e ajudando eu e meus primos como se fosse da família, ela não tinha nenhuma obrigação sobre isso, ela so estava fazendo porque era uma garota incrivelmente legal e gentil, eu realmente estava muito agradecida por Becca está ali e ser um pouco de juízo em meio ao caos, porque se depender dos membros da minha família eles se matam entre si mesmos.  

 

— Jake, que você conhece, os outros dois acho que você não viu muito de perto, mas chegaram com ele e o Harvey na festas! — Expliquei, já que Becca estava perto de mim quando eles chegaram e viu assim como eu. 

 

       Ela assentiu mostrando que tinha uma lembrança disso e voltamos a olhar em volta, indo para perto da piscina, onde parecia que tinha menos gente, mas ainda sim eram pessoas demais e Jake estava em nenhum lugar, nem ele, nem Spike e nem Jupiter, não faço ideia de onde eles se meteram. 

 

      Me afastei de Becca, indo para a outra borda da piscina, onde tinha alguma pessoas sentadas no chão rindo muito e eu reconhecia essa risada de longe. 

 

— Jake! — Exclamei e ele levantou os olhos para mim, antes de revira-los. — Eu estava te procurando, vamos embora agora! — Avisei, o que fez ele apenas tirar os olhos de mim e me ignorar, voltando a falar com as pessoas e aquele Thomas estava junto e ficou me encarando com um meio sorriso bobo. 

 

      Eu sou capaz de implorar para sair dessa casa e da festa, eu não não aguentava mais um segundo ali, tudo estava me estressando ao máximo e com certeza eu não cogitava vir em outro evento incrível na casa do Thomas nunca mais. 

 

— Jake! Eu estou falando sério, você viu o Spike e a Jupiter? — Questionei isso também, cruzando os braços e ele bufou irritado e seguiu me ignorando e focando na rodinha que estava. 

 

      Eu vou socar o Jake Bieber e não vai demorar muito, ele não gosta tanto de lutar, então vamos ver se ele vai conseguir lutar com uma Red Cherry Bieber furiosa, porque eu poderia muito bem fazer isso se fosse preciso pra arrastar esse moleque irritante para casa de uma vez e para longe daquela festa que já deu o que tinha que da. 

 

— Não sei quem é Jupiter. — Thomas disse para mim, ainda me olhando do mesmo jeito repulsivo de sempre. — Mas o Spike está ali. — Apontou para atrás de mim e eu me virei para ver Spike, que estava literalmente do lado da Becca bem na beira da piscina, de costas para ela que olhava em volta procurando. 

 

     Spike tentava pegar alguma coisa dentro da piscina usando o limpador enorme, enquanto ria com outros dois garotos que nunca vi antes e era incrível como Spike e Jake estavam se divertindo horrores naquela festa enquanto eu só queria fugir dela o quanto antes. 

 

— Eu chamo ele para você. — Thomas se levantou e parou do meu lado, colocando seu braço enorme em volta de mim sem eu nem ao menos ter permitido isso. — Ei! Spike! — O garoto gritou super alto para chamar a atenção dele e Spike se virou rapidamente, virando junto o limpador de piscina que bateu com tudo na cabeça de Becca e a derrubou dentro da piscina na hora. 

 

        O idiota do meu lado começou a ri exageradamente e eu levei minhas mãos a boca assustada e preocupada com Becca, mas logo me afastei da montanha de músculos rindo sem parar e corri até a beira da piscina para ver se a minha amiga estava bem, ela demorou alguns segundos até voltar a superfície e eu a olhei sem saber o que fazer, enquanto aqueles meninos riam em volta de nós sem parar e nem pensando em ajudar. 

 

      Qual é? Parece que todo mundo ali estava no maternal ao invés do colegial. 

 

— Becca você está bem? — Perguntei me abaixando e tentando esticar a minha mão para ela e parecia que todo mundo olhava para nós. 

 

— Não...— Ela resmungou levando a mão a cabeça e estava começando a sagrar de leve, Becca tinha realmente se machucado e eu iria chutar alguém se continuassem rindo daquela forma. 

 

       Para mim já deu, eu não estava com a mínima paciência para aquilo tudo mais.

 

— Vocês são idiotas! — Exclamei irritada para todos que estavam em volta rindo. — Eu tenho mais de 14 primos de diferentes idades e nem eles conseguem ser tão infantis quantos vocês! — Falei muito sério e alguns pararam de ri no mesmo instante, outros continuaram. 

 

— Foi mal, eu não vi ela...— Spike disse ainda rindo de leve e se aproximou de mim. — Ou não sei usar isso muito bem. — Entregou o limpador de piscina para o outro garoto e ao invés de se preocupar, ele estava ainda achando graça. 

 

— Ela se machucou, Spike, não tem graça. — Falei bem seria para ele e dei a mão para ajudar Becca a sair da piscina e ela sentou na borda fazendo uma careta leve de dor. 

 

— Foi um tombo engraçado ué. — Ele abaixou do outro lado dela, que virou e lançou um olhar mortal para ele. 

 

— Não, foi vergonhoso e idiota, igual a você. — Ela disse entre dentes e Spike encarou ela como se Becca fosse maluca ou algo do tipo. 

 

— Foi só um tombo na piscina, e um arranhão senhorita drama! — Ele debochou com um sorriso forçado e ela revirou os olhos, voltando a me olhar e ignorando a presença de Spike ali. 

 

— Você tem palhaços no lugar de primos, Red. — Becca reclamou irritada e eu olhei para Spike, mandando ele sair dali rapidamente antes que ela jogasse ele na piscina e no final ele não estava ajudando em nada rindo dela. 

 

     Spike saiu e eu pude focar unicamente e Becca. 

 

— Não liga para ele, está doendo? — Perguntei ajudando ela a levantar e Becca balançou a cabeça indicando mais ou menos e sangrava bem pouco, mas não deixava de ser um machucado. 

 

— Ei, eu vi o que aconteceu, está tudo bem? — Olhei para o lado, em direção a voz que falava e era o Gawn, ele se aproximou olhando preocupado para nós. 

 

      Eu nem imaginava que ele poderia está aqui nessa festa, mas pelo menos alguém de fato preocupado e visivelmente em condições de ajudar a gente, Gawn não parecia nem levemente bebado ou louco como os outros daquele lugar. 

 

— Ela machucou de leve. — Avisei e ele se aproximou mais para ver a testa de Becca.

 

     Ela olhou para ele com um leve sorriso e depois usou o mesmo sorriso para mim, a Becca era tão expressiva que eu entendi na hora o que ela quis insinuar e neguei de leve. 

 

— Acho que não foi nada sério, parece ter sido só um arranhão, tá sentindo muita dor? — Ele perguntou segurando a cabeça dela para olhar melhor e Becca negou com o dedo. — Isso é bom, a gente pode fazer um curativo pequeno e tudo certo! — Olhou para mim, como um medico após atender um paciente e eu estava surpresa como ele realmente sabia o que estava fazendo. — Eu fiz primeiros socorros meio que forçado, então...— Disse sugestivo vendo a minha cara e eu ri de leve, envergonhada por ele ter notado isso. 

 

— Se você puder me ajudar a ver um curativo para ela nessa casa eu vou ser grata a você demais! — Dei um sorriso para Gawn, que me deu um de volta, me encarando antes de assentir. 

 

— Vem comigo. — Falou por fim começamos a andar e eu olhei para Becca que tentou falar algo só mexendo a boca, sem emitir som e eu a puxei comigo assim que entendi, ela quiser dizer algo como: Ele tá tão na sua. 

 

       A Rebecca nunca iria desistir dessa ideia de que o Gawn fica me secando ou sei lá mais o que, ela colocou isso na cabeça desde manhã na escola quando o conhecemos nos armários. Sei que minha nova amiga é super emocionada com qualquer minima coisa, mas com toda a certeza do mundo eu não estava a fim de analisar aquilo tudo como ela. 

 

         Seguimos Gawn para dentro da casa e pelo meio das pessoas que pareciam mais animada com a forma que as horas passavam e peguei meu celular apenas para avisar a Joanna, Venus e Lion que eu tinha achado Spike e Jake na piscina, que era para os três vigiarem eles para não sumirem de novo e que eu ia resolver um problema com Becca e já voltava para ir embora. 

 

      Eu nunca quis tanto ir embora de um lugar como eu queria dessa casa. 

 

— Entra aí! — Gawn apontou para uma porta e Becca entrou primeiro e eu logo a segui, era tipo uma sala de Tv e estava completamente vazia. — Ninguém pode pisar aqui, o pai do Thomas mata um se isso acontecer. — Gawn avisou e foi em direção a um armário em baixo da televisão. 

 

— E a gente está aqui por que? — Becca questionou com um tom confuso e Gawn riu achando isso engraçado e pegando uma caixa de primeiros socorros. 

 

— Porque o pai do Thomas é o delegado da cidade, e meu pai é o prefeito, eles são amigos de infância, então eu sou uma exceção! — Explicou e fazia muito sentido agora. — E voces são minhas convidadas! — Olhou para Becca e depois para mim, antes de ir até ela que se sentou no sofá. 

 

— Então você é amigo do Thomas? — Perguntei me sentando do lado de Becca e ele sentou do outro, virando a cabeça dela na direção dela. 

 

— Com certeza não. — Gawn riu negando. — O Thomas não gosta nem um pouco de mim, ao invés de eu ser um conquistador barato, correr atrás de uma bola de futebol e ser cheio de músculo, como ele e seus amigos, eu gosto mais de usar a minha cabeça para coisas boas e práticas! — Explicou e era muito plausível para mim. 

 

     Eu até o entendia em um ponto, usar a cabeça era muito melhor do que agir como se fosse só músculos e arrogância e o Thomas era a definição perfeita disso, de cima a baixo. 

 

— Ainda mais sendo filho do prefeito, né. — Becca comentou e ela sempre falando coisas no momento errado, mas a sorte dela era ser engraçada, e Gawn riu novamente o que aliviou a situação.

 

— É isso tá mais para uma consequência do que para algo legal! — Mexeu os ombros como se não fizesse diferença. — Muitas pessoas me olham como se eu fosse só o filho do prefeito e que tivesse que está sempre correto por causa disso, mas no final sou só um garoto comum como qualquer outro da cidade! — Confessou e eu o olhava fazer o curativo na cabeça de Becca com toda a concentração e ele realmente sabia o que fazia, se fosse eu estaria extremamente desastrada. 

 

      Não sabia como agradecer o Gawn por esta aqui na hora certa que a gente precisou, se não fosse ele eu não saberia o que fazer com Becca e ela se machucou tentando me ajudar a procurar os meus primos, eu me sentia responsável por aquilo totalmente e estava muito preocupada, até ele aparecer e me acalmar. 

 

      O Gawn falava de uma forma tão calma e centrada de tudo, que aclamava a gente extremamente, além de ele ser super atencioso e simpático, nas palavras e nos gestos. 

 

— Deve ser meio assim para você também, não é? — Ele disse e eu sai dos meus pensamentos para prestas atenção. — Ser filha do Justin Bieber e está no Canadá é como ser filha do primeiro ministro! — Opinou e Gawn tinha completa razão, o que me fez assentir várias vezes. 

 

— Não só aqui, nos Estados Unidos é também, e eu sempre tento mostrar que sou uma garota comum, e quem é famoso...

 

— É seu pai.- Ele completou a minha frase e desviou os olhos de Becca para sorri para mim. — Eu sei bem como é essa parte, ter pais relevantes nos torna filhos relevantes. — Pontuou e voltou a olhar para a Becca. — É cansativo, mas sou feliz pelo o que meu pai construiu, ele é prefeito desde que eu era criança! — Gawn parou de mexer na testa de Becca. — Terminei. — Avisou a ela, que respirou fundo e olhou para mim com um sorriso mostrando que estava tudo bem e eu fiz o mesmo feliz por ela. 

 

— Eu não sei nem como começar agradecer! — Falei para Gawn e Becca olhou para ele assentindo e concordando comigo. 

 

— Eu também, muito obrigada de verdade, me sinto 100% bem, nem dói mais! — Exclamou jogando os cabelos para trás como se estivesse pronta para outra praticamente. 

 

— Não foi nada, eu estava em divida com vocês por ter quase acertado o rosto da Red com o armário hoje mais cedo. — Ele disse desviando de Becca para me olhar de um jeito legal e minha amiga olhou para ele, e depois para mim.

 

— Nossa essa sala é muito legal...— Becca murmurou se levantando do sofá e indo para perto da televisão, encharcando tudo por onde passava já que estava bastante molhada da piscina, deixando eu e ele sentados no sofá sozinhos e tentei disfarçar a vergonha que ela estava me fazendo sentir. 

 

       Conheço essa menina a menos de 24 horas mas já sei o que ela estava tentando fazer ali naquele momento, Becca não desistia fácil de uma ideia mesmo que eu já tivesse dito para ela os fatos, ela não parecia afim de apenas parar com isso. 

 

— Já falei, está tudo bem pelo armário. — Afirmei para garantir mais uma vez isso a Gawn. — Você é muito legal com a gente, apesar de sempre parecer que nós duas vamos nos ferir, literalmente. — Joguei um olhar para Becca, que virou para nós assentindo rapidamente e depois voltou a olhar as coisas da sala. 

 

— Vocês são engraçadas, de verdade, as vezes eu tô cercado de pessoas sérias demais, meu melhor amigo é oriental, ele vive sério e centrado, e o pessoal da escola parece que olha para mim e vê meu pai, sei lá! — Mexeu os ombros não sabendo como explicar isso e eu retrai uma risada imaginado como seria. — Pelo menos acho que fiz duas amigas novas agora. — Olhou sugestivo para mim e Rebecca se virou rapidamente animada assentindo sem parar. 

 

— Com toda a certeza! — Ela exclamou como se fosse óbvio. — Você salvou a minha vida, vou te considerar para sempre! — Ela assentiu como se isso fosse muito sério, o que fez eu e ele rimos disso. 

 

      Não tinha como não passar um minuto sem ri da Becca ou das coisas que ela fala, ela era louquinha, mas uma louquinha do bem, tudo que ela falava tinham um jeito engraçado e quase não não dava para levar a sério, essa era minha sorte em alguns momentos, porque eu estaria roxa de vergonha se Gawn levasse tudo que ela fala a sério aqui. 

 

— Você pode contar com a nossa amizade para o que precisar! — Garanti para ele, falando a verdade, que o fez sorri para nós duas feliz em ouvir isso e ele tinha um sorriso muito lindo e fofo. 

 

         Ele todo era muito fofo e gentil, parecia quase impossível alguém ser assim, mas era bem real, ele não tinha nem levado na maldade as insinuações de Becca e isso já fazia bastante diferença, Gawn passava uma imagem de um garoto especial de um jeito bom e isso não tinha como negar, até o jeito dele sorri lindamente mostrava isso. 

 

— Red, achei você! — Lion apareceu na porta e eu olhei para mesma, o vendo entrar sorrindo feliz em me ver, mas parou rapidamente ao encontrar Gawn do meu lado no sofá. — Quem é? — Questionou meio sério, sendo nem um pouco educado em fazer isso.

 

— Um amigo do colégio, ele ajudou a Becca! — Apontei para a menina de pé e ela acenou para o Lion. — O Spike derrubou ela na piscina com o limpador e fez um machucado, mas ela esta bem! — Expliquei a situação de forma resumida e Lion continuava olhando o Gawn do mesmo jeito. 

 

— Entendi...— Murmurou sendo nada discreto no olhar para o menino, e em seguida olhou para mim. — Joanna forçou Spike e Jake irem embora com ela, Venus só está procurando a Jupiter para eles irem, então a gente já pode ir e levar a Becca em casa! — Avisou e pegou na minha mão me puxando para ficar de pé ao seu lado. 

 

      Lion estava agindo quase como um cão de guarda e eu não estava gostando disso, sei que somos namorados e que ele sente ciúmes como em qualquer relação, mas tem um limite entre o ciúmes e ser desnecessário, o Lion não tinha nem falado oi para o Gawn, isso era complemente desnecessário. 

 

— Bom, eu vou indo também, a gente se vê amanhã meninas. — Gawn se levantou para sair. — Tchau meninas e Lion. — Ele falou com um sorriso simpático, antes de apenas andar para fora. 

 

  Ele era uma garoto tão de boa e Lion tinha sido grosseiro. 

 

— O que? — Lion perguntou vendo a cara que eu e Becca fazíamos para ele. 

 

— Nada, so vamos! — Pedi cansada e não era hora mesmo para isso, amanhã tinha aula e eu só queria ir para casa dormir e esquecer aquela festa infernal onde tudo deu errado. 

 

      Só de pensar que amanhã tem aula eu me sinto exausta e eu nem bebi como os outros, não quero nem ver como vão aparecer na escola amanhã, mas também não era problema meu, os meus primos e amigos estavam bem, no caso quase todos, eu por alguns instantes havia me esquecido da Pink e do Harvey bebados, mas espero que os dois estejam aproveitando muito bem a noite deles...

 

     Juntos...

 

     E que os dois esqueçam a hora da escola amanhã e eu não precise ver a cara de ressaca de ambos no café da manhã, até porque o Harvey quebrou o nosso acordo e eu não ia perdoar isso, hoje foi um ótimo dia para eu ver com clareza que não posso confiar nele nem na única coisa que a gente poderia ter em comum que é o Jake. 

 

      No final também serviu para eu aprender a nunca mais confiar no Harvey na minha vida, para nada. 

 

 

 

 

 

     Jupiter Parker, Point of  Views. 

 

                            10:42 p.m.

 

                   1 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

 

    

         Ao descer do segundo andar e olhar em volta parecia que aquela festa iria durar a semana toda, ninguém estava nem minimamente cansado ou sei lá, apesar de que pareciam bastante acabados fisicamente. 

 

           Era só o primeiro dia de ano letivo, nem imagino como eles vão chegar ao final dele, e essa cidade pode até parecer bem chata e parada no tempo, mas os adolescentes daqui são bastante.... curiosos.... nem é pela festa em plena segunda cheia de bebidas até tarde e sim por conta do que já encontrei pela frente até agora. 

 

        Uma visão nova sobre algumas coisas que no Japão eu não tinha o menor acesso, as vezes eu acho, analisando essa cidade, que o Japão é muito careta e regrado o tempo todo, aqui, no primeiro dia de aula eu já posso ter encontrado a minha mina de ouro mais preciosa. 

 

         Eu tinha questões da minha vida, muitas questões com muitas pessoas, para resolver e diante dessa cidade, parece que tudo que eu fazia antes de me mudar para cá, era tão bobo, infantil, inofensivo, beirava a inocência... 

