História The Fate - De Volta para Casa

O grupo que se aproximava da clareira não parecia o mesmo que havia chegado, sujos e cansados, roupas como trapos, mas a caçada havia sido bem sucedida, pelo menos para Jack.

Nozel caminhava atrás do grupo, com seu irmão ao lado, ele estava sério enquanto observava mais de seis soldados a carregar um cadáver grande e pesado de alguma criatura mágica que ele não sabia ao certo. De alguma maneira Nozel sentia que aquilo não era correto, sabia que não eram bem-vindos ali desde o momento em que chegaram, ele tentou dizer, tentou impedi-los de matar a criatura, mas Jack não deu ouvidos e seus soldados obedeceram suas ordens.

- Será que existem mais desses? Não sabia que existiam criaturas como essas, Jack o chama de unicórnio, como o dos contos de nossa avó. - Solid sussurrou para o irmão.

- Se existem eu espero nunca mais ter que vê-los novamente, devemos sair logo dessa floresta, algo não me parece bem.

- Chegamos na clareira! - alguém exclamou, e em seguida. - Só se encontra uma pessoa aqui.

- Noelle - Nozel empurrou pessoas para o lado, abrindo caminho em direção à clareira.

Klaus Lunettes estava sentado em cima de um tronco caído, sem óculos e sujo de terra, ele se encolheu com a aproximação agressiva do Príncipe.

- Onde está minha irmã?!

- N-nós fomos atacados por um pássaro gigante e então nos perdemos um do outro. E-eu não sei onde ela está - ele olhava para o chão fixamente.

- Um pássaro gigante? Essa foi boa!- Jack riu, sendo seguido pelos soldados. - E então você decidiu vir aqui e salvar sua pele, deixando seus companheiros para trás? - ele se aproximou. - Escute, nós cavaleiros mágicos temos o dever de proteger essas pessoas importantes, os riquinhos e herdeiros, e você os abandonou. Sabe quem sofre as consequências disso? Responda Klaus.

- Você, Capitão.

- Já chega, Jack - Nozel interviu. - Temos que focar em encontrá-los agora.

Então nesse momento surgiram três pessoas em péssimo estado por entre as árvores, Mars encontrava-se sujo dos pés a cabeça, parecia ter acabado de sair de uma luta, Yuno e Noelle vinham ao lado, menos sujos, mas ainda assim acabados. Nozel reagiu rapidamente, indo em direção a irmã, ela o recebeu com um abraço, ambos sentiam um alívio por se encontrarem seguros e inteiros.

- Está ferida? - o Príncipe perguntou.

-Não estou, mas Mars está com um ferimento no braço e precisa de ajuda. Você está bem?

- Na medida do possível, agora…- ele não terminou a frase, pois o olhar de Noelle estava vidrado no corpo sem vida do unicórnio aos pés de Jack, ela empalideceu, sendo segurada pelo irmão no momento em que desmaiou.

Levantou em um salto, olhou ao redor, não haviam árvores, nem mosquitos e ar fresco, estava em casa, segura e limpa. A porta do quarto foi aberta, Nina passou por ela carregando uma bandeja com muitas comidas, Noelle sentiu seu estômago roncar apenas com o aroma que preencheu o quarto, estava faminta.

- Parece que já está acordada - Nina observou. - Venha comer.

Noelle foi em direção a mesa de vidro onde costumava comer quando não queria descer para a sala de jantar, ela pegou um bolinho de laranja, e depois outro.

- Preciso falar com meu pai o quanto antes, não posso demorar aqui.

- O Rei já está ciente de toda a situação, agora deixe isso de lado e se alimente.

- Como assim já está ciente?

- Yuno já contou suas histórias, o Rei decidiu que já passou e devemos por um final nisso.

- Não posso simplesmente ignorar o que aconteceu!

- Você pode e deve, são ordens de seu pai. Independente do que aconteceu naquela floresta, nenhum de nós está permitido de falar sobre esse assunto.

- Isso não faz sentido, por que ele ignoraria um mundo inteiro de magia?

- Chega, Noelle! Apenas esqueça.

A Princesa engoliu as palavras, às vezes pensava que Nina era como seu pai, e se perguntava de quem era sua lealdade.

- Quero ficar sozinha um pouco - ela falou baixinho.

- Tudo bem, durma bem querida - Nina se despediu com um beijo nos cabelos de Noelle.

Logo depois que Nina saiu pela porta, Noelle levantou-se da cadeira, colocou um roupão por cima do pijama e saiu do quarto a procura de seu guarda, tentava recordar exatamente qual dos quartos pertencia a Yuno, seria horrível caso acordasse alguma outra pessoa. Andou pelo corredor de pantufas, torcendo para que Yuno continuasse no mesmo quarto de quando era guarda de Mimosa.

Ela estava passando em frente a porta que levava ao telhado do Palácio quando a porta foi aberta, um ar frio veio de lá, junto com a pessoa que procurava. As bochechas de Yuno estavam vermelhas pelo frio, mas ele não tremia.

