1. Spirit Fanfics >
  2. The Fate >
  3. O Rei Tomado

História The Fate - O Rei Tomado


Escrita por: DocePerfume

Capítulo 37 - O Rei Tomado


Fanfic / Fanfiction The Fate - O Rei Tomado

Fuja o mais rápido possível do palácio. Ele sabe o que você planeja e tentará impedir, ouvi-o falando sozinho essa manhã, com uma voz não humana, monstruosa. 

Sua viagem para Irodzuki está marcada para amanhã, mas deixarei uma carruagem preparada para hoje a noite, estarei lhe esperando em frente ao portão leste, por onde os mercadores trazem a comida. Não se atrase e tome cuidado.

- Nina. 

 

Noelle releu o bilhete, surpresa com seu próprio azar. Desde que haviam colocado em prática o plano tudo havia ocorrido incrivelmente errado. 

Não havia nenhuma forma com que o pai poderia ter descoberto suas reais intenções de permanecer na casa da avó, o que fazia Noelle questionar-se sobre seus reais motivos. 

No entanto, decidiu confiar nas palavras de Nina, partir um pouco mais cedo não causaria grandes danos, além disso, poderia levar Nina consigo. Isso resolveria seus problemas por hora. 

Então moveu-se para arrumar as malas, capturando apenas o necessário, a casa da avó poderia lhe oferecer os objetos extras. Fez daquela atividade uma terapia, demorando no processo de dobrar as roupas e botá-las dentro da mala, enquanto esforçava-se para não pensar em Yuno. 

O esforço era inútil. Havia sonhado com ele naquela noite, quando acordou a realidade foi como um soco em seu estômago, desejava poder continuar sonhando. Perguntava-se onde ele estava, já haviam se passado dois dias inteiros, e Hearth não ficava tão distante da capital, Yuno deveria estar se aproximando da fronteira. 

Seu maior medo não era jamais encontrá-lo, ela sabia que o veria novamente, mas possuía medo de não reconhecê-lo. A vida é uma constante mudança, e Noelle sabia que uma pessoa podia mudar radicalmente em poucos meses, como Yuno havia a mudado. Ele estava em uma missão complicada, era um rei perdido e não conseguiria fugir de suas responsabilidades por muito tempo, o que aconteceria quando ele enfim tomasse o trono? Ela era uma humana, possuía uma família e amigos em Clover, abandonaria tudo aquilo para ficar com Yuno entre os elfos? 

Suspirou, de fato, ambos mudariam naquele tempo separados, é inevitável, mas esperava que ambos pudessem se reencontrar e reconhecer um ao outro novamente. Noelle sabia que ainda o amaria, mesmo passando-se meses separados.


 

Yuno não estava surpreso com os soldados a sua procura. Havia cruzado metade do caminho escondendo-se e voando para se esquivar de patrulhas nas cidades.

Quando sobrevoou o vilarejo de Hage, onde cresceu, enxergou das alturas o orfanato, tudo parecia normal e a saudade ardeu em seu peito, ele havia jurado a si mesmo que não visitaria a família para não colocá-los em perigo. Mas, naquele momento, a saudade o impulsionava lá para baixo. 

Foi quando avistou os soldados escondidos entre as árvores. Uma emboscada, ele pensou, surpreso e irritado consigo mesmo, segundos atrás estava prestes a jogar-se em direção a eles, praticamente entregando sua liberdade. 

Ele desviou o caminho, pelo menos aquele cerco para capturá-lo garantiria segurança aos órfãos, mesmo que estivessem amedrontados dentro do orfanato. 

Yuno nunca havia testado o quanto podia voar, ficou decepcionado ao perceber que logo se cansava, precisando cobrir grande parte do caminho a pé. Aquilo o atrasou levemente, precisou parar em uma cidade nas redondezas, comendo e bebendo. Ele não dormiu, logo partindo antes que alguém o reconhecesse, estava perto demais da capital para passar despercebido. 

Sylph doou um pouco de sua força para ele, ajudando-o a voar novamente. Utilizar sua magia por tanto tempo estava o esgotando, sentia o sono nublando a mente, teria caído para o chão se Sylph não tivesse o acordado. Ele se rendeu quando começou a chover, pousando nos campos lá embaixo, escondendo-se com Sylph abaixo de uma árvore com uma grande copa que deveria protegê-lo parcialmente da chuva. 

Estava tão cansado que logo adormeceu contra o tronco duro, escondendo Sylph dentro de sua jaqueta. 

Acordou com uma terrível dor nas costas, o sol já estava alto na manhã, deviam ser por volta das dez horas. Ele grunhiu ao se levantar. 