 

      Talvez eu tivesse que mudar o padrão, evoluir para o nível canadense e deixar esse lado indolor e sucinto do Japão de lado, aqui as pessoas parecem querer ir além o tempo todo, então porque eu também não posso? 

 

— Finalmente te achei! — Venus apareceu na minha frente segurando os meus ombros e parecia preocupada comigo e ela fingia isso tão bem que eu acreditaria se fosse ingênua. — Onde você estava? — Questionou seria e eu revirei os olhos de leve. 

 

      Venus, ela realmente se acha uma irmã mais velha responsável que tem que cuidar da mais nova, mas eu sei bem que ela não liga para mim de verdade, a vida toda eu a vi escolher um lado, e o lado que ela escolheu a fez ser a favorita, a filha perfeita que quer cursar medicina, comunicativa, amorosa, perfeita até demais, isso me irritava tanto. 

 

       Perfeição não existe, todo mundo tem um lado ruim, uns mostram e outros engolem, e eu adoraria ver o da minha irmãzinha um dia. 

 

— Estava lá em cima. — Resumi tudo nessa pequena frase e Venus me olhou como se eu fosse louca. — A Sory derrubou bebida em mim! — Mostrei a minha blusa sinalizando isso. — E não precisa fingir que se importa! — Avisei sendo bem sincera. 

 

— Eu não finjo que me importo com você! — Falou como se aquela ideia fosse ridícula e eu a encarei com um olhar de poucos amigos. — A partir do momento que eu estou aqui te procurando a um tempão isso significa que eu me importo, se não eu teria ido embora! — Disse como se fosse óbvio e eu continuei a encarando com um olhar singelo, antes de me virar e sair. 

 

      Comecei a caminhar até a porta de entrada daquela casa a fim de sair dela de uma vez, aquela música alta estava acabando com os meus tímpanos e eu já não aguentava mais ficar no meio de tanta gente. 

 

     Hoje a noite foi de descobertas e decepções, para começar o Harvey foi um tremendo filho da puta, o dia todo parece que temos algo diferente entre nós e aí a noite ele está beijando a minha tia, o que me faz lembrar porque eu repudio tanto homens, eles parecem pensar mais com o penis do que com o cérebro. 

 

       Os poucos que conheci e tive contato foram assim.  

 

       Nunca tive amigos homens por essa razão, no Japão eu me limitava a 3 amigas do colégio que eu fingia gostar para minhas mães me acharem uma adolescente normal e sociável, mas eu não tinha paciência para elas, japoneses são diferentes até no quesito amizade, elas não se importavam nada com o que eu fazia ou pensava, mas amavam ficar comigo mesmo que fosse em silêncio e tirando fotos para suas redes sociais, elas não falavam muito da vida delas, nem eu da minha, eram como se elas precisassem de mim para completar o grupinho de 4, e japonês tem uma tara por números pares absurda, e eu precisava delas para status e me manter comum entre os demais, apenas isso, mas eram as únicas amigas que tive desde os 10 anos e não sinto nenhuma falta, elas nunca me entendiam, e nem era por falarem japonês. 

 

         Elas eram de uma frequência totalmente diferente da minha. 

 

      Desde que me lembro, eu conseguia me expressar  muito melhor pelos desenhos, por parte da minha infância era a melhor forma que eu encontrei de me comunicar com as pessoas, eu tinha medo de ninguém gostar de mim, minha timidez era extrema e me sentia retraída, eu fui alfabetizada em duas línguas e achava que não sabia direito nenhuma delas, mas desenhos são uma linguagem universal, se eu desenhar uma árvore, você vai entender que é uma árvore, falando a mesma língua que eu ou não, você vai entender. 

 

      E eu fiz isso por muito tempo, eu gostava de todo mundo e sentia que todo mundo gostava de mim de volta, mesmo eu sendo silenciosa, mas aí quando isso mudou, quando eu vi que mesmo eu nunca tendo feito nada de ruim, nem falado nada, mesmo assim eu não fui defendida pela minha própria família, aí eu percebi que ficar calada, em silêncio o tempo todo, com medo de não gostarem de mim, no final não serviu de nada, as pessoas vão gostar de você baseados no que elas querem ver, se você não falar elas vão pensar no que você quer dizer, se você falar elas podem interpretar da forma como quiserem. 

 

       Desde cedo eu entendi, que você não precisa se esforçar para que o mundo goste de você, eles vão fazer isso você sendo bom ou você sendo ruim, por isso eu sou ruim, não faço questão que as pessoas gostem de mim afinal. 

 

      Acho que mesmo eu tendo nascido e crescido no Japão, minha cabeça sempre foi mais do ocidente do que do oriente, enquanto as meninas de lá eram fofas, usavam saia e blusa de ursinhos, ou eram góticas de preto e lentes vermelhas, eu gostava do básico e me irritava tudo aquilo. 

 

        Em relação aos garotos, eu não me interessava por nenhum de lá, eles pareciam irritantes só de trocar meia dúzia de palavras, quando algum chegava em mim com interresse eu sentia vontade de ri, sempre fui muito mais fria em relação a conviver ou ter proximidade com outras pessoas, sejam amigos ou sei lá, só pessoas. 

 

        Eu ignorava os garotos do Japão o tempo todo, sempre olhei para as pessoas, sejam de onde fossem, mais como necessidade de ter elas na minha vida, seja para alguma vantagem ou para conseguir algo, do que ter porque de fato gosto. 

 

      Eu cresci achando que ninguém gostava de mim, que ninguém se importava além das minhas mães, então eu não precisa gostar das pessoas, mas aí o Harvey apareceu e parecia gostar de mim e se importar e foi a primeira vez que senti isso, que alguém gostava de mim pelo o que eu sou, além da obrigação de gostar. 

 

       E agora tudo isso estava mudando drasticamente dentro de mim, pela primeira vez na vida eu não queria uma pessoa perto para conseguir algo ou levar vantagem, eu queria porque eu gostava da companhia dele, da forma como me olhava, falava comigo e era muito estranho.

 

     O Harvey mudou toda a minha visão de muitas coisas sobre mim e sobre minha relação com as pessoas, mas agora ele estava com a minha tia, pegando ela, e eu prefira ser fria e não ver nada nele, nem sentir nada sobre ele, como era com todos os outros meninos do mundo antes do Harvey aparecer, mas agora era tarde, muito tarde. 

 

         Antes do Harvey aparecer na minha vida, eu tinha um foco em relação a pessoas, não era como se eu gostasse delas, longe disso, mas eu precisava, era parte do meu plano, e tudo agora, até sobre essas pessoas, parecia ridículo quando eu via o Harvey. 

 

      Não sei como ele conseguiu mexer comigo desse jeito, mudar toda a configuração da minha vida, mas ele fez, uma parte de mim ele tirou da trevas. 

 

     Chegue do lado de fora e me virei vendo que Venus me seguia ainda bem seria e eu não via as minhas mães a mais de 2 meses, mas olhar para Venus era como ter Ashley e Hazel na minha frente, super preocupadas comigo e com o que sinto, mas na verdade não estão de fato preocupadas, faz parte do protocolo.  

 

      Isso só significava que ela não queria se encrencar em deixar a irmã mais nova para trás, não necessariamente quer dizer que ela realmente se importe, é só a Venus querendo mostrar que era uma garota perfeita, uma irmã perfeita, uma pessoa impecável que cuida dos outros. 

 

      Minhas mães falavam o tempo todo sobre como Venus sabia ser atenciosa com os outros, mas a vida toda, ou grande parte dela, eu sentia que Venus não era assim comigo, era quase como se ela tivesse um bloqueio em relação a mim, ela me tratava bem, mas parecia sempre na defensiva, querendo mostrar que queria o meu bem o tempo todo, como se isso fosse preciso fazer com ações, na época que eu precisei uma palavra já ajudaria e ela numa deu. 

 

— Jupiter parade me ignorar. — Parei de andar ao ouvir isso e me virei para Venus. 

 

— Você não me deixaria para trás porque se não iria se encrencar. — Contei o óbvio, ainda a encarando com olhar de poucos amigos, eu não estava afim de fingir ser boa hoje e a vi respirar fundo diante de mim. 

 

— Não me olha desse jeito...— Venus disse seria e eu continuei da forma que estava. — Eu não sou sua inimiga, não me olha como se eu fosse. — A forma como ela falou isso, parecia que queria me falar a muito tempo. — Você pode odiar todo mundo pelo motivo que for, mas eu amo você, somos irmãs. — Ela parecia querer me lembrar disso com o olhar. 

 

— Você sabe que eu não te considero a minha irmã,  no mínimo sente isso, porque eu não preciso de você, quando eu precisei, você está do outro lado. — Pontuei sem rodeio e ela parecia indignada pelas minhas palavras. 

 

— Eu nunca escolhi um lado, ninguém nunca escolheu, você sempre fala isso, de lado, de escolher alguém! — Exclamou como se estivesse de saco cheio disso. — Você fez essa divisão na sua cabeça, Jupiter, quando as pessoas iam até você, o que fazia? Se escondia, se negava a falar, a receber! — Disse como se isso fosse necessário de ser falado para mim. — Eu sempre estive lá, eu só esperava você abrir, seja a porta do quarto ou a sua vida, a parte que você não lembra, ou não quer lembrar, é que eu sempre estive lá, você que nunca viu! 

 

      Venus queria dizer o que com isso? Que eu ignorei ela de propósito? Que eu fingi que estava sendo ignorada e sofrendo indiferença de todos a vida inteira? 

 

      Pra que eu faria isso? 

 

— Quando eu precisei de você, onde estava? Brincando com quem tinha me feito mal, eu nunca vou esquecer que você não foi uma irmã quando eu precisei que fosse, então agora eu não preciso mais! — Falei de forma firme para ver se de uma vez Venus intende isso, porque se ainda não entendeu em ações que eu mostro a anos sobre eu querer ela e seu falso amor longe, que entenda agora.

 

— Eu tinha 8 anos! Eu era uma criança,você não pede para uma criança comprar uma briga! — Ela dizia como se aquilo tudo fosse a verdade, mas não era. — Eu não escolhi a Red, eu estava onde sempre estive, eu fui até você várias vezes, eu perguntei se você estava bem, e você dizia que sim, todo mundo da família que aparecia e perguntava como você estava, a sua resposta era a mesma! — Venus agia como se eu estivesse errada nessa história toda. 

 

        Era preciso eu falar que não estava bem para alguém ficar do meu lado? Não era mais simples entender que eu não fiz nada de errado e que era para eu ser a favorita da família depois de tudo, não a Red. 

 

— Mas você sabia que não estava bem! — Joguei contra ela, com toda a calma do mundo. — Você sempre soube, você viu eu mudando dia após dia, eu notava os seus olhares, a criança boa que eu era estava desaparecendo bem na sua frente e você sabia disso! — A encarei de forma séria.  — Eu não quero a sua ajuda agora, nem seu amor, nem seu cuidado, a gente tem a porra do mesmo sangue mas isso não importa, uma coisa que aprendi na vida é que sangue não vale de nada...— Sibilei de forma calma, mas não deixando de lado o olhar de raiva e ódio . — A gente nem é 100% irmã, Venus, o meu pai não é o mesmo que o seu, eu não tenho obrigação nenhuma de te perdoar, você escolheu um lado, agora viva com ele! — Cuspi com ódio e irritada com tudo aquilo que me infernizava a vida inteira. 

 

       Tinha sido um dia bosta demais para a Venus vir me encher o saco tentando bancar de boa irmã, ela não era a minha irmã, a gente não tinha nascido da mesma barriga, o doador do esperma dela não era o mesmo que o meu, o máximo de DNA que tínhamos uma da outra era uma porcentagem mínima por causa dos óvulos das nossas mães que foram trocados para fecundar nós duas. 

 

— Ve, vamos embora! — A princesa Red Cherry apareceu e olhou para mim, antes de olhar para a Venus. — Está tudo bem aqui? — Perguntou para a insuportável bancando a boa irmã na minha frente. 

 

— Vai ficar depois que eu falar uma coisa. — Venus disse olhando sério para mim. — Você pode ser uma garota cruel o quanto quiser, Jupiter, pode se fazer de vítima das suas próprias ações o quanto achar melhor, mas eu não vou desistir de te mostrar o quanto ridículo é tudo isso, esse ódio, a forma como você joga com as pessoas....

 

— Eu não jogo com as pessoas. — Interrompi ela fingindo está ofendida. — Eu só não deixo que me machuquem, a dor que eu senti quando essa aí! — Joguei um olhar de nojo para a Red. — Fez o que fez comigo, eu nunca mais sentir na vida, todo mundo que tentar fazer eu me sentir como uma criança de 7 anos humilhada, vai encarar algo muito mais forte do que elas podem aguentar! — Voltei a olhar para Venus, mantendo agora um ar mais controlado. — Sabe o que acontece quando você acumula dor, revolta e tristeza por anos? Você para de sentir tudo, amor, felicidade, tristeza, dor, até compaixão e piedade... só existe ódio, muito ódio, mas com o tempo vocês vão aprender, vocês duas vão! — Olhei para uma depois para a outra, que me encaravam em silêncio e eu dei um sorriso largo. — Eu só não vou dizer quando, mas vão aprender. — Ri achando engraçado isso, antes de sair da frente delas ao ver Joanna saindo da casa junto com Spike e Jake. 

 

— Foi uma festa irada, onde você estava? — Jake perguntou para mim quando parei ao lado dele, que colocou seu braço em volta dos meus ombros. 

 

— Por aí. — Mexi os ombros fazendo pouco caso e lancei um olhar distante para Venus e Red, que estavam juntas em silêncio quando passei por elas. 

 

         Espero que elas tenham entendido o que falei, a minha vingança contra essa família ainda estava longe de acabar, assim que eu resolver meus problemas com uma vadia de colegial chamada Sory, a minha próxima vítima vai estar naquela casa. 

 

    Isso eu garanto.

 

 

 

 

 

 

     Red Cherry Bieber, Point of  Views. 

 

                           06:25 a.m.

 

                   2 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

 

 

 

 

       O dia de ontem parece ter durado mais de 24 horas facilmente e todos estavam acabados na mesa de café da manhã, menos os que não foram na festa, e esses encaravam a gente como se fôssemos zumbis, e não duvido que estejamos parecendo um. 

 

      Quando eu cheguei ontem eu acabei dormindo no quarto com Venus, ela estava tão mal depois da breve conversa que teve com Jupiter na porta da festa, ela garantiu que não vai desistir da irmã dela, mesmo que parece uma pessoa ruim,

 e que se sentiu muito mal com as coisas que ouviu de Jupiter. 

 

       Era tão ridículo a Jupiter falar coisas ruins pra a Venus, eu vejo o quanto a Ve se importa com aquela garota de verdade, desde sempre, mas Jupiter não consegue ver nem receber coisas boas vindo de ninguém. 

 

     Não sei como eu não vi que ela era assim antes, estava tão claro diante de mim, a forma como ela me tratava, como ela era seca com a própria irmã, estava bem na minha cara e eu nunca notei, ou talvez só não quisesse aceitar mesmo, é difícil acreditar que uma pessoa consiga ser tão cruel desse jeito. 

 

      Mas eu avisei a Jupiter, ela não vai mexer com ninguém que eu gosto só porque odeia o mundo, se ela é assim por minha causa que ataque a mim, então vou ficar de olho nela agora, ela ameaçou Venus e eu na porta da festa e se ela acha que vai fazer alguma coisa sem eu responder está muito enganada. 

 

      Apesar de eu não fazer ideia de como responder, não parei para pensar que eu não consigo fazer mal a ela, não de novo, mas eu teria que da um jeito de a fazer parar, só não sei bem como. 

 

— Que lindo, vocês parecem tão dispostos para o segundo dia de aula! — Jane ironizou, sentando no seu lugar na mesa de café e Pattie riu de leve do outro lado da mesa. 

 

— Eu estou! — Dana disse segurando a risada e ela estava ótima, eu deveria ter ficado em casa e ter feito uma máscara facial como ela e Feline. 

 

— Como foi a festa afinal? — Jane questionou curiosa, pegando um pouco de suco e eu olhava para a panqueca no meu prato como se ela fosse se transferir para a minha barriga sozinha. 

 

— Muito legal...— Jake respondeu em poucas palavras e bocejou no final, quase caindo sua cabeça sobre a mesa e seu prato. 

 

— Cuidado para não sujarem o uniforme! — Pattie avisou e ainda tinha mais essa, hoje era terça, dia de usar uniforme no colégio e parecíamos todos acabados demais para vestir aquilo da forma correta. 

 

     Nem sei se abotoei a camisa do jeito certo. 

 

      Eu não havia bebido, nem os que estavam ali, mas a ressaca física daquela festa e dos acontecimentos dela abalaram todos, mesmo sem nem ter aproveitado como os outros jovens que estavam lá. 

 

      Levantei os olhos de leve, ao ver que Pink chegava na mesa e sentava no seu lugar e ela parecia melhor do que qualquer outro ali e olha que bebeu horrores, o que me faz questionar quantas vezes mais ela faz coisas como as de ontem, porque parece que nada aconteceu, na verdade ela estava mais radiante do que nunca. 

 

        Acompanhei com os olhos quando Harvey chegou menos de trinta segundo depois de Pink e eu queria enfiar minha cabeça dentro da jarra de café na minha frente no mesmo momento. 

 

       O silêncio na mesa continuou o mesmo, mas todos trocavam olhares singelos e com algum significado, isso só porque Pink e Harvey chegaram e imagino que deve está passando pela cabeça dos que sabem que os dois ficaram, sobre terem dormido juntos ontem, porque obviamente Jane e Pattie não faziam a menor ideia e ninguém iria contar a elas. 

 

    Continuei encarando a comida no meu prato, sem muita vontade de interagir visualmente com ninguém naquela mesa, na verdade eu queria fingir que não estava vendo aquilo porque eu sabia do que eles estavam " comentando" com aqueles olhares e não me interessava, não me importava e eu queria deixar minha cabeça longe disso o máximo possível. 

 

           Mas mesmo que eu não olhasse para ninguém além do meu prato, eu me sentia observada, era como a sensação de ter olhos sobre mim o tempo todo, o que me fez levantar o olhar levemente para a minha frente e lá estava a pessoa que causava essa sensação, me olhando fixamente sem expressar nada enquanto comia, apenas como se quisesse me olhar fixo fazendo isso. 