- Espera, você estava no telhado?

Ele deu de ombros.

- O que você está fazendo aqui essa hora?

- Na verdade, eu estava procurando você - ele levantou as sobrancelhas. - Para falarmos daquilo que não podemos mais falar, se é que me entende.

- Por que não estou surpreso? - ela revirou os olhos. - Não quero problemas, Princesa.

- Isso é impossível, você é meu guarda - ela sorriu para ele, estava tentando ser mais amigável.

- Essas foram as palavras mais sensatas que você já falou - ela desmanchou o sorriso. - Não podemos falar desse assunto no meio do corredor.

-Vamos para a biblioteca então, ninguém vai lá a noite.

- A biblioteca fica lá embaixo e tem seguranças.

- Não essa biblioteca, a outra.

- Que outra?- ele franziu as sobrancelhas.

- Vem comigo.

Eles caminharam até chegar a uma porta de madeira antiga, entalhada manualmente, Yuno estendeu a mão para a maçaneta.

- Está trancada - ele falou.

- Eu tenho a chave - Noelle estendeu para ele .- Não venho aqui desde que era pequena.

Eles entraram na sala, o lugar apertado era preenchido por estantes cheias de livros, o pó impregnava o ar da sala, o único outro móvel que havia além de estantes eram duas poltronas e uma mesa de centro.

Yuno pegou um livro da estante, soltando pó para todos os lados. O livro parecia antigo e já se encontrava desgastado, com esforço ele conseguiu ler “A Última Batalha” grafada na capa.

- O livro está trancado.

- Todos os livros aqui são fortemente cadeados e minha chave não serve para abri-los - Noelle responde de algum lugar da sala. - Essa biblioteca não é usada desde antes de meu nascimento, mas meu pai entregou uma chave para cada um de seus filhos mesmo assim.

- Estranho. 

- É, mas eu gostei de receber a chave, foi o único presente que recebi como filha de meu pai, juntamente com meus irmãos - Noelle comentou, enquanto se sentava em uma poltrona. - Mas agora vamos ao ponto, eu quero saber como meu pai reagiu ao ouvir a história dos acontecimentos na floresta, quem sabe assim eu possa ter uma dica do motivo de ele ter proibido que falemos disso.

Yuno deixou o livro em seu lugar de origem e pegou outro, devido a sala ser pequena eles podiam se ouvir muito bem daquela distância.

- Ele estava interessado no assunto, fez várias perguntas sobre como nos livramos da criatura e perguntou se tínhamos a matado.

- Você contou tudo para ele?

- Quase tudo.

- Como assim? O quanto você falou, ou melhor, não falou?

- Não falei dos centauros, e Mars também não falou nada.

- Espera, Mars também estava lá?

- Sim, depois de ter os ferimentos tratados o Rei mandou chamá-lo, ele não falou nada importante, apenas que conseguiu o ferimento com a criatura e depois se escondeu na floresta até nos encontrarmos, a mentira bate de qualquer forma.

- Não acredito que vou dizer isso, mas ainda bem que vocês mentiram para meu pai! Mas se ele descobrir tenho medo do que aconteceria - Noelle mordia as unhas distraidamente. - E quanto ao unicórnio?

- Seu pai examinou o corpo, depois mandou queimar qualquer vestígio dele, então chamou Jack para sua sala e eles conversaram a sós por horas. Quando saíram o Rei decretou que esses assuntos estavam acabados e que não seria permitido nenhum comentário sobre isso novamente.

- Que estranho, eu não entendo - Noelle suspirou. - Teria a possibilidade de ser para proteger essas criaturas? Porque existem muitas pessoas como Jack por aí, que adorariam caça-las. 

Silêncio se espalhou pela sala, até que Yuno surgiu por entre as estantes com um livro em mãos.

- Olhe o título - ele entregou o livro para Noelle.

- Magia Espiritual e Espíritos da Natureza - Noelle leu em voz alta. - Como a Sylph? - Yuno concordou com a cabeça.

- Tem certeza que sua chave não funciona nesses cadeados?

- Tenho, você pode tentar, mas eu sei que não vai abrir.

- Não existe outro modo?

- Talvez se quebrarmos todas essas correntes, e ainda assim, duvido que consigamos fazer isso sem danificar o livro, mesmo usando magia.

Então Sylph apareceu, voando ao lado de Yuno, Noelle tomou um susto, não estava acostumada com as aparições repentinas.

- Você não precisa de um livro para descobrir sobre mim, ou sobre sua magia, basta me perguntar! - Yuno ignorou o aparecimento de Sylph, levando o livro de volta para seu lugar na estante. - Ele é sempre assim comigo! - ela se voltou para Noelle, a Princesa concordou.

- Não ligue para ele - Noelle sorriu para o Espírito da Natureza.

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No dia seguinte todos fingiam que nada havia acontecido na floresta, os questionamentos e memórias ficariam trancados dentro da cabeça daqueles que haviam presenciado e vivido cenas que poderiam mudar o mundo, mas até quando essas mentes se manteriam fechadas?