História The Galaxy - Papai.

— When each other’s hearts are blue
My heart is true when I am with you.
Blue — Bolbbalgan4

Então... Uma semana se passou desde o incidente na sala da diretora, e, de alguma forma, aquela estranha passou a almoçar conosco todos os dias. Juro a você que não faço ideia de como eu não fiquei maluco. Quer dizer, eu só a conheço há duas semanas, mas... Ela realmente é ainda mais insuportável do que aparenta. Meus ouvidos são bombardeados diariamente com asneiras sem sentido — e o pior disso tudo é que ninguém parece se importar.

Idiotas.

— O que é que você fez com seu pai ontem, Jiyoung-ah? — Jin pergunta. Mordo com força um pedaço do meu sanduíche e abaixo meu rosto em seguida. Não quero ouvir a resposta.

Eu odeio o dia dos pais. Desde que meu pai morreu, essa data... Só virou mais um dia pra me lembrar do quanto eu sou sozinho e inútil. Digo, aquele imprestável se drogou até não poder mais somente pra morrer de overdose e me deixar sozinho nesse mundo cheio de bestas. Embora... Tá certo, tá certo. Eu provavelmente não valia pra ele o mesmo que um de seus pacotinhos de cocaína, porém, continuo achando que me abandonar daquela maneira foi muito egoísta de sua parte. Eu mal completara onze anos quando perdi meu pai inteiramente para as drogas.

Vê-lo cheirar aquele pó em seu quarto enquanto mamãe chorava no andar de baixo... Doeu de verdade. O curioso disso, no entanto, é que eu vivo num mundo em que meus amigos fazem coisa muito parecida. Não digo, sei lá, cheirar umas carreiras com uma mãe chorando no andar de baixo, mas... Cheirar. Longe de suas mães ou perto, algum deles o faz.

Com certeza faz.

— Nada de especial, Jin-ssi. Você sabe, papai é muito ocupado. Ele trabalha muito! — explica. — Tudo o que pudemos fazer foi... Tomar chá no quintal, conversando sobre estrelas. Sabe?

— Isso parece... — Namjoon faz uma pausa. — Legal.

— É, foi legal. — ela concorda. — Foi sim!

Mesmo que meus olhos não estejam sobre ela, eu... Consigo imaginá-la sorrindo.

Me odeio por isso.

— Ele... Perguntou de você, Jeonggukie — levanto o rosto ao ouvir meu nome. — Disse que gostaria de ver você de novo!

Silêncio. Todos da mesa cessam suas mastigações e me encaram.

— Quer dizer que... — antes de prosseguir, Jimin engole o que estava em sua boca. — Jungkookie-ssi conhece seu pai, Jiyoung? — Ah, Jimin, obrigado por sua curiosidade desnecessária. Você é um belo dum pé no saco. — Como eles se conheceram?

— O Jeonggukie foi jantar lá em casa em uma sexta! — a garota responde. — Pena que... Papai teve que sair correndo por causa de um chamado de emergência. — dá de ombros. — Jeonggukie também teve que ir logo depois.

— Um jantar em uma sexta, não é, Jeon? — Jimin arqueia uma sobrancelha. — Sabe, isso explica muita coisa. Tipo... Você não querer ir naquele lance comigo, com Suga e Taehyung.

— É, Jimin, um jantar em uma sexta. Com um policial de dois metros de altura que saiu correndo porque teve um chamado importante — estreito meus olhos. — Isso não soa familiar? Pra nenhum de vocês? Digo, quem sabe vocês não tenham trombado com ele por aí, e...

Sem mais nem menos, Suga se levanta e sai da mesa. Isso, infelizmente, meio que me obriga a parar de falar.

Quando volto a olhar pra Jimin, ele está pálido — e Taehyung não se encontra muito diferente.

— Jungkookie, com todo o respeito... — Hoseok limpa a garganta. — Seja lá o que for que você estiver insinuando, acredito que seja melhor parar. Você... Deixou o clima meio desconfortável.

Sim, Hoseok, talvez seja verdade. De repente, só o que consigo captar é uma tensão gigantesca por todos os lados — mesmo que eu não me sinta mal por ter sido o causador dela. E depois, sem querer, eu também acabo captando outra coisa.

Pelo canto do olho, vejo a praga se remexer em seu lugar do banco.

Por que é que... Por que é que eu estou reparando nela?

— Como... Como foi seu dia dos pais, Jeonggukie? — ela indaga. É muito provável que, inconscientemente, estivesse tentando mudar de assunto. Com a intenção de me ajudar, eu suponho... ? Bem, menina idiota, eu não preciso de sua ajuda. Ainda mais quando você toca em um assunto tão maçante.

— Foi uma porcaria. — falo. — Eu não gosto do dia dos pais.

— Sério, Jeonggukie? — a alienígena aparenta surpresa. — Mas... E quanto ao nosso filho? Ele vai ficar realmente magoado se escutar você falando coisas tão malvadas, Jeonggukie.

— Filho? — Namjoon praticamente berra em pleno refeitório. — E quanto ao trato que fizemos de só engravidarmos as nossas damas depois do colegial?

— Você engravidou a novata, Jungkook-ah? — Taehyung questiona, perplexo. — Na segunda semana de aula?!