 

      Meu plano era esquecer a presença de Harvey nessa casa, mas ele estava me encarando como se fosse muito natural tudo aquilo, mas no mínimo era irritante, depois de tudo que ele fez ontem eu queria que ele desaparecesse da terra, e aí a primeira coisa que ele faz quando chega perto de mim é fica me encarando com os olhos concentrados, fixos o tempo todo.

 

      Quase como se estivesse hipnotizado. 

 

      Eu o olhava de volta, da mesma forma que ele olhava para mim, não era provocação dessa vez, nem deboche, era apenas como se ele quisesse me olhar naquele momento e eu fazia a mesma coisa.

 

    O que durou muito tempo, até percebe que lá estava eu, cedendo aos joguinhos estranhos de Harvey, mas ele nunca me olhou tão fixamente por tanto tempo de forma tão concentrada e diferente igual agora, eu so fiquei curiosa sobre isso... Ou presa nisso... Sei lá, o Harvey é um garoto estranho e tudo nele é mais estranho ainda. 

 

       Tirei meus olhos de Harvey e voltei a encarar meu prato, tentando ignora-lo completamente, mas ainda sentia como se ele me olhasse e eu não faço ideia do que diabos ele estava fazendo, mas aquilo estava me deixando tensa. 

 

       Levantei da mesa sem dizer nada, e sem querer fazer muito alarme, pegando a minha mochila e saindo, eu não queria encarar o Harvey mais o que já tinha, eu não queria que ele me encarasse daquela forma,  eu só queria que ele me esquecesse de vez e fingisse que eu não existia, como fez por meses quando morava na mesma casa que eu em Los Angeles, naquela época ele ignorava tanto a minha existência que era como se ele também nem existisse para mim, e agora, até a presença dele tem um peso sobre mim. 

 

     Quando Harvey me olha, parece que tudo está estranho em volta, como se o mundo ficasse em câmera lenta. 

 

        Me sentei em um sofá no corredor e respirei fundo duas vezes, passando as mãos pelo meus cabelos presos em um rabo de cavalo.   

 

     Eu só queria não me afetar tanto com tudo que ele faz. 

 

— Eu já disse que vou com a Joanna, já até falei com ela. — Ouvi a voz de Jupiter falar e levantei os olhos para ver ela vindo no corredor junto com Jake e Spike. 

 

— Por que? Agora você anda com o Lado A por acaso? — Jake questionou indignado com isso.

 

   Jupiter parecia sem nenhuma paciência, na verdade ela parece cada dia mais deixar a imagem de menina normal, boazinha e calada, para alguém muito mais impaciente e raivosa. 

 

— Eu só não quero ir com o Harvey hoje, não é o fim do mundo, e você pode viver sem mim. — Falou sendo bem grossa e Jake olhou estranhando isso, o que a fez respirar fundo e o olhar brevemente mais tranquila. — Eu só... tô cansada hoje, e vocês vão ouvindo música alta daqui até o colégio, você sabe que adoro você, Jake, mas o Harvey está me irritando ultimamente. — Lançou um olhar mais legal para Jake, que deu um meio sorriso para ela, completamente rendido em qualquer coisa que Jupiter falasse. 

 

— Você me adora né? Eu sei disso. — Jake disse com um olhar significativo e Jupiter riu de leve e eles voltaram a andar pelo corredor, passando por mim e seguindo em frente. 

 

      Pois é, a Jupiter envenenou o Jake a algumas semanas atrás, imagina se ela não gostasse dele então...

 

— Nossa, você parece acabada! — Olhei para o lado vendo que Pink se aproximava me olhando com um meio sorriso e eu a encarei por alguns segundos, antes de voltar a olhar para a parede na minha frente. — Não foi um crítica, só foi um comentário. — Explicou e ela estava sendo levemente debochada nisso. 

 

       Desviei os olhos rapidamente para o lado quando Pink passou pela minha frente e ela parou de andar, se virando para mim e eu continuei encarando o lado em direção ao longo corredor enorme, fugindo meu olhar dela. 

 

— Você está evitando me olhar, uau que me maduro. — Disse sarcástica e com um tom de voz arrastado. — Tem alguma razão para isso? — Perguntou curiosa e eu levantei do sofá, pegando a minha mochila e segui o caminho no corredor. — Eu vi, Red Cherry... talvez nem todos na mesa tenham, mas eu vi! — Exclamou dando ênfase e eu parei de andar me virando com calma na direção dela. 

 

      Janise Pink nunca foi de falar muito comigo, ela geralmente só fazia isso quando achava super necessário, até porque como a mesma dizia, eu era uma pirralha patricinha e ela não tinha paciência para isso, fazer parte do lado B nunca fez diferença nas ações dela, Pink só andava com eles, nunca foi como eles.

 

      Então ela esta falando comigo agora e dessa forma, obviamente tinha uma razão, e eu não querer olhar para ela também tinha, eu estava com preguiça da cara da Pink, apenas isso. 

 

— Viu o que? — Questionei querendo saber, já que ela estava falando, então eu acho que seria bom eu saber afinal, porque não faço ideia do que seja. 

 

— Você sabe! — Fez um gesto banal, como se fosse óbvio para mim e eu cruzei os braços sem entender nada. — Mas posso te dizer uma coisa? — Não respondi e acho que ela entendeu isso como um sim. — Meu irmão Justin, talvez não tenha te contado, mas você não pode ter tudo que quer, queridinha da América, então fica satisfeita com o que você já tem, Ok? — Me olhou singela, como se fosse um conselho acompanhado de uma alfinetada e eu estava de fato confusa. 

 

      Será se Pink estava bebada ainda ou algo similar a isso? Porque de verdade ela não estava falando nada com nada agora e me deixando muito confusa. 

 

— Do que exatamente você está falando, só para eu saber? — Continuei com os braços cruzados, esperando ela me responder de verdade e Pink bufou como se estivesse entediada com aquilo. 

 

— Você finge que não sabe o que fez e eu finjo que não vi, tudo bem? — Sugeriu forçando uma sorriso e eu revirei os olhos, apenas saindo e deixando Pink para trás sem querer mais saber daquilo. 

 

        Sim, eu vou fingir algo que nem sei, ela está louca! 

 

   Eu não fiz nada para a Pink e eu quero realmente manter isso, não faço ideia do que ela acha que eu fiz para falar tudo aquilo para mim, mas definitivamente eu não quero comprar essa história. 

 

     Peguei meu celular quando ele vibrou indicando uma mensagem e era a minha mãe, o que me fez da um leve sorriso quebrando aquela tensão de segundos atrás. Eu havia enviado uma mensagem para ela ontem assim que cheguei, eu precisava de ajuda e só ela poderia fazer isso por mim. 

 

       Como na mensagem dizia que eu podia ligar para ela eu fiz isso no mesmo instante, levando o telefone a orelha ainda sorrindo e entrando na primeira porra que vi, que no caso era a biblioteca, e o ambiente perfeito para eu falar com ela sem ser interrompida.

 

— Minha fruta favorita, como você esta? — Minha mãe perguntou e era tão bom ouvir a voz dela agora de manhã, eu sentia tanta saudades de ouvi-la falar sempre no meu pé para tudo. 

 

— Estou bem, mas preciso de ajuda. — Confessei, me sentando em um dos sofás da sala e respirei fundo. — Você sempre soube ajudar todo mundo, mãe, imagino quantas vidas você deve ter salvado e eu sinto que não consigo fazer nem 2% do que você conseguiria, então eu preciso de você! — Eu estava sendo sincera e totalmente decida naquilo que saia de mim. 

 

       Eu sempre falava isso, não ser a Violet era um saco, eu sabia que ela era incrível, que ela resolvia tudo em volta dela com uma facilidade enorme, ela conseguia ajudar as pessoas, ela salvava vidas antes mesmo de eu nascer e ela tinha esse dom especial, ela se importava com todo mundo, ela lutava por cada um, ela buscava entender a fundo o que uma pessoa sentia, ela nunca abandonava ninguém, sendo próximo dela ou não, ela sempre foi assim. 

 

       E era por isso que eu precisava dela, eu tinha uma questão enorme e eu não sabia mais o que fazer ou o que de fato é, eu tinha teorias na minha cabeça, mas não sei, as vezes parece que estou exagerando. 

 

— O que está acontecendo aí? E com quem? — Ela perguntou preocupada, mas parecendo já perceber a situação e eu passei minha mão pela testa pensando por onde começar. 

 

— É o Jon, acho que ele não está bem...— Comecei a dizer e parei suspirando um pouco tensa. — Eu sinto que ele precisa de ajuda, mas eu não sei o que fazer, eu não consigo ignorar, eu não consigo fingir que nada ta acontecido mas eu não faço ideia do fazer, porém com certeza você vai saber melhor do que eu! — Eu acreditava tanto naquilo, pois eu sei que minha mãe era muito boa em ajudar, se eu sou tão intrometida na vida das pessoas assim é porque ela me ensinou a sentir as  coisas. 

 

          Se importar com alguém que você gosta, saber que aquela pessoa precisa de você mesmo que ela não queira, ou que ela não saiba que precisa, e você tá ali para apenas fazer o que tem que fazer, proteger quem é importante para você, fazer o certo, ajudar e impedir que algo de ruim aconteça.  

 

      Confio na minha mãe tanto para tudo, eu sei que ela pode ajudar no que for, mas eu não queria ser fofoqueira também, era para eu resolver isso sozinha mas não faço ideia nem de por onde começar, eu precisava de um rumo, vê se eu estava certa ou não no que achava que estava acontecendo com Jon. 

 

— Me conta tudo, absolutamente tudo.  — Ela pediu com calma e eu estava pronta para falar cada detalhe que eu havia notado em Jon e que ninguém mais notou. 

 

 

 

 

    Jupiter Parker, Point of  Views. 

 

                            06:51 a.m.

 

                   2 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

 

       Me recusar a vir com Harvey e com os meninos para a escola, estava alem de não querer olhar para o Harvey hoje, envolvia muito mais, eu tinha um encontro marcado com Troy e eu não queria que ninguém soubesse disso. 

 

     Sorri forçado para Joanna assim que ela entrou no colégio e eu continuei do lado de fora, esperando. 

 

       Não sei o que o Troy vai querer me mostrar hoje, mas ele disse algo sobre a gente recomeçar do zero e eu estava disposta a isso, até porque eu não queria perder uma pessoa dessas ao meu favor. 

 

     Meu celular vibrou e eu o peguei vendo que era uma outra mensagem do Harvey o que me fez revirar os olhos. 

 

       Eu estava me dedicando muito a ignorar ele, a devolvê-lo para a função de apenas util porque temos alguém que odiamos em comum, não como alguém que eu preciso para algo além disso. Harvey já havia enviado umas 20 mensagem desde que saí de casa sem falar nada com ele e a gente não se vê e não se fala desde a festa, quando ele me largou sozinha para beber com a Pink. 

 

      E olha só outra coisa interessante sobre o Troy, ele estava lá por mim quando o Harvey não estava, é assim que eu valorizo minhas escolhas. 

 

      Chega de parecer uma menininha emocionada e sentimental, Harvey vai lidar com a minha indiferença da melhor forma, ele que espere que eu vá responder, agora o jogo vai ser do meu jeito, chega de só eu cair, é a vez dele agora. 

 

— Que pontual...— Ouvi a voz de Troy e me virei sorrindo para ele, que mordeu os lábios de leve me olhando. — Está linda nesse uniforme horrível. — Comentou como um elogio e eu revirei os olhos de leve. 

 

— Pareço uma garota estudiosa e legal? — Perguntei jogando os meus cabelos para trás dos ombros e Troy assentiu com um meio sorriso. 

 

— Vem comigo. — Pediu e eu assenti, começando a segui-lo discretamente para dentro do colégio. 

 

      Gosto da vibe misteriosa de Troy, era perigoso e isso me dava uma sensação de adrenalina, eu sabia que estava mexendo com algo maior do que eu, mas não me dava medo, era como se eu pudesse ser igual a ele, eu podia aprender a ser. 

 

        É  como ser um camaleão, se adaptar ao ambiente para se camuflar e sobreviver. 

 

       Olhei em volta quando ele abriu uma porta no corredor usando uma chave, o que era estranho demais e tinha um escadaria enorme que parecia não ter vim, passei antes dele pela porta e ele veio em seguida e não tinha ninguém ali, nem uma viva alma. Começamos a subir as escadas em silêncio absoluto e aquele lugar parecia não ser autorizado para alunos, até porque estava trancado, mas eu não esperava mesmo que Troy seguisse regras.

 

 — Então senhorita...— Ele murmurou abrindo mais uma porta e a gente estava literalmente no terraço da escola e eu olhei em volta vendo como o lugar era silêncio, além de ser bem no alto daquele prédio. — Venho aqui para fumar sempre. — Troy falou e eu ri de leve olhando na beirada. — Ninguém pode vir aqui se não é expulsão na certa, a escola tem medo de suicídio e essas coisas! Então eu roubei a chave do zelador! — Mexeu os ombros como se para ele não fizesse diferença alguma aquilo. 

 

— Um ótimo lugar para se esconder. — Analisei e ele assentiu, pegando um cigarro no seu bolso e acendendo com calma. — Mas por que me trouxe aqui? — Perguntei curiosa demais agora e ele riu de forma abafada.

 

— Queria saber se você confiava em mim mesmo ou estava blefando ontem. — Comentou se sentando no chão, encostando-se na parede e eu andei calmamente para perto dele, parando em sua frente. 

 

— Pensei que tivesse mostrado isso quando te entreguei a arma. — O olhei como se já estivesse óbvio e não, eu não confio nele, mas eu tinha que demostrar que sim. 

 

       Esse tipo de caras gostam de se sentir confiantes no que são, se eu mostrasse medo, ou desconfiança, ele não iria seguir conforme eu quero, e eu preciso do Troy ao meu lado, ele é a pessoa mais perto de um perigo que ja encontrei, eu nunca tinha visto alguém com uma arma antes e isso parecia interessante para mim no momento. 

 

      Era tudo sobre aquilo,  de ter as pessoas perto de mim por interesse ou vantagem. 

 

— Eu fiquei puto quando você pegou a minha arma, eu pensei seriamente em te ferir. — Confessou tragando o cigarro e me olhando com atenção. — Mas aí pensei, onde no mundo eu ia encontrar uma menina com tanta coragem assim, destemida,fria, mas ao mesmo tempo quente como o inferno...— Disse analisando a situação. — Era idiotice fazer! — Afirmou e eu ri me sentando ao lado dele mais tranquila com suas palavras. 

 

— Você sente a mesma coisa que eu? — Perguntei o olhando de lado. — A sensação de encontrou alguém igual a você... — Balancei a cabeça de leve pensando nisso. — A vida toda eu tentava ver nos olhos das pessoas se elas podiam ser como eu, bem no fundo, me entender de alguma forma, aceitar as coisas ruins que eu queria fazer com as pessoas, não é todo mundo que acha incrível você querer destruir sua própria família. — Mexi os ombros de leve sobre isso. — Eu até achei que tivesse achado esse alguém, mas ele não era tão fiel a mim assim. — Murmurei esse final, me lembrando de Harvey e eu queira esquecer ele por agora. 

 

— Eu admiro a lealdade ao extremo, na minha família isso vale ouro, levamos a lealdade como a ordem absoluta sob nós, está a cima do certo e do errado! — Contou e ele parecia viver em uma família um tanto estranha e peculiar, pois da forma como Troy falava, deixava parecer que eles sabem do quanto ruim ele pode ser e apoiavam isso. 

 

      Ainda tinha muitas coisas sobre Troy que eu não sabia, muitas mesmo, porém eu iria descobrir uma a uma e não importava o tempo que demorasse, eu iria conseguir tudo que fosse necessário para ele agir junto comigo, como eu quero que aja. 

 

— Na minha acho que isso nunca existiu, quando criança uma prima minha me humilhou na frente de todo mundo e ninguém fez nada, eles gostam mais dela do que de mim até hoje, e aí eu me perguntei, porque me forçar a ser boa, a ser integra, se ninguém liga pra isso no final das contas? — Falei olhando para o nada diante de mim. — Então eu decidi me vingar, durante anos eu guardei aquilo dentro de mim, crescendo cada dia como um demônio mais forte que eu, e que um dia eu iria expor para todo mundo, eu vou provar para aquela família, que eles criaram isso, alimentaram esse monstro por anos! Eu quero que todos eles sintam a mesma dor que eu senti... — Olhei para Troy que prestava atenção em mim com muita atenção e foco. — Eu pensei que só iria fazer isso com 21 anos, porque aí eu poderia sumir no mundo e mandar e-mails para as minhas mães não se preocuparem, mas aí eu fui jogada nessa cidade, com todos os meus primos, com aquela prima que me fez mal, e agora eu decidi que minha vingança vai ser aqui, bem antes do planejado! — Confessei, aquilo que eu não tinha falado para ninguém ainda e Troy me deu um sorriso contente com minhas escolhas. 

 

      Falar isso parecia certo com ele sorrindo para mim, era engraçado, eu achava que esse pensamento era tenebroso, cruéis e perversos, mas agora pareciam tão  naturais vendo que Troy não me julgava nem por um milésimo de segundo, ele não parecia assustado com as minhas palavras e sim encantado por cada uma delas. 

 

— Quando eu fizer essa família odiar a Red Cherry, quando eu quebrar muitos vínculos e confianças entre eles, os separar de vez, eu vou ficar em paz finalmente. — Afirmei com um meio sorriso e Troy assentiu mostrando que entendia o meu ponto. 

 

       Era estranho me abrir para um desconhecido assim, mas eu tinha que mostrar ser verdadeira e sincera com ele, só assim eu iria conseguir mais ainda a confiança de Troy e era exatamente o que eu precisava, que ele confiasse em mim. 

 

— Você tem uma motivação e um foco, Jupiter, e isso pode te levar ao infinito. — Ele disse me admirando. — Meu pai sempre diz, que se você quiser a lua você vai atrás da lua, nada é impossível, nada é difícil se você tiver motivação e foco. — Falou e eu gostei daquilo, era realmente algo que eu precisava ouvir. 

 

     Motivação e foco, eu tinha os dois mas nos últimos tempos eu parecia perdida neles, talvez eu não quisesse admitir nem para mim mesma, mas depois do veneno e da reação do Harvey sobre isso, o quanto ele ficou chateado comigo, eu não consegui fazer mais nada de ruim, eu estava preocupada se ele ia achar bom ou não, eu tinha a motivação, a Red havia me desafiado cara a cara em guerra, eu só não tinha mais o foco, porque meu foco estava em Harvey 100%.