- Por que não me acordou antes?

- Você precisava descansar.- Sylph falou. 

- Precisamos chegar o quanto antes no reino Hearth, então poderá descansar à vontade.- ele falou, recolhendo seus pertences úmidos e embarrados.- Não se esqueça que estamos sendo procurados. 

- De que adianta chegar lá com a aparência de um mendigo? É assim que os elfos verão seu rei pela primeira vez? 

- Não sou rei.- ele falou, retomando a caminhada pela estrada molhada.- Quanto mais despercebido eu puder passar, melhor. 

Eles roubaram maçãs de uma fazenda próxima quando a hora do almoço se aproximava, retomando a caminhada sobre o sol do meio-dia. Então, como em um ciclo, mantiveram o ritmo de voar e caminhar, voar e caminhar. 

No final do segundo dia eles avistaram Agrad a distância, a cidade era tão grande quanto a capital, mas possuía grandes muros que a protegiam, ao contrário da aberta cidade onde residia o poder de Clover. Yuno jogou o capuz negro sobre o rosto, juntando-se as pessoas que voltavam para casa no fim do dia, camuflando-se na multidão. 

Ele precisaria passar a noite ali, não podia ignorar as necessidades de seu corpo, precisava dormir, comer e tomar um banho urgentemente, além disso, a cidade fechava seus portões às oito horas da noite, ele poderia voar para fora, mas sentia-se muito fraco para isso. Encontrou uma estalagem que parecia barata e limpa ao mesmo tempo, o que poderia ser considerado um milagre. Haviam mesas de madeira espalhadas pelo ambiente, e todas estavam lotadas com homens bêbados a gritar. Havia música vindo de algum lugar e cheiro de comida. Yuno tentou ignorar o quanto estava faminto, andando até o balcão de atendimento. 

- O que precisa, senhor?- a mulher ao balcão perguntou, parecia estar na casa dos quarenta anos, era baixinha e robusta. 

- Um quarto e comida. 

- Deixe-me ver…-ela falou, avaliando uma tabela na parede, que indicava os quartos ocupados.- Você tem sorte, resta apenas um de nossos aposentos, pedirei que o preparem para o senhor. Precisará de água quente para um banho?- Yuno assentiu.- Quer que entreguemos a comida em seus aposentos, senhor? 

- Sim.- ele se permitiu falar, puxando o capuz ainda mais contra o rosto. 

Yuno pagou e, antes de subir para seu quarto, ouviu a conversa daqueles homens bêbados. 

- Vamos precisar estocar comida, mesmo no verão, os soldados estão bloqueando as estradas, eles saem da capital e espalham-se pelo reino.

- Há rumores de que Diamond se juntará a nós contra Heart. Pelo jeito nosso rei não sente-se intimidado pelos rebeldes, já que precisa de uma guerra maior.  

Yuno subiu as escadas, deixando para trás a música e a conversa dos homens. Não havia nada de útil para ele ali. O quarto era simples, uma cama no centro e uma mesinha ao lado, havia uma banheira com água quente o esperando. Não era de todo ruim após uma noite passada ao relento na chuva e utilizando uma árvore como travesseiro, mas Yuno sentia falta de seu quarto no palácio. 

Banhou-se, comeu e foi dormir, antes de enfim render-se ao cansaço pensou em Noelle, desejando poder sentir o seu calor mais uma vez. 


 

Noelle agradeceu a si mesma por ter feito apenas uma mala, não podia pedir aos criados para a acompanharem até a carruagem escondida de Nina, então precisou carregar o peso em seus braços por todo o caminho, esforçando-se para não ser notada na calada da noite. 

Ela podia ver a carruagem parada ao lado da estrada lateral que levava para fora do palácio, havia apenas uma luz fraca de um lampião iluminando o lugar, tudo a sua volta eram sombras. 

Então, enquanto se aproximava, ela o viu parado na escuridão. O rei havia deixado os cabelos crescerem e usava-os soltos, brilhando com uma luz fantasmagórica na noite, escorrendo ao redor do rosto belo, mas que começava a apresentar as marcas da idade. Utilizava roupas claras, que também sobressaíram-se na luz escassa. 

Noelle quis fugir com a força de todo o seu ser, daria meia volta e fingiria que nada daquilo havia acontecido, mas ele já havia a visto, não poderia fugir, havia sido pega em uma armadilha e agora estava encurralada. 

Ela se aproximou, tentando não demonstrar o medo que sentia. Não encarou Aster nos olhos, com medo de ver a criatura por trás deles. De alguma maneira ela podia senti-lo, pulsando por baixo da pele de seu pai, da mesma forma que sentiu o demônio dentro de Asta. 