— Não, não é nada disso — resmungo. — É só um sapo gosmento. A propósito, eu disse que ela era louca.

Meus amigos me fitam com estranhamento.

— Não fale do Júlio César assim, Jeonggukie! — ela esboça uma expressão zangada. — Você é papai agora, entende, Jeonggukie? Precisa arcar com algumas responsabilidades — tenho minha postura absolutamente normal repreendida pela chata.

— O... O Júlio César é um sapo? — Jin se pronuncia outra vez, a ficha finalmente caindo. — É isso?

Assinto tediosamente.

— Quando é que nós vamos conhecer o herdeiro, Jungkook? — Taehyung usa seu melhor tom de zombaria. — Aliás, a guarda é compartilhada? Ou ele mora só com a mãe?

— Por enquanto, Taehyungie, ele está ficando comigo. Eu trago ele escondido pra escola, na mochila, quase todos os dias. — a sarna se apressa a dizer. Oh, não, por que você está contando coisas tão constrangedoras? Pelo bem da humanidade, preserve um pouco da sua reputação! Se bem que... Ah, é. Eu me esquecera de que você não dá a mínima pra ela. — Mas eu tô estudando um jeito pra que ele tenha mais contato com o pai, sabe? Não quero que Jeonggukie se torne um pai ausente. — os olhos de Taehyung se fixam nela por um motivo que eu imagino ser bem diferente de interesse pela conversa.

Babão estúpido.

Após uns segundos, eu me desligo do falatório irritante e sem pé nem cabeça que a mesa do time se tornara e foco no resto do meu sanduíche. Afinal, tudo o que chegava aos meus ouvidos era besteira atrás de besteira — e o pior nem era isso! A audiência que os palermas inconsequentes estavam dando à maluca me causaria incontáveis problemas em futuro próximo. É provável que ela venha a se achar mais normal ainda, quando normal é algo que definitivamente não constava em seu vocabulário.

Em função disso, forço-me a permanecer de cabeça abaixada até o momento em que o sinal toca. Quando enfim o ouço e a necessidade de erguer o rosto se faz presente, meu olhar e o de Jimin se cruzam. Acidentalmente, óbvio.

Oh, ele está tão bravo.

Será que, no fim das contas, Jimin estava falando sério? Sobre... Você sabe, gostar da novata? Cara, eu bem queria acreditar no contrário. Entretanto, o olhar de ódio do rapaz de cabelos desbotados direcionado com exatidão a mim não me permite fazê-lo. Não me permite crer que... Restara alguma sanidade no garoto. Claro, não posso tirar a razão de sua raiva. Saber que o pai de seu interesse amoroso é o mesmo policial durão que te perseguiu dias atrás me afetaria também.

Bem, o que é que eu posso fazer? Não é culpa minha que eu atraia tanta atenção — incluindo nisso, é lógico, a atenção da esquisita. Na verdade, Jimin não tem a mínima noção da dura realidade que acompanhar a coisa se tornou. Se ele estivesse no meu lugar... Isso me pouparia de um intenso desgaste psicológico na hora de ir pra casa. No fim das contas, eu não reclamaria se aquela insuportável fosse atropelada, caísse num buraco ou coisa do tipo. Entretanto, nem tudo acontece do jeito que a gente quer. Lamentavelmente.

O que ocorre depois — leia-se: em todo o restante do dia — é que eu apenas ignoro meu amigo imbecil. É, eu sei. Tem aquilo do campeonato, e as ameaças da diretora, e a minha revista, e todo o sermão que Namjoon já nos dera sobre a união do grupo, e blá, blá, blá... Na real, esse lengalenga não funciona quando o assunto em pauta está fora de quadra. Jimin ser um ignorante ou não... Pra mim, nem faz diferença.

— Jeonggukie, eu queria falar umas coisas. — minha vizinha diz, de súbito, durante o trajeto para nossas casas. — Mas estou com vergonha...

Vergonha? Que... Inesperado. Não achei que alguém como ela pudesse ter vergonha de alguma coisa.

— Pode falar. — minha voz, como sempre, soa indiferente.

— Okay. — eu não olho para ela em momento algum, apesar de estar curioso quanto ao seu semblante. — Jeonggukie, eu... Não sei por que você odeia o dia dos pais, e eu sei que o Júlio César não é seu filho de verdade. — Oh, que surpresa! Não me diga.

Repentinamente, seus passos param. Embora relutante — e um pouco mais à frente dela —, sou compelido a parar também.

— Você é lindo, Jeonggukie. — murmura. — Você é muito lindo, e será um pai muito bom. Tenho certeza que seus biscoitinhos serão lindos e doces como você, então, por favor, não guarde rancor desta data tão bonita. Será... Um dia só seu no futuro, Jeonggukie.

Oh, céus. De uma hora pra outra, eu fico extremamente grato que ela não possa ver meu rosto.

Eu estou...

Completamente vermelho.

— Agora, vamos! Temos muito caminho pela frente, capitão! — a garota sai correndo e eventualmente me ultrapassa, já que... Eu me encontro paralisado. — Tripulação, levantaaaaar âncora!

Ah, que idiota. Por que é que você tem que ser tão gentil? O que é que... Você está fazendo com meu coração? Ele está tão acelerado... Idiota, idiota, idiota.

Eu fico com mais raiva de você quando você me diz coisas bonitas.