 

      Se eu me manter focada e motivada, eu posso conseguir o que eu quiser, sem mais distrações, sem Harvey, sem sentimentos, eu tinha que ser a Jupiter que era antes, era ela que iria me libertar de tudo aquilo, daquela família, quando eu concluir tudo que tenho que fazer. 

 

— Seu pai deve ser uma pessoa muito inteligente. — Afirmei após ouvir aquilo tudo e Troy riu de leve assentindo. 

 

— Ele é, mas não confia muito não, as vezes enlouquece e age por impulso, todo mundo que tem um lado que precisa ser ruim tem um pouco disso, faz parte. — Troy disse e com isso eu descobri mais uma coisa importante sobre ele. 

 

       Seu pai não é umapessoa boa, o que me faz pensar em que porra de família ele vive para ser assim? 

 

    A cada segundo que eu descubro algo sobre Troy parece que vai ficando pior, eu sei que aguento ir até o fim dessa história e ver toda a verdade sobre ele, mas ao mesmo tempo eu sinto que talvez seja demais para mim.

 

     Muito além do que um dia fui. 

 

— Pois é, eu sei como é isso, na festa eu agi por impulso e quase ataquei a Sory. — Comentei seria ao dizer o nome dela, lembrando daquele que era o meu maior problema no momento. — Eu não sou de bater nos outros assim, eu trabalho mais taticamente, cálculo cada passo das minhas ações, mas a Sory me faz perder o controle tão rápido. — Rosnei sentindo aquela fúria que eu tinha sobre ela. 

 

      Eu estava cansada, eu nunca precisei ir para cima de alguém igual fiz na festa, eu sempre penso em cada passo que dou, eu tento me manter em uma linha e a Sory me faz ultrapassar isso e tudo mais além do meu limite, eu não queria encarar todos os gatilhos que ela me trás, era como ter 7 anos e ser humilhada de novo. 

 

      A Sory conseguiu em pouco tempo tudo de mais ruim que há em mim, eu tinha na minha cabeça a ideia fixa de que não iria deixar isso tudo passar, eu tinha que fazer alguma coisa, eu avisei que a Sory estava cometendo um erro ao ficar no meu caminho, mas ela não quis me ouvir, e agora eu tinha que pensar em um jeito de fazê-la pagar caro por cada coisinha que me fez sentir. 

 

      Só não sabia o que e nem como. 

 

— A Sory é uma vadia, a presença dela me irrita. — Troy contou parecendo irritado com isso também. — E ela sempre fica grudada a minha irmã, eu não gosto disso, apesar da Destiny ser diferente pra caralho de mim e a gente não se amar tanto como irmãos, eu preferia ela andando com garotas como você, que tem uma puta visão da vida, do que com Sory, que vive sendo fútil e desnecessária! — A forma com Troy sempre me exaltava de alguma forma me deixava feliz. 

 

      Era a primeira pessoa que me colocava no topo só por ser eu, era bizarro, porque eu conheço ele a 24 horas, mas Troy parecia bem intenso, alguém que vive a vida em segundos sem ligar para nada, nem para o amanhã, e ele pelo menos gostava de mim, na verdade ele gostava de mim e não gostava a Sory. 

 

— Eu poderia ser amiga da sua irmã, acho ela legal até, me tratou bem normal. — Falei de forma simples, mas era mentira, eu era capaz de enlouquecer se tivesse que conviver com aquele gibi de roupas de marcas. — Mas a Sory... não, não da para engolir ela mais, ela não vai me deixar em paz facilmente e para mim já deu, oficialmente não tem como conviver com ela nunca! — Garanti com força nas palavras e Troy assentiu concordando comigo sobre isso. 

 

      Mais uma coisa que temos em comum. 

 

— Você está certa, ela não vai parar, então você tem que parar ela! — Troy disse sério, dando ênfase nas palavras, eu o olhei também seria e decidida, mas depois abaixei o olhar de leve antes de respirar devagar. 

 

— Como? Eu sinto que nada que eu faça vai fazer ela parar, a Sory não tem medo, eu queria que ela sumisse da minha vida de vez.— Balancei a cabeça, pensando sobre isso e olhei atenta para Troy, que me encarava fixo. — Você sabe como posso fazer ela sumir? Me deixar em paz de uma vez por todas?  — Perguntei, olhando nos olhos dele e Troy ficou em silêncio ainda me encarando da mesma forma. — Eu só quero que ela vá para bem longe de mim, sei lá, seja expulsa do colégio, saia da cidade, eu não sei...— Passei as mãos pelo rosto tentando me acalmar e pensar em algum bom plano.

 

       Era verdade, eu não sabia o que fazer com a Sory, mas eu queria ela longe de mim, talvez pensar em algum plano que a faça ser expulsa da escola, que ela nunca mais pise nesse colégio, já vai ser o suficiente e em relação ao Jon eu já tinha um plano para fazer ele encarar a vadia que ela era em breve. 

 

— Relaxa...— Troy disse levando suas duas mãos para segurar o meu rosto e fazer eu olhá-lo, com se quisesse me acalmar . — Eu vou te ajudar, tenho a solução perfeita para isso! — Garantiu de forma decidida. — eu disse que iria te proteger, Jupiter, que era só você chamar que ia correndo te ajudar...— Acariciou meu rosto com seus dedos. — Eu sempre cumpro minhas promessas. — Falou me olhando sério e eu dei um leve sorriso para ele e suas palavras. 

 

       Quando Troy disse isso ontem eu não levei a sério, eu não vibrava na mesma intensidade dele de viver cada segundo como se fosse dias, ele estava agindo como se me conhecesse a tempos, e era estranhamente bom para mim, eu me sentia bem, e parecia que eu havia realmente encontrado a minha alma gêmea cruel, mas eu não gostava dele da forma como ele demostrava gostar de mim, nem de longe, eu também não confiava nele, nem um pouco. 

 

     Mas agora, nesse instante eu me senti atraída pela vontade dele me ajudar com Sory, a tirar ela dessa escola,  e era fofo como ele estava realmente disposto a me proteger. 

 

      Me sentia atraída pela força de Troy em me ajudar, como ninguém demonstrou antes. 

 

— Você confia em mim e eu confio em você.... — Sussurrei encarando os olhos profundos dele. — Lealdade dos dois lados, Troy. — Pontuei e ele concordou me olhando igual, ainda segurado meu rosto em suas mãos. 

 

       Eu era leal apenas a mim, mas Troy não precisava saber disso. 

 

 

 

 

 

        Violet Bieber, Point of  Views. 

 

                            09:58 a.m.

 

                   2 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

         

 

 

 — Você não pode ir pro Quebec agora e sabe disso. — O Justin disse me olhando andar de um lado para o outro na sala sem parar. 

 

— Você quer que eu fique aqui parada quando tem algo acontecendo com o meu irmão? — Gesticulei olhando em volta como se tentasse pensar no que eu iria fazer com tudo que descobri. 

 

— O Jon é meu irmão também, me preocupo com ele e sei que você saberia ajudar perfeitamente, mas Violet, você tem trabalho aqui, pelo menos pelos próximos dois dias! — Me lembrou como se fosse importante eu não esquecer e quando eu estava nervosa o Justin era sempre a pessoa que me lembrava do rumo da minha vida. 

 

     A minha filha estava sentindo que tinha algo de errado acontecendo entao com certeza tinha, a Red é sensível como eu, ela sente quando alguém ta precisando de ajuda e ela não consegue fingir que não percebe isso, mas Red não sabe o que fazer. 

 

      Ela me contou tudo, cada detalhe do Jon nos últimos meses e como psicóloga eu estou preocupada e como irmã apavorada, eu já vi coisas assim, é um estado longo de luto e negativismo e só avaliando de perto para descobri onde chegou. 

 

      É comum em jovens da idade do Jon entrarem em estado depressivo por diversas razões, das mais simples as mais complicadas, a do Jon era complicada porque ele perdeu alguém que ama muito recentemente e isso pode lhe está afetando profundamente. 

 

      A depressão não é brincadeira, se for em estado leve tem como tratar com algumas dinâmicas e se for grave tem que partir para remédios controlados, eu não sei que nível o Jon pode está agora, mas em todos esses a um alerta importante, jovens com depressão tem tendência a se auto mutilarem e se machucarem de diversas formas para aliviar a dor e angústias trazidas pela depressão. 

 

      É horrível o quanto jovens sofrem em silêncio com isso e até tiram a própria vida .

 

     Não contei a Red sobre esse pré diagnóstico sobre Jon, não queria deixar ela mais preocupada do que já estava, a minha ideia era ir até o Quebec e tentar ajudar o Jon eu mesma, como psicóloga e como irmã mais velha. 

 

— A depressão é muito séria, e por tudo que a Red me disse ele está com todos os sintomas. — Tentei respirar fundo diante de tudo aquilo. — Ele com certeza não superou a perda do nosso pai, imagino tudo que deve está passando pela cabeça dele, é difícil eu sei, todos os dias eu penso no meu pai e como eu queria ele aqui, eu só não queria que Jon estivesse passado por tudo isso! — Lamentei profundamente e Justin levantou vindo até a mim, me abraçar forte para me confortar e eu sempre me sentia um pouco melhor quando ele fazia isso. 

 

        As vezes eu queria resolver todos os problemas do mundo de uma vez só, eu sempre fui assim e ai eu me sentia muito sufocada as vezes, eu não posso fazer tudo, eu sei disso, mas eu queria poder fazer o que estivesse no meu alcance sempre. 

 

— Você é a pessoa mais incrível que eu conheço, amor. — Justin disse ainda me abraçando. — Você salvou toda a nossa família e só tinha 19 anos, mas Violet...— Ele desfez o abraço e levou suas mãos ao meu rosto para que eu o olhasse. — Você não tem como fazer tudo isso de novo, não tem como você salvar todo mundo dessa vez. — Disse olhando nos meus olhos com um olhar intenso e forte. 

 

     Sei que ele está certo, ele sempre estava, mas não eu não podia ficar parada sabendo que meu irmão precisa de mim, essa não seria eu, ficar lá esperando não era ser eu. 

 

— Eu não posso ficar sem fazer nada, você sabe. — Falei tentando não começar a chorar e eu odiava ser tão emotiva assim, mas eu me abalava e sentia tudo que os meus irmãos sentiam independe de que parte do mundo eles estavam. 

 

        Para mim era infinitamente mais difícil deixar para lá, eu ajudei todos os meus irmãos, eu não consigo nem pensar em deixar um para trás, mesmo que seja em uma época diferente e moremos tão longe, eu não conseguia fazer isso, ia além de mim. 

 

 — Violet, a gente, nós dois,  a 16 anos atrás tivemos uma filha linda e loira como você, que pode ter sido bem problemática quando criança, pode ter cometido erros, mas ela é nossa filha tem um pouco de mim e de você nela, e amor, se você está me dizendo que a Red Cherry sozinha viu o problema e quis ajudar o Jon, então quer dizer que ela pode fazer isso por você! — Justin disse olhando nos meus olhos para me passar aquilo que ele sabia que era verdade e eu também sabia no fundo. — A gente não queria que eles se unissem? Lembra o que uniu a gente? Foi você, ajudando cada um de nós a passar pela merda que fosse, não foi nossos pais. — Ele negou de leve. — Você fez isso pela gente e a Red vai fazer por eles! Ela se importa com eles, isso é um início! — Afirmou me dando um sorriso e eu retribui danos um leve sorriso, antes de assentir. 

 

      Aquilo era verdade, se a Red se importou e viu tudo, ela pode ajudar, a minha filha ajudava todo mundo aqui em Los Angeles, ONGs, hospitais, ela fazia isso o tempo todo, então ela podia fazer lá com os primos dela, do jeito dela. O Justin sempre tinha razão e conseguia ver além do meu nervosismos e medo, era tão bom ter ele comigo para me mostrar tudo que eu não conseguia analisar na hora. 

 

     Não sei o que seria de mim sem ele. 

 

— Você tem razão total, te odeio por isso. — Reclamei brincando, antes de ri de leve. — Eu vou ajudar só nesse, prometo, vou falar com a Red, dizer o que o Jon tem, e ela vai saber o que fazer lá! — Contei e Justin me deu um sorriso mais largo e mais bonito ainda e eu era apaixonada por ele e por esse sorriso desde sempre, acho que desde que o vi pela primeira vez. — Só espero que não tenha tantos problema como a anos atrás, e talvez não tenha, eles são mais ajuizados que a gente! — Afirmei e Justin me olhou com uma das sobrancelhas erguidas como se não concordasse tanto assim comigo. 

 

— Eles são primos, e se odeiam, acho que eles estão em um nível que a gente não chegou. — Falou analisando e isso não me deixava nada calma novamente. — Não é como se eles fossem repetir os mesmos erros que a gente, eles não são como nós, mas não quer dizer que não vai cometer. — Analisou e eu abri a boca levemente pensando na hipótese e meu coração disparou, o que me fez afastar do Justin e voltar a andar de um lado pare o outro na sala. 

 

       Parei quando notei o olhar que Justin me lançava, como se eu estivesse fazendo de novo e eu respirei fundo três vezes para me acalmar e não mais me prender aquilo e não ficar tão inquieta sobre aquela situação. 

 

— Mas você não tá nem um pouco preocupado? O Jake, ele é muito irritado as vezes. — Ponderei tentando desfazer o meu leve nervosismo e Justin me olhou estreito como se eu tivesse medindo aquilo errado. — Tá, talvez o Jake seja mais do que só irritado, mas o que importa é que....— Parei de falar vendo o Justin me encarar novamente daquele jeito, como se pedisse para eu ter calma. 

 

— A gente não vai sofrer por antecipação, o Jake não fez nada de ruim nesses meses lá, então respira. — Ele pegou minhas mãos segurando e tentando me fazer acalmar de vez.  — Vai ficar tudo bem, se sair muito do controle a gente vai pro Canadá e aí você faz tudo que quiser, mas vamos deixar eles por um tempo! — Pediu e eu respirei fundo concordando com a cabeça e tentei da um sorriso melhor para Justin vê que estava me acalmando. 

 

— Eu te amo, obrigada por ser você e me aturar surtar a 22 anos. — Falei sendo sincera e ele pegou meu rosto com uma mão apertando minhas bochechas entre seus dedo. 

 

— Sorte sua que eu te amo e você é fofa, minha melhor amiga.... e meia irmã...— Brincou me fazendo ri de verdade disso. — Aliás, você já pensou se eles.... entre si... 

 

— Não, eles são primos! — Exclamei arregalando os olhos, antes que ele completasse aquela frase maluca e Justin assentiu lentamente, mas não era concordando comigo. — É diferente, a gente não tinha laço de sangue, eles tem! — Pontuei o que era bem óbvio. 

 

— Nem todos tem...— Ponderou analisando isso e eu continuei negando sem parar, aquilo ia além, eles cresceram juntos, tudo bem que cada um de um lado do mundo mas eles cresceram sabendo que são primos. 

 

     Ia muito além do que foi comigo e com o Justin, ou com a Jessica e o Grey, a gente tinha acabado de se conhecer, sem nenhum laço sanguíneo, éramos adolescentes e mesmo assim deu muita dor de cabeça e problemas nossas relações, os meus sobrinhos não vão agir dessa forma, eu sei que apesar de se odiarem agora eles tem a plena consciência de que isso aí é ultrapassar um nível muito além do normal. 

 

      E sobre os que não são primos, esses a gente nem comenta, porque realmente não tem como fazer alguma coisa, mas não era o Justin que estava dizendo para a gente não sofrer por antecipação agora a pouco? 

 

— Quer mesmo pensar sobre isso? — Questionei fazendo uma carreta e o Justin fez o mesmo negando para mim. — Ótimo, não vamos pensar sobre isso. — Respirei fundo para tirar aquilo da minha cabeça e Justin fez o mesmo. 

 

      Uma coisa de cada vez, primeiro eu me preocupo em falar com a Red sobre o Jon e explicar a situação  dele para ela e depois, bem depois, quase no final, eu me preocupo com essa parte sobre eles, até porque não tem muito o que fazer e me da dor de cabeça só de pensar no que Justin insinuou. 

 

     Mas o bom é que eu confio no bom senso da Red Cherry, sei que da minha filha nada vai acontecer. 

 

 

 

 

     Jupiter Parker, Point of  Views. 

 

                            10:01  a.m.

 

                   2 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

 

 

       Sai da sala de aula, sentindo a minha cabeça doer em ouvir aquela professora falando coisas e mais coisas, eu não conseguia me concentrar, todos os meus pensamentos estavam dividido em Troy e todos os mistérios dele e em... 

 

     Não, eu prometi que não ia mais pensar nele. 

 

        Eu precisava de um tempo fora da aula então pedi para sair um pouco, eu nem sei se iria voltar ou esperar a próxima, ou talvez eu me esconda em algum lugar e fique até terminar esse dia. 

 

         Mas meus planos de me esconder foram por água a baixo quando Harvey virou o corredor na minha frente e eu o olhei, antes de fingir que não o vi e continuar caminhando com minha cabeça bem erguida olhando para frente, afim de passar por ele sem que nos falássemos.

 

— Ei, cobrinha, está me ignorando? — Harvey perguntou vendo eu me aproximar e passei por ele fingindo literalmente que não tinha ninguém ali, mas não adiantou nada, já que ele me puxou pelo braço tão rápido que eu não pude reagir para escapar. — Sim você está! — Respondeu sua própria pergunta e me encostou na parede, ficando na minha frente, pondo seus braços um de cada lado e me encurralando completamente. 

 

        Eu não estava com paciência, nem muito amigável com Harvey para ele achar que poderia fazer isso, eu queria bater nele, ou melhor, eu queria que ele sumisse da minha frente por pelo menos 1 mês até eu aceitar o que ele fez ontem. 

 

— Pode me dizer o por que? — Harvey questionou de forma calma, encarando meus olhos de um jeito sério e eu rosnei baixo o olhando com muita raiva. 

 

— Quer que eu comece por onde? — Ironizei soltando faíscas pelos olhos. — Pela parte que você me fez sair de casa, ir para uma festa que eu não queria, me largou lá no meio de um monte de gente que não conheço, sumiu, e quando apareceu estava bebado se pegando com a piranha da Pink! — Exclamei cuspindo tudo e mostrando o tamanho da minha revolta com tudo aquilo.