- Não irá falar nada?- ela perguntou, a voz quebrando o silêncio.- Gabar-se de ter pego-me no flagra. 

O pai saiu da sombra, deixando que a luz do lampião o revelasse. Mas Noelle não subiu os olhos para olhá-lo e ver o sorriso que surgia em seu rosto. 

- Você sempre foi a mais rebelde entre seus irmãos, antes eu pensava que era pela falta de uma mãe, mas agora vejo que você simplesmente não pode evitar, não é?

Noelle mordeu o lábio, perguntando-se onde seu pai queria chegar com aquilo. Queria envergonhá-la? Bem, ela considerava quase um elogio o pai ter reconhecido sua rebeldia. 

- Sempre será uma pedra em meu sapato, soube disso no momento em que nasceu, levando Acier embora. 

Noelle ofegou, sentindo aquelas palavras como um tapa. Aquele era seu pai, era seu pai falando, a mesma voz, a mesma aparência, e agora o pensamento que sempre lhe ocorreu, o motivo pelo qual se culpava, era proferido pelos lábios do homem em sua frente. Ela sabia que aquilo aconteceria, por isso o evitava tão fortemente, porque não queria ser magoada, porque Aster era seu ponto fraco. 

De repente a ferida estava aberta novamente, havia fugido do pai tanto quanto ele a evitava, sempre escondendo-se de um confronto direto. Fugindo daquilo, porque lá no fundo sentia que merecia aquele ódio, merecia que o pai não a amasse pois ela havia tomado o amor da vida dele. E não interessava nenhum pouco que fosse Kun por trás dos olhos do pai, doía do mesmo modo. 

- Vou mandá-la para Diamond essa noite, pelo menos assim, se estiver grávida daquele guardinha, poderá afirmar que a criança é do príncipe idiota com quem vai se casar. Por isso, esforce-se para levá-lo para cama o quanto antes. 

Os joelhos de Noelle pareceram virar manteiga, mas ainda assim ela encontrou forças para se manter em pé, não demonstraria fraqueza. Em sua mente pensamentos conflitantes surgiam. Estava tudo acabado, ela não poderia encontrar a avó, nunca mais veria Yuno. 

Pelo menos ele não sabe que Yuno é um elfo, ela pensou, sentindo o mínimo de esperança. Aster estava a mandando embora porque era um incômodo, não porque sabia de seus planos. 

Mas Noelle não era apenas um incômodo, nem Yuno era apenas um guardinha, aquilo trouxe coragem para ela, Kun podia ser a criatura mais terrível no mundo, mas não era onisciente. Ela poderia estar presa, mas haviam outras pessoas que conheciam os segredos de Kun. 

- Onde está Nina?- ela perguntou, deixando que ele a visse assustada, não estava fingindo os tremores nas mãos, o terror que se espalhava no peito. 

O rei riu, a risada causou arrepios em Noelle, era fria e estava muito próxima. Noelle sabia que se levantasse o olhar o pai estaria bem em sua frente, e aquilo a aterrorizava. 

- Ela escreveu aquele bilhete atraindo-a para cá, Nina traiu você. No final, ela me amava mais do que a você.  

- Mentiroso.- Noelle falou.- Não acredito em nenhum palavra do que está dizendo. 

- Ela não está aqui, está?- o rei falou, maldade pingando de sua voz.

Noelle confiava em Nina, estava ali por causa dela, porque havia acreditado em suas palavras, e mesmo com a possibilidade de aquilo ser uma traição, Noelle ainda acreditava na mulher que havia a criado. 

- O que você fez com ela?- Noelle gritou, então, em um movimento impensado, ela ergueu os olhos para ele. 

Ali estava, bem em sua frente, vestindo a pele de seu pai, o olhar mais aterrorizante que já havia encarado. E, assim como ela havia pensado, ele estava muito perto. Um sorriso se alargou no rosto do pai, ele deu um passo a frente, segurando-a pelo queixo e erguendo seu rosto para cima. 

Noelle não sentiu-se forte ou corajosa, percebeu, naquele momento, que não conseguiria vencer Kun. O poder estava ali, brilhando naqueles olhos, poder para mudar o mundo, para acabar com tudo. Kun era muito maior do que qualquer coisa que já havia visto ou sentido, quando tocou em sua pele desespero correu em suas veias, e aquela escuridão afastou qualquer pensamento bom em sua cabeça, trazendo a tona seus traumas e medos.