 

        Estava realmente segurando para não estapear ou arranhar o rostinho bonito de Harvey, porque de verdade ele é um fodido por fazer isso com a única pessoa que gosta dele de verdade, já que com certeza a Pink só deve ter interesse no corpo do Harvey ou sei lá.

 

     O que eu estou pensando? 

 

    Eu não gosto do Harvey desse jeito, eu gosto dele como amigo, ele é um bom amigo ou era né. 

 

— Ju...— Ele começou a falar mas parou, não sabendo com certeza como se justificar.

 

— Eu fiquei sozinha sabia? E ainda tive que voltar com a Joanna porque você me deixou lá e foi embora com a Pink! Espero que tenha sido o melhor sexo da sua vida para me deixar pra trás! — Pontuei muito irritada com tudo aquilo e ainda mais com o final, porque se Harvey estivesse ido embora por qualquer outra razão não me deixaria tão puta como agora. 

 

       Ele me olhou em silêncio, como se pensasse no que dizer, mas aos poucos foi mudando suas feições para algo também sério, como se agora eu que estivesse errada na história ou sei lá, só sei que Harvey muda de humor muito rápido com muita facilidade. 

 

— Eu ate fui te procurar sabia? Aí te vi subindo com um cara, que nunca vi na vida, aí pensei, a Jupiter deve está muito bem! — Falou bastante irritado com isso e eu senti vontade de ri na cara dele. — Essa parte você não fala né? Que você estava com um cara, que por sinal parecia ser um babaca ja de longe! — Exclamou como se isso o deixasse muito furioso e eu estreitei os olhos vendo que ele estava tentando reverter tudo aquilo contra mim. 

 

— O nome dele é Troy! — Sibilei de forma firme. —  E deferente de você que sumiu na festa e me deixou, ele me ajudou quando a vadia da Sory, namorada escrota do Jon, resolveu implicar comigo e jogar bebida em mim, mas isso você não sabe porque estava se comendo com a Pink, o que me da até nojo de pensar! — Apontei para ele sem paciência para toda aquela merda. — E babaca por babaca você é um também, Harvey! — Joguei contra ele, que continuou me encarando sério. 

 

       O Harvey estava errado, mil vezes mais do que eu, o Troy não importava, eu nem beijei aquele cara e nem deixei ele me tocar, diferente do Harvey que deve ter feito mil e uma coisas com a Pink essa noite e sinto vontade de vomitar só de pensar nisso. 

 

— Eu sou babaca? — Disse entre dentes em voz baixa e eu assento com plena certeza disso. — Eu sou a única pessoa que está do seu lado de verdade, que aceita suas loucuras, você me envenenou e eu ainda falo com você, então me considere pra caralho, Jupiter! — Cuspiu como se isso fosse mesmo verdade e Harvey estava completamente enganado. 

 

     Antes de Harvey surgir na minha vida eu estava muito bem, eu não precisava dele, eu só aceitei porque tínhamos um maldito ódio em comum, se não fosse por isso desde o início eu trataria Harvey com a maior indiferença da porra desse mundo. 

 

— Então acho melhor a gente nunca mais olhar um pra cara do outro, já que eu te enveneno e você me esquece em festas! — Cruzei os braços mostrando que não tinha problema nenhum para mim tomar aquela decisão. — Agora me deixa ir. — Mandei esperando que ele abrisse caminho, o que não fez e eu tentei forçar para sair, mas Harvey se aproximou me prendendo mais ainda na parede com seu corpo. 

 

       Ele moveu seu rosto como se quisesse olhar dentro de mim e correu seus olhos por cada canto do meu rosto com bastante calma e precisão, o que me fez ficar sem ar e sentir meu coração acelerar de um jeito que eu quase conseguia o ouvir pulsar. 

 

— Você não quer isso, eu não quero isso. — Sussurrou, com nossos rostos perto demais para eu conseguir pensar em responder. — Lembra aquele papo de lealdade? Você precisa de mim.... e eu preciso de você. — Disse tudo de uma forma muito calma, quase como se cada palavra devesse ter um peso único sobre elas. 

 

            Harvey queria tirar todo o meu foco, ele tirava isso de mim com muita facilidade o tempo todo. 

 

    Óbvio que eu não queria me afastar dele, muito pelo contrário, mas eu também não suportava saber disso, a forma como Harvey mexia comigo e com as minhas emoções me preocupava muito, como eu iria conseguir pensar só em mim para fazer tudo que preciso fazer, se a minha cabeça estava pensando nele o tempo todo? 

 

        Eu odeio admitir que eu realmente estava sendo idiota e me deixando levar por esse menino mais a cada dia. 

 

— Você tem razão. — Falei tentando me concentrar nas minhas palavras e não na forma como Harvey me olhava tao perto ou na boca dele próxima a minha. — Temos objetivos em comum... não podemos deixar que nada atrapalhe isso, certo? — Eu realmente estava tentando me concentrar, mas era quase impossível daquele jeito. — Então... não importa se temos pessoas nas nossas vidas, tipo o Troy... a gente vai continuar amigos e sendo leais um a outro! — Pontuei e Harvey me olhou com muita atenção, antes de se afastar rapidamente, me encarando sem expressão definida. 

 

— Claro, amigos! — Assentiu sem mostrar muita emoção nisso. — Você não se mete no que eu tenho com a Pink e eu faço o mesmo com você, não vamos deixar isso nos afastar, já que somos só amigos! — Forçou um sorriso sem mostrar os dentes e eu assenti de forma clara e calma. 

 

      Não era bem isso que estava se passando pela minha cabeça, eu obviamente não poderia deixar Harvey ficar com a Pink por muito tempo, isso afetava a nossa proximidade de um jeito muito ruim e eu não queria isso entre nós, não mesmo. E sobre Troy, eu não tenho grandes interesses nele, então com certeza não vai nos atrapalhar, não como Pink atrapalhava.

 

     Mas Harvey não precisa saber disso, eu ia tirar a Pink do meio de nós dois tão rápido como arrancar um curativo velho, rápido e indolor, o Harvey vai perder todo o interesse na minha tia, se não eu não me chamo Jupiter. 

 

— Certo, e vamos evitar discutir também. — Falei saindo por baixo do braço dele e suspirando parecendo conseguir respirar melhor agora e sem pressão. — A gente tem que se ajudar, não se odiar! — Joguei os cabelos para trás dos ombros e Harvey assentiu pacificamente concordando comigo. — Eu vou voltar pra aula...— Avisei com um meio sorriso me virando para sair. — Aliás, agora estamos quites em relação ao veneno né?  — Falei andando de costar e ele me lançou um olhar indignado. 

 

— Não tem nem comparação, Jupiter. — Disse negando várias vezes e eu balancei os ombros rindo antes de me virar de vez e ir para a sala rapidamente. 

 

       Para mim tem, já que o Harvey conseguiu me abalar e me desestabilizar mais com as coisas de ontem, do que o veneno no bolo. 

 

      Infinitamente mais. 

 

 

 

 

2 dias depois... 

 

 

 

 

         Red Cherry, Point of  Views. 

 

                            02:21 p.m.

 

                   4 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

 

         Eu tentava respirar fundo e só não me desesperar, mas a única coisa que consegui fazer desde que desliguei a ligação com meus pais, foi encarar o nada na sala de jogos e eu acho que estava em choque definitivo. 

 

        O Jon, ele estava com depressão, ou princípio de depressão, minha mãe não conseguia diagnosticar de tão longe, e isso era muito perigoso e preocupante, eu sabia que tinha algo errado, eu não estava equivocada nos meus pensamentos, eu pensei que ele so estava tendo um luto forte demais, porém no fundo eu sabia que podia ser algo assim. 

 

      Era apavorante, eu não conseguia me mexer, a minha mãe disse para eu não sair do lado do Jon e continuar fazendo o que eu fazia até agora, mas ao mesmo tempo tentar aconselhar ele a procurar ajuda de um psicólogo, pelo o que minha mãe disse, o fato de ele se abrir para mim e me ouvir ajuda muito, se qualquer outra pessoa sugerir isso, o Jon pode não reagir tão bem. 

 

     Mas por que estou tremendo tanto? 

 

     A sensação de ter que ajudar alguém desse jeito, com um problema tão sério, me deixa até com falta de ar, eu não era a minha mãe, eu não era uma psicóloga, sou apenas a Red Cherry e se eu errar em algo? 

 

     Acho que vou ter um ataque, mas antes disso eu preciso pensar no que fazer, para convencer o Jon a procurar ajuda o quanto antes, ele precisa de ajuda e se tratar, vai acabar tudo bem se nada sair do eixo, eu tinha que confiar nisso.

 

       Eu precisava acreditar em mim e na minha capacidade de fazer isso. 

 

     A porta da sala se abriu e eu não me mexi, acho que eu não conseguiria fazer por um tempo e continuei encarando o nada e com a minha cabeça rodando em mil e uma formas de ajudar o meu tio a sair dessa são e salvo. 

 

     Senti que alguém sentou no mesmo sofá que eu, mas não do meu lado, provavelmente na outra ponta e eu mexi meus olhos levemente para ver e era o Harvey, que mexia em seu celular em silêncio absoluto, quase como se não tivesse me visto ali. 

 

       Voltei a encarar a minha frente, focada a não surtar, respirei fundo bem lentamente três vezes para me acalmar de vez e funcionou muito bem, eu só precisava respirar e tudo ficaria melhor, eu não poderia me desesperar agora, eu desesperada sempre faço algo errado. 

 

    Me levantei para sair, ajeitando meus cabelos rapidamente e antes que eu pudesse da algum passo para longe, Harvey tirou os olhos do seu celular e me olhou de cima a baixo lentamente, quase me derrubando com seus olhos azuis. 

 

— Aproveitou a festa ontem Miss América? — Ele questionou em um tom explico de deboche e eu o olhei, apenas para vê-lo fazer isso na cara de pau. 

 

      Eu não ia responder a provocações, eu não ia responder a provocações , eu não ia...

 

— Não mais do que você, com certeza. — Usei todo o deboche dentro de mim para dizer isso e ele assentiu usando um sorriso feliz para isso e me deu vontade de chuta-lo na cara para desfazer. 

 

— Você parecia muito feliz lá com o seu em breve futuro namorado assumido. — Ele jogou de uma forma tão irônica e debochada que me fez ri de leve pela audácia dele de falar desse jeito. — Aliás, quando você assumir para o Justin e para a Violet esse romancezinho meia boca com o mister músculos, você me chama? Eu quero presenciar essa chacota completa! — O tom irônico e afiado de Harvey está me deixando irritada e eu não conseguia entender porque ele estava falando daquele jeito todo. 

 

         Ele estava fazendo para me provocar, era óbvio, mas diferentes das outras coisas que Harvey já fez, dessa vez ele estava muito mais irônico e debochado, me alfinetando, quase como não fosse só para implicar comigo e que na verdade isso o incomodava profundamente, o que era de fato ridículo, não tem porque a minha relação com o Lion incomodar o Harvey, ele só era insuportável mesmo. 

 

— Romancezinho meia boca...— Repeti o que ele falou, levando uma leve indignação na voz. — Desculpa, mas eu conheço o Lion a mais de 3 anos e a gente fica a quase 1, a gente construiu uma coisa entre nós, não era como se eu tivesse ficado bebada em uma festa e ter transado com ele por diversão igual você é a Pink! — Joguei contra ele, usando a mesma ironia e deboche que Harvey havia feito antes e ele me olhou de forma petulante e provocativa. 

 

       Se ele estava afim de me provocar, dessa vez eu não iria deixar por menos, quem Harvey acha que é para chamar meu namoro com o Lion de romancezinho meia boca? Ele não sabia de nada, quando a gente se conheceu eu já ficava com o Lion, o Harvey é um idiota de graça mesmo o tempo todo comigo. 

 

     Como se isso lhe satisfizesse de alguma forma. 

 

— Você acredita mesmo que o Lion gosta de você, princesa? Isso é preocupante! — Apontou antes de da uma risada como se fosse engraçado demais e eu me irritei mais ainda com isso. 

 

— Até porque você, Harvey Butler, sabe bem quem gosta ao não gosta de mim né? Você não me odeia garoto? — Cruzei os braços esperando que ele saiba responder a minha pergunta e o Harvey levantou uma das sobrancelhas como se eu estivesse errada em algo que falei. 

 

— Exatamente por não gostar de você! Eu consigo ver quem também não gosta. — Sibilou como se fosse bastante óbvio para ele. — E o Lion só gosta porque você é bonita e gostosa demais, com certeza ele deve achar que vocês fazem um casal legal em capas de revistas! — Afirmou como toda certeza nas palavras e agora foi a minha vez de olhar para ele como se estivesse maluco completamente. 

 

— Ué, eu não era gorda? Agora sou gostosa demais? — Cruzei meus braços o encarando estreito e Harvey me olhou de cima abaixo duas vezes de um jeito tão intenso e forte, que fez um frio enorme subir pela minha barriga de forma involuntária. 

 

      O silêncio que se fez enquanto ele me encarava, olhando para mim daquela forma diferente, me deixou sem reação alguma a não ser continuar parada no mesmo lugar o olhando de volta, enquanto Harvey encarava na maior cara de pau cada detalhe em mim, do jeito mais profundo que já fez. 

 

— Red! — Dana abriu a porta da sala e entrou, mas parou quando viu Harvey. — Oi Harvey. — Ela cumprimentou ele, que tirou os olhos de mim e se virou para ela. — Red, vamos, você disse que ia comigo ver que atividade extra eu vou fazer. — Ela fez uma careta e eu assenti. 

 

      Realmente eu tinha combinado isso com a Dana e estava apenas esperando ela aparecer, até Harvey surgir e me tirar do sério, eu nem deveria está falando com ele, eu prometi que não ia cair na provação desse menino e eu queria o dobro de distância depois do que ele fez. 

 

       Mas eu as vezes sentia que eu não conseguia, eu tinha que responder as provocações de Harvey, entender que merda ele acha que está fazendo, porque ele me odeia, isso eu sei, mas porque me olha dessa forma tão intensa? 

 

    Deve ser algum artifício dele para me irritar mais ainda, com certeza. 

 

— Vamos, Dana. — Falei indo até ela e saindo sala, vendo Dana vir atrás de mim e ela me deu um sorriso fofo e legal ao começar a andar comigo pelo corredor. 

 

— O Harvey é legal né? — Ela disse simples e eu ri até um pouco exagerada disso. — Ele nem é um problema tão grande quanto parecia que seria, ele é bem na dele aqui na casa. — Comentou como se estivesse analisando e ela não estava errada.

 

    Na casa o Harvey não tinha aprontado nada gigantesco, mas na minha vida ele tinha, e muito. 

 

— Amo sua ingenuidade. — Abracei Dana de lado sendo bem sincera nisso. 

 

 

 

 

 

      Jupiter Bieber, Point of  Views. 

 

                            02:23 p.m.

 

                   4 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

 

 

      Me sentei no meio fio de frente ao portão do castelo e olhei o celular duas vezes para ver a hora e Troy estava atrasado 3 minutos no horário que marcou. 

 

     Ele havia me falado hoje na hora do colégio que precisava me encontrar a tarde e que era para algo muito importante, eu até tentei fazê-lo me dizer, mas a única coisa que Troy falou é que tem uma surpresa para mim. 

 

     E isso me deixou tensa. 

 

      Não consigo confiar suficiente naquele garoto para ouvir a palavra surpresa e não ficar pilhada nisso, por essa razão eu olhava tanto o horário no celular, eu estava muito curiosa e eu odiava me sentir assim em relação as coisas, não saber o que poderia acontecer mexia com meus nervoso facilmente. 

 

      Respirei fundo vendo o carro de Troy entrar na rua e me levantei, limpando a minha calça jeans e olhando para trás, garantir que ninguém veja eu saindo de carro com um completo estranho no meio da tarde. 

 

— Está pronta? — Troy perguntou, abrindo a porta do carona para eu entrar,  com um largo sorriso feliz e seus olhos chegavam a brilhar, assenti entrando no carro rapidamente. 

 

— Sempre. — Afirmei fechando a porta e respirando fundo. — Para onde vamos? — Questionei e eu devo ter feito essa pergunta umas 30 vezes só hoje e Troy só riu, como fez nas últimas vezes. — É sério, pelo menos uma dica? — Pedi vendo ele começar a dirigir, e pisquei meus olhos de forma fofa na direção dele. 

 

— Vou te levar para uma experiência. — Foi a única coisa que ele disse, ainda carregando o mesmo sorriso nos lábios e ele estava feliz demais, o que era estranho, mas pelo menos não era raiva, o que me deixa em uma zona segura. 

 

      Eu acho. 

 

     Na verdade eu penso que se Troy quisesse mesmo me fazer mal ele já teria, mas pelo o que vejo, ele a cada momento que passa, parece está mais interessado em mim, o que é risório, já que nem de longe chega perto de ser recíproco, mas gosto da companhia do Troy, ele me faz sentir que sou menos cruel do que achei que fosse, é diferente confesso. 

 

      Fiquei em silêncio, já que ele havia falado mais do que antes e aposto que não vai da mais nenhuma dica, o dia estava meio nublado e eu tinha certeza que iria chover, e eu precisava voltar antes disso, ninguém sabia que eu tinha saído.

 

     Só Harvey sabe que conheci Troy, ninguém mais, se ele me matar e sumir com o corpo não levantará nenhuma suspeita...

 

      Por que de fato estou pesando nisso? 

 

      Acho que é pela sensação de perigo que o Troy me passa o tempo todo quando estou com ele, a forma dele agir, o olhar que ele me lança, não era nada normal, tinha uma coisa tenebrosa no fundo, e eu podia ser muito fria, mas isso me incomodava as vezes, era uma sensação de que eu era como um objeto, quase um chaveirinho que Troy achou e agora gosta. 

 

      E eu não seria chaveirinho de ninguém.

 

  

 

 

 

     Olhei para Troy e depois para os portões enormes diante de nós em uma casa no meio de uma parte de floresta que tinha na estrada e a casa era gigantesca, quase do tamanho do castelo onde eu morava, eu nunca tinha notado aquela casa e era bem na estrada principal perto da cidade e a gente pegava aquele caminho sempre para ir para a escola, a casa ficava bem localizada e até meio escondida entre as árvores e no alto do morro. 

 

— Você mora aí? — Perguntei, apontando para aquela mansão enorme assim que o carro passou pelos portões de ferro e Troy assentiu como se não fosse muita coisa. 

 

      Pela forma como a Destiny, irmã dele, anda vestida era de se imaginar que eles eram muito ricos, mas agora isso elevou muito mais, eles parecem podres de ricos até dizer chega. O que me faz questionar mentalmente o que eles fariam naquele cidade pequena, porque do tamanho dessa casa daria fácil para eles viverem em um lugar melhor com o mesmo luxo, ou até mais. 

 

 — Sua família é bem rica...— Murmurei quando o carro foi parando nos jardins e Troy fez uma leve careta desligando o carro e me olhando. 

 

— Herança, meu tataravô era, meu bisavô foi, meu avô, agora meu pai.... — Comentou de forma simples. — Meu pai é dono de 76% do comércio da cidade e de uma quantidade boa na capital, além de outros negócios...— Disse e me lançou um um olhar singelo. — Aliás, Jupiter...— Levou uma das suas mãos ao meu rosto com leveza. — Eu quero dizer antes da gente entrar, que eu vejo potencial em você, nunca nenhuma garota me mostrou isso, essa fúria, a vontade de vencer custe o que custar! — Pontuou de forma séria. — Por isso eu escolhi você, e espero não me arrepender. — Disse, soltando o meu rosto e eu dei um sorriso para ele, não sabendo o que dizer. — Vamos. — Abriu a porta do seu lado e eu fiz o mesmo no meu. 

 

     O jardins era lindo e tinha várias esculturas de animais tipo, leão, tigre e eram enormes e pareciam significar alguma coisa, mas não me apeguei muito a isso, ainda mais quando Troy subiu os degraus até a porta principal e a abriu, dando espaço para eu passar também e me deparar com a sala enorme da sua casa. 

 

      Minha avó mora em castelo, nada era maior do que aquilo, mas era impressionante mesmo assim, eu morei a vida toda em um apartamento em Tokyo, qualquer coisa maior que 4 quartos já me deslumbrava. 

 

      A decoração era toda em dourado e parecia que era de ouro, nem me atrevi a perguntar se era porque capaz de ser, e tudo era delicado e luxuoso demais, cada detalhe. Mas o que me chamou atenção foi um quadro enorme no alto da parede, que parecia ser maior do que eu até, e nele tinha uma foto de uma família. 

 

— Sua família? — Questionei a Troy, andando para mais perto do quadro e encarando cada um na foto e eu logo reconheci ele e Destiny. 

 

— Sim, meu pai no meio, tios, avó, esses não moram aqui e sim na Europa, os agregados...— Foi apontando para as pessoas e tinham umas 10 na foto, o que mostrava que a família de Troy não era pequena, mas ainda era menor do que a minha. 

 

      Acho que nenhuma família chega perto do tamanho da minha. 

 

      Pelo menos a de Troy parece bastante unida, ele ainda não desejou ódio a ninguém dela na minha frente pelo menos. 

 

— Foi com eles que aprendi sobre lealdade. — Me olhou e eu fiz o mesmo o encarando. — Tudo pode desmoronar, mas no final família é família, só se alguém fizer algo que quebre muito as regras impostas, aí a lealdade é desfeita e a pessoa é afastada definitivamente! — Explicou para mim. — E as regras são muito difíceis de quebrar!  — Piscou de leve e eu dei um sorriso.

 

     Troy esticou sua mão para mim, e eu encarei ela antes de pegar, a segurando e o olhando nos olhos novamente, ele me encarava com aquele mesmo olhar de sempre e ficou assim por alguns segundos em silêncio. 

 

— Então vamos para a sua surpresa. — Sugeriu me puxando para mais perto e eu assenti várias vezes ja morrendo de curiosidade. — Vai ser uma experiência inovadora para você, te garanto. — Sibilou, me lançando um olhar enigmado e começou a me puxar com ele em direção a um corredor. 

 

      Troy parecia ansioso para me mostrar e eu estava o triplo para ver, aquela casa era tão grande, não sei o que ele pode querer me mostrar aqui, e o que ele diz sobre ser uma experiência inovadora? Era estranho e confuso para mim, porém lá estava eu me jogando no escuro com uma pessoa que nem confio tanto assim. 

 

     Ele apertou um botão do que eu notei ser um elevador e naquele momento eu não me chocava mais que tinha um na casa dele. Entramos assim que as portas se abriram e Troy tirou uma chave do bolso, colocando no ultimo botão da sequência de 6 e  girando ela, o que fez as portas se fecharem e o elevador se mover, e ao olhar para os números no visor eu via que estava descendo. 

 

       Aquilo estava mais estranho a cada segundo que passava, a casa dele tinha 3 andares para cima e 3 para baixo, que casa tem 3 andares para baixo? E porque um andar só se desbloqueia com chave? 

 

       Respirei fundo ao ver a letra X aparecer na tela e não faço ideia do que significava, mas a porta se abriu, mostrando um corredor enorme branco como de um hospital e todo iluminado, havia corredores adjacentes e algumas portas em preto fosco. 

 

      Era extremamente silencioso, parecia ter só a gente ali, mas logo que saímos do elevador um cara passou conversando em um rádio de comunicação e eu arregalei os olhos vendo que ele carregava consigo uma arma maior do que seu corpo. 

 

       Quase não consegui mais andar, porém forcei as minhas pernas a se movimentarem e continuar ao lado de Troy pelo corredor. Outro cara passou, e esse carregava consigo algumas coisas em uma mala e notei que eram mais armas de diferentes tamanhos, e logo outro surgiu com algo que parecia comida em um carrinho igual os de hotel. 

 

       Por que não me perguntei antes do que o pai de Troy trabalhava? 

 

   Porque o filho tinha arma, a filha andava vestida de marcas de luxo da cabeça aos pés, eles moravam em uma mansão gigante, e agora estou em um andar subterrâneo dessa mansão vendo caras armados e estranhos ao meu redor. 

 

— Aqui é a central. — Troy disse vendo meu olhar curioso e surpreso sobre tudo em volta. — Os caras trabalham aqui, tudo acontece aqui, é mais seguro. — Fez um gesto em volta e eu continuei em silêncio encarando cada canto. — Principalmente o que vou te mostrar. — Avisou em um tom diferente, eu o olhei e sentia uma sensação estranha subir pelo meu estômago. 

 

       Aqui é a central de que? 

 

    Eu já não sabia mais o que Troy queria me mostrar ali, antes podia se passar ideias pela minha cabeça, mas agora olhando tudo em volta, nada ali parecia ter haver comigo ou com algo que fosse interessante para mim, eu já não estava entendendo mais nada e odiava admitir que estava ficando agoniada com aquela situação. 

 

      Eu estava no subsolo de uma casa desconhecida com vários caras armados andando em volta de mim. 

 

— Aqui. — Troy disse parando em frente a uma das portas pretas grandes e pegou outra chave em seu bolso, abrindo ela imediatamente. 

 

      Olhei bem para ele, antes de tomar coragem em mim de entrar pela porta e fiz sem querer demostrar desconfiança sobre tudo aquilo, apesar de que nunca estive tão desconfiada na vida quanto agora. 

 

      A sala era branca normal, tinha uma mesa no centro com muitos papéis e pareciam estarem sendo preenchidos por alguém antes da gente chegar, em uma das paredes, na maior delas, havia um vidro preto que parecia mais um espelho e do lado dele uma porta enorme e com uma trava de segurança eletrônica que parecia ser muito potente e tecnológica. 

 

— O que tem aqui? — Perguntei depois de alguns longos segundos em silêncio analisando o local.

 

    Troy parecia que estava esperando eu dizer isso para se aproximar daquele vidro preto que ia de um lado ao outro da parede.

 

— Sua supresa. — Falou de um jeito firme e apertou um botão no canto da parede, e aquele vidro se transformava em uma espécie de janela, o que me fez acredita que era um vidro espelhado.  

 

      Assim que o vidro mudou completamente, deixando exposta a visão do que havia do outro lado, eu perdi o fôlego por alguns segundo e parecia que eu tinha travado por completo e esquecido como se respirava, meu coração parou de bater. 

 

    Principalmente quando eu notei.

 

— O que é isso....— Murmurei em voz baixa, espantada com o que eu via diante de mim.

 

    Não consegui reagir e meu coração parece que voltou a bater com tanta força que eu sentia ele na minha garganta quase como se fosse sair pela boca, meu sangue parecia correr forte nas veias e deixar meus braços e minhas pernas dormentes. 

 

— O que você está vendo. — Troy disse simples, como se não fosse nada e eu seguia em choque completo. — Eu falei que iria te ajudar, eu prometi... Eu sempre cumpro o que prometo. — Afirmou sério e eu dei um passo à frente, colocando a minha mão no vidro só para sentir se aquilo era mesmo real. 

 

— O que você vai...— Eu não conseguia terminar a frase e respirei fundo para não demostrar todas as emoções que corriam pelo meu corpo naquele momento. — O que você vai fazer com ela? — Perguntei sem tirar os olhos do que tinha por trás do vidro. 

 

       Eu não conseguia fazer nada além de encarar, nem uma reação decente eu conseguia esboçar. No outro lado do vidro estava Sory, deitada em uma espécie de maca no que parecia muito com um quarto de hospital, tinha tudo de um, ela estava amarrada pelos braços na cama e parecia acordada pela forma frenética que mexia a cabeça parecendo querer se soltar urgentemente. 

 

       Que porra é essa? 

 

— Você não perguntou o que minha família faz para ser rica, não é? — Me deu um sorriso como se eu tivesse esquecido disso e de fato eu não questionei nada sobre a família dele e o que ela faz. 

 

— E o que eles fazem? — Perguntei com muita cautela na voz, esperando a resposta e parecia que meu corpo iria explodir em tensão naquele instante. 

 

— Jupiter, você já ouviu falar do mercado negro? — Questionou com paciência e eu neguei lentamente. — Basicamente é uma rede, de compra e venda de tudo que você pode imaginar, quadro roubados, joias valiosas roubadas, escravos, crianças, órgãos...— Listou com toda a calma do mundo, como se esse assunto fosse natural na sua vida desde sempre. — Aliás, meu sobrenome, Antonelle, é italiano, minha família é italiana, meu pai veio para ca novo para expandir os negócios da família! — Explicou analisando minhas expressões antes de dizer. — Minha família é a maior máfia atualmente ativa na Itália, e no Canadá! — Deu um sorriso vitorioso e extremamente cruel. 

 

           Eu senti que tinha enlouquecido, e ouvido errado, mas ao ver o sorriso ruim no rosto de Troy, eu não enlouqueci e eu não ouvi errado, ele era filho de mafioso, essa casa era de mafioso, tinha uma máfia morando nessa porra de cidade pequena e eu estava em uma sala com um deles, vendo a namorada do meu tio amarrada em uma cama. 

 

         Puta que pariu. 

 

    Óbvio que eu deveria ter questionado mais, eu era uma burra, onde já se viu vê um cara com uma arma e nem ao menos perguntar onde ele conseguiu uma? 

 

     Aquele discurso sobre o pai dele ser cruel e impulsivo as vezes, eu nem fiz a merda do trabalho de querer saber mais do porque. 

 

       Troy era filho de mafioso, por isso tinha uma arma, ele trabalhava com o mercado negro e sabe-se lá mais o que. Pelo o que sei sobre máfias, são famílias com grande poder de dinheiro que investem no crime, na venda de pessoas e órgãos, drogas, controle de lugares, cidades e até governos. 

 

      Eu sabia que Troy podia ser um criminoso pela arma, mas eu imaginava no máximo um assaltante de lojas ou sei lá, não um mafioso, não algo tão poderoso e perigoso assim. 

 

     Mas não era só isso, não era só está na frente de um mafioso, a Sory estava amarrada em uma cama, ele tinha citado venda de órgãos... então... 

 

— Você vai vender os órgãos dela? — Perguntei, olhando no fundo dos olhos de Troy e eu tinha certeza que eu estava ficando pálida. 

 

— Não, eu vou vender ela! — Disse de forma banal. — Um Sheik poderoso do oriente médio quer uma esposa nova e com menos de 18 anos, é a segunda compra dele com a gente a outra foi uma americana incrível, valeu muito a pena! — Cruzou os braços olhando para dentro do vidro. — A Sory também vale uma grana boa! Bonita, corpo incrível, tamanho ideal, olhos marcantes, essas são as que valem mais sempre! — Pontou falando da Sory da mesma forma que falou de mim na festa segunda feira. 

 

     Analisando ela como se fosse uma mercadoria não um ser humano, eu havia notado que ele tinha feito isso comigo várias vezes, mas achei fosse só um jeito idiota de elogiar alguém, mas não, obviamente ele tinha um olhar clínico para essas coisas, ele encarava as mulheres como objetos de venda, como animais. 

 

— Você sempre faz isso? — Murmurei encarando a lateral do seu rosto enquanto ele ainda olhava para a Sory do outro lado vídeo. 

 

       Minhas mãos estavam tremendo e acho que eu também, aquilo era muito louco para a minha cabeça  processar rápido demais, tinha coisas ali que ainda não tinham sido absorvidas direito.

 

— Sim, eu comecei tem 2 anos, a gente pega meninas de todos os lugares desse continente, elas vem para cá, passam pela triagem! — Apontou para a mesa atrás de nós e caminhou até a mesma. — Fazem exames de sangue, análise de tudo, elas tem que ir perfeitas, sem nenhuma doença ou condição diferenciada, nossos clientes pagam bem e são rigorosos com a perfeição! — Se apoiou na mesa concluindo e eu queria conseguia expressar algo, mas eu não sei nem como estava conseguindo respirar no momento. 

 

       Tudo em mim parecia girar, minha cabeça estava a mil, era tanta coisa ao mesmo tempo, eu não conseguia esboçar reação alguma, eu não conseguia nem se quer dizer o que eu estava sentindo naquele momento e Troy notou isso, o que fez ele sair de trás da mesa e caminha até a minha frente. 

 

— Jupiter, você disse que queria a Sory fora do seu caminho, e agora ela vai sair! — Falou de forma calma e melódica para mim. — Uma vez vendida não tem volta, você nunca mais vai ver a Sory na vida, ela nunca mais vai aparecer por aqui ou se quer se comunicar com alguém, vai ser como se ela tivesse desaparecido, ou melhor, morrido. — Afirmou para me passar confiança em suas palavras. — Inclusive eu tô com o celular dela, deixarei na estrada para provar que ela está incomunicável, montei todo um esquema para parecer que ela fugiu dessa merda de cidade! — Segurou minhas mãos com força. — Fica tranquila, minha família faz isso a gerações, todas as mulheres que eles venderam até hoje nunca foram procuradas, sempre acham que fugiram ou algo do tipo! E também nunca foram encontradas! — Reforçou de forma tranquila e Troy realmente não parecia nem minimamente preocupado com aquilo. 

 

     E depois de tudo isso que Troy disse, foi aí que minha fixa parece ter caído por completo diante de mim, sobre toda aquela situação e tudo que ele estava me falando, foi como um choque elétrico por todo o meu corpo que me fez sentir calafrios rápidos e intensos. 

 

— Posso falar com ela? — Sussurrei, depois de segundos em silêncio encarando o nada e eu estava segurando muito tudo dentro de mim. — Por favor... — Pedi, levando meus olhos para Troy e ele esperou uns segundos antes de assenti concordando. 

 

      Ele saiu da minha frente e foi até a porta do lado do espelho, me olhando brevemente antes de por sua digital na tranca e ela desbloqueou, acendendo uma luz verde, e eu movi minhas pernas, mas ela tremiam tanto que eu não sabia se estava andando normal naquele momento. 

 

      Caminhei com calma, passando por Troy e entrando dentro da sala, ele fechou a porta atrás de mim e me deixou sozinha, e de dentro realmente não dava para ver do outro lado do vidro. 

 

     Me virei para Sory que estava na cama e ela não havia me notado ali ainda, até que me aproximei ao seu lado e seus olhos entraram em contado com os meus, e ela parecia não acreditar no que via, seus olhos estavam vermelhos como seu rosto todo e parecia ter chorado muito.

 

      O olhar confuso de Sory mudou para um de completo desespero, enquanto ela se debatia querendo se soltar das amarras e eu a olhei de cima a baixo duas vezes, vendo que ela estava presa por três amarras diferentes e pareciam bem firmes. 

 

— Jupiter, me tira daqui, por favor! — Implorou em completo desespero enquanto tentava se soltar e eu voltar a olhar seu rosto. — Me ajuda! Eu imploro! Me tira daqui! — Gritou com um desespero absurdo e acho que ela não sabe ainda o que está acontecendo com ela.

 

        Sory estava com medo, com tanto medo que eu conseguia sentir isso em mim, como se ela estivesse transmitindo, seus olhos estavam apavorados, acho que nunca vi ninguém com tanto medo na vida, eu nunca encarei nada desse tipo antes. 

 

— Jupiter! — Ela gritou meu nome me tirando do transe que eu estava, enquanto encarava o rosto desesperado e apavorado dela. — Me tira daqui, eu tô implorando para você me tira...

 

— Xiiiu...— Coloquei meu dedo sobre os lábios dela para que Sory parasse de gritar tão alto e me aproximei, me abaixando do lado dela e deixando meus olhos na altura dos seus. — Não grita, ok? — Pedi rapidamente para ela, que assentiu ainda desesperada. — Vai ficar tudo bem. — Afirmei encarando o rosto dela que me olhou esperançosa. 

 

— Me ajuda a sair daqui...— Repetiu em voz baixa dessa vez. — Deve ter uma chave sei lá, me ajuda logo! Antes que alguém apareça! — Falou complemente afobada e eu olhei para as amarras que prendiam ela a cama e em seguida para o rosto de Sory novamente. 

 

— Eu disse que vai ficar tudo bem, Sory, confie em mim! — Repeti com calma olhando nos olhos dela para que ela de fato acredita-se no que eu estava falando. 

 

       Ela assentiu várias vezes desesperada, mostrando que acreditava nas minhas palavras daquele momento e ela estava me olhando de forma agradecida, até certo ponto, por esta ali. 

 

     O que me fez suspirar profundamente antes de continuar a falar o que eu estava querendo dizer com aquilo, já que não havia completado o raciocínio. 

 

— Você nem morrer, vai passar a vida toda sendo casada com um velho nojento, repugnante e provavelmente violento, mas pelo menos estará viva! — Levei minha mão para os cabelos dela, passando meus dedos pelo mesmo devagar com muita calma. — Quando eu te vi aqui eu achei que ele fosse te matar, juro, arrancar seus órgãos fora e da para alguém que mereça viver muito mais do que você. — Comentei bem suavemente, olhando nos olhos de Sory a cada palavra que eu dizia. — Mas infelizmente você vai continuar viva, só espero que sofra muito nas mãos do seu dono todos os dias, que você deseje imensamente ter morrido ao invés disso, que ele humilhe você, como você fez comigo! — Desejei do fundo do meu coração, o que fez ela me olhar novamente muito desesperada com as minhas palavras. 