Noelle viu-se reduzida a apenas uma garotinha novamente, tremendo em frente ao pai, sentindo-se diminuta e ridicularizada. Kun mostrou para ela o que faria, ela sentiu o cheiro da morte e ouviu os gritos de horror vindo de todos os lugares, sangue corria pelas ruas como um rio e a risada de Kun era a única que restava. 

- Está morta.- o pai disse, apertando as unhas no queixo de Noelle até que sangue escorresse pelo corte.- Eu a matei, afinal, não queremos uma traidora andando livremente pelo palácio. 

Noelle ouviu o que ele dizia, mas seu cérebro parecia não processar as palavras. Estava muito confusa, confusa e apavorada. Então ele a pegou com força pelo braço, fazendo-a gemer de dor, Aster a forçou a andar até a carruagem, ignorando o choro da filha. 

- Pai.- ela soluçou, antes que ele pudesse jogá-la no banco da carruagem. 

O rei hesitou por apenas um segundo, mirando a garota que encolhia-se em seus braços, parecia pequena e assustada, uma criança. Depois, quando o momento passou, ele a jogou para dentro da carruagem com brutalidade, fechando-a ali dentro. 

Ele chamou um de seus homens, que saiu das sombras onde esperava. Não havia luz em seus olhos, apenas o vazio de quando Kun retirou tudo o que o fazia humano, tornando-o apenas um ser oco. Seu novo brinquedo. O primeiro de vários que o rei pretendia criar.  

Com apenas um gesto ele ordenou que o homem assumisse o posto de cocheiro, virando-se e partindo dali, ouvindo os soluços altos de Noelle dentro da carruagem afastarem-se na noite.  


 

As ruas estavam cheias de soldados e cavaleiros mágicos andando de um lado para o outro, Yuno havia presenciado abusos, espancamentos e outras injustiças, mantinha-se nas sombras, apenas observando. 

Ele via a sujeira das ruas, pessoas com fome, mendigando por um prato de comida. Normalmente aquela realidade não chegava ao cenário da capital, onde vivera os últimos anos, nem em Hage, onde todas as pessoas do vilarejo se ajudavam para viverem uma vida melhor. Era a primeira vez que via tanta decadência e tanta injustiça, lembrou-se de Noelle correndo para socorrer os manifestantes agredidos na manifestação, entendendo pela primeira vez o que ela sentira. 

Ele gostaria de poder fazer o mesmo por aquelas pessoas, mas não podia parar a guerra, pelo menos, não ainda. Comprou umas frutas e pão, saindo da cidade em meio aos trabalhadores mais uma vez, caminhando vários quilômetros na estrada até Sylph finalmente aparecer ao seu lado. Eles recomeçaram o ciclo, voando e caminhando, voando e caminhando. 

Das alturas ele podia ver tropas movendo-se pelas estradas, rumando para regiões de combate. Mais a frente havia outra cidade, menor do que Agrad, uma nuvem densa de fumaça vinha dali, quando se aproximou Yuno pôde ver que haviam casas pegando fogo, as pessoas fugiam de seus lares, levando os pertences que conseguiram salvar em seus braços. Também havia luta pelas ruas, os soldados do reino atacavam um grupo encapuzado, que movia-se pelos becos da cidade, cercando o grupo. 

A morte escorria pelas calçadas da cidade, sangue de inocentes. As pessoas choravam e seus gritos chegavam a Yuno, assim como o cheiro de fumaça. 

Yuno hesitou, sem saber se deveria envolver-se no conflito. Nesse momento Sylph foi sua consciência, pousando em seu ombro. 

- Vamos embora, eles estão o procurando, aqueles soldados. Será perseguido caso identifiquem-o, e você acabará os levando até os elfos.

Yuno suspirou, Sylph estava certa, e mesmo assim… 

- Noelle não conseguiria dar as costas para essas pessoas. Ela ficaria e lutaria pelo bem delas. 

- Noelle sempre acaba pagando um preço pelas suas atitudes, mesmo as mais bondosas. Se você parar o conflito, terá que pagar algum preço também. 

Yuno assentiu, mas antes de seguir seu caminho olhou mais uma vez para a cidade em chamas. Com um movimento de mão mandou uma rajada de ar gelado em direção às casas, o suficiente para apagar grande parte do fogo. 

Sentiu-se imediatamente fraco, drenou sua magia por mais um tempo, voando com a ajuda de Sylph, depois voltou a caminhar nas estradas escuras e perigosas do reino Clover, perguntando-se quantas outras cidades estariam queimando naquele momento. 

No dia seguinte, Yuno avistou as árvores da Grande Floresta, que espalhava-se infinitamente pelo horizonte, bela e perigosa. 

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...