 

       Alguém tinha que contar para ela que seria vendida, sei que talvez Troy goste de brincar e fazer um suspense, mas eu era mais prática, a Sory merecia saber pelo o que iria passar pelo resto da vida dela, sendo escrava sexual de um velho nojento que deve ter outras centenas de mulheres como ela presa em um porão velho e imundo. 

 

      Era um fim digno para a vadia completa que a Sory era. 

 

— Não, eu não quero ser vendida, eu não... me ajuda por favor, Jupiter! — Gritou voltando a se debater na cama e eu endireitei a postura a olhando fazer isso. — Por favor! Me desculpa! Me perdoa pelo o que te fiz, era só brincadeira! Eu estava brincando... me ajuda pelo amor de Deus! — Implorou em prantos, tentando jogar aquele papo para mim e eu neguei lentamente ainda a encarando com a maior simplicidade do mundo no olhar. 

 

— Humilhação não é brincadeira, Sory, se sentir no direito de pisar em alguém por ser melhor, não é brincadeira. — Falei sério para ver se essa vaca entende isso de uma vez. — Eu avisei para me deixar em paz, eu avisei para não cruzar o meu caminho,Sory, e você não ouviu, você não quis ouvir. — Balancei a cabeça lamentando profundamente  por ela. — A culpa não é minha, eu não estou fazendo nada contra você, eu sou a vítima! — Apontei para mim mesma com clareza, antes de respirar fundo. —  Então não me pede para te ajudar, porque eu não vou! — Sibilei lentamente para deixar mais claro essa parte. — Espero que você sofra tanto, tanto e que a cada dia desse sofrimento você lembre do que fez com as pessoas na sua antiga vida. — Fui bem sincera nos meus desejos finais para ela. — Não existe perdão no meu vocabulário, Sory, mas existe uma palavra chamada vingança. — Abaixei de leve para a encarar com um meio sorriso feliz no meu rosto. — Essa é a minha para você...— Conclui  vendo ela se desesperar mais ainda com o que falei. 

 

        Tão engraçado ver uma garota cheia de coragem e marra perder isso tudo e praticamente implorar na minha frente, toda aquela petulância e provocação sumiram dos seus olhos. 

 

    E tudo podia ter sido diferente se Sory não fizesse o que fez, eu não me importava com sua existência, ela queria tanto a minha atenção, que conseguiu muito mais do que isso, ela conseguiu meu ódio mais genuíno e puro. 

 

 — Por favor! Por favor! — Sory gritava mais desesperada do que antes e eu já tinha falado tudo que queria, agora eu só não queria mais vê-la se humilhar diante de mim.

 

     Isso fazia parecer que eu era a vilã, mas era ela. 

 

— Adeus, Sory... — Falei por fim, para então me despedir dela e me virei para sair da sala com a mesma calma como entrei a minutos atrás. 

 

— Não, não! Sua vadia! Sua maluca psicopata! Você é um demônio! — Gritou escandalosa tentando me ofender ao fim e eu me virei para olhá-la novamente, ja perto da porta. 

 

— É o que a minha guru me disse! — Pontuei como se isso fosse muito engraçado pela semelhança nas palavra. — E ela sempre ta certa em tudo que diz. — Afirmei fechando a cara. 

 

       Troy abriu a porta e eu lancei um último olhar para Sory, antes de sair daquele quarto e voltar para a outra sala, sem olhar para trás, sem redenção, sem perdão. 

 

     Acabou para a Sory, para sempre.

 

— Adorei a sua atitude lá dentro. — Troy comentou e obviamente ele deve ter ouvido tudo de algum jeito. — Muito bem, foi por isso que escolhi você. — Disse vindo até a minha frente, com um sorriso malicioso nos lábios e eu o encarei, pensando no que ele acabou de me dizer. 

 

      A forma como o Troy se aproximou de mim na escola, a forma como ele falava comigo e de mim, me analisando de cima a baixo como se eu fosse um objeto, citando coisas igual ele fez com a Sory agora a pouco, tudo isso...

 

— Você ia me vender também, não é? — Questionei chegando a essa conclusão e ele me encarou em silêncio antes de bufar de leve, como se eu tivesse o pegado. 

 

— Antes de você fazer aquilo tudo na festa, sim. — Confessou e senti meu estômago revirar como se eu fosse vomitar. — Mas entenda, é meu trabalho, seria a primeira pessoa nessa cidade que eu irá vender, geralmente meu pai me coloca para pegar as de outros lugares, era o primeiro dia de aula eu estava na função caça! — Explicou colocando uma intensidade obscura e cruel nas suas palavras. — E aí a Destiny, a minha irmã, te colocou na minha frente, como um presente, e você era perfeita, o Sheik não tinha tipo específico, ele só precisava de uma garota branca com menos de 18 anos! Era você! — Me olhou de cima a baixo como se me admirasse por completo. — Mas aí na festa, você me mostrou um lado que nunca vi em garota nenhuma e eu pensei, que porra eu vou está fazendo vendendo ela, sendo que eu posso ter ela para mim! — Me olhou de um jeito tão malicioso e perverso, que parecia que eu era uma carne diante de um animal feroz. 

 

       Depois de tudo que ouvi e vi aqui, isso não me surpreendia, era óbvio, claro, ele queria vender a mim ao invés da Sory e se eu não tivesse feito tudo aquilo da festa, se eu tivesse me feito de ingênua e boazinha como me faço na minha casa e para todos que conheço, seria eu naquele quarto e não a Sory. 

 

       Troy era mafioso, filho de mafioso, eu corri o maior perigo da minha vida nos últimos 4 dias e eu não fazia a menor ideia, e mais doido de tudo é que apesar de eu ter me livrado do pior, eu ainda sentia esse perigo me rondando, era como viver com um tigre, ele pode brincar comigo, me lamber, mas é de carne que ele gosta de se alimentar e se sentir fome, eu sou um banquete completo. 

 

      Isso não me deixa nem um pouco confortável. 

 

— Eu te disse, somos almas gêmeas cruel! — Sorri para Troy, mas não era bem a expressão que eu queria da, eu só tinha que fingir. 

 

     De agora em diante eu não poderia desmontar menos do que felicidade ao ter Troy na minha vida, como se eu fosse agradecida. Ele vendeu a melhor amiga da irmã dele por causa de uma garota que ele conheceu a 4 dias, ele poderia se virar contra mim com a mesma facilidade que fez tudo isso. 

 

    E agora eu me sentia estranhamente presa, pois com que caralho eu saio dessa? O Troy não me olha como se fosse me deixar ir. 

 

— Pois é, meu pai me disse que se você reagisse mal a tudo que visse aqui, era para eu vender vocês duas juntas. — Contou se aproximando de mim com um olhar orgulhoso. — Mas eu sabia que você não ia me decepcionar, Jupiter. — Garantiu, olhando nos meus olhos e eu continuei sorrindo largamente da forma mais doce que eu conseguia fingir diante dele e de tudo isso. 

 

— Lealdade, lembra? — Olhei sugestiva para Troy,  que assentiu mostrando que lembrava muito disso.

 

      Duas batidas aconteceram na porta da sala que a gente estava,Troy bufou irritado se afastando e indo até o visor da porta ver quem era, ele revirou os olhos parecendo entediado e abril a porta com a chave. 

 

— Nosso pai disse para você não vir aqui, Tiny! — Troy exclamou muito sério, como uma ordem e a menina, vestindo um vestido que parecia caríssimo, passou pela parte e deu um dedo do meio para ele. 

 

     Eu conhecia a Destiny, ela andava com a Sory e parecia mandar nela mais do que qualquer coisa, foi o que chamou a minha intensão inclusive, e logo depois Troy me explicou que a Destiny mandava no grupinho e nas líderes de torcida, Sory só era mais popular mas não apitava em nada. 

 

— Nosso pai não tá em casa! — Ela disse e olhou brevemente para mim antes de ir para o vidro, olhando para dentro. — É minha amiga que está sendo vendida, não seja insensível! — Falou e ela parecia zero abalada com aquilo, ela na verdade falava com a mesma naturalidade que Troy me explicou tudo agora a pouco. 

 

— Nosso pai não queria que você estivesse aqui por esse motivo, é a primeira pessoa próxima a você que é vendida! — Troy falou sem paciência e Destiny continuou olhando para o vidro antes de se virar e se encostar nele olhando agora para o seu irmão. 

 

— Não é com se eu gostasse da Sory. — Revirou os olhos como se fosse ridículo. — Eu até tinha me acostumado com ela, mas vale lembrar que foi essa vadia que roubou minha popularidade. — Olhou para as próprias unhas fazendo pouco caso. 

 

      A frieza que eles tratavam tudo isso era muito maior do que qualquer coisa que eu já tenha visto, era como se eles estivessem mesmo vendendo um objeto, algo de valor mas não como se não pudesse ser substituído por outro depois. 

 

     O que me choca mais é Destiny, ela estava olhando a amiga ser vendida e não estava ligando a mínima, na verdade ela presencia ligar mais para as suas unhas do que para Sory, e era tudo muito bizarro para uma tarde só. 

 

— É, e você sabe que vai ter que fazer passar a ideia que ela fugiu. — Troy citou e Destiny olhou para ele assentindo firmemente. — Você como melhor amiga vai ser chamada para depor, assim como a Angel, combinem uma versão juntas! — Mandou de forma séria e ela concordou mais uma vez. 

 

— Já tenho tudo em mente! — Avisou como se fosse um gênio por isso e eu analisei a situação, vendo algo que passou pela minha cabeça como uma ideia. 

 

— Você podia falar que ela fugiu com um cara. — Sugeri olhando para a Destiny, que se virou para mim. — O Jon, namorado dela, é meu tio, e ultimando ele anda muito revoltado com a vida, eu quero ele pior, acho que se a namoradinha dele tiver fugido com outro, isso vai jogar ele na zona escura e isso vai me ajudar muito em casa! — Contei, falando bastante sério e Destiny me olhou analisando minhas palavras e deu um sorriso satisfeito de canto. 

 

      Preciso da versão do Jon que gritou naquele dia no meio da confusão, era ele que eu precisava agora para meu próximo plano e o sumiço de Sory pode ser bastante útil, se o Jon pensar que foi abandonado, traído dessa forma, ele vai se revoltar ainda mais.

 

      Eu só tenho a ganhar com isso, era o caos que eu queria.

 

— Ótima ideia! — Destiny concordou e andando até a minha frente, com o mesmo sorriso singelo e satisfeito nos lábios. — Foi mal ter te colocado na frente do meu irmão, eu só quis ajudar ele a achar alguém rápido para vender, sem ressentimentos né? — Perguntou sendo legal com o olhar que me lançava.

 

      Ela tinha feito de propósito, aquele gesto de me tirar do caminho e me por de lado não foi só pra gente não se esbarrar,  o olhar que ela lançou na minha direção depois, não era pra mim, era para Troy que estava atrás de mim na hora, como um aviso de que eu era a garota. 

 

       Que dupla de filhos da puta, mas até que eu gostei da Destiny, pelo menos ela nunca me tratou mal. 

 

— Tudo bem, eu entendo. — Afirmei dando um sorriso para ela também e parecia que a gente ia se da muito bem de agora em diante. 

 

— Bom, vou te levar em casa Jupiter. — Troy disse se aproximando. — Agora que a Sory sumiu, qualquer pessoa sem um álibi pode ser suspeito, quero você em casa quando notarem que ela desapareceu! — Avisou preocupado com isso e eu assenti concordando totalmente. 

 

— A gente se vê por aí. — Destiny disse acenando para mim de um jeito legal. 

 

      Realmente não queria esta na rua e ser uma suspeita ou algo do tipo, eu não fiz nada na verdade, se teve algum crime cometido nessa sala não foi eu, não faço ideia de por quanto Sory foi vendia nem para quem, não sei como ela vai para lá, nem vou receber algo por isso. 

 

   Eu não cometi crime algum, os criminosos da historia são Troy e sua família. 

 

    O que me faz notar algo que, isso é muito interessante, eu não cometi crime algum aqui, e ao mesmo tempo me livrei para sempre de Sory, isso parecia bom demais para ser verdade, ter alguém que faça a parte suja que eu não faço, que não tem medo de manchar as mãos de sangue.

 

       Quantas coisas além das que imaginei um dia eu poderia fazer com isso? 

 

 

 

 

 

     

    Red Cherry, Point of  Views. 

 

                            08:09 a.m.

 

                   5 de Agosto  de 2038.

 

              Blainville, Quebec, Canadá.

 

 

 

 

 

— Ei! O que aconteceu? — Venus questionou para mim, andando junto com as centenas de alunos para entrar na quadra de basquete da escola. 

 

— Não sei, nem havia começado a aula direito e soou o aviso que todos deveriam está na quadra. — Mexi os ombros sem saber e olhei em volta, notando que realmente todo o colégio estava indo para lá e todos pareciam muito confusos como nós. 

 

— Ei, vocês viram o Jon? — Joanna surgiu do meu lado e eu neguei subindo alguns degraus da arquibancada junto com ela, Venus e Becca. — O diretor chamou ele na sala a uns 30 minutos atrás e ele não voltou, depois teve o aviso sonoro. — Explicou não sabendo dizer o que aconteceu e eu olhei confusa para ela. 

 

           O Jon estava hoje de manhã super tenso olhando o celular na hora do café da manhã, eu notei isso porque depois que descobri sobre a depressão dele eu tinha que manter meus dois olhos atentos no Jon, ainda não tinha conversado sobre isso e sobre ele pedir ajuda, mas iria fazer hoje se possível. 

 

— Ele deve ta por aqui e a gente que não tá vendo. — Becca comentou, se sentando do meu lado e concordei com ela. 

 

     Eram tantos alunos naquela quadra que com certeza se tornava impossível achar alguém, inclusive eu procurava Lion com os olhos e não conseguia o encontrar se jeito nenhum em meio aquela multidão toda. 

 

       A movimentação na quadra chamou a minha atenção enquanto eu tentava procurar o Lion, e estavam lá o direito, a coordenadora que víamos sempre pelos corredores e quatro policiais, sendo um deles usamos terno e distintivo, o que me faz pensar que seja o delegado. 

 

      Aquela cena começou a me deixar tensa, nunca é bom encontrar policiais em uma escola a essa hora da manhã, talvez seja uma atividade normal, mas a forma como eles pareciam muito sérios, não deixavam essa impressão. 

 

— Peço silêncio a todos! — O cara que eu acredito ser delegado, gritou no meio da quadra e todos fizeram silêncio no mesmo instante, olhando para ele com atenção. — Eu sou o Delegado Phipp Fayy, para quem não me conhece! — Se apresentou brevemente. — Estou aqui para relatar o desaparecimento de Sory Mickeney! Ela foi vista pela última vez ontem saindo da escola, seu celular foi encontrado na estrada e parece ter sido atirado pela janela de algum veículo! Então estamos começando a investigação em torno disso! Vocês provavelmente foram as últimas pessoas que viram ela! — Exclamou com clareza e eu gelei por completo. — Peço a colaboração de todos! Não sabemos o que aconteceu, mas todas as hipóteses ainda estão abertas! A polícia está trabalhando no caso e tendo qualquer informação venham até nós! — Pediu e um burburinho enorme se fez por toda a quadra no instante seguinte. 

 

      Todos pareciam comentar entre si o que o delegado havia falado e eu olhava estática para ele, enquanto a minha cabeça tentava imaginar o que aconteceu e se Sory estaria bem, como ela pode ter sumido assim? Será que pegaram ela? Essa cidade parece tao tranquila? 

 

     O que será que aconteceu com a Sory? 

 

— Estão falando que ela pode ter sido estuprada e esquartejada por isso o celular na beira da estrada! — A menina sentava a baixo de mim na arquibancada disse para a outra que estava um pouco a sua direita e a menina se curvou para responder algo. 

 

— Alguém falou que foi o namorado dela, relação abusiva sabe. — A outra garota comentou, com um olhar de indignação e foi como se eu tivesse voltado a raciocinar rápido demais, saindo do estado de choque. 

 

     O Jon, ele tinha sido chamado pelo diretor, com certeza ele agora sabe o que aconteceu com a Sory, no caos ela sumiu sem deixar rastros, não era culpa dele, o que me faz lembrar do quanto a Sory é importante para o Jon, ele dizia o tempo todo que ela era a coisa mais importante que ele tinha agora, o que mais o fazia feliz...

 

— Red? — Ouvi uma das meninas falar o meu nome, mas isso só fez eco na minha cabeça, pois tudo na minha mente girava em torno de Jon. 

 

       Ele não deve ter reagido bem, ela é muito importante para ele, o Jon está com depressão e a pessoa mais importante para ele desapareceu do nada e as especulações são nojentas e algumas até ridículas que envolvem ele nessa história. 

 

        Algo no meu coração diz que isso não tem como acabar bem. 

 

    Levantei rapidamente começando a descer a arquibancada e não ligando para as meninas chamando o meu nome,  eu tinha que procurar o Jon, achar ele e vê se ele estava bem. 

 

    O quanto ele se importava com a Sory, aquilo tudo era intenso e forte demais e a cabeça dele deve está uma loucura agora. 

 

     Minha mãe disse que não era bom deixar ele sozinho em situações ruins e nesse momento ele estava em algum lugar sozinho com uma situação muito ruim acontecendo. 

 

     Sai do ginásio e comecei a olhar para os lados no corredor vazio, tentando pensar no que fazer e com o desespero começando a crescer em mim, peguei meu celular no bolso e tentei ligar para o Jon, mas o celular dele estava dando desligado e na caixa de mensagens na hora, o que me deixou mais agoniada ainda. 

 

     Abri o aplicativo de mensagem e no grupo da escola já havia centenas de envios de pessoas, abri para ver se tinha algo sobre Jon mas me arrependi no mesmo instante, tinha muitas pessoas falando dele, acusando ele sem nenhuma prova, inventando um relacionando abusivo que nunca existiu. 

 

          O Jon nunca machucaria a Sory, ele nunca machucaria ninguém, ele era o garoto mais legal do mundo e pensei que todos do colégio soubessem disso assim como eu. Mas obviamente eles não estavam pensando, eles só queriam criar mil e umas teorias da conspiração em cima do sumiço de Sory sem nenhuma empatia com o que estava acontecendo ali. 

 

        Não sei o que pode ter acontecido com a Sory, onde ela pode esta, se está bem ou sei lá, eu não faço ideia e estou preocupada com a integridade dela de verdade, mas não tem como eu fazer muito em relação a isso, a polícia já estava a procurando e eu queria muito que a encontrassem bem.

 

    Mas do outro lado, tem como eu fazer algo em relação ao Jon, ele não deveria está sozinho com essa notícia na cabeça, tinha que ter alguém do lado dele. 

 

         Me virei para voltar ao ginásio e tentar descobrir se alguém sabe para onde Jon foi, se ele estivesse lá todos estariam olhando para ele enquanto comentavam, mas não, então com certeza Jon não havia estrado na quadra, o que abre uma vasta ideia de para onde ele pode ter ido. 

 

      Assim que fui abrir a porta, outra pessoa abriu e eu bati de frente com ela de um jeito que quase me derrubou, levantei o olhar para ver me encarar bem sério por eu ter esbarrado nele desse jeito. 

 

— Olha por onde anda, princesa. — Disse e eu dei dois passos para trás afim que ele saísse da frente logo para que eu entrasse. — O que foi? Você está com aquela cara de que vai ter um ataque. — Harvey falou me analisando e eu definitivamente iria ter um ataque se não encontra-se Jon logo. 

 

      Prometi a minha mãe que não iria deixar ele sozinho, que iria ajudar ele e agora eu não faço ideia de onde Jon está no pior momento que poderia está acontecendo na vida dele.

 

        Sim, eu iria ter um ataque. 

 

— O Jon... eu preciso achar o Jon! — Avisei tentando passar por Harvey, mas ele entrou mais na minha frente ainda o que me fez da um passo para trás novamente. 

 

— Desse jeito? — Apontou para mim e era o único jeito que tinha no momento, não havia tempo para me acalmar, eu só precisava achar o Jon. 

 

— A Sory desapareceu, o Jon está passando pro problemas emoções fortes, ele pode está muito mal agora com tudo isso e me assusta ele ficar sozinho! — Disparei em falar, explicando tudo de forma rápida para ver se Harvey sai logo da minha frente e entende que o assunto é urgente. 

 

       Eu não tinha tempo para o Harvey, a situação era muito séria para ele me atrapalhar agora, eu só precisava achar o Jon, depois eu pensava em me acalmar ou não, naquele momento nada iria fazer isso acontecer. 

 

— É, imaginei...— Harvey falou de um jeito diferente, como se ele soubesse disso que eu falei e eu o olhei com atenção. — Agora faz sentido o dia que vi os braços dele sagrando, ele deve se corta né? — Me olhou como se eu pudesse responder e eu abri a boca chocada com o que Harvey estava me contando. 

 

     Como é que é? 

 

— Como assim braço sagrando? Isso foi quando? — Exclamei nervosa e extremamente mais preocupada agora e Harvey me olhou como se não devesse ter falado isso. — Você viu isso e não falou nada? — Gesticulei de forma revoltada e ele parecia não saber o que dizer em relação a esse ponto. 

 

     Só pode ser brincadeira comigo. 

 

— Eu não achei que fosse...— Justificou sem saber o que dizer e eu passei as mãos pelos cabelos sentindo que poderia os arrancar fio a fio naquele momento. — Espera..— Harvey disse pegando o seu celular. 

 

     Eu iria desmaiar de nervoso bem ali, eu estava com medo de deixar Jon sozinho e agora eu descubro que ele possivelmente se corta a um bom tempo e eu nunca notei, talvez as camisas de manga cumprida no verão fossem dicas, mas eu realmente achava que não eram nada demais, o Jon vivia recluso, pensei que fosse parte disso, mas não, ele estava usando para esconder o que fazia. 

 

        Ele se cortava para aliviar a dor e a pressão que os sentimentos depressivos estavam causando nele e isso me deixava mais desesperada ainda, ele não conseguia suportar as coisas fisicamente, ele estava se machucando, e agora ele recebeu uma notícia que deve ter sido uma das piores e sumiu, o Jon sumiu e eu não quero nem imaginar o que ele pode está querendo fazer agora consigo mesmo. 

 

— Ele não está na escola. — Harvey falou e eu olhei para ele que me encarou. — Não começa a chorar, foca aqui! — Pediu, olhando nos meus olhos como se fosse para me da forças. — No grupo da escola não se fala de outra coisa, estão dizendo até que ele fugiu, o carro dele não está no estacionando! — Contou e eu tentava realmente segurar para não chorar. — Então se concentra e foca, princesa, onde ele pode está agora? — Perguntou com calma para mim, me encarando firmemente esperando uma resposta e eu tentei vasculhas minha cabeça. 

 

         Eu estava tremendo, as minhas mãos, meu corpo, eu nunca conseguia agir bem quando estava tendo um ataque desses, parecia que tudo ficava confuso e perdido dentro de mim, mas eu precisava pensar no que Harvey estava me perguntando naquele momento. 

 

— Em casa... tem algum lugar em casa que ele ia... eu não sei qual mas...

 

— Ótimo, se é em casa vamos achar. — Avisou sério e passou por mim, me virei para olhá-lo, Harvey parou de andar e voltou para me puxar junto com ele seguramos meu pulso e se não fosse isso eu não ia conseguir sair do lugar nunca. 

 

         Era horrível como eu literalmente travava em momentos como esse, aconteceu a mesma coisa quando Mauve sumiu na floresta, eu nunca conseguia reagir, eu praticamente colava no chão e meu corpo parava de funcionar, era uma mistura bizarra de medo e culpa, eu sempre acabava me sentindo culpada nessas situação, mesmo que eu não tivesse muito haver, eu sentia que poderia ter sido diferente se eu não tivesse feito algo. 

 

      Quando a Mauve sumiu, se eu não tivesse me distraído não aconteceria, agora se eu tivesse notado o Jon usando camisas longas e associado isso a auto mutilação, talvez fosse tudo diferente agora. 

 

 

 

 

     Fechei os olhos assim que sentei no carro de Harvey e eu tentava respirar fundo, quando a Mauve sumiu foi assim que o Harvey conseguiu me acalmar, respirar fundo, me concentrar só na minha respiração, só no som do meu coração. 

 

      Não consigo entender como em todos os momentos da minha vida que estou tendo uma crise emocional forte, o Harvey estava lá para me ajudar, ele era a calma e a frieza que eu não tinha, enquanto eu sofria demais, ele conseguia usar a falta de amor dele para pensar melhor que eu. 

 

     Era um jeito muito bizarro de analisar, que eu precisava do Harvey nos meus piores momentos, como se só ele pudesse me ajudar. 

 

         Mesmo tão diferentes em tudo, só ele conseguia fazer isso. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

      Chegamos rapidamente em casa e eu já me sentia mais controlada, muito longe de está calma, mas agora eu conseguiria me mover sem Harvey precisar me arrastar para algum lugar igual foi no colégio. 

 

         Logo quando o carro parou, a gente viu o carro do Jon estacionado de qualquer jeito e ele estava mesmo em casa. 

 

   Eu desci  sem dizer nada para Harvey, ele fez o mesmo e corremos para dentro de casa, apesar de não fazer ideia de onde o Jon possa está agora. 

 

    Havia um lugar que ele sempre se escondida e eu nunca conseguia encontrar, ele sumia as vezes e aparecia do nada. 

 

— Tem uns mil lugares que ele pode está aqui dentro. — Harvey disse o que eu estava pensando e estávamos parados sem saber para onde ir agora. 

 

      Péssima hora para se viver em um castelo gigante e cheio de alas e sala, a gente estava literalmente correndo contra o tempo aqui, o cenário não poderia ser pior. 

 

      Onde seria o lugar que Jon se esconderia? Algum lugar especial, que tinha algo sentimental para ele...

 

— O escritório do Oliver! — Exclamei com aquilo que surgiu na minha cabeça. — Lá ta guardada as coisas do Oliver, ele pode tá lá! — Avisei e Harvey concordou comigo e fomos rapidamente em direção ao corredor. 

 

      Posso está errada, mas se o Jon quisesse se esconder de tudo, talvez lá fosse o lugar perfeito, todas as coisas de Oliver ficavam lá como lembranças, eu ainda não tinha tido coragem de entrar lá, me sentia pesada em pensar nisso, mas para o Jon isso poderia ser uma forma de se sentir mais perto do pai. 

 

       Paramos diante da porta e ela estava trancada por dentro, o que fez a gente ter certeza que havia alguém ali, no caso o Jon, bati na porta várias vezes e ninguém respondeu. 

 

    Olhei para o Harvey esperando que ele pensasse em alguma coisa, porque eu definitivamente não conseguia nem se quer raciocinar mais nada, a porta estava trancada, Jon não respondia, como iríamos entrar? 

 

     Harvey me encarou por alguns segundos e segurou a minha cabeça, virando ela como se quisesse ver e tirou algo do meu cabelo. 

 

— Isso! — Mostrou um grampo que tinha no meu coque e apenas concordei, não sei como ele vai sabe abrir uma porta com um grampo, mas o Harvey tinha mais vivências criminosas do que eu com certeza. 

 

       Eu não conseguia parar de mexer meus pés nem por um segundo enquanto encarava Harvey e aquele grampo na porta, parecia ridículo achar que ele iria conseguir abrir com aquilo, ainda mais tão rápido e eu estava tremendos cada segundo que passava, sentindo toda a tensão transitar pelo meu corpo me fazendo perder o fôlego várias vezes. 

 

      E antes que eu começasse a ter outra crise, Harvey conseguiu destrancar a porta com aquele grampo e rapidamente a abriu para que pudéssemos entrar. 

 

— Jon! — Exclamei, o vendo caído no chão e corri até ele rapidamente e nem sei como consegui chegar até ali enquanto eu tremia sem parar. — Acorda por favor... — Pedi colocando minhas mãos no rosto dele e ele estava gelado demais, o que me fez começar a chorar no mesmo segundo. 

 

— Ele tomou isso tudo aqui...— Harvey falou, eu levantei o olhar para o mesmo lugar que ele olhava e tinha várias caixas de remédios controlados no chão que deviam ser da Pattie ou sei lá. 

 

     Meu Deus, era remédios demais.

 

— Não, não, não, não...— Tampei meu rosto com as mãos, não querendo olhar nem pensar em tudo aquilo, era demais para mim eu não conseguia encarar. 

 

      Eu tinha que ter ajudado o Jon, eu não podia ter deixado ele sozinho nem por um minuto, se algo acontecer com ele é minha culpa, minha mãe confiou em mim para ajudar ele e eu falhei completamente, eu não era como a minha mae, eu não era como ela foi. 

 

      O Jon não pode morrer, não, não...

 

— Red Cherry! — Harvey falou meu nome de forma séria. — Não é hora de surtar, faça tudo que eu falar! Agora! — Mandou rapidamente, eu neguei ainda com os olhos tampados com as mãos enquanto chorava, como uma criança assustada, com medo. — Uma vez na vida confia em mim! — Puxou as minhas mãos do meu rosto para que eu pudesse olhar para ele. — Eu sei o que fazer, confia e mim! — Pediu me olhando nos olhos e eu assenti lentamente, apenas fazendo isso sem saber o que mais. — Segura! — Me entregou algo que eu acho que era uma lata de lixo e eu apenas concordei, me levantando e ficado de joelhos no chão. 

 

        Apesar de está tentando me acalmar eu tinha certeza que iria desabar em breve, mas me mantive firme, tentando respirar fundo e me concentrar na minha respiração, enquanto olhava para ver o que Harvey fazia. 

 

      Ele levantou a cabeça de Jon até a lata de lixo e eu encarava tudo apenas tentando fazer a minha função de segurar, mas meus braços e mãos tremiam o tempo todo. Harvey me olhou para ver se eu estava ali ainda e eu me mantive parada, quando ele começou a tentar fazer o Jon vomitar e só assim eu entendi o plano dele. 

 

       Fechei os olhos de leve não querendo ver aquela cena completa, rezando e chorando baixinho para funcionar, porque se não funcionasse, se fosse tarde demais... 

 

       Mesmo sem se mexer ou reagir, Jon começou a por para fora pelo menos metade daquilo que tomou e era muito assustador encarar aquela situação, mas eu continuava firme apenas tentando me manter ali e seguir o plano. Quando parecia que não tinha mais nada para sair, ele ainda não estava acordado nem bem, mas pelo menos não tinha aquilo tudo dentro dele. 

 

     Olhei quando Harvey deitou Jon no chão de novo e  pegou o seu celular no bolso e disse algo sobre ajuda, ambulância, eu não consegui prestar muita atenção, eu estava fora de mim, me concentrando tanto em ficar ali, em não desmontar por completar, que todo meu foco estava naquilo. 

 

     Encarei o rosto de Jon e ele seguia desacordado, mas respirando e ele parecia tão triste, mesmo sem expressar muito, dava para ver que ele havia chorado bastante, e com certeza para tomar essa decisão, de fazer isso consigo mesmo, deveria está doendo muito nele toda essa situação.    

 

      A depressão é uma doença, não tem como controlar a não ser que seja com tratamentos e remédios, você sozinho não consegue dizer para a sua mente não ficar triste, ou frustrada com alguma coisa, o Jon era a pessoa mais alegre que eu conhecia, e depois da morte do Oliver isso foi se perdendo e se perdendo no caminho, ele tinha Sory como a pessoa que o fazia bem, ele a amava muito, e agora ela sumiu sem deixar pistas. 

 

    Aconteceu tanta coisa na vida do Jon nos últimos meses, ele foi forte o quanto conseguiu ser, ele não estava sendo fraco agora, por fazer o que fez, ele estava sendo corajoso e forte demais o tempo todo, ele lutou o tempo todo contra algo que ele não tinha controle algum. 

 

      Eu só queria ter feito mais por ele. 

 

— Red! — Ouvi apenas o meu nome e tirei os olhos de Jon e Harvey se abaixou do meu lado e tirou a lata da minha mão e eu ainda segurava aquilo, firme demais por sinal. — Ta tudo bem, a ajuda já está vindo, e ele vai ficar bem. — Avisou para tentar me acalmar e eu o olhei negando bem de vagar. 

 

    Não ele não vai, nada não ficar bem. 

 

— Eu não...consegui ajudar ele...— Lamentei sentindo que algumas lágrimas caíam ainda do meu rosto. — Eu não salvei ele...— Falei e Harvey me encarou parecendo preocupado com as minhas palavras e a forma como eu estava com tudo aquilo. 

 

— Você salvou, você fez tudo certo. — Ele disse, como se tentasse me fazer ver isso e eu neguei novamente.

 

     Harvey não fazia ideia de que eu poderia ter feito muito mais que segurar uma lata de lixo, eu passei semanas do lado do Jon e nem notei que ele se cortava, eu demorei para avisar a minha mãe, eu fracassei em ajudar alguém que eu amo e é como se tudo isso de agora fosse culpa minha. 

 

       Tudo sempre tem alguma parte que é minha culpa, desde criança, eu sei disso. 

 

       Ele me encarava, tentando entender até onde toda aquela culpa ia em mim, e Harvey  nunca iria entender que não foi só meus primos que criaram marcas em relação a tudo que causei no passo, eu também, me culpava o tempo todo por tudo, pelo Jake ser violento, pela Jupiter odiar tudo, pela divisão, por tudo, e até hoje, quando eu estou perto de algo e isso da errado e acontece alguma coisa ruim, é como se fosse a minha culpa também. 

 

      E doí muito, muito mesmo. 

 

— Você salvou o Jon, a Mauve! — Disse de forma séria e forte. — Você é a garota mais incrível que eu já vi na vida, Red, seu coração é incrível de um jeito surreal, e eu vejo isso em você, o tempo todo, eu vejo você! — Harvey falou olhando no fundo dos meus olhos e passando verdade em cada palavra que dizia, ele estava sendo sincero, o mais sincero que já vi vindo dele. 

 

      Harvey esticou sua mão para mim e eu olhei para ela por alguns segundos, depois olhei para ele e estiquei minha mão, ainda trêmula, para pegar na sua, entrelaçando meus dedos nos seus, e Harvey apertou minha mão suavemente, como se realmente quisesse me da apoio naquele momento, apenas me deixar mais forte.

 

 — Você não é um cara ruim, Harvey...— Falei ainda chorando e abalada demais. — Se não fosse você.... eu não sei o que seria de mim... sem voce... — Tentei dizer mas minha voz saia trêmula ainda. — Eu não sei o que eu faria sem você... — Confessei e Harvey me olhou de um jeito diferente, antes de me puxar com delicadeza e me abraça forte, eu retribui o abraço, apertando ele com meus braços como se não quisesse soltar nunca. 

 

      Posso está uma pilha de emoções agora, mexida e tremendo por tudo que aconteceu, mas eu não menti em nada do que falei e ainda poderia dizer além se eu conseguisse de fato falar. 

 

     Mas nem tudo era tão fácil de sair assim. 

 

 

 

 


Notas Finais


Notas finais:



IMPORTANTE: (Se de alguma forma se identificarem com as coisas que aconteceram com o personagem Jon Green na história, entrem em contato com a Centro de Valorização da Vida através do número 188! )











Essa autora aqui é uma maluca podem dizer...



QUE CAPÍTULO INTENSO MEU PAAAAI!!!!



agora vocês entendem a correria da autora aqui né? Eu tinha que colocar o maldito Troy na história se não como eu ia ter o BUM do final dos capítulos do Jon? Agora vcs absorvam toda a correria pensando em como a autora queimou os neurônios entregando 4, EU DISSE QUATRO, capítulos com mais de 30 mil palavras CADA, não foi mole não!



Para a alegria de vcs o próximo ainda deve ter 30 mil, mas depois vai diminuir e ficar no máximo 15 mil, pq né gente, EU TENHO QUE ESTUDAR!



Sobre esse capítulo? Só sei que estou tremendo até agora com o final então aaaa!



Isso resume tudo: CAOS!



Lembrando pra vcs que:



Vou postar no Instagram da fanfic( @thefamilyfic) o nome em primeira mão do próximo à ter capítulos aqui! Já que a história do Jon acabou nesse hoje! Então vai la correndo conferir quem será o próximo a contar sua história pra gente, além de ver as fotos do capítulo com os personagens, os momentos importantes de hoje e o RESUMO, sim resumo, do próximo capítulo, quer mais?



Enfim, quando tiver capítulo novo a gente pensa no mais né? Lembrando que o dia fixo é segunda feira, mas se eu acabar antes eu posto antes sem problema!



Bom é isto...



Bjs e até o próximo.